A Gazeta do Middlesex

January 13th, 2014 Wuchi

13/1/2014

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              WUCHI







Quando os politicos dizem que o mercado de trabalho tem de ser mais competitivo esquecem-se muito convenientemente de dizer com quem. Porém o desinvestimento na educação pública responde à questão, pois se a meta for apenas o ensinar a ler, escrever, contar e pouco mais, como acontecia aliás no antigamente, então o resultado vai ser formar jovens que serão vistos como meras unidades de produção, jovens esses que irão ter de sobreviver no futuro com os baixíssimos salários a que a sua falta de qualificações condenou.

Os smart-phones, com o Twitter e o Facebook, podem por enquanto dar-lhes a ilusão de que pertencem ao primeiro mundo, mas não faltará muito para ao entrar no mercado de trabalho, a maioria deles descubra de que lado estão, e não será no dos que os usam, mas no dos que os fabricam, em condições deploráveis e ganhando salários irrisórios.

Perto de Shanghai, numa cidade chamada Wuchi, recentemente uma ong chinesa a China Labor Watch, denunciou as condições a que são sujeitos os trabalhadores que produzem os almejados iPhones : Turnos de doze horas, com apenas dois intervalos de meia-hora cada, e semanas com uma média de 70 horas de trabalho.

Óbviamente que não é a Apple que é a proprietária ou que gere directamente essa fábrica; a sua imagem é demasiado valiosa para permitir ser associada a condições de trabalho tão desumanas. Quem tem essa função é uma das maiores firmas americanas a Jabil Circuit, baseada na Flórida e proprietária de 60 fábricas, tendo uma facturação anual de US$ 11 biliões e que só em Wuchi emprega 30.000 pessoas.

Claro que, denunciado o escandalo, a Jabil veio pressurosa garantir que levava muito a sério as condições de trabalho dos seus funcionários, e que um rigoroso inquérito interno seria de imediato levado a cabo. Mas a Jabil sabe melhor do que ninguém que a sua prática corrente é sub-contratar os trabalhadores a agências que são na realidade os verdadeiros patrões, fixando e pagando os salários e impondo as demais condições, e obrigando os candidatos à admissão a pagar, entre outras coisas, uma elevada taxa de inscrição, os exames médicos e até o documento de identificação pessoal. As do sexo feminino têm ainda de custear um teste de gravidez que lhes é exigido, embora seja ilegal.

As fábricas da Jabil garantem o alojamento em dormitórios, com 8 trabalhadores em cada quarto, e como são  vários os turnos, (a fábrica labora 24 horas por dia), faz com que não sejam criadas as condições minimas para o repouso. O salário base é de cerca de € 200 mensais, e só realizando um minimo de 100 horas extraordinárias por mês podem os trabalhadores ganhar um valor que lhes permita viver.

As condições de laboração são deploráveis e não é fornecido equipamento de protecção eficaz, mas a Jabil dá muita importancia à segurança interna, que é garantida por meios sofisticados, e os trabalhadores são obrigados a assinar um compromisso de confidencialidade e estão sujeitos a revistas pessoais frequentes, mesmo quando vão aos sanitários.

Perante esta situação a Jabil tornou publico um comunicado onde se lê :

“Jabil está empenhada em manter um ambiente de trabalho seguro e onde seja garantida a dignidade e o respeito pelos seus funcionários e toma muito a sério as alegações recentes que esses requesitos não estejam a ser cumpridos, e fará as necessárias correções se se confirmar a sua veracidade”.

Também a Apple comunicou :”...Temos orgulho no trabalho que realizamos em conjunto com os nossos fornecedores na melhoria das condições de trabalho....Acreditamos na transparencia e na responsabilização da nossa empresa pela estrita observancia do nosso código de conduta no fabrico dos nossos produtos...”

A Jabil tem fábricas em vários países onde se praticam baixos salários, tais como a China, India, Brasil e Vietname, e estará certamente aberta a investir no futuro noutros que igualmente garantam as mesmas condições. Quais serão eles ?




1 Comment
Alcina Mila
13/1/2014 05:29:38 pm

Estas situações passam-se também no domínio da manufactura do vestuário. Grandes marcas escondem-se atrás de subconcessões e limpam a sua imagem. Temos que denunciar esta exploração e usar todos os meios para divulgar esta exploração humana.

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