A GAZETA DO MIDDLESEX
18
Relendo o post de ontem reparo que afirmei que uma safe seat é aquela onde um candidato tem como certa a sua eleição, (ou reeleição).
Mil perdões aos leitores, porque esqueci que navegamos em águas não cartografadas, uncharted waters, como popularmente aqui se diz, estando a acontecer coisas nunca vistas, incluindo o provável fim abrupto da carreira política de gente de nomeada. Entre os Liberais-Democratas pode não ficar pedra sobre pedra, como é o caso do Vice Primeiro-Ministro e líder do Partido Nick Clegg e do Secretário de Estado do Tesouro Danny Alexander. Mas o eleitorado, que tem memória de elefante, não deixa sequer escapar os que abandonaram o palco há anos, caso dos pretéritos líderes desse Partido Charles Kennedy e Simon Hughes, que estão em risco de também não serem eleitos.
Mas, feito este reparo, vamos ao que se passa com o Partido Trabalhista:
Dando de barato que não venha a ter maioria absoluta no próximo Parlamento, que é mais do que certo, restam-lhe poucas soluções para poder formar Governo: A mais óbvia seria uma coligação com o SNP, que irá obter cerca de cinquenta lugares, somando se necessário para chegar à maioria os que restarem dos Liberais-Democratas.
Os Conservadores, perante o que para eles seria o afastamento do poder, têm feito uma campanha violentíssima contra os Nacionalistas Escoceses, que são acusados de serem pouco menos que traidores ao defenderem a independência da Escócia. Ainda hoje David Cameron afirmou que uma acordo entre Trabalhistas e o SNP seria “um pacto diabólico” pondo o destino de Inglaterra nas mãos desse Partido. Isto coloca Ed Miliband perante o dilema de, ou garantir um Governo estável negociando com os Escoceses, o que o fará perder muitos votos e lugares de deputados entre os Ingleses, ou não ter condições para governar.
Mas o que é notável nesta situação é que quer Conservadores quer Trabalhistas, ambos sem maioria, vão ter a necessidade absoluta de fazer essa negociação com o SNP, que tudo indica que será após estas eleições o terceiro maior Partido e que terá nas suas mãos, quer queiramos quer não, o equilíbrio do poder.
Quem Governa ?
Sem maiorias, a solução democrática seria a formação de alianças, formais de Governo ou de apoio parlamentar, garantindo meios para exercer o poder político de uma forma estável.
Neste cenário são os Trabalhistas o único Partido capaz de congregar esses apoios, vindos do SNP, dos Lib-Dem's, dos Verdes e de alguns deputados isolados, no que constituiria uma confortável maioria.
Os Conservadores pelo seu lado não conseguirão fazer acordos que lhes garantam estabilidade governativa e resta-lhes a possibilidade, caso ganhem uma moção de confiança, de formar um Governo minoritário sem apoio Parlamentar.
Parece portanto que está dada resposta à pergunta : Quem governa ?
Parece mas não está, porque aqui não se trata de uma mera questão de aritmética, trata-se de uma questão política e, neste país onde não existe uma Constituição escrita e o peso da prática usual é grande, existem outras coisas importantes para além de uma maioria, sendo que normalmente governa quem tiver eleito mais Membros do Parlamento. É verdade que a prática não levantava problemas nos tempos da existência de apenas dois grandes Partidos, em que ter eleito mais deputados equivalia automaticamente a uma maioria, mas não hoje com a actual dispersão dos votos.
Portanto se Miliband for Primeiro-Ministro, mesmo que apoiado numa maioria parlamentar, e se o Partido Conservador tiver eleito mais deputados, então toda a máquina de propaganda da direita irá proclamar que os Trabalhistas não têm legitimidade democrática para governar e que serão uns usurpadores. E não tardará que tenham que ser realizadas novas eleições.