A GAZETA DO MIDDLESEX
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Esta semana começa a publicação pelos Partidos dos respectivos Manifestos Eleitorais, conhecendo-se já amanhã o do Partido Trabalhista e no dia seguinte o dos Conservadores. Contrariamente ao que se passa em Portugal, onde estes são chamados Programas, e que são na generalidade ignorados por constituírem apenas um vago catálogo de meras intenções, aqui os Manifestos são bastante detalhados nas medidas que os Partidos prometem cumprir na próxima legislatura, sendo por isso minuciosamente escrutinados por jornalistas, economistas, especialistas em Finanças Públicas, etc.
Mas algumas coisas já se sabem sobre o dos Conservadores e Trabalhistas, os dois principais adversários nesta contenda, e é sobre isso que gostaria de hoje falar:
Já era conhecida a decisão do Labour de abolir o estatuto dos Non-Doms que, devem estar recordados, são aqueles que vivendo aqui estão isentos do pagamento de impostos sobre as fortunas possuídas fora do país, na maioria em off-shores.
Hoje soube-se que os Trabalhistas irão mais longe, e que será também abolida toda a legislação que permita o não pagamento de impostos com base em artifícios legais. Esta medida permite por si só uma receita fiscal extra de 8 biliões de Libras anuais, a que há que acrescentar o conseguido com o fim dos tais non-doms.
Medidas portanto que visam portanto repor alguma Justiça Fiscal e terminar com os privilégios abusivos de uma minoria.
Os Conservadores entretanto enveredaram pelo caminho dos ataques pessoais e das calunias, táctica que tão bons resultados deu no passado.
Mas desta vez o resultado foi o oposto: Uma descida brutal nas intenções de voto que lançou o pânico na hostes Conservadoras.
Em desespero o Chanceler, ou seja o Min. das Finanças, veio hoje às televisões anunciar duas medidas que esperava conseguirem relançar a popularidade do seu Partido:
A primeira seria aumentar a isenção de Imposto Sucessório sobre a habitação de família, de meio- milhão para um milhão de Libras.
A segunda um financiamento extra para NHS, o equivalente ao SNS Português, de 8 biliões de Libras anuais.
Ora o NHS é o que mais se aproxima neste país a uma religião nacional e está em grave crise devido precisamente aos cortes feitos pelos Conservadores. Como a medicina privada é residual, assim como têm pouca expressão os Seguros de Saúde, logo esta novidade seria de efeito garantido entre a população.
Mas o Chanceler, dada a urgência de por travão à impopularidade dos Conservadores e à proximidade das eleições, não teve tempo de fazer devidamente as contas e duas coisas aconteceram :
A primeira foi que em relação às modificações no Imposto Sucessório, o Institute for Fiscal Studies, (IFS), um organismo independente encarregue da fiscalização das contas públicas, veio imediatamente a terreiro demonstrando que afinal essa medida só beneficiaria as famílias de maiores rendimentos.
A segunda foi, sendo entrevistado nas televisões sobre a súbita generosidade do Governo em relação ao NHS, prometendo um aumento tão grande no seu financiamento, não soube explicar onde iria buscar o dinheiro para cumprir essa promessa.
Logo dois monumentais tiros no pé e rapidamente os Conservadores vão ter de tirar mais coelhos da cartola, coisa na qual aliás têm merecida fama.