A GAZETA DO MIDDLESEX
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Certamente que o termo é desconhecido para os Portugueses mas é familiar para os Britânicos. Ele designa aqueles que apesar de viverem no Reino Unido permanentemente têm no entanto o seu “domicilio” noutro país. Ao reclamarem, na maioria das vezes sem qualquer fundamento credível, essa condição de “não domiciliados”, abreviadamente non-doms, isso permite-lhes ter as suas fortunas algures não pagando aqui impostos.
A lista é extensa e inclui entre os seus 116.000 privilegiados algumas das maiores fortunas do mundo, tais como Roman Abramovich, o oligarca russo dono do Chelsea, e Lakshimi Mittal, o “rei do aço”, que possui uma riqueza avaliada em 13.2 biliões de dólares.
Temos assim dois tipos de cidadãos: Os pertencentes aos 99% da população que pagam impostos até ao ultimo penny sobre tudo o que ganham e os outros, os multi-bilionários que beneficiam desse “alçapão” legal que lhes permite em nada contribuir para a Sociedade da qual fazem afinal, e em principio, parte.
Vivem em mansões, normalmente em Kensington ou Chelsea, avaliadas em muitas dezenas de milhões de Libras, e beneficiam das vantagens que viver numa cidade como Londres proporciona mas nada contribuindo em troca.
Pois Ed Miliband acaba de declarar que se o Partido Trabalhista após as próximas eleições formar governo irá abolir os non-dom's.
Foi quanto bastou para que o Partido Conservador entrasse em histeria nos media, em defesa do que afinal é sua razão de ser, o que está no seu ADN: A riqueza e o poder.
Proclamam que os milionários non-doms são benéficos por gastarem aqui muito dinheiro ao viverem no luxo mais obsceno, e que o fim do estatuto os fará abandonar o Reino Unido. Para onde irão é caso para perguntar, quando mais nenhum país lhes garante o que aqui encontram e aqueles que se aproximam os farão pagar impostos sobre todos os seus lucros.
Para os Conservadores o principio de Justiça Social é algo de incompreensível de entender, nem mesmo numa situação tão gritante como esta.
Mas a escolha no próximo dia 7 de Maio é felizmente cada vez mais clara : É entre princípios e valores que tornam a Sociedade mais justa, ou a defesa dos privilégios de uma minoria. E apenas estamos no principio.
OS SUBMARINOS ATÓMICOS
(OU COMO, NÃO HAVENDO ESCRUPULOS, AS COISAS SE FAZEM)
A declaração de Ed Miliband, que se for o próximo Primeiro-Ministro porá fim ao estatuto dos Non-Dom, fez com que o Partido Conservador entrasse num paroxismo de raiva por ter de defender de uma maneira se possível ainda mais transparente os privilégios dos muito ricos.
Rapidamente havia que encontrar alguma coisa que desviasse as atenções e o que encontraram foi a questão dos submarinos nucleares Britânicos, submarinos esses que têm a sua base num porto da Escócia.
O SNP fez um dos motivos centrais da sua campanha a favor da independência a remoção, caso ganhasse, das armas nucleares do seu território.
Com a vitória do Não o assunto ficou adormecido até hoje, quando Michael Fallon, o Secretário da Defesa, acusou publicamente Miliband de se preparar para aceitar o fim dos submarinos nucleares em troca do apoio do SNP para aceder ao poder, acusações essas com grande relevo hoje em todos os media.
“Terá de ser feita uma escolha entre um Governo Conservador que põe a segurança nacional em primeiro lugar e um homem, Ed Miliband, tão desesperado pelo poder que se prepara para desmantelar a nossa defesa nuclear numa negociata feita às escondidas com o SNP.”
Mas Fallon, no seu descabelado ataque pessoal a Miliband, não se ficou por aqui:” Não se pode confiar a defesa nacional a alguém que não hesitou em apunhalar o próprio irmão pelas costas, só para conseguir o poder.” numa alusão ao facto que Ed e o irmão David terem competido abertamente em 2010 pela liderança do Partido, tenho sido Ed a ganhar as eleições internas. Algumas foram no entanto as vozes que se levantaram no Partido Conservador contra “esta linguagem de calunias pessoais”, quando ainda por cima é público que o Partido Trabalhista jamais teve nos seus planos o fim da defesa nuclear do país.
Acontece porém que em 2016 terá que ser decidida a substituição dos actuais submarinos pelos mais recentes Trident ao custo estimado de 25 biliões de Libras, um mega negócio portanto, operação a que apenas os Conservadores se comprometeram a realizar.
É aliás difícil de imaginar um cenário onde as 40 ogivas nucleares Britânicas façam diferença em caso de holocausto nuclear, quando comparadas com as 1.650 que os Russos possuem além de pelo menos outras tantas nas mãos dos Americanos.