A GAZETA DO MIDDLESEX
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São nove as empresas que se dedicam a produzir sondagens, o que significa que diariamente pelo menos uma nova aparece. Neste frenesim é difícil ter uma ideia clara sobre o que se irá passar no dia 7 de Maio muito embora todas elas, embora com diferenças, apontem para um empate técnico entre Conservadores e Trabalhistas. Isto no que diz respeito à percentagem de votação nacional, porque prever o numero de lugares que cada partido terá no futuro Parlamento é muitíssimo mais complicado. Aliás pode perfeitamente acontecer que um partido ganhe o voto popular mas acabe por eleger menos Membros do Parlamento, mas existe a convicção generalizada que nenhum conseguirá maioria absoluta, o que fará com que seja apenas a terceira vez desde a II Guerra que tal acontece.
Uma dessas sondagens, apropriadamente chamada Sondagem das Sondagens será no futuro, e à falta de melhor, a base para a informação que a Gazeta transmitirá aos seus leitores.
Mas para já os resultados dos últimos dias para os Conservadores (Cons), Trabalhistas (Lab), Liberais Democratas (Ld) , Ukip, e Verdes (Greens, Grn), são:
(A primeira coluna refere um inquérito efectuado ontem dia 7 por YouGov, a segunda um feito no dia 6 por Populus, e a terceira é do dia 4, da responsabilidade do Sunday Times)
Con 33 31 34
Lab 35 33 33
Ld 8 10 10
Ukip 14 15 13
Grn 3 4 4
Nestas sondagens não constam os partidos nacionalistas, os quais podem vir a ter uma importância decisiva na formação do novo Governo, como é especialmente o caso do SNP, Partido Nacionalista Escocês, que se espera vir a eleger a quase totalidade dos 54 deputados que cabem à Escócia.
Mas considerando os números segundo o grupo etário, então a vitória dos Trabalhistas entre os mais jovens é retumbante : Idades entre 18/24- Lab 39% Cons 27%. Entre 25/34- Lab 44% Cons 23%. Entre 35/44- Lab 40% Cons 25%. Entre 45/54- Lab 36% Cons 29%.
Mas entre os mais velhos são os Conservadores que ganham folgadamente, (o que prova que a idade não traz sabedoria): Entre 55/64- Lab 29% Cons 35%. Acima de 65- Lab 23% Cons 43%.
Considerando que a percentagem de votantes entre os mais idosos é o dobro daquela entre os mais jovens, percebe-se o cuidado com que são tratados os reformados e as respectivas pensões.
Quanto às classes sociais aí não há surpresas: Na de maiores rendimentos os Cons. recolhem 40% das intenções de voto e o Lab 28%, e na dos mais desfavorecidos o panorama inverte-se : Cons. 24% e Lab 39%.
Mas por hoje basta de sondagens porque que mais há em que falar.
O estranho caso do Embaixador da França
Se há uma estrela nestas eleições, tal como nas últimas foi Nick Clegg o líder dos Liberais-Democratas, ela é certamente Nicola Sturgeon a First-Minister da Escócia e chefe do SNP, Partido Nacionalista Escocês, desde que Alex Salmond se demitiu do cargo no seguimento da derrota do Sim no referendo sobre a independência. Ora Salmond era, e é , um brilhante político e não se afigurava nada fácil que Sturgeon conseguisse calçar os seus sapatos. Mas o que é facto é que conseguiu e, após ter ganho aquela espécie de debate televisivo com os restantes seis líderes partidários, o seu prestigio subiu à estratosfera em ambos os lados da muralha de Adriano, preparando-se agora para eleger 50 dos 54 lugares de Membros do Parlamento pela Escócia.
Ora isto será para o Partido Trabalhista uma horrenda catástrofe, habituado como estava a considerar como seus a maioria desses deputados, situação que a manter-se torna impossível que venha no futuro a conseguir ter uma maioria absoluta no Parlamento de Westminster, maioria essa porém fácil de obter se o Labour e o SNP acordarem em formar uma coligação após as eleições.
Estávamos nisto, com a direita sentindo o perigo e cobrindo de insultos os Escoceses em geral e a First-Minister em particular, quando o Embaixador da França fez uma visita oficial à Escócia.
Como é normal foi recebido por Nicola Sturgeon em Holyrood, a sede do Governo Escocês, tendo o Cônsul Geral da França na Escócia ficado encarregue de redigir a respectiva minuta do encontro.
Como é do protocolo, o Cônsul enviou depois um exemplar ao seu próprio Governo e uma cópia para o Foreign Office, mal sabendo ele o sarilho que se seguiria. É que por artes do diabo alguém, sabe-se lá quem, pertencente ao Ministério Britânico dos Negócios Estrangeiros enviou o que disse ser um fac-símile do relatório ao Daily Telegraph, um jornal que é um verdadeiro pilar da direita pura e dura, que imediatamente o publicou e onde se podia ler que Nicola Sturgeon alegadamente falando de Ed Miliband declarava “não ter ele um mínimo de qualidades para ser Primeiro-Ministro”.
Ora imagine-se a “bomba” que isto foi, e o resultado que poderia causar nas relações entre Sturgeon e Miliband, para não falar do efeito nos resultados das próximas eleições para o Partido Trabalhista. Era um verdadeiro “dois em um” e os Conservadores babaram-se de gozo.
É claro que Sturgeon negou aos berros que alguma vez tenha dito algo parecido, e o próprio Embaixador de França e o seu Cônsul foram veementes na sua denuncia em como se tratava de uma falsidade. O Governo Britânico, esse, gravemente mandou abrir um inquérito cujo resultado sabe-se lá quando será conhecido, certamente nunca antes das eleições. Nada a que os Portugueses não estejam habituados.