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A Forbes também publicou recentemente um estudo sobre as 1500 maiores fortunas do planeta onde se constata que o valor destas passou em 2013 de $4.6 triliões de dolares para $5.4 triliões, ou seja 17,4% de aumento só nesse ano. Como sendo dos mais ricos é mencionado o mexicano Carlos Slim, cuja fortuna é avaliada em $73 biliões e o espanhol Amancio Ortega, o dono da Zara, que só no mesmo periodo viu aumentar o seu pecúlio em $19.5 biliões de dólares.
Estes números estratosféricos escapam completamente ao entendimento das pessoas normais, que são incapazes de atingir o que realmente representam, o que levou John Allen Paulos um dos mais brilhantes matemáticos americanos actuais a imaginar a seguinte experiência :
Sem fazer calculos, baseando as respostas num palpite, é perguntado ao leitor quanto tempo acha que representa um milhão de segundos, para depois de mentalmente ter chegado a um resultado, ser-lhe pedido que faça o mesmo calculo para um bilião. Raro é o leitor que tenha respondido a este pequeno teste que não fique surpreendido ao saber que um milhão de segundos representa um pouco menos de doze dias, mas que um bilião vale quase trinta e dois anos !
Estes numeros gigantescos não são uma mera abstracção e têm um efeito preverso na vida colectiva e são o resultado de um processo de acumulação da riqueza nas mãos de um pequeno numero e na pauperização acelerada da maioria.
Segundo esse mesmo relatório da Oxfam “ Quando o capital consegue dominar o poder politico, o resultado são opções que favorecem os ricos em detrimento da esmagadora maioria. As consequencias são a erosão do sistema democrático, a destruição da coesão social e o fim das oportunidades iguais para todos.”
Como remédio a Oxfam aponta o fim dos off-shores e das escapatórias legais que permitem evitar o pagamento de impostos e a defesa da taxação progressiva, medidas que só por si possibilitariam financiar sistemas de saúde e de ensino universais e gratuitos e salários que garantissem um nivel de vida digno.
Mas o que se passa é exactamente o oposto pois são cada vez mais os países que têm plutocracias a dominar o poder politico: Nos Estados Unidos, este ano e pela primeira vez, os milionários estão em maioria no Congresso e não causará surpresa que 95% da riqueza resultante do crescimento económico verificado desde 2009, tenha sido apropriada pelos 1% dos americanos mais ricos, enquanto os 90% mais pobres viram piorar ainda mais a sua situação.
E na Grã-Bretanha o Primeiro-Ministro, Ministro das Finanças e Mayor de Londres, entre outros, pertencem à aristocracia do dinheiro e dela herdaram os previlégios, percorrendo o trilho que lhes foi destinado desde o nascimento , trilho que passa por Eton ou Harrow a caminho de Oxford ou Cambridge e que acaba infalivelmente numa cadeira do poder.
Quer nos Estados Unidos quer no Reino Unido, os grandes financiadores do Partido Republicano e do Partido Conservador são o grande capital, a Wall Street e a City, garantindo fundos inesgotáveis aos seus candidatos às eleições, ao mesmo tempo que se assiste a tentativas cada vez mais evidentes de limitar a independencia dos media.
Este conúbio entre o poder económico e o politico traduz-se em cada vez maiores lucros como se vê na Grã-Bretanha, onde muitas das grandes corporações não pagam práticamente impostos. É o caso da Amazon e da Google, só para citar as mais conhecidas. Esta última teve em 2012 uma facturação bruta de 3 biliões de Libras a que correspondeu um lucro liquido de 900 milhões, sobre os quais pagou 11.6 milhões em impostos, o que equivale a um IRC de 1,3%. Isto demonstra a triste ironia que é o Governo Português pretender que a diminuição desse imposto atrairá novas empresas para Portugal, quando não terá outro efeito que não seja o de aumentar os lucros das que já existem para as quais, por variadas razões, não tem sido por enquanto conveniente deslocalizar o seu negócio.
Em 2010 quando o presente Governo Britânico tomou posse, as medidas mais emblemáticas do seu primeiro orçamento foram a diminuição do escalão máximo de IRS para os mais ricos de 50% para 45% e o corte dos subsidios de desemprego e alimentação, numa altura em que a crise económica atingia de uma maneira particularmente cruel os membros mais desfavorecidos e vulneráveis de Sociedade.
Nestas politicas é dificil reconhecer a direita histórica, a do patriotismo, a dos valores morais tradicionais, a do dever to King and Country, pois à actual apenas importa o lucro, de outra maneira não teria ousado privatizar o Royal Mail (1), coisa a que nem Margaret Thatcher se atreveu, e ter encerrado os estaleiros navais de Portsmouth, os últimos em actividade no país, onde durante cinco séculos foram construídos os barcos da Royal Navy.
É preciso no entanto reconhecer que não disfarçam as intenções como ficou demonstrado em Novembro passado por Boris Johnson, o Mayor de Londres, ao discursar numa sessão promovida pelo Partido Conservador em homenagem à memória de Margaret Thatcher, e onde afirmou que não deviam ser combatidas as desigualdades sociais pois estas “eram necessárias como motivação para a inveja e a ganância” sendo que estas por sua vez seriam “estimulos essenciais ao aumento da actividade económica”.
Mas não se ficou por aqui pois mais adiante declarou que o Governo não devia perder tempo com “os 16% da população que possui um QI inferior a 85” e que deveria reservar o seu apoio apenas “aos 3% cujo QI é superior a 130”. Há muito que não se ouvia alguém ocupando uma posição tão elevada fazer uma apologia tão descarada do Darwinismo Social, essa pseudo-ciencia que afirma que se os ricos o são é porque uma seleção natural os tornou genéticamente superiores. (2)
(continua)
(1)-As acções do Royal Mail foram vendidas, na esmagadora maioria a fundos de investimento privados, por 330 pence a acção, ao serem cotadas em bolsa foram transacionadas imediatamente a 561 pence, uma valorização instantanea de 70%, o que demonstrou terem sido alienadas a um preço muito inferior ao seu valor real o que se traduziu num prejuízo para os cofres publicos de centenas de milhões de Libras, e num correspondente lucro para esses fundos privados.
(2)-www.theguardian.com/politics/2013/nov/27/boris-johnson