A Gazeta do Middlesex

A Armadilha

12/4/2018

1 Comment

 

                     A  GAZETA  DO  MIDDLESEX

Picture

        
                               A ARMADILHA DE TUCÍDIDES



Tucídides, General ateniense e o primeiro Historiador no sentido moderno do termo, foi o autor há cerca de 2.400 anos da “História da Guerra do Peloponeso” onde descreve os vários conflitos que opuseram Atenas a Esparta. Tucídides descreve em como a ascensão de Atenas causou alarme em Esparta, a potencia dominante da altura, fazendo com que esta se preparasse para a guerra. No final Esparta ganharia o conflito, mas a um custo tal que ficou irremediavelmente fragilizada. Trinta anos depois nem Esparta nem Atenas seriam as maiores potencias do Peloponeso.
Nisto consiste essencialmente a “Armadilha de Tucídides”. O medo causado na potencia dominante pela ascensão de uma nova potencia, medo que levará à guerra como única solução para regressar ao status quo. A História ensina que estas rivalidades acabam quase sempre mal: Nos últimos quinhentos anos por dezasseis vezes um poder emergente desafiou a potencia dominante, e em doze o resultado foi a guerra.

Infelizmente todos os sinais apontam para que a rivalidade entre China mais a Rússia, por um lado, e os Estados Unidos, por outro, estão a causar um stress estrutural tão severo no equilíbrio de forças mundial que, com grande probabilidade, as coisas vão acabar mal.
Não que não haja a consciência do perigo que se corre: Tucídides continua a ser lembrado e estudado. O Presidente do Naval War College, instituição da Marinha dos Estados Unidos que dá preparação aos oficiais superiores, o Almirante Stansfield Turner, faz com que cada aluno receba no começo do curso um exemplar da “História da Guerra do Peloponeso”, e se o faz é porque obviamente considera que a obra tem ainda, passados que são 2.500 anos, muito que ensinar. Como por exemplo: Porque descortinável razão, e a que custos, os Atenienses mandaram um exército para a Sicília, tão remota e desviada estava essa ilha do teatro das operações e dos interesses de Atenas ?

Atenas não queria a guerra com Esparta. O Kaiser não queria a guerra em 1914. Mao não queria a guerra da Coreia. Mas uma vez que as máquinas militares são postas em marcha, equívocos, erros de cálculo e animosidades mutuas podem levar a um conflito de proporções que ninguém tencionava.

E como não lembrar o que Carl von Clausewitz chamou “o nevoeiro da guerra”?“Como a gasolina está para o fósforo, acelerantes podem tornar um conflito acidental e localizado, ou uma provocação feita por terceiros, numa guerra generalizada”. Disse ainda: “ A guerra é o reino da incerteza. Três quartos dos factores em que a acção militar se baseia estão envolvidos num nevoeiro de incerteza”. Esta profunda incerteza pode facilmente levar a que quem tem o poder decisório aja agressivamente, quando os todos factos aconselhariam prudência.



Vivemos num mundo em regressão. No auge da Guerra Fria, com a União Soviética, assinavam-se tratados de limitação das armas nucleares que incluíam mecanismos de verificação mutua. Hoje, Trump anuncia um plano de desenvolvimento maciço de armas nucleares. Nos termos do ultimo tratado desse tipo, o SALT III, (que formalmente não foi ratificado, mas cujos protocolos são respeitados), aos Estados Unidos e à União Soviética era permitido terem, se a memória não me falha, exactamente 1652 ogivas nucleares activas, isto é montadas em meios capazes de atingir o inimigo. Fora os muitos milhares em “armazém”. Isto significa que nem Rússia nem Estados Unidos podem ter a certeza de aniquilar completamente o outro com um ataque de surpresa. Mas o maior paradoxo é que enquanto que nenhuma da nações pode ganhar uma guerra nuclear ambas têm de demonstrar vontade de arriscar entrar numa, pois aquela que responsavelmente declarasse jamais dar esse passo daria à outra uma inestimável vantagem, obrigada que estaria a recuar sempre em nome dos seus princípios.


Existiam até agora o que John F. Kennedy chamava as “precárias regras do status quo”, um conjunto de normas que eram tacitamente respeitadas por ambos os lados. Era sabido que a sobrevivência do planeta requeria cautelas, vias de comunicação abertas, limites, compromissos e cooperação.



Mas as regras laboriosamente postas em prática durante os cinquenta anos de guerra fria desapareceram, e hoje vivemos todos dançando à beira da sepultura. No Reino Unido a Primeira Ministra anunciou que participará num ataque à Síria sem consultar o Parlamento. O Brexit tinha como principal objectivo devolver a soberania a esse mesmo Parlamento, dizia ela. Nunca um Primeiro Ministro Britânico ousou tomar semelhante acção. Mesmo nesta “Velha Democracia” a primeira vitima é a liberdade de por em causa a versão oficial dos acontecimentos, com os media alinhados com o Governo, e a própria BBC não passando do “alegadamente” quando se refere ao ataque com armas químicas em Eastern Ghouta, “alegadamente” cometido por tropas leais a Assad. Longe vão os tempos em que assistir aos programas da BBC era “ ver pessoas com que se discorda, dizendo coisas que não gostamos”.


1 Comment
Alcina Mila
24/4/2018 06:33:01 am

Estou farta do alegadamente...estou farta das inverdades que nos querem enfiar olhos dentro....
Nunca pensei que estou à beira de, não queres ver nem ouvir, estas notícias todas fabricadas.

Reply



Leave a Reply.

    Author

    manuel.m

    contact@manuel2.com

    Archives

    June 2018
    April 2018
    March 2018
    February 2018
    January 2018
    December 2017
    November 2017
    October 2017
    September 2017
    August 2017
    July 2017
    June 2017
    May 2017
    April 2017
    March 2017
    February 2017
    January 2017
    December 2016
    November 2016
    October 2016
    September 2016
    August 2016
    July 2016
    February 2016
    January 2016
    May 2015
    April 2015
    March 2015
    February 2015
    January 2015
    December 2014
    November 2014
    October 2014
    September 2014
    August 2014
    July 2014
    June 2014
    May 2014
    April 2014
    March 2014
    February 2014
    January 2014
    December 2013

    Click here to edit.

    Categories

    All

Proudly powered by Weebly