A GAZETA DO MIDDLESEX
A ÁRVORE MÁGICA DO DINHEIRO
Creio que não haja povo que não tenha equivalente à Portuguesíssima expressão “Árvore das Patacas” que significa dinheiro fácil, mal ganho ou de origem duvidosa. Aqui diz-se “A Árvore Mágica do Dinheiro” a qual tem sido ultimamente muito falada. Penso que valerá a pena contar uma ou duas coisas sobre o assunto:
No período eleitoral todos os Partidos concorrentes divulgam o seu Manifesto que consiste num plano para a legislatura bastante detalhado e cujas medidas são consideradas um sacrossanto contrato com o eleitorado. Não as cumprir é levar com um tsunami de indignação popular. Basta lembrar o que aconteceu com os Liberais-Democratas de Nick Clegg quando estavam coligados com os Conservadores de Cameron: No seu Manifesto constava a sagrada promessa de não aumentarem as propinas das universidades mas uma vez no governo rapidamente se esqueceram e o resultado foi terem passado de cerca de 60 deputados em 2010 para 8 em 2015 tendo Clegg passado pela humilhação de, nas recentes eleições, nem sequer ter sido eleito para o Parlamento.
Realmente aqui os eleitores têm uma memória muitíssimo longa.
Por essas razões a apresentação feita por Jeremy Corbyn do Manifesto do Partido Trabalhista para as eleições deste ano criou uma enorme expectativa e o mínimo que se pode dizer é que ela não foi gorada. Sob o título “For the many and not the few”, (Literalmente traduzido: Para os muitos e não para os poucos), o manifesto prometia a renacionalização de largos sectores da economia, desde os transportes ferroviários, águas, correios e, crucialmente, o fim das tais propinas universitárias. Como se isto não bastasse, com o anátema da Direita a pedir desde logo uma chuva de enxofre sobre a cabeça de Corbyn, os Trabalhistas atreveram-se a ir mais longe prometendo, caso ganhassem as eleições, aumentar os impostos para os mais ricos e o IRC para as grandes corporações.
É verdade que todas as medidas propostas estavam devidamente contabilizadas, com receitas adicionais a cobrir as novas despesas mas isso não evitou a que a direita em histeria declarasse que os Trabalhistas prometiam coisas como se houvesse uma árvore mágica do dinheiro !
Mas as eleições vieram e passaram e com ela desapareceu a maioria parlamentar dos Conservadores deixando a Primeira-Ministra sem saber em como manter o lugar. Mas Theresa May teve o seu momento eureka ao lembrar-se do DUP, um pequeno Partido da Irlanda do Norte cujos 10 deputados acabados de eleger se votassem, (desinteressadamente é claro !), ao lado dos Conservadores podiam restaurar a sua chorada maioria tão tragicamente desaparecida.
Havia é certo um ou outro detalhe aborrecido a ultrapassar, começando pelo facto de o DUP ser um Partido da Direita radical com conhecidas posições homofóbicas e anti-aborto. Mais sério era o facto de o tratado de paz que pôs fim à guerra entre Republicanos e Unionistas ter como garantes e fiadores o Governo da Republica da Irlanda e o Governo Britânico e cuja absoluta imparcialidade nas relações com as partes constava expressamente do texto desse tratado. Como conciliar esse principio com um acordo parlamentar entre o DUP e os Conservadores tendo em vista viabilizar o Governo dos segundos ?
Depois, last but not the least, vinha a questão do preço a pagar ao DUP para entrar nesse casamento de conveniência. Que o noivo, o DUP, exigiria à noiva, Mrs. May, um chorudo dote adivinhava-se, mas foi com generalizado estupor que os contribuintes Britânicos souberam que teriam de esportular um bilião e meio de Libras para que os nubentes pudessem ser abençoados no altar do Parlamento de Westminster ao aprovarem ambos o programa de Governo, aprovação essa que custou a bagatela de cento e cinquenta milhões de Libras por voto.
Acresce que a Primeira-Ministra nunca disse de onde viria o dinheiro mas, a menos que o tenha encontrado entre as almofadas do sofá, a suspeita generalizada é que a fonte serão os exauridos bolsos da plebe.
Eu, quando me lembro do estado calamitoso do Ensino e da Saúde Pública devido aos inclementes cortes orçamentais, dos professores, dos enfermeiros, dos funcionários públicos na generalidade que vêm os seus salários congelados há uma década, tenho porém uma outra teoria :
É que os Conservadores, eles sim, têm em lugar secreto e remoto uma árvore mágica do dinheiro. Só pode.