A Gazeta do Middlesex

A crise da Direita  II

8/12/2016

0 Comments

 

                      A  GAZETA  DO  MIDDLESEX

Picture



A CRISE DA DIREITA...

(continuação)

Pode-se não gostar dos Conservadores mas pelo menos com eles sabemos com que contar. Ou, aliás, sabíamos com que contar. Agora com Trump, Brexit e o aumento global do populismo, o Conservadorismo entrou em crise. Crise que é bem real quando são os próprios Conservadores que fogem a responder às perguntas difíceis e que se negam a dizer o que são e o que querem. Tornaram-se escorregadios e detestam serem pressionados sobre essas questões. Como admitiu Boris Johson, num dos seus raros momentos de honestidade: Querem simultaneamente ter o bolo e come-lo.

Quando lhes convém continuam pragmatistas, mas essa pose não dura muito. Por todo o lado podem-se ver os Conservadores farejando o ar procurando o cheiro da Direita radical. São tentados pelo mais sedutor dos aromas em política: O do poder. Na Hungria, Polónia, Turquia, América do Sul, e, agora com a vitória de Trump, na América do Norte, os populistas que desprezam os limites ao poder existentes nas democracias liberais estão a tomar o controle e a dar todos os sinais que não o irão largar facilmente e que, longe de serem punidos pelo eleitorado, este os recompensará. A vitória de Trump trouxe aos Conservadores um sentimento de sinistra libertação.
Os Conservadores aprenderam com Trump que podem quebrar os velhos tabus. Podem abusar das mulheres, insultar raças e religiões inteiras, assaltar a ordem constitucional e dizer mentira atrás de mentira.
Não pensem que nunca poderá acontecer aqui. No inicio de Novembro o UKIP ameaçou organizar a pior e a mais não-Britânica manifestação publica possível: Um protesto contra o primado da Lei e a soberania do Parlamento. Nigel Farage prometeu que 100.000 manifestantes sairiam às ruas no dia 5 de Dezembro como forma de pressão sobre o Supremo Tribunal para que este revogasse a anterior decisão do Tribunal de Relação que reconhecia ao Parlamento, de acordo com os preceitos constitucionais, o direito a votar sobre a saída da Grã-Bretanha da União Europeia.
A marcha de Farage dificilmente terá lugar, mas milhões estão de acordo com ele e com as suas razoes para combater a “classe política”. O que ele apresentou foi o mito da “facada-nas-costas”, tão usado pelos fascistas nas suas teorias da conspiração, a que juntou a tradicional insinuação de poder vir a haver violência. “Acreditem em mim”, afirmou após o acórdão do Tribunal da Relação, “Se o povo se sentir enganado e traído então seremos testemunhas de uma ira popular com níveis nunca vistos neste país.”
Aquilo a que antigamente era chamada a “Imprensa Conservadora” sucumbiu à sedução da Direita militante. O Daily Mail chamou aos Juízes “inimigos do povo”, acusação que teve eco nas páginas do The Sun, Daily Express e Daily Telegraph o que torna mais apropriado que lhes chamemos, não “Imprensa Conservadora”, mas sim “Imprensa do UKIP” ou “Imprensa de extrema direita.”
Políticos alegadamente Conservadores não são melhores que jornalistas, também alegadamente Conservadores. Todos notaram a falta de vontade de Theresa May e dos seus Ministros em defenderem a independência do sistema Judiciário. Nada mau como forma do Brexit defender as nossas tradições. Os actos que assistimos em 2016 são tudo menos de Conservadores.
Antigamente estes teriam considerado a atitude de Farage, ao apelar a que manifestantes marchassem contra o Supremo Tribunal, como a de um agitador incitando à violência contra Juízes de Sua Majestade.
Teriam recordado Robespierre, quando este disse que a Revolução Francesa nada devia aos inimigos do povo senão a morte, e que Lenine e os Nazis estavam de acordo que estes não deveriam “esperar misericórdia.”
Qualquer que seja a nossa cor política para a maioria de nós seria estranho que um apoiante do UKIP, ou um jornalista da Direita, pretendesse saber se fazemos parte do “Povo Britânico”. A essa pergunta poderíamos responder que somos Britânicos, ou Ingleses, Irlandeses, Escoceses ou Galeses. Poderíamos considerar-nos cidadãos ou súbditos. Mas deveríamos todos recusar-mos-nos a responder, porque soaria mal aos nossos ouvidos concordar que fazemos parte do “Povo do Britânico” sob a ameaça perfeitamente possível e sinistra de, devido às nossas opiniões, sermos acusados de ser “inimigos” desse mesmo povo.


(continua)


0 Comments



Leave a Reply.

    Author

    manuel.m

    contact@manuel2.com

    Archives

    June 2018
    April 2018
    March 2018
    February 2018
    January 2018
    December 2017
    November 2017
    October 2017
    September 2017
    August 2017
    July 2017
    June 2017
    May 2017
    April 2017
    March 2017
    February 2017
    January 2017
    December 2016
    November 2016
    October 2016
    September 2016
    August 2016
    July 2016
    February 2016
    January 2016
    May 2015
    April 2015
    March 2015
    February 2015
    January 2015
    December 2014
    November 2014
    October 2014
    September 2014
    August 2014
    July 2014
    June 2014
    May 2014
    April 2014
    March 2014
    February 2014
    January 2014
    December 2013

    Click here to edit.

    Categories

    All

Proudly powered by Weebly