A Gazeta do Middlesex

A crise da Direita IV

16/12/2016

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A CRISE DA DIREITA...IV






“...O Conservadorismo está a desaparecer com o avanço da Extrema Direita.”



(conclusão)

Os populistas, ao contrário de Putin e dos fascistas, permitem eleições razoavelmente livres, muito embora na Polónia e na Hungria as coisas estejam cada vez mais difíceis para a oposição e que, com a vitória de Trump, seja de esperar um aumento das dificuldades para que os Afro-americanos possam exercer o direito de voto, podendo mesmo ir até à privação em massa desse direito.
Nem está o populismo moderno interessado em conceder o poder de decisão ao “povo”. Os seus líderes querem tudo menos uma versão moderna da democracia Ateniense, onde cidadãos empenhados conduzam os assuntos de Estado. Como Muller explica, o protótipo para muitos dos líderes demagógicos surgidos nesta década consiste na ideia que Sílvio Berlusconi tinha sobre o papel do cidadão comum: Confortavelmente sentado na sua poltrona vendo televisão,(preferencialmente um dos canais propriedade de Berlusconi), deixando as questões de Estado ao cuidado de Il Cavaliere, que governaria o país como se de uma grande corporação se tratasse. O mesmo desejo de manter o “povo” fora da política pode ver-se hoje na Grã-Bretanha. John Major, esse “velho” Conservador, afirmou que “há um caso perfeitamente credível para que seja realizado um segundo referendo”. Mas os populistas supostamente amantes do “povo” proíbem-no. Diz o Governo e a imprensa de extrema-direita que o mandato para o Brexit é um só e é irrepetível, e que a Câmara dos Comuns, a dos Lordes e os Tribunais, nada podem dizer sobre as decisões a tomar daí decorrentes. Mais revelador ainda é o facto de não existirem preocupações com o próprio “povo”. Ninguém lhes poderá perguntar se as vantagens de permanecer no Mercado Único estarão acima das do controle da imigração. Nem poderão ter uma palavra a dizer sobre se devemos permanecer como membros da União Aduaneira ou não. Ao “povo” não será permitido que tenha segundos pensamentos. Mesmo se a inflação disparar, e em 2018 o nível de vida baixar dramaticamente, ao povo não será permitido mudar de opinião.

A velha piada sobre os Nazis, e outras ditaduras avulsas que conseguiram o poder através de eleições, aplica-se agora aos defensores do Brexit: “Apenas se poderá votar neles uma única vez”


O colapso do Conservadorismo face a esta nova Direita será mais dramático na América. Muitos Conservadores pertencentes ao movimento Never Trump opuseram-se a Trump na campanha para as presidenciais. Inevitavelmente, senão depressivamente, o perfume do poder , agora que ele ganhou, está a seduzi-los. Em Março passado, Mitt Romney fez o melhor discurso da sua carreira alertando para que as políticas de Trump levariam a economia à recessão e os Muçulmanos aos braços do Isis. E como se não bastasse, o seu carácter “tortuoso”, “a sua violência sobre os fracos, a ganancia, a teatralidade de terceira categoria, a misoginia”, tornavam-no incapaz de desempenhar o cargo de Presidente. Estas corajosas palavras de Romney não sobreviveram à vitória de Trump. Na semana passada estava a puxar-lhe pela manga do casaco pedindo-lhe um cargo.
Jamie Kirchick, um dos expoentes na imprensa de Direita do Never Trump, escrevia recentemente, mais como metáfora do que como exemplo, que a elite Americana muito em breve estaria no seu processo de Gleicshchaltung, aquele que levou as instituições Alemãs a acomodarem-se a Hitler.
Em contraste, Theresa May continua Conservadora tradicional, mas por muito pouco. A pressão sobre ela vem da nova Direita e a Primeira-Ministra não demonstra vontade de unir o país. Esqueceu-se dos 48% que votaram a favor da manutenção da Grã-Bretanha na UE. Talvez ela também sinta de onde agora sopram os ventos da História, não tendo a força de carácter necessária para lhes resistir.
A Direita a que ela dá ouvidos torna-se cada vez mais radical. É fácil esquecer que a campanha do Brexit começou por ser um movimento Conservador cujo objectivo era a defesa da soberania do Parlamento e o primado da lei Inglesa. Boris Johnson, Michael Gove e os outros destacados militantes do Brexit, evitaram no inicio a acusação de racismo ao recusar colaborar com Farage. Mas essa resistência colapsou logo que sentiram o poder do populismo. Por alturas do referendo estavam a afirmar incansavelmente que 76 milhões de Turcos, assim como incontáveis outros milhões de Sírios e Iraquianos, estavam prestes a desembarcar na Grã-Bretanha, historias de terror que se revelaram obviamente falsas.
Cobardia intelectual explica em parte a sua capitulação: Não desejam indispor os que estão “do nosso lado” exibindo uma réstia de inteligência critica. Continuam como dantes no ataque aos seus velhos inimigos liberais. O caminho mais fácil, por ser mais seguro e lucrativo, é juntarem-se aos outros Conservadores e serem compagnons de route dos populistas, em vez de se contarem entre os seus maiores opositores.


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