A Gazeta do Middlesex

A Décima Primeira Hora

12/3/2017

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                             A  DÉCIMA PRIMEIRA HORA





Amanhã, se nada de imprevisto entretanto acontecer, a Primeira-Ministra Theresa May, imperial na sua arrogância, (A Europa precisa mais de nós, do que nós da Europa…), espera ganhar após um breve “debate” a votação na Câmara dos Comuns que lhe permitirá accionar o artº 50 do Tratado de Lisboa, e assim irrevogavelmente fazer sair o Reino Unido da Comunidade Europeia e pondo fim a 44 anos de permanência. Para trás ficarão rejeitadas as emendas aprovadas na Câmara dos Lordes garantindo a salvaguarda dos direitos dos cidadãos Comunitários já residentes na Grã-Bretanha e a que , uma vez concluídas as negociações com Bruxelas, daria ao Parlamento o direito de aprovar ou não essas negociações finais, votando, não numa opção binária, mas numa que resultasse de um minucioso e real escrutínio do acordo firmado. Apesar de ter sido conhecida a posição da poderosa Comissão para os Negócios Estrangeiros do Parlamento, criticando vivamente o Governo por não ter planos para a eventualidade de não haver acordo com a UE, nada parece travar a corrida de Theresa May para o Brexit, tome ele a forma que tomar, nem mesmo com a oposição de Conservadores ilustres, incluindo o antigo Primeiro-Ministro John Major, que num discurso proferido recentemente deixou palavras e avisos que irão certamente ecoar durante muito tempo.
Disse ele:

Sobre o Referendo:

“...O referendo foi um dos votos que mais divisões criou na história Britânica. Não apenas entre as quatro nações do nosso Reino Unido, mas dentro delas próprias, dos seus partidos políticos, entre vizinhos, nas famílias, entre grupos etários e de rendimento, entre amigos. Não será fácil fazer sarar essas feridas. Mas é isso que devemos conseguir...”

Sobre a Escócia:

“...Na Escócia um Brexit abrupto encorajará a realização de um segundo referendo. Isto pode parecer actualmente improvável, mas seria imprudente ignorar o risco. Como aconteceu em Junho, (na votação para o referendo, n.t.), as emoções e o orgulho nacional podem suplantar o interesse económico. Se a Escócia se tornar independente será à custa do seu próprio prejuízo e o do Reino Unido. Isto não pode ser ignorado...”

Sobre a Irlanda do Norte:

“...O mesmo se passa com a Irlanda do Norte. Muitos anos foram precisos de penosos esforços para se chegar ao processo de paz Irlandês o qual, mesmo descontando o Brexit, será sempre frágil. As incertezas sobre as restrições fronteiriças entre o Ulster e a Republica são uma séria ameaça- para o Reino Unido e para a Irlanda, Sul e Norte. É necessário chegar a um acordo sobre isto...”

Sobre a sua posição pessoal:

“...Votei no lado que perdeu e tenho-me mantido em silencio desde Junho. Não irei neste momento afirmar que a União Europeia é perfeita. Parece claro que não é. Nem irei negar que a nossa economia tem tido um desempenho desde o referendo que é melhor do que o esperado.
Mas lembro que ainda não saímos da UE, e tenho observado com crescente preocupação que ao povo Britânico tem sido criada a ilusão de um futuro irrealista e demasiado optimista. Os obstáculos são afastados como não sendo importantes, enquanto as oportunidades futuras são inflacionadas para além do razoável...”

Sobre a atitude dos vencedores do referendo:

“...Depois da vitória os seus líderes têm mostrado falta de respeito, que chega a ser desprezo, pelos 48% que votaram pela permanência na UE...”
“...São gente de todos os extractos da sociedade que têm todo o direito às suas opiniões. Estes 48% não amam menos o seu país que aqueles que votaram pela saída. Não são menos patriotas. Mas têm uma diferente visão sobre a posição da Grã-Bretanha no mundo...”
“...Não lhes deve ser dito que uma vez que a decisão foi tomada devem permanecer calados e manterem-se na linha. Um triunfo nas eleições – mesmo num referendo – não leva a que se perca o direito a discordar – nem ao direito a manifestar essa discordância...”

Sobre os Direitos e o Parlamento:

“...A liberdade de expressão é, no nosso país, absoluta. Não é “arrogante” ou “atrevido” ou “elitista”, e muito menos fantasioso, manifestar dúvidas sobre o futuro da país depois do Brexit...”
“...O nosso Parlamento existe para escrutinar o Executivo. É a sua missão. Torna-se por isso tão deprimente ver os defensores do Brexit irem contra os seus próprios princípios. Ao vencerem o referendo estariam a reafirmar a soberania do nosso Parlamento: Mas agora falam e votam de maneira a negar a esse mesmo Parlamento qualquer papel significativo na supervisão das negociações com a Europa, e depois na aprovação do seu resultado. O nosso Parlamento não é um carimbo – e não deve ser tratado como tal...”

Nas relações com a América:

“...O tamanho e o poder da América significa que seremos na parceria com ela o lado menor: Quase sempre teremos que a seguir e muito raramente poderemos liderar. Apesar da visão romântica dos Atlanticistas, a “relação especial” não é uma união entre iguais. Gostaria que assim fosse, mas jamais assim será; A América é um gigante comparada com o Reino Unido, em poder económico e político. Pode ser triste, mas é um facto...”
“… Se discordarmos das políticas dos Estados Unidos enfraqueceremos os laços que nos unem. Mas se as apoiarmos cegamente seremos vistos como um mero eco – uma posição pouco lisonjeira para uma nação que se separou da Europa para supostamente ser independente...”

Sobre as consequências políticas do Brexit :

“...A nossa saída aumentou os problemas políticos dentro das nações da Europa. A Grã-Bretanha rejeitou o colosso da União Europeia. Isto deu forças aos movimentos anti-UE, e o nacionalismo anti-imigrante cresce na França, Alemanha, Holanda, e noutros países.
Nenhum destes movimentos tem qualquer simpatia pelo modo largamente liberal e tolerante dos Britânicos. Se a própria Grã-Bretanha, a estável, moderada e anti-revolucionária Grã-Bretanha, pode libertar-se da burocracia opressiva de Bruxelas, então qualquer país pode. É um forte argumento...”

Finalizando:

“… Dentro de dois anos o Reino Unido será a primeira nação a deixar a UE. Isto será uma ironia porque a primeira proposta para a criação de uma União Europeia partiu, não do Francês Jean Monnet, como geralmente se pensa, mas dum Inglês.
Há mais de três séculos, em 1693, que William Penn defendeu a criação de uma “Dieta ou Parlamento Europeu” como meio de por fim às infindáveis guerras no Continente.
Levou 280 anos e duas guerras mundiais para convencer os seus compatriotas Britânicos a aceitar a ideia. 43 anos depois o povo Britânico voltou atrás com a decisão. Esperemos, para o bem dos nossos filhos e netos, que estejam dentro da razão.”

Entretanto na Irlanda do Norte…

As eleições da semana passada redundaram numa pesada derrota para os Unionistas que assim, e pela primeira vez, perdem a maioria na Assembleia, e numa vitória relativa do Sinn Fein republicano. Torna-se assim mais remota a possiblidade de haver acordo de Governo entre os dois partidos e cresce a possiblidade do Ulster vir a ser governado directamente de Londres, o que não augura nada de bom para o processo de paz.
E, é claro, problema de como serão as fronteiras entre as duas Irlandas, a do Norte e a do Sul, após o Brexit continua sem solução à vista.


Entretanto na Escócia…


Com a Primeira-Ministra Theresa May a recusar-se terminantemente a negociar com Nicola Sturgeon, a First-Minister da Escócia, um estatuto especial que garantisse que os Escoceses podessem continuar dentro do Mercado Unico e da União Aduaneira, um novo referendo na Escócia é considerada agora inevitavel, mesmo para membros do Governo Conservador, com a data de Outubro de 2018 apontada como sendo a mais provavel para a sua realização.
É curioso notar que em 2014, quando ganhou o Não à independencia, (55%/45%), o Primeiro-Ministro de então, David Cameron, garantia que a Escócia independente jamais seria aceite na UE, e que para se manter na Europa ela teria de continuar dentro do Reino Unido. Agora é exactamente o contrário: Se permanecer no RU é que, com o Brexit, a Escócia ficará inexoravelmente fora da União Europeia. O mesmo Cameron proclamava em 2014 que os Nacionalistas Escoceses, com a independencia, queriam tirar à Escócia o seu maior mercado , sendo como era a Inglaterra o principal destino das suas exportações. Agora são os Ingleses a querer tirar ao Reino Unido o seu maior mercado, a UE, levando a Escócia a reboque!



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