A GAZETA DO MIDDLESEX
III
“… É verdade que são poucos os que abertamente se consideram inimigos do pensamento e da cultura. O Presidente Bush, que dizia ser o ”Presidente da Educação”, conseguiu manter um ar sério ao mesmo tempo que, sem qualquer sinal de auto-crítica, declarava nunca ler jornais porque isso seria “expo-lo a opiniões.” *
No entanto existem outras maneiras de suprimir ideias que não usam nem censura nem intimidação. A mera sugestão que há algo de sinistro e anti-americano na devoção pelas ideias, razão, lógica e realidade, e pelo uso correcto da língua, é uma dessas maneiras. Pouco antes das eleições de 2004 para a Presidência, o Jornalista Ron Suskind contou uma assustadora conversa tida com um dos ajudantes de Bush em que este lhe afirmou que, para o Governo, os Jornalistas faziam parte “de uma comunidade baseada na realidade”- aqueles que “acreditam que as soluções devem resultar de uma cuidadosa analise da realidade que se pode discernir.” Mas o ajudante acrescentou: “Esse não é porém o modo como o mundo actualmente funciona. Agora somos um Império, e quando agimos criamos a nossa própria realidade. E enquanto vocês analisam essa realidade- com todo o rigor, se quiserem- nós agimos novamente criando outras realidades que poderão também estudar...Nós somos os agentes da História e vós, todos vós, a única coisa que lhes resta é estudar o que fazemos.”
Essa distinção explicita entre aqueles que são apenas capazes de estudar e aqueles que são agentes da História, não só expressa desprezo pelos intelectuais como também menoriza todos os que requerem factos, mais do que poder e emoção, que justifiquem as opções políticas tomadas...”
*No dia 22 de Setembro de 2003 a Associated Press noticiou que o Presidente Bush apenas lia os títulos dos Jornais e muito raramente o conteúdo, porque isso seria expo-lo a “opiniões não objectivas”. O pessoal da Casa Branca fazia-lhe um resumo diário “mais objectivo” das noticias.
IV
“… Entre os factores que mais contribuíram para o anti-intelectualismo vêm os meios de comunicação. Aparentemente oferecem aos consumidores uma variedade de oferta sem precedentes – programas de televisão em centenas de canais; filmes; jogos de vídeo; musica; e a versão desses produtos na Internet, cujo acesso se pode conseguir através de inúmeros meios electrónicos, o que torna possível passar um dia inteiro sem que por um só segundo se esteja privado de entretenimento comercial. Deve ser lembrado que todo esse entretenimento é acompanhado por uma banda sonora, normalmente uma musica estridente, e por efeitos visuais que impedem a concentração. Mesmo deixando de lado a questão se será benéfico ser-se submetido a entretenimento vinte e quatro horas por dia, a liberdade de escolha mesmo com tamanha oferta é largamente ilusória, uma vez que os media são propriedade de poucas grandes corporações.
Mas a ausência de uma escolha genuína é apenas um factor menor na relação entre os mass-media e o declínio da vida intelectual na América. Não é que tenha sido a televisão, ou as suas variantes, a unica culpada desse declínio, mas não é menos verdade que trouxe a subordinação da comunicação oral e escrita às imagens, e ao fazê-lo restringiu os parametros intelectuais das audiências ocupando a totalidade do tempo, não deixando espaço para a palavra escrita...”