A GAZETA DO MIDDLESEX
XII
“...durante a Primeira Guerra o Governo instaurou mais de dois mil processos por infracções à lei que punia “...quaisquer comentários que fossem considerados desleais ou pejorativos para a forma de Governo dos Estados Unidos.” Em 1919, usando listas compiladas por um diligente e ambicioso então jovem funcionário chamado J.Edgar Hoover, o Departamento de Justiça começou a perseguir intelectuais e activistas políticos. A 20 de Dezembro, 249 imigrantes envolvidos em várias formas de actividades políticas – a maioria residente no país há décadas e professando a ideologia marxista e não comunista, foram deportados para a União Soviética.
Entretanto nos Estados Unidos mais de seis mil comunistas e simpatizantes tinham, no final de 1920, sido presos nas suas residências e locais de trabalho. Sob as ordens do Procurador Geral A. Mitchell Palmer, no dia de Ano Novo, quando tradicionalmente os membros do Partido se reuniam nas respectivas sedes, estas foram invadidas pela Policia que efectuou prisões em massa.
Clarence Darrow, o mais famoso advogado defensor dos Direitos Civis de então, afirmou: “ Uma era de tirania, brutalidade e despotismo ameaça os alicerces sobre os quais repousa a nossa Republica .”
A cruzada contra os “vermelhos” terminou em 1924 com a adopção de uma nova lei sobre a imigração destinada a impor severas limitações à chegada de novos imigrantes oriundos da Europa do Sul e Leste. Se a agitação entre os trabalhadores e as ideologias radicais eram produto da acção de estrangeiros, então impedindo esses estrangeiros de entrar no país certamente que se poria um fim ao problema. Preconceitos étnicos e anti-bolchevismo agiram em conjunto para restringir a imigração, o que teve como consequência, subtil mas não menos importante, de fazer o anti-comunismo entrar na luta entre religião e secularização, ou seja, passar a fazer parte da cultura Americana. De um lado a fé fundamentalista e doutro o comunismo, com o seu ateísmo militante. Surge assim um crescente ressentimento contra uma minoria culta vista como não fazendo parte de povo e querendo impor as suas opiniões à maioria. Finalmente essa classe culta e minoritária é identificada como sendo inimiga da religião.
Compreende-se então o porquê de a teoria da evolução de Darwin ser vista como sendo uma questão ideológica e metafisica e não como verdade cientifica, um resultado portanto desse mesmo crescente ressentimento contra os intelectuais, os quais, pelo simples facto de terem lido mais livros do que a gente comum, julgarem saber o que é melhor para a Sociedade, mesmo quando não lhes era reconhecida qualquer espécie de autoridade nas questões políticas, sociais ou religiosas...”