A GAZETA DO MIDDLESEX
A NAVALHA DE OCCAM
Parece difícil acreditar mas já se passaram 100 dias sobre o referendo e sobre a vitória do Brexit.
100 dias de incertezas e confusão, em que as hipóteses sobre o que iria acontecer surgiam diariamente, numa cavalgada alucinante imprópria para os faint of heart.
Vejam o caso do acesso ao mercado único, ou seja a inexistência de barreiras alfandegárias entre o Reino Unido e os 27 países que compõem a UE e que é a situação actual: O seu fim seria um cataclismo de proporções bíblicas para a economia Britânica, mas os mais entusiastas defensores do Brexit não vêm razões para apreensão dado o montante do investimento alemão na Grã-Bretanha, investimento que Frau Merkel estaria na disposição de defender com unhas e dentes. Para dar uma ideia só no sector automóvel a Alemanha é proprietária da Bentley (VW) e da Mini e da RollsRoyce (BMW). O simbolismo é por demais evidente. Por outro lado os Alemães exportam para Reino Unido 1/5 da sua produção automóvel, certamente um mercado lucrativo que não estariam na disposição de perder.
Desenvolveu-se entretanto uma especialidade local que consiste na leitura dos estados de espírito da Tia Ângela, da variação dos seus humores, uma Merkelogia que tem os seus gurus que analisam à lupa as mínimas declarações, flutuando o animo nacional entre o exultante quando ela parece ser benevolente em relação ao Brexit, e a mais negra depressão quando parece ter-se tornado impermeável a qualquer generosidade para com os seus primos Anglo-saxões.
Mas tudo gravita à volta da liberdade de circulação dentro da UE e múltiplas hipóteses têm sido aventadas em como circum-navegar esse principio fundador que sejam aceitáveis para todos e não pareçam demasiado escandalosas como sendo uma acomodação favorecendo a Grã-Bretanha em detrimento dos direitos dos cidadãos comunitários.
Mas Merkel está demasiado fragilizada para poder impor um diktat semelhante, e assim vai crescendo a convicção que inevitavelmente o Reino Unido irá cortar todos os laços com a União Europeia.
No congresso dos Conservadores que acabou agora em Birmingham a Primeiro-Ministra enunciou medidas que são incompatíveis com qualquer acordo com Bruxelas e o divorcio será total e não uma separação amigável, afinal a solução mais simples de executar independentemente das consequências para o povo Britânico.
E aqui entra o principio conhecido como “A Navalha de Occam”, ou como a Lei da Parcimónia, e que tomou o nome de Guilherme de Ockham, (1287-1347), um frade franciscano que foi teólogo e filosofo e a que se atribui, (mas não sem contestação), a sua autoria, e que se pode enunciar da seguinte maneira: “Entre diversas hipóteses possíveis para a solução de determinada questão aquela que tiver menos premissas deverá ser a escolhida”.
Ou dito de outra maneira: “ ceteris paribus, as soluções simples são melhores do que as complexas”, ou, como disse S. Tomás de Aquino tempos depois: ” Se uma coisa pode ser feita por meio de um, é supérfluo que o seja por meio de vários, porque a natureza não emprega dois instrumentos quando um só basta.”
Custa-me a crer que a Primeira-Ministra tenha feito as suas escolhas baseada em conhecimentos arcanos, mas é um facto que foi feita uma escolha simples e que caminhamos aceleradamente para um Brexit feito como uma cirurgia radical, mas sem saber como será o post-operatório.