A GAZETA DO MIDDLESEX
À VIGÉSIMA TERCEIRA HORA
Do dia 29 de Março de 2019 o Reino Unido deixará de fazer parte da União Europeia. Assim decidiu o Governo Britânico sem ouvir o Parlamento, invocando os chamados “Poderes de Henrique VIII” que alegadamente lhe permitem governar por decreto.
Não deixa de ser uma amarga ironia que, tendo sido o Brexit aprovado em referendo por uma escassa maioria, tenha obtido essa vitória alegando o dever patriótico de devolver ao Parlamento Britânico os poderes entretanto sonegados por Bruxelas, e que agora a esse mesmo Parlamento não lhe seja permitido pronunciar-se sobre uma decisão de tão grandes e graves consequências.
À medida que a hora se aproxima o pânico aumenta ao conhecerem-se em maior detalhe as consequências da saída da UE:
Para se ter uma ideia do caos que o fim da livre circulação de mercadorias acarreta, com inevitável introdução de barreiras alfandegárias, basta olhar para as conclusões de um grupo de trabalho chefiado pelo Parlamentar Conservador por Dover, que é o principal porto para o tráfego de mercadorias, e que mostram que, mesmo reduzindo a burocracia alfandegária a uns meros 2 minutos por camião, se irão formar do lado Britânico filas com 27 quilómetros. Estão feitos planos para fechar ao transito a autoestrada M20, que do Norte dá acesso a Dover, e torná-la num gigantesco parque de estacionamento para os veículos que aguardam vez para atravessar o Canal da Mancha.
Serão necessários 5.000 novos funcionários para gerir essa nova descomunal montanha de burocracia. Funcionários que terão de ser contratados e treinados e as instalações onde irão trabalhar construídas, tendo que tudo estar pronto dentro de 15 meses. Escusado será dizer que nem sequer se começou.
Os dirigentes das principais fábricas de automóveis da Grã-Bretanha, Nissan, Honda, Toyota, Vauxhall, alertaram publicamente que as suas empresas enfrentam o encerramento se o Governo Britânico não garantir a permanência do país dentro da União Aduaneira e do Mercado Único.
Todos os dias 350 grandes camions chegam da Europa transportando mais de 2 milhões de peças e componentes destinadas às linhas de montagem, no que é uma operação feita com precisão militar. Qualquer entrave levará necessariamente à interrupção do fabrico o que, se somado às taxas alfandegárias que os automóveis terão de passar a pagar para entrar na UE, fará que não seja viável a actividade da industria automóvel na Grã-Bretanha. Entre directos e indirectos, ter-se-ão perdido dezenas de milhares de postos de trabalho.
Não admira que com este cenário um grupo de Membros do Parlamento pelo Partido Conservador tenha ousado desafiar a sua direcção ao contestar publicamente opção da Primeira-Ministra por um Brexit radical sem qualquer acordo com a UE.
Tanto bastou para que o Daily Telegraph, outrora um respeitável e respeitado jornal conservador, hoje não passando de mais um pasquim de extrema direita, tenha publicado a primeira página que em baixo se reproduz onde, sob a parangona ‘OS AMOTINADOS DO BREXIT’, se mostra a fotografia do grupo. Uma apelo à violência, verbal e não só.