A Gazeta do Middlesex

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28/2/2014

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(continuação)




Recentemente o líder do Partido Trabalhista Ed Miliband anunciou que, em caso de vitória nas eleições gerais de 2015, iria repor o escalão mais elevado do IRS para os anteriores 50%, o que provocou um autentico tumulto nas hostes da direita que entraram em completa histeria.

Imediatamente um grupo de 24 capitães da industria escreveu uma carta irada ao Daily Telegraph ameaçando, caso a medida fosse tomada, que ela resultaria no “desencorajar que novas empresas se estabelecessem no RU e conduziria ao desemprego...” O Times chamou-lhe “uma medida perversa”. O Daily Mail descreveu-a como “uma seta apontada ao coração dos empresários”, que iria “prejudicar quer o dono da pequena loja da esquina, quer os grandes negócios”, o que é uma afirmação delirante pois a medida apenas atingiria os rendimentos superiores a 150.000 Libras anuais e que nem na cuckooland se podem encontrar lojistas (pequenos ou grandes) a ganhar tais quantias.


O que se torna nauseante é o espectáculo desta gente que agindo por puro egoísmo veste as roupagens de defensores do “interesse nacional”. Como prova disso a New Statesman publicou a lista dos tais 24 signatários da referida carta ao Telegraph e onde se revela que estes doaram recentemente ao Partido Conservador mais de 750.000 Libras, o que torna a coisa num caso evidente de “rabo escondido com o gato de fora”. Polly Toynbee uma conhecida jornalista escreveu recentemente no Guardian: “O IRS a 50% não mataria a economia; mas esta cleptocracia poderá fazê-lo”.

Aliás o Primeiro-Ministro inquirido repetidamente no Parlamento se, saindo vitorioso nas próximas eleições, não voltaria a baixar os impostos para os mais ricos recusou-se terminantemente a responder.

Num gráfico pode-se ver que no RU a percentagem do rendimento nacional obtido pelo 1% da população mais rica era em 1918 de 12,57%, percentagem essa que entrou em declínio devido à introdução de medidas de redistribuição da riqueza da autoria dos primeiros governos trabalhistas, tendo atingido 4,17%, o seu valor mais baixo, no final da década de setenta para depois, com os governos de Margaret Thatcher, iniciar uma curva ascendente estando presentemente  ao mesmo nível que tinha nesse ano de 1918.

Ou seja, os ganhos obtidos com as medidas para tornar a Sociedade mais justa, fazendo diminuir as desigualdades sociais, foram inteiramente perdidas graças às maquinações dos Boris deste mundo e à defesa que fazem da inveja e da ganancia como meio de obterem os lucros fabulosos que acham que lhes são devidos por direito divino.

Como escreveu o economista Will Hutton que foi durante anos editor-chefe do “The Observer” e que presentemente é Reitor do Hertford College da Universidade de Oxford:

“Os governantes britânicos não assumem a responsabilidade pelas desigualdades sociais resultantes das suas “reformas” que têm três objectivos principais: O primeiro é conseguir reduzir a influencia dos sindicatos sob o pretexto da necessidade de “flexibilizar” o mercado de trabalho. O segundo é a redução dos impostos sobre o capital, as grandes empresas e fortunas, sendo aí o pretexto o de “criar incentivos”. E por ultimo, tolerar a cada vez maior concentração do poder económico no sector financeiro por “ser bom para os negócios”.

Desses objectivos Will Hutton aponta como sendo o mais nefasto aquilo que chama a “evisceração” das instituições da sociedade civil, principalmente dos sindicatos, que eram a garantia que a fatia que o trabalho obtinha do Rendimento Nacional se mantivesse constante, garantia essa que desapareceu com a limitação da força sindical , o que teve como consequência que nas ultimas décadas entre 5% a 7% do PIB tenha sido transferido permanentemente do sector do trabalho para os donos das empresas.

E segundo ele uma sociedade tão desigual como a britânica não pode deixar de ser profundamente disfuncional e não haverá recuperação económica possível enquanto não forem combatidas essas profundas diferenças, como se demonstra pelo recente aumento explosivo do numero de bancos alimentares que hoje são mais de 400. A estes já recorriam centenas de milhares de pessoas, um terço delas crianças, mas em 2013 esse numero triplicou. O dramatismo da situação revela-se pelo facto de haver quem devolva comida que necessite ser cozinhada, por não terem dinheiro para o gás ou electricidade domésticos. Outro acontecimento perturbante e indicador do modo como os mais vulneráveis são tratados é o facto de o Royal Institute for Blind People, (Organismo de apoio aos Invisuais) ter interposto uma acção contra o Ministério da Segurança Social por este ter cortado os subsídios a 50 cegos por estes não terem respondido atempadamente a cartas do Ministério, cartas essas que eles obviamente não podiam ler.

Como resposta a esta situação um porta-voz do Governo, Lord Freud, veio afirmar que “abrindo cerca de três novos bancos alimentares por semana é natural que aumente o numero de pessoas que a eles recorrem” e que “não há razões “robustas” que provem que o aumento das carências alimentares esteja relacionado com a implementação dos cortes nos apoios sociais efectuadas pelo governo”.(3)

Não admira que há mais de um século um famoso Primeiro-Ministro, Benjamin Disraeli, tenha afirmado que um governo conservador não era mais do que uma hipocrisia organizada, e quanto a isso só resta comentar que entretanto nada mudou.

Acusar os desempregados de serem os responsáveis por os custos dos apoios sociais se terem tornado insustentáveis é querer iludir a realidade porque apenas 26% do orçamento da Segurança Social é gasto em subsídios de desemprego, valor que se tem mantido estável nas ultimas três décadas.

Outra realidade inconveniente é o facto do numero de agregados familiares cujos membros têm trabalho, mas que estão mesmo assim abaixo do limiar da pobreza ser actualmente 6.7 milhões, numero já superior aos 6.3 milhões dos que estão desempregados e abaixo desse limiar.

A dicotomia empregado/desempregado deixou portanto de ser definidora da linha separadora da pobreza, o que realmente conta é que quatro em cada cinco postos de trabalho criados pelo presente governo não garantem um salário considerado suficiente para manter um nível mínimo de subsistência.

E no entanto, apesar desta terrível realidade ser cada vez mais aparente, as pessoas demonstram uma estranha apatia ficando inermes perante a perspectiva de no futuro viverem sem direitos numa sociedade de penúria generalizada.

Tocqueville afirmava que uma das consequências da Democracia é fechar os cidadãos “na solidão do seu próprio coração”, ao garantir uma liberdade aparente que acaba por eliminar a vontade de agir em conjunto. À rejeição completa do que há não se segue a participação na criação de alternativas. E esta impotência auto-consentida, essa ausência de acção cívica, leva inexoravelmente que as oligarquias governantes possam criar um Estado apenas formalmente democrático.







(3)- www.bbc.co.uk/news/business/24536817







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24/2/2014

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Segundo o recente relatório da Oxfam esse é o numero de multi-milionários, tantos que poderiam caber num tipico autocarro londrino de dois andares, que colectivamente possuiem 1,7 triliões de dólares, o mesmo que tem a metade mais pobre da população mundial , ou seja 3,5 biliões de pessoas.


A Forbes também publicou recentemente um estudo sobre as 1500 maiores fortunas do planeta onde se constata que o valor destas passou em 2013 de $4.6 triliões de dolares para $5.4 triliões, ou seja 17,4% de aumento só nesse ano. Como sendo dos mais ricos é mencionado o mexicano Carlos Slim, cuja fortuna é avaliada em $73 biliões e o espanhol Amancio Ortega, o dono da Zara, que só no mesmo periodo viu aumentar o seu pecúlio em $19.5 biliões de dólares.


Estes números estratosféricos escapam completamente ao entendimento das pessoas normais, que são incapazes de atingir o que realmente representam, o que levou John Allen Paulos um dos mais brilhantes matemáticos americanos actuais a imaginar a seguinte experiência :

Sem fazer calculos, baseando as respostas num palpite, é perguntado ao leitor quanto tempo acha que representa um milhão de segundos, para depois de mentalmente ter chegado a um resultado, ser-lhe pedido que faça o mesmo calculo para um bilião. Raro é o leitor que tenha respondido a este pequeno teste que não fique surpreendido ao saber que um milhão de segundos representa um pouco menos de doze dias, mas que um bilião vale quase trinta e dois anos !

Estes numeros gigantescos não são uma mera abstracção e têm um efeito preverso na vida colectiva e são o resultado de um processo de acumulação da riqueza nas mãos de um pequeno numero e na pauperização acelerada da maioria.


Segundo esse mesmo relatório da Oxfam “ Quando o capital consegue dominar o poder politico, o resultado são opções que favorecem os ricos em detrimento da esmagadora maioria. As consequencias são a erosão do sistema democrático, a destruição da coesão social e o fim das oportunidades iguais para todos.”

Como remédio a Oxfam aponta o fim dos off-shores e das escapatórias legais que permitem evitar o pagamento de impostos e a defesa da taxação progressiva, medidas que só por si possibilitariam financiar sistemas de saúde e de ensino universais e gratuitos e salários que garantissem um nivel de vida digno.

Mas o que se passa é exactamente o oposto pois são cada vez mais os países que têm plutocracias a dominar o poder politico: Nos Estados Unidos, este ano e pela primeira vez, os milionários estão em maioria no Congresso e não causará surpresa que 95% da riqueza resultante do crescimento económico verificado desde 2009, tenha sido apropriada pelos 1% dos americanos mais ricos, enquanto os 90% mais pobres viram piorar ainda mais a sua situação.

E na Grã-Bretanha o Primeiro-Ministro, Ministro das Finanças e Mayor de Londres, entre outros, pertencem à aristocracia do dinheiro e dela herdaram os previlégios, percorrendo o trilho que lhes foi destinado desde o nascimento , trilho que passa por Eton ou Harrow a caminho de Oxford ou Cambridge e que acaba infalivelmente numa cadeira do poder.

Quer nos Estados Unidos quer no Reino Unido, os grandes financiadores do Partido Republicano e do Partido Conservador são o grande capital, a Wall Street e a City, garantindo fundos inesgotáveis aos seus candidatos às eleições, ao mesmo tempo que se assiste a tentativas cada vez mais evidentes de limitar a independencia dos media.


Este conúbio entre o poder económico e o politico traduz-se em cada vez maiores lucros como se vê na Grã-Bretanha, onde muitas das grandes corporações não pagam práticamente impostos. É o caso da Amazon e da Google, só para citar as mais conhecidas. Esta última teve em 2012 uma facturação bruta de 3 biliões de Libras a que correspondeu um lucro liquido de 900 milhões, sobre os quais pagou 11.6 milhões em impostos, o que equivale a um IRC de 1,3%. Isto demonstra a triste ironia que é o Governo Português pretender que a diminuição desse imposto atrairá novas empresas para Portugal, quando não terá outro efeito que não seja o de aumentar os lucros das que já existem para as quais, por variadas razões, não tem sido por enquanto conveniente deslocalizar o seu negócio.


Em 2010 quando o presente Governo Britânico tomou posse, as medidas mais emblemáticas do seu primeiro orçamento foram a diminuição do escalão máximo de IRS para os mais ricos de 50% para 45% e o corte dos subsidios de desemprego e alimentação, numa altura em que a crise económica atingia de uma maneira particularmente cruel os membros mais desfavorecidos e vulneráveis de Sociedade.

Nestas politicas é dificil reconhecer a direita histórica, a do patriotismo, a dos valores morais tradicionais, a do dever to King and Country, pois à actual apenas importa o lucro, de outra maneira não teria ousado privatizar o Royal Mail (1), coisa a que nem Margaret Thatcher se atreveu, e ter encerrado os estaleiros navais de Portsmouth, os últimos em actividade no país, onde durante cinco séculos foram construídos os barcos da Royal Navy.

É preciso no entanto reconhecer que não disfarçam as intenções como ficou demonstrado em Novembro passado por Boris Johnson, o Mayor de Londres, ao discursar numa sessão promovida pelo Partido Conservador em homenagem à memória de Margaret Thatcher, e onde afirmou que não deviam ser combatidas as desigualdades sociais pois estas “eram necessárias como motivação para a inveja e a ganância” sendo que estas por sua vez seriam “estimulos essenciais ao aumento da actividade económica”.

Mas não se ficou por aqui pois mais adiante declarou que o Governo não devia perder tempo com “os 16% da população que possui um QI inferior a 85” e que deveria reservar o seu apoio apenas “aos 3% cujo QI é superior a 130”. Há muito que não se ouvia alguém ocupando uma posição tão elevada fazer uma apologia tão descarada do Darwinismo Social, essa pseudo-ciencia que afirma que se os ricos o são é porque uma seleção natural os tornou genéticamente superiores. (2)



(continua)







(1)-As acções do Royal Mail foram vendidas, na esmagadora maioria a fundos de investimento privados, por 330 pence a acção, ao serem cotadas em bolsa foram transacionadas imediatamente a 561 pence, uma valorização instantanea de 70%, o que demonstrou terem sido alienadas a um preço muito inferior ao seu valor real o que se traduziu num prejuízo para os cofres publicos de centenas de milhões de Libras, e num correspondente lucro para esses fundos privados.




(2)-www.theguardian.com/politics/2013/nov/27/boris-johnson












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Das Viagens

19/2/2014

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                     CARTA A LÚCILIO

        (Epistulae morales ad Lucilium)

                   Lucius Annaeus Seneca

                               (5bc-64ad)




                                    DAS VIAGENS COMO CURA PARA A TRISTEZA

Pensas que és a única pessoa a ter passado por essa experiência ? Estarás realmente surpreendido como se nunca tivesse acontecido antes, que uma longa viagem mesmo com muitas paragens não seja suficiente para afastar a melancolia e a tristeza ? Tú o que precisavas era de uma mudança de alma não uma mudança de clima. Podes cruzar oceanos sem fim, tal como o nosso poeta  dizia,

“Terras e cidades para trás ficaram...” (1)

que os teus problemas te seguirão, tal como Sócrates uma vez observou a alguém que se queixava do mesmo: “Como te podes admirar por as tuas viagens não te ajudarem, se te levas contigo? Se estás amarrado às causas que te fizeram a partir ?”. Todas essas mudanças são completamente fúteis enquanto não encontrares a paz de espirito, porque tú foges da tua própria companhia. Ages como aquela profetisa da que fala Virgilio a qual, num estado de permanente agitação, parecia possuída por espiritos malignos :

“...A Sibila movia-se sem parar como que possuída, na esperança de expulsar o espirito que tinha no seu corpo...” (2)

Andas de um lado para o outro desejando livrares-te dos teus problemas quando apenas os pioras devido a essas incessantes mudanças. A carga bem amarrada no porão de um navio não o faz perigar, mas se não estiver devidamente presa e se as ondas a deslocarem, então sim pode naufragar.

Se conseguires resolver o que te aflige então qualquer destino te agradará; podes mesmo ver-te nas paragens mais inóspitas que as acharás hospitaleiras. Mais importante do que o lugar onde aportas é a pessoa que és quando lá chegas. E não nos devemos deixar prender por nenhum lugar particular, devemos viver acreditando que “Não nasci para pertencer a nenhum canto do Universo, o mundo inteiro é o meu país”.

Se assim pensasses pararias com esse mudar constante porque saberías que a vida boa que procuras a podes encontrar em qualquer parte. Haverá pior agitação do que no Forum ? E no entanto mesmo nele sempre podemos descansar num recanto calmo e agradavel mas eu, se me fosse dada a escolha, iria para o mais longe possivel. Não entendo aqueles que gostam de viver entre escolhos, onde o mar é mais bravio, numa luta constante contra os elementos. Um homem sábio é capaz de os enfrentar, mas preferirá sempre estar em paz do que em guerra.

 Dir-te-ão que Sócrates tinha contra ele trinta tiranos e que nenhum deles foi capaz de o vergar. Mas qual é a importancia de quantos são os amos que um homem tem ? Um escravo é um escravo, mas mesmo um pode ser completamente livre se no seu espirito não aceitar a escravatura.

É tempo de acabar, mas não antes de te ter deixado o habitual pensamento: “ A consciencia de se ter pecado é o primeiro passo para a salvação” Esta frase de Epicuro tem para mim grande valor, pois ninguém se corrige se não souber que errou. Achas que alguém será capaz de mudar se tomar os seus vicios por virtudes ? Portanto faz um exame de consciencia e dá-te como culpado. Primeiro faz o papel de acusador, depois o de juíz e finalmente o de quem pede clemência. Por vezes tens de ser duro contigo próprio.

 Até sempre.

(1) Eneida, III:72 (2) Eneida,VI:78-9


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A Musa de Oxford

15/2/2014

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                                         A MUSA DE OXFORD

                                     www.oxfordmuse.com




Theodore Zeldin é um prestigiado filósofo, sociólogo e historiador britânico com uma distinta carreira académica a maior parte da qual passada na Universidade de Oxford onde durante treze anos foi reitor do St. Antony's College. Tem uma vastíssima obra públicada da qual se destaca a sua “História Intima da Humanidade” traduzida em mais de vinte línguas, e devida à qual o seu Autor ganhou o prémio Wolfson, a maior distinção académica para obras de investigação histórica.




Possuído por uma insaciável curiosidade intelectual o Prof. Zeldin muito cedo se interessou pelo fenómeno da Internet e  como esta poderia ser usada para aproximar pessoas de várias culturas, quebrando a barreira do desconhecimento mutuo e fazendo diminuir a desconfiança e a hostilidade entre as diversas civilizações.



E um dia, já no distante ano de 2001, enquanto andava pelas ruas de Oxford meditando no total desconhecimento que as pessoas tinham umas das outras, muito embora vivessem cruzando-se diáriamente, teve então a ideia de criar um site onde pudesse promover  encontros entre desconhecidos e dessa inspiração nasceu “A Musa de Oxford”.




As Musas da mitologia não ensinavam, não ditavam leis, e esse espirito de liberdade deveria estar presente em todas as iniciativas futuras e o primeiro projecto foi convidar os leitores a comporem livremente, mas com transparencia e honestidade, um  “auto-retrato” no qual contassem as suas experiencias de vida, permitindo aos outros reconhecer nessas histórias a sua própria condição humana.




E as respostas começaram a surgir, formando o que é hoje uma fascinante colecção de auto-retratos que nos dá a conhecer intimamente os seres humanos que escreveram ensaios pessoais com titulos tais como :







O que um filósofo doente mental pensa dos seus médicos




Como uma cabeleireira satisfaz a sua necessidade de perfeição




Como um especialista em incontinência vence os obstáculos e dá de comer às formigas




Como o Presidente de um dos Colégios da Universidade de Oxford aprecia a sua vida




Como um tumor cerebral pode mudar a sua vida ou não ter qualquer efeito




Como um Padre católico irlandês se tornou mecanico de automóveis




Como voltar a viver depois da morte de um filho




Como o tomar conta de uma criança fez com que um doente com cancro pensasse no futuro




Como sobreviver a um sistema de educação que ensina aborrecimento e conformidade




Como um especialista argentino em vida selvagem acredita que o sorriso é uma linguagem Universal




Como um especialista em bioética depois de ler Wittgenstein foi esquiar







Em breve a “Musa”, tendo crescido para além de todas as expectativas do Prof. Zeldin, teve de se adaptar às novas condições mudando os moldes de funcionamento passando a ser o que é hoje, uma Fundação reconhecida em vários países e em que o trabalho é feito por grupos de voluntários e de estudantes da Universidade.

Qualquer um pode ser membro, e não são cobradas inscrições nem subscrições de qualquer género. Nada é obrigatório, mas a Fundação dá apoio a quem quiser realizar, independentemente do país, alguns dos seus eventos.




Um dos que tem mais sucesso são os chamados “Jantares de Conversa” e que se têm realizado um pouco por todo o mundo:




Nas mesas além do menú normal é fornecido um menú de conversa, parecido com o primeiro e onde estão listados 25 tópicos de discussão, (escolhidos de uma lista com mais de quatrocentos). Naquilo que não é um jogo, um dos participantes de cada mesa escolhe o primeiro que uma vez esgotado é substituído por outro e assim sucessivamente até ao fim do menú. Os convivas não se conhecem préviamente, mas a conversa torna-se rápidamente animada e se o normal é o “jantar de conversa” durar umas duas horas já tem sucedido ultrapassarem as sete. No final os que participaram pela primeira vez normalmente confessam nunca terem pensado experimentar momentos tão memoráveis, e espantam-se em como foi possivel ter ficado a conhecer estranhos tão bem apenas no tempo que dura um jantar,  e onde se discutiram assuntos tão díspares como a amizade, ambição, medos, esperanças, outras culturas e civilizações, igualdade entre os sexos ou diferentes orientações sexuais,etc, etc.




Estes eventos destinam-se áqueles que estão interessados em saber em como outras pessoas vêem o mundo, numa troca de pontos de vista sobre o que cada um acha ser realmente importante. Aos comensais não é pedido que tragam certezas ou erudição, mas sim que sejam portadores de curiosidade intelectual. Não se pretende juntar pessoas com percursos de vida similares ou que tenham compatibilidade de feitios ou opiniões. O que se oferece a cada participante é a oportunidade de establecer conversas inteligentes com quem de outra forma não teriam hipótese de conhecer no decurso normal da sua vida , derrubando as barreiras que limitam o nosso convivio aos que nos são próximos fisica ou profissionalmente.




Estes jantares já se realizaram em Hyde Park e em St. James Park no Verão, quando as idiossincrasias deste clima dão alguma esperança de bom tempo, mas também já tiveram lugar de Beijing a Joanesburgo, de Istanbul a Montreal. Portanto pergunta-se : porque não em Portugal ?

Alguns blogs com elevado numero de seguidores poderiam lançar a ideia com sucesso garantido, ainda mais agora quando tanta gente se sente só, entregue à tristeza de um futuro pouco risonho.




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 Over the Top

11/2/2014

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                                          OVER THE TOP

Cumprindo-se este ano um século sobre o inicio da I Guerra Mundial, inúmeros são os livros, artigos de opinião, debates e conferências sobre o conflito mais mortífero da história do Exército Britânico. Basta dizer que este sofreu só no primeiro dia da batalha do Somme, 1 de Julho de 1916, sessenta mil baixas das quais vinte mil foram mortos, naquela que foi a sua maior derrota militar de sempre. De todos os testemunhos dessa tragédia, impressiona sobretudo a correspondência enviada pelos soldados às familias, muitas vezes escrita a poucas horas da morte, algumas contendo comoventes poemas que traduziam a angustia daqueles momentos.

Um dos que melhor ilustra o que eram esses instantes que antecediam o fim que se sabia já tão  próximo, é o poema intitulado “Over the Top” e onde  é descrito o que sente minuto a minuto esse soldado que está a dez de ter de saltar “over the top” da trincheira para atacar as linhas inimigas defendidas pelo arame farpado e pelo fogo mortífero das metralhadoras.

Mas o mais extraordinário é que quem escreveu aquelas estrofes nunca combateu na Flandres, ou em qualquer outro teatro de guerra, e nunca foi sequer militar.

E nunca o poderia ter sido por ser mulher . De seu nome Sybil Bristowe, sobre ela muito pouco se sabe a não ser que nasceu em Londres em 1870 ignorando-se tudo o mais, incluindo o local e data do falecimento.

Mas para quem lê o poema “Over the Top”, o único que dela se conhece, a autora “veste a pele” de um soldado das trincheiras e fá-lo tão completamente que ela “é” esse soldado. Talvez seja um milagre só ao alcançe da poesia, milagre esse que para nós que não somos poetas permanecerá para sempre inexplicável.




Over the Top

Ten more minutes! – Say yer prayers,
Read yer Bibles, pass the rum!
Ten more minutes! Strike me dumb,
'Ow they creeps on unawares,
Those blooming minutes. Nine. It's queer,
I'm sorter stunned. It ain't with fear!

Eight. It's like as if a frog
Waddled round in your inside,
Cold as ice-blocks,
straddle wide,
Tired o' waiting. Where's the grog?
Seven. I'll play yer
pitch and toss –
Six. – I wins, and
tails yer loss.

'Nother minute sprinted by
'Fore I knowed it; only Four
(Break 'em into seconds) more
'Twixt us and Eternity.
Every word I've ever said
Seems a-shouting in my head.

Three. Larst night a little star
Fairly shook up in the sky,
Didn't like the lullaby
Rattled by the dogs of War.
Funny thing – that star all white
Saw
old Blighty, too, larst night.

Two. I ain't ashamed o' prayers,
They're only wishes sent ter God
Bits o' plants from
bloody sod
Trailing up His golden stairs.
Ninety seconds – Well, who cares!
One –
No fife, no blare, no drum –
Over the Top –
to Kingdom Come!

Sybil Bristowe







Sendo imposssivel de traduzir sem desvirtuar , (está escrito numa ortografia que imita a pronuncia cockney), para os leitores menos familiarizados com o Inglês segue-se o significado, (muitas vezes não literal), de alguns termos que estão a itálico no texto


Those blooming minutes- Literalmente minutos que desabrocham- maravilhosos,frágeis.

It's queer-É estranho

Waddled round- Tivesse andado cambaleando,gingando.

Straddle wide-Apertando num amplexo.

Pitch and toss- Jogo parecido com o cara ou coroa.

Tails ye loss- Coroa tú perdes.

Twixt us-Entre nós e...

Old Blighty-Nome popular para Inglaterra.

Bloody sod-Terra sangrenta

No fife, no blare,no drum-Sem gaita (de foles), sem corneta,sem tambor

To kingdom come- Para o outro mundo.



















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A Morte de Ivan Ilyich

7/2/2014

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                                    A MORTE DE IVAN ILYICH

“Muitos homens vão à pesca toda a vida

sem perceberem que não é peixe o

que realmente precisam”

Henry David Thoreau



Após a públicação de “Guerra e Paz” em 1869 e de Anna Karenina em 1877, Leon Tolstoy estava no auge da sua fama, uma figura patriarcal reverenciada, vivendo rodeado pelos seus treze filhos na casa ancestral dos Condes de Tolstoy, em Yasnaya Polyana, a cerca de 200 quilometros de Moscovo, quando uma inesperada crise espiritual o transformou completamente.

Segundo relata começou a experimentar “momentos de perplexidade”, com sensação de a vida ter parado. E se esses instantes passavam, era para logo voltarem com a incessante pergunta : “A vida que tenho que significa e para onde me leva ?”. Nem mesmo a sua fama literária lhe parecia digna de registo : “Eu dizia a mim próprio: Muito bem, serei mais famoso que Gogol ou Pushkin ou Shakespeare ou Moliére, mais do que todos os escritores do mundo, e depois o que é que isso vale ? E não conseguia encontrar resposta “.

“ Tudo aquilo que eram os alicerces que me tinham sustentado tinham ruído; Debaixo dos meus pés nada ficou” (in: Confessions-cap IV)

E continuou :

“A minha vida chegou a um impasse. Eu podia respirar, comer, beber e dormir, não podia deixar de fazer essas coisas; mas em mim não havia vida, porque não existiam objectivos cuja realização achasse valer a pena. Se uma fada aparecesse disposta a satisfazer-me qualquer desejo eu não saberia o que pedir...nem sequer o de conhecer a verdade, porque já suspeitava no que ela consistia: A verdade era que a vida não tinha qualquer sentido” .(ibidem).

“As pessoas diziam-me : Não penses no significado da vida! Limita-te a viver sómente! Mas eu não conseguia, porque já o tinha feito durante demasiado tempo...”

Mas Tolstoy no meio do seu tormento e quando tudo parecia perdido, tem um último sobresalto e salva-se. Mas para ele tudo muda e a vida passada deixa de ter valor:

“Olhando para trás vejo agora claramente que a minha fé- a minha única fé – tudo aquilo que, áparte os instintos animais, me fazia mover – era o desejo de me aperfeiçoar. Mas qual era o objectivo dessa perfeição eu não o saberia dizer. Por isso tentei aperfeiçoar-me mentalmente- estudei com afinco tudo o que pude ; Tentei aperfeiçoar a minha determinação, establecendo regras rigidas que tentava seguir ; Tentei aperfeiçoar-me fisicamente, cultivando a força e a agilidade com todo o tipo de exercicios,  fortalecendo a minha resistencia submetendo-me a todo o genero de privações. Tudo isto eu considerava ser útil para chegar à perfeição a qual era no principio óbviamente a perfeição moral, mas que rápidamente foi substituída pelo desejo de ser apenas  perfeição : Não era tornar-me melhor aos meus próprios olhos ou aos de Deus, mas sim aos das pessoas : Ser mais famoso, mais importante e mais rico.” (in Confessions-cap I)

E a rejeição dos valores da Sociedade – ambição, poder, ganancia, lascivia, orgulho- leva-o a procurar uma vida dedicada ao próximo, à simplicidade, à verdade. Transforma grande parte da sua mansão numa escola para crianças pobres e torna-se num crítico da servidão a que estão sujeitos os camponeses russos, o que rápidamente o torna num inimigo do Estado, e a própria Igreja Ortodoxa Russa não se livra da sua condenação pela sua cumplicidade na tirania, o que faz com que seja por ela excomungado.

Mas o principal legado que nos deixa desses tempos é a sua obra “A morte de Ivan Ilyich” :

O personagem principal vive em S. Petersburgo num luxuoso apartamento e é um respeitavel juíz do Supremo Tribunal. Há muito que o amor está ausente do seu casamento e a mulher, Praskovya Golovin, é uma pessoa distante e fria que não está interessada na vida do marido a menos que seja directamente afectada. Para Ivan a filha do casal, Lisa, é uma pessoa estranha, a maior parte do tempo incompreensivel, como dificilmente suportável é o noivo, Fedor Petrishchev.

Amigos são apenas os que podem ajudar na carreira e cujas posições sociais lhe possam trazer algum prestigio. Os frequentes jantares que oferece são ocasiões minuciosamente preparadas onde tudo o que é dito é cuidadosamente pensado e onde não há lugar nem para a sinceridade nem para o calor humano. Como aliás era comum a todos os seus conhecimentos, a principal preocupação de Ivan Ilyich é subir na escala social, e do trabalho o único prazer que retira é a satisfação do seu orgulho, e da sua intensa vida em sociedade para ele o único resultado é a satisfação da sua vaidade.

A Ivan porém inesperadamente surge uma pequena dor no abdomen, que vai crescendo até se tornar insuportável. Chamados os médicos estes não conseguem identificar a origem do mal, e muito menos acertar na cura, e rápidamente se torna evidente que ele não irá viver muito tempo.

Para os colegas e amigos do Tribunal essa perspectiva não é de todo desagradável, e é altura de pensar nas possibilidades que se abrem com a prematura partida de Ivan Ilyich. Para Fyodor Vasilyevitch é uma boa ocasião de ficar com o lugar de Vinnikov, se este for promovido e ocupar o lugar do falecido, o que representa um substancial aumento de vencimento. Já para Pyotr Ivanovitch abre-se a possiblidade de poder transferir o cunhado da provincia para S. Petersburgo.

Praskovya Fedorovna, essa preocupa-se com o quanto ficará de pensão por morte do marido e a filha Lisa rala-se com o efeito que o inevitável período de luto pela morte do pai terá na sua vida social, não falando no adiamento do casamento planeado para daí a uns meses.

O doente entretanto, que jaz na cama entregue ao seu imenso sofrimento, começa a perceber que sacrificou tudo pelas aparências, para impressionar aqueles que afinal não se podem importar menos com ele. Com terrivel realismo entende tarde demais que não era amado por si próprio, mas apenas respeitado pelo seu estatuto de juíz e de rico pai de familia, e que por isso sendo agora um nada no seu leito de morte a nada tinha direito, nem mesmo à compaixão e  carinho que aliviassem a sua agonia.

E assim morre Ivan Ilyish tão só como na realidade viveu, sem nunca ter conhecido o significado do verdadeiro amor.


A epifânia experimentada por Tolstoy no final da sua longa crise fê-lo alterar todas as suas atitudes e a apresentar-nos Ivan Ilyich como estando apenas aparentemente vivo quando na realidade há muito que tinha sofrido uma morte moral, e quando o descreve dentro do seu esquife revê-se a si próprio, pois crê que inelutávelmente aquele teria sido o seu fim se não tivesse mudado.

Este livro vem na tradição cristã de “memento mori”, uma demonstração em como meditar no significado metafísico da morte pode fazer-nos reorientar as nossas prioridades e afastar-nos dos valores mundanos, a ambição, desejo de poder, orgulho,  arrogancia, para podermos experimentar uma vida espiritual verdadeiramente plena, em comunhão com todos os outros.

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Dos Medos Infundados

5/2/2014

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        DOS MEDOS INFUNDADOS

                     CARTA A LÚCILIO

                   (epistulae morales ad Lucilium)

                              Lucius Annaeus Seneca

                                          (4bc-65ac)

                                                                                                                     








Eu sei que tens bastante ânimo; mesmo antes de teres aprendido lições eficazes para conseguires vencer os azares do destino, já tinhas razões para te sentires orgulhoso dos teus encontros com eles, e ainda mais agora depois dessas lutas terem testado a tua resolução. Porque nunca poderemos verdadeiramente acreditar em nós próprios antes de sermos posto à prova pelos desafios da vida. Apenas desta maneira acreditaremos que nunca nos deixaremos submeter por nada que seja exterior a nós.

Esta é a verdadeira medida do nosso animo ; nenhum lutador pode entrar em combate acreditando na vitória sem ter marcas de combates anteriores, sem ter derramado o seu próprio sangue , sem ter caído fisicamente mas não moralmente, para sempre se levantar de novo e cada vez com mais força.

Sabendo tudo isto, gostaria no entanto de te aconselhar algumas medidas de precaução com que possas fortalecer as tuas defesas. É que, Lúcilio, existem muito mais coisas que nos assustam do que aquelas que nos podem derrotar; sofremos muito mais devido à imaginação do que devido à realidade. Não falo como um Estóico, mas como alguém mais moderado. Nós, os Estóicos, falamos das coisas que causam sofrimentos e dor como não sendo importantes, como indignas da nossa preocupação; mas, tú e eu, deixemos por ora de lado esses grandes principios, por muito verdadeiros que sejam.

 O que te aconselho é que não sejas infeliz antes do mal acontecer; porque os perigos que hoje te fazem empalidecer como se realmente te ameaçassem podem nunca se realizar, e certamente ainda não  aconteceram. Portanto algumas coisas atormentam-nos mais do que deviam, antes do que deviam, e muitas não nos deviam atormentar de todo.

Temos o hábito de exagerar, ou imaginar, ou antecipar o desgosto. Interroga-te a ti próprio sobre os teus sentimentos, porque conheces-te melhor do que ninguém. Deves começar por perguntar se os teus temores são reais ou imaginários, sabendo que o que nos atormenta são sempre coisas do presente ou do tempo que há-de vir. Se forem do presente a resposta é fácil, se gozares de boa saúde e possuires razoáveis meios de sustento. Quanto ao futuro já veremos, mas hoje tudo está bem. “Mas”, dirás, “algo irá acontecer”. Mas pensa um pouco e examina com lucidez as coisas que te causam esses temores e verás que as piores são as inexistentes, pois a realidade tem fronteiras bem definidas, enquanto que o imaginário faz com que uma mente assustada cavalgue sem freio os seus medos. Nada é pior que o medo do medo, tão irracional é o pânico.

 Portanto olhemos racionalmente a situação: É possivel que o futuro traga problemas, mas por agora tudo está bem. Quantas vezes o inesperado aconteceu ! E quantas vezes o que era esperado nunca se deu! De que servirá correr de encontro do infortunio? Bem basta o sofrimento quando ele chegar, entretanto pensemos em coisas melhores. O que ganharemos com isso? Tempo. Muitas coisas podem acontecer que evitem as tribulações que parecem iminentes. Casos há de homens que sobreviveram aos próprios carrascos. No último instante a espada falha o golpe mortal. Mesmo a má sorte é caprichosa e muda súbitamente.

Portanto sopesa cuidadosamente as tuas esperanças e os teus medos e na dúvida decide a teu favor, acredita no que fôr melhor. E se o medo tiver a maioria dos votos, mesmo assim volta-lhe as costas e vai em sentido contrário. Que sejam outros a dizer: “Talvez o pior nunca aconteça !" Tú deverás dizer: “Muito bem, e se realmente acontecer ? Veremos quem ganha! Talvez até esse pior seja afinal um bem que dê um novo sentido à minha vida! ” Sócrates ganhou a imortalidade ao beber a cicuta. Tivessem tirado a Catão a sua espada, antes que ele com ela tivesse tirado a própria vida, e tê-lo-iam privado do seu momento de maior glória . Até sempre.



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