A Gazeta do Middlesex

Mais dia menos dia...

27/2/2015

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Mais dia menos dia irão aparecer em Portugal cartazes do PSD, (os spin doctors são da mesma escola), com uma mensagem semelhante : "Vamos manter o mesmo rumo para a recuperação económica", (ou coisa que o valha).

Seria bom que aí como aqui o humor fosse a melhor resposta:
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Ao fundo da tal estrada podem-se ver agora os monumentais edificios dos grandes bancos da City com a legenda " Vamos manter o rumo para os lucros massivos dos banqueiros!"

Ou,
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"É este o caminho para a recuperação económica ?"

"Não querida, esta é a fila para as Urgencias do Hospital !"
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How do I love  thee?

25/2/2015

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                       SONNETS  FROM  THE  PORTUGUESE

                                  SONETOS DA PORTUGUESA



                                                                         Sonnet- Soneto

                                                                                    43


How do I love thee? Let me count the ways.

I love thee to the depth and breadth and height

My soul can reach, when feeling out of sight

For the ends of being and ideal grace.

I love thee to the level of every day’s

Most quiet need, by sun and candle-light.

I love thee freely, as men strive for right;

I love thee purely, as they turn from praise.

I love thee with the passion put to use

In my old griefs, and with my childhood’s faith.

I love thee with a love I seemed to lose

With my lost saints. I love thee with the breath,

Smiles, tears, of all my life; and, if God choose,

I shall but love thee better after death.

                                            Como é que te amo ? Deixa que conte as maneiras.

                                            Amo-te em todas as infinitas dimensões

                                            Que minha alma atinge quando procura alcançar

                                             A plenitude do Ser e da divina Graça.

                                             Amo-te cada dia do mesmo modo,

                                             Tranquilamente, à luz do Sol e das velas.

                                             Amo-te livremente como quem procura o Bem;

                                             Amo-te com a pureza dos que vêm das suas preces.

                                             Amo-te com a paixão com que vivi

                                             Minhas antigas dores e com a fé da minha infancia.

                                             Amo-te com um amor que parecia perdido

                                             Quando deixei de ter fé nos meus Santos-Amo-te como respirei,

                                             Com os sorrisos e lágrimas de toda a vida- E Deus querendo,

                                              Para além da morte ainda mais te amarei.





Elizabeth Barret Browning, (1806-1861), foi um das mais famosas poetizas Inglesas de sempre.

Casada com o também poeta Robert Browning, (1812-1899), dedicou-lhe 44 sonetos que ficaram na história da literatura Inglesa sob o nome “Sonnets from the Portuguese” , sendo tidos como sendo os melhores desde Shakespeare.

Particularmente o Soneto 43, com a sua primeira estrofe “How do I love thee? Let me count the ways”, é um dos mais populares da literatura Inglesa, declamado incontáveis vezes nos momentos mais românticos.

Mas porquê o nome “Sonnets from the Portuguese”?

Elizabeth considerava que os poemas eram de natureza demasiado intima para poderem ser publicados, mas perante a insistência do marido decidiu usar um disfarce.

Aí contribuíram vários factores levando a que o nome de Portugal tenha ficado para sempre ligado a esta obra poética:

Primeiro Elizabeth era franzina e trigueira, o que fazia com que Robert Browning a tratasse carinhosamente como “a minha portuguesinha “. Por outro lado a autora tinha uma grande admiração por Camões e pelos seu sonetos, que eram também conhecidos como “Sonnets from the Portuguese” . Aliás a estrutura poética é idêntica em ambos.

E como se não bastasse, poemas ou cartas de amor evocavam inevitavelmente as “Lettres Portugaises”, atribuídas a Mariana Alcoforado. Aliás “une Portugaise” tornou-se sinónimo de carta ou poema de amor.

E os sonetos de Elizabeth Barret Browning ficaram mesmo para a posteridade com o nome “Sonnets from the Portuguese” !




PS: Evoco a infinita benevolência do leitor para a tradução que foi livre, para não dizer libérrima!

Já agora é curioso mencionar que recentemente, (2006), um livro de Myriam Cyr defende que a autoria das “Cartas”, sempre motivo de acesa polémica, é mesmo de Mariana Alcoforado.






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Hard Times

22/2/2015

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A principio foi só nas zonas ricas da cidade, mas pouco a pouco foram-se espalhando e hoje praticamente em tudo o que possa servir de refugio podem-se encontrar os espigões anti- sem abrigo.

Aqueles que caíram na miséria são os novos párias: Intocáveis, são agora forçados a serem também invisíveis, à medida que novas maneiras de esconder a pobreza que nos rodeia são adoptadas.

“Arquitectura defensiva” é como lhe chamam, como se um nome inócuo tornasse aceitável uma realidade horripilante. Essa “arquitectura” não é nem acidental nem irreflectida, mas sim produto de uma desumanização que foi pensada, planeada, aprovada e financiada com o propósito de excluir e agredir. Uma “higienização” do espaço público que passa uma mensagem clara: “vós, que verdadeiramente deixaram de ser membros da Sociedade, aqui não podem estar.”

Esta é o real objectivo da “arquitectura defensiva”: Fazer sentir aos nada têm, aos pobres entre os pobres, que na realidade não pertencem já ao género humano, que são inferiores, que são eles próprios responsáveis pelo abismo em que caíram e que por conseguinte podem ser enxotados como se fossem um bando de pombos.

“Só acontece aos outros” é o que querem que pensemos, mas reflectindo veremos que numa Sociedade em que se é encorajado em usar o crédito, começando pela compra de uma casa, basta uma situação de desemprego inesperada para nos tornarmos nós próprios “um deles” , tão ilusória era a segurança em que vivíamos.

É doloroso e desmoralizador ver alguém enrodilhado em mantas dormindo num portal com temperaturas negativas, alguém que foi uma dia também ele “um filho de sua Mãe.” É por isso que se querem que ignoremos esses dramas somos nós próprios os primeiros a não querer ver e que por isso esses espigões se tornaram num símbolo da nossa falta colectiva de generosidade de espírito.




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Coisas de outro mundo

19/2/2015

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                                 COISAS DE OUTRO MUNDO



                                                                                 I


                                                                  GIN & JAG


É como são conhecidos os conservadores Ingleses da velha guarda : Bebem Gin e conduzem um Jaguar e, pode-se acrescentar, lêem o Daily Telegraph.

Este Jornal é o que resta da tradição: Circunspecto, avesso ao sensacionalismo, com páginas de formato grande, ou broadsheet, em oposição aos tablóides, foi muitas vezes chamado o Pravda do Partido Conservador o que não quer dizer que fizesse fretes partidários, muito pelo contrário: Manteve-se sempre fiel à antiga ideia de uma certa Inglaterra onde servir Queen and Country começava por se dizer sempre a verdade.

Porém, já dizia a canção de Bob Dylan the times they are a-changin' , nada é como dantes como se verá a seguir:

Tudo começou com o recente escândalo do HSBC, (Hongkong & Shanghai Banking Corporation), essa vetusta instituição fundada em 1865 e que foi agora apanhada, por assim dizer, a meter a mão na caixa das esmolas.

Da longa lista dos prevaricadores, aqueles que o Banco meritóriamente ajudava a manter as respectivas fortunas longe dos olhares ávidos do fisco, têm lugar de destaque os ultra-ricos que desinteressadamente, por supuesto, doaram milhões ao Partido Conservador.

Acontece também que o HSBC era um dos principais anunciantes do Telegraph, o que levou a que as noticias sobre a marosca fossem relegadas o mais discretamente possível para as páginas interiores.

Com o que ninguém contava, muito menos a Direcção do Jornal, foi que Peter Osborne, nada menos que o Editor da Secção Política, se tenha imediatamente demitido alegando ter o Telegraph cometido uma “fraude aos leitores” por não ter dado o devido destaque a um caso tão importante.

Mas não se ficou por aqui: “Houve uma sinistra mudança naquele que era o mais importante periódico de tendência conservadora da Grã-Bretanha”, afirmou acrescentando: “ nele desapareceu a separação fundamental entre a publicidade e o conteúdo editorial”.

Foi, disse ainda, “ pôr os interesses de um grande Banco acima do dever de informar o público, o que consiste num ataque aos valores da nossa Democracia, o que não pode ser ignorado por ser uma realidade terrível” e que, quando protestou perante a Direcção do Telegraph, lhe foi respondido que “ O HSBC é um anunciante que não podemos de maneira nenhuma hostilizar.”

E foi assim que um destacado jornalista, com um cargo de relevo num jornal de grande prestigio, pôs quiçá fim à sua carreira por uma questão de mera integridade moral.

Ora digam lá se isto não é coisa de outro mundo ?




                                                                            II

                                                     A Fé na Praça Pública


Foi o titulo do livro com que, há um par de anos atrás, Rowan Williams se despediu do cargo de 104º Arcebispo de Cantuária. E foi, acreditem, uma despedida com estrondo : Uma critica acerba das políticas sociais do presente Governo Conservador onde abertamente acusa o governo de David Cameron de prosseguir uma política de fuga às responsabilidades do Estado para com os mais vulneráveis. E a sua critica ainda se torna mais estridente quando questiona a decisão do Governo de baixar os impostos para os contribuintes mais ricos, ao mesmo tempo que implacavelmente corta as magras ajudas aos mais necessitados.

Mas o Arcebispo Williams na sua obra não limita as criticas às medidas de austeridade, vai muito mais longe ao pôr em causa o modelo de Sociedade que faz do crescimento económico a prioridade:

“Ao nível individual e nacional deve ser debatido aquilo a que chamamos crescimento como sendo a capacidade de produzir cada vez mais bens de consumo, (não falando dos produtos financeiros...), sendo que isso não passa de uma maneira meramente mecânica de medir a criação de riqueza”, e continua :” O aumento descontrolado da procura introduz uma pressão cada vez maior nos recursos naturais e sistemáticamente destrói as bases para um crescimento económico sustentado que conduza ao bem-estar”.


Hoje foram os Bispos Anglicanos a publicar uma carta colectiva de 52 páginas onde denunciam o “perigo que corre a nossa Democracia”, e as crescentes manobras para explorar as divisões existentes na Sociedade tentando culpar alguns pela presente crise. Apelam para que “seja encontrada uma nova visão fundada na Moral sobre que tipo de país queremos ser.”

“Existe uma profunda contradição nas atitudes de uma Sociedade onde, enquanto aparentemente se exaltam os princípios da Igualdade, muitos, especialmente os pobres e vulneráveis, são tratados como sendo indesejáveis, desprezíveis e sem valor.”

Dizem os Bispos que aqueles que são forçados a recorrer às ajudas sociais são:

“Descritos como não sendo merecedores de serem apoiados, por serem dependentes e não auto-suficientes.”, e ainda que:

“Os que manifestam preocupação com o impacto das medidas de austeridade nos mais vulneráveis são acusados de serem irresponsáveis no que toca ao problema da divida publica.”

“Esta Sociedade baseada no individualismo afastou as pessoas uma das outras, o que é comprovado pelo crescente problema da solidão, com as suas consequências na saúde mental e física da população.”

“O peso da austeridade não recaiu sobre aqueles com maior capacidade de o suportar, mas sim sobre os mais humildes que não foram suficientemente protegidos dos efeitos da recessão.”

Quando se olha para o estarrecedor silencio da Igreja Católica em Portugal a qual, perante a verdadeira crise humanitária que se abateu sobre os mais pobres, até agora se limitou a meras declarações de circunstancia que possam servir no futuro de álibi para a sua inoperância cúmplice, e se o compara com as atitudes corajosas tomadas pela Igreja Anglicana, de que esta Carta dos Bispos é um refulgente exemplo, então é impossível não concluir que os Anglicanos são realmente também uma coisa de outro Mundo.




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Dormindo com o Inimigo

15/2/2015

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                                 DORMINDO COM O INIMIGO


Menos de 24 horas depois de proclamada a vitória eleitoral o Syriza acordou formar uma coligação, não ao centro ou à esquerda, mas sim com com o partido de direita Gregos Independentes.

Tanto bastou para que a Direita Portuguesa, uma caso de ignorância e estupidez de proporções bíblicas, tenha apontado pressurosa a falta de coerência de Tsiparas, sem se dar conta que nesse momento as regras do jogo tinham mudado.

Na realidade o que até aí parecia ser, na Grécia e não só, uma tradicional luta política entre Direita e Esquerda, passou a ser um confronto entre o Estado-Nação e aquela entidade abstracta a que se convencionou chamar “Europa”, mas cuja cabeça é porém bem conhecida e que dá pelo nome de Angela Merkel.

Nesse instante Passos Coelho começou a perder o pé e a aterradora possibilidade de ver Tsiparas ganhar para o seu Povo melhor vida e melhor futuro fez com que começasse furiosamente a tentar pedalar para trás.

Vem daí o facto de ter começado a defender a sua escolha política pelo cumprimento integral do Acordo com a Troika como tendo sido perfeitamente legitima e correcta para o Chefe do Governo Português. Ora o que Passos nunca entendeu, na estreiteza da sua inteligência, ainda por cima obnuliada pela sua colossal vaidade, foi que o dever mais importante para um Primeiro-Ministro não é satisfazer exigências de estrangeiros, ainda por cima sem estar mandatado para tal, mas em defender, à outrance se necessário, os interesses do Povo que o elegeu.

Cavaco, essa desprezível e vil criatura que abjura diariamente os compromissos de honra que jurou defender, veio a terreiro falando nos “milhões que os Portugueses tinham dado à Grécia”, na tentativa de usar a inveja como arma política, o que está aliás de acordo com os seus defeitos de carácter.

Mas a suprema ironia consiste no facto de, se conseguir por travão às políticas Alemãs de austeridade, que são auto-destrutivas, venha a ser afinal Tsiparas o salvador do Euro.

Mas o problema vai para além das políticas económicas : A elite tecnocrática que nas ultimas décadas tem governado a Europa sofre uma assalto simultâneo à esquerda e à direita : O Ukip na Grã-Bretanha e o Front National em França, assim como os vários partidos anti-solidariedade surgidos na Alemanha, Áustria e Finlândia, demonstram isso mesmo.

Portanto se queremos que União Europeia sobreviva não podemos permitir que os laços de solidariedade sejam substituídos por uma mera relação credor-devedor.

É precisamente para isso que Yanis Varoufakis, o novo Ministro das Finanças Grego, que se define a si próprio como sendo um economista acidental, abandonou o lugar de professor de Economia na Universidade do Texas (Austin) para enfrentar o maior desafio imaginável. Conta que um dia um colega lhe disse que como Marxista devia ser sempre optimista e ter uma opinião sobre tudo, mas acima de tudo não podia perder os seus ideais. É difícil ,(à esquerda e à direita), não desejar que tenha sucesso.


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Pensar II

13/2/2015

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                                              PENSAR II

(continuação)

O combate à blasfémia foi sempre um meio que os déspotas usaram para legitimarem o seu poder, como ficou claramente demonstrado em 1989 quando os Iranianos declararam uma fatwa contra Salman Rushdie pela publicação dos Versos Satânicos, no que não foi uma acção isolada levada a cabo pela hierarquia religiosa na tentativa de silenciar a expressão criativa. Leis contra a blasfémia existem em muitas partes do mundo Muçulmano, frequentemente implicando penas draconianas para quem as infringem. Um relatório publicado em 2013 pela International Humanist and Ethical Union revela que os apóstatas e blasfemos incorrem na pena de morte em 13 países, todos eles Muçulmanos: Afeganistão, Irão, Malásia, Maldivas, Mauritânia, Nigéria, Paquistão, Qatar, Arábia Saudita, Somália, Sudão, Emirados Árabes Unidos e Iemen.

Enquanto em Paris prosseguia a caça aos assassinos do Charlie Hebdo, na Arábia Saudita um blogger, Raif Badawi, era condenado a sofrer 1.000 chicotadas e a cumprir uma pena de 10 anos de prisão bem como ao pagamento de uma multa de £175.00 por ter supostamente insultado o Islão. A Mulher de Badawi, Ensaf Haidar, declarou ao The Guardian, “O Governo Saudita comporta-se como o Daesh ( designação pejorativa em árabe para o EI).”

Começa assim a esbater-se a diferença entre os nossos aliados – como os Sauditas- e os nossos inimigos como o EI. Ambos aplicam uma política de estrita observância na aplicação de penas capitais sobre quem alegadamente tenha proferido insultos contra o Islão ou contra o seu Profeta. E não são os únicos.

Durante 16 anos, a até agora chamada Organisation of the Islamic Conference, presentemente designada Organisation of Islamic Co-operation (OIC), tentou fazer aprovar na UN legislação proibindo a “difamação” da religião, o que redundaria na ilegalização internacional da blasfémia.

Em 2011 no Paquistão, o então Governador do Pujab, Salman Taseer, ousou propor a reforma das leis anti-blasfémia o que foi suficiente para que fosse assassinado pelo seu guarda-costas, Mumtaz Qadri. Mas o mais deprimente foi o facto de ter sido declarado herói nacional não a vitima mas o criminoso. “O assassino do meu pai,” escreveu Aatish Taseer num artigo publicado no Telegraph, “foi recebido com uma chuva de pétalas de rosa.”

Algumas comunidades Muçulmanas Britânicas estão envolvidas nestas práticas. Na altura em que foi morto, Taseer estava envolvido na defesa de uma mulher de nome Aasia Bibi, pertencente à minoria Cristã, e que tinha sido acusada de blasfémia. O caso provocou acesa polémica no Paquistão e quando o denunciante revelou a intenção de desistir da queixa foi uma organização Britânica, a Khatm-e-Nubuw-wat Academy, ( o que significa em árabe “a finalidade do Profeta”), que o convenceu a prosseguir. O jornal do Paquistão Express Tribune revelou que vários membros da Khatm-e-Nubuw-wat se deslocaram propositadamente a esse país para garantir que Bibi fosse “perseguida até ao inferno” e que disponibilizaram os fundos necessários à acusação.

Este tipo de atitude persiste há décadas. Quando a fatwa contra a vida de Salman Rushdie foi proclamada, praticamente todas as organizações Muçulmanas da Grã-Bretanha apoiaram a medida. Iqbal Sacranie, que mais tarde foi líder do Muslim Council of Britain e feito Sir em 2005, disse “A morte é provavelmente um castigo demasiado benevolente para ele...” Mais recentemente Sacranie confessou estar arrependido do que disse, mas o mal estava feito.

Em ambos os casos anteriormente mencionados, na Arábia Saudita e no Paquistão, os lideres e grupos religiosos tiveram um papel importante, mas quem formulou as acusações foi o Estado.

Na realidade são os próprios Estados Muçulmanos a alimentar a hostilidade contra a apostasia, e são esses mesmos Estados que tentaram e tentam introduzir leis que proíbam todo e qualquer debate sobre o Islão e que condenam aqueles que internamente ousam fazê-lo.

Não causará portanto surpresa que, quando o Profeta Maomé é objecto de sátira no Ocidente, o facto devido ao clima entretanto criado cause uma fúria incontida no mundo Muçulmano, sem que ninguém do seu interior tenha surgido com suficiente autoridade moral para se ter oposto ao assassinato dos cartoonistas do Charlie Hebdo.


Shiraz Maher




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Pensar II

6/2/2015

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                                                PENSAR  II

Shiraz Maher é Senior Fellow no Centro Internacional para o Estudo da Radicalização do Kings College em Londres e lecciona igualmente na Johns Hopkins University dos Estados Unidos. Segundo um estudo publicado por esse Centro (ICSR) em 26 de Janeiro de 2015 , o numero de combatentes estrangeiros no Iraque e na Síria já ultrapassa os 20.000, o que é superior ao valor registado no auge da guerra do Afeganistão.

Shiraz Maher é autor de uma vasta bibliografia sobre a radicalização e a violência Islâmica.



Shiraz Maher

Entre os mais de 2.000 Jihadis Europeus que combatem na Síria e no Iraque a aprovação dos ataques terroristas de Paris foi universal e enfática. “ Os povos ocidentais aprenderam uma importante lição” foi um tweet enviado por um guerrilheiro Holandês, Abu Saeed AlHalabi. ”Os vossos Governos não conseguem proteger-vos quando a al-Qaeda vos coloca numa lista de pessoas a abater .”

Um militante Britânico com o nom de guerre Hudheyfa Al Britani alertou para que os Muçulmanos não deveriam demonstrar nenhuma simpatia pelas 17 vitimas no magazine Charlie Hebdo e no supermercado judaico de Paris. “Qualquer muçulmano que participar nas marchas de solidariedade será um murtad, (apóstata),” escreveu no Twitter. Um segundo jihadi, o Holandês Abou Shaheed, apelou para que fosse seguido o exemplo de Said e Chérif Kouachi, os irmãos que atacaram a revista Francesa e para que “aterrorizassem os inimigos de Allah.” Shaheed também apelou a que fosse atacado o jornal Dinamarquês Jyllands-Posten, ( que tal como o Charlie Hebdo publicou desenhos do Profeta Maomé), e o político Holandês anti-Muçulmano Geert Wilders.

Os três combatentes Europeus citados pertencem ao Estado Islâmico (EI), mas no entanto o ataque ao Charlie Hebdo tem sido atribuído à al-Qaeda da peninsula Arábica (Aqap). É necessário voltar um pouco atrás e explicar que estes dois grupos terroristas têm estado envolvidos numa luta entre eles desde que o EI declarou deixar de receber ordens de Ayman al-Zawahiri, o chefe da al-Qaeda (da qual Aqap é uma secção regional). Os lideres de ambas as organizações com frequência acusam-se mutuamente enquanto os seus membros combatem entre si no terreno.

Se o EI não reivindicou oficialmente o ataque ao Charlie Hebdo, as opiniões de outros dois combatentes Britânicos revelam o que pensam as tropas islâmicas no terreno. Aby Qaqa, originário de Manchester, enviou um tweet onde afirma que o que era importante não era quem tinha assassinado os jornalistas do Charlie Hebdo, mas sim que eles tinham sido mortos.

Falando comigo através do Kik, um app para smartphones, Omar Hussain, natural de High Wycombe (localidade a Oeste de Londres,n.t.), e antigo segurança da cadeia de supermercados Morrisons, disse-me : “Não estou interessado em saber se os ataques são feitos sob o comando da Aqap ou do Isis. Desde que o kafir, ( infiel), seja morto, isso é o que importa. Matar um kafir que tenha insultado o Profeta é uma acção meritória.”

Neste contexto a importância de punir tudo aquilo que seja entendido como insultos ao Profeta transcende mesmo as mais acesas rivalidades institucionais. É a conclusão clara que se pode tirar dos dois ataques de Paris. Quando os irmãos Kouachi fugiram para os arredores da capital Francesa em 9 de Janeiro, Amedy Coulibaly atacou o supermercado e assassinou quatro Judeus.

Os detalhes sobre como foi feita a coordenação entre estes dois acontecimentos ainda não é completamente conhecida, mas pelo menos sabe-se que Coulibaly agiu em apoio dos Kouachis. Quando os dois irmãos declararam aos funcionários do Charlie Hebdo que agiam em nome da Aqap, Coulibaly por seu turno afirmou num vídeo que estava sob as ordens do EI. Deve ser salientado que os autores de ambos os ataques, à revista e ao supermercado, tinham laços de amizade desde longa data, o que demonstra a maior importância que têm actualmente na actividade terrorista os laços sociais do que as filiações institucionais.

Julga-se que a companheira de Coulibaly, Hayat Boumeddiene, partiu no principio do ano para a Síria, onde é prática comum entre os guerrilheiros estrangeiros a punição daqueles que julgam terem insultado Maomé, ou desrespeitado o Islão por qualquer forma. ”Hoje demos 80 chicotadas num tipo que tinha praguejado contra Deus e se voltar a cometer o mesmo crime será morto!”, escreveu no Twitter o guerrilheiro Holandês Shaheed pouco antes dos ataques de Paris.

Em 2014 um jihadi Britânico que se identifica com o nome Mujahid Sayyad, antigo aluno da Queen Mary University of London, publicou um vídeo no Facebook onde se via membros do seu grupo a torturarem um combatente do Exercito Livre Sírio, (facção que combate igualmente o regime sírio, mas que é distinta do EI- n.t.). O homem tinha igualmente cometido o “crime” de soltar “uma praga contra Allah” e tinha lhes sido ordenado que lhe dessem uma severa “lição”.

Para Hussain, o guerrilheiro de High Wycombe, não devem ser apenas os blasfemos a ser punidos. Disse-me ser urgente que os Muçulmanos do Ocidente seguissem o exemplo dos autores dos atentados de Paris e que era obrigatório “matar os soldados Britânicos que regressassem de missões no Iraque ou Afeganistão”.

Isto está de acordo com declarações suas anteriores. Em Outubro passado Hussain aparecia num vídeo de propaganda do EI apelando à sublevação dos Muçulmanos Britânicos e para que “levassem o terror ao coração das comunidades infiéis”.

Estas são precisamente as intenções que preocupam Andrew Parker, Director Geral dos Serviços de Segurança (MI 5), o qual, num discurso proferido a 8 de Janeiro no Royal United Services Institute, reafirmou que o terrorismo Islâmico é cada vez mais uma ameaça real e significativa.

A Síria é o cadinho onde todas as facções da jihad se misturam, a arena de que brotam os ataques internacionais e de onde estes são simultaneamente inspirados e dirigidos. A crise não fez senão aumentar a ameaça terrorista ao nosso país por uma geração- talvez mesmo duas. Isto pode parecer ser alarmista, mas há que considerar a escala dos perigos que enfrentamos. Desde Outubro de 2013, “Houve mais de 20 conspirações terroristas que foram ou dirigidas ou inspiradas desde a Síria”, afirmou Andrew Parker. O que significa mais de uma por mês nos últimos 15. A Procuradoria obteve desde 2010 em média três condenações por mês relativas a crimes relacionados com possíveis atentados terroristas.

Ao mesmo tempo que aumenta a ameaça terrorista esta está em constante mudança. Os grupos de Jihadis preferem actualmente levar a cabo ataques menos sofisticados: Mais difíceis de detectar e requerendo menos participantes.

Os ataques ultimamente feitos no Ocidente- no Canadá, em França e na Austrália- foram executados por pequenos grupos ou mesmo por um só individuo.

É praticamente impossível impedir esse tipo de acções. Não necessitam de grande preparação e requerem muito pouco reconhecimento prévio dos locais. As armas de fogo são desnecessárias; logo a relativa dificuldade de poder aceder a elas na Grã-Bretanha comparativamente a outros países ocidentais não é garantia de segurança.

O brutal assassinato do soldado Lee Rigby em 2013 em Woolchich, Sudeste de Londres, demonstrou isso mesmo: Objectos vulgares- facas, um cutelo de carniceiro- podem ser usados como armas de guerra. Este não foi aliás o primeiro ataque deste tipo levado a cabo em solo Britânico. Três anos antes, em Maio de 2010, Roshonara Choudry, uma estudante universitária de Newham, Leste de Londres, que tinha abandonado os estudos, tentou matar Sephen Timms, o Membro do Parlamento eleito pela sua área.

Choudry apunhalou Timms pelo facto de este ter sido favorável à invasão do Iraque. Felizmente que este sobreviveu, mas tendo sido o primeiro Parlamentar da história a ser vitima de uma tentativa de assassinato em solo Britânico devido ao sentido do seu voto no Parlamento, o simbolismo do crime não passou despercebido.

Esta é a ameaça imprevisível que o MI5 e outros serviços de informação têm de enfrentar. Não faltam os locais sem lei onde jovens Britânicos podem receber treino com vista a orquestrarem aqui um ataque bem sucedido. A Síria e o Iraque aparecem naturalmente como sendo as mais prováveis origens desses ataques, mas é necessário também considerar o Yemen, a Somália e a Nigéria assim como partes da fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão.

Que lições podemos tirar dos ataques de Paris? Para começar devemos analisar a natureza e as origens das convicções dos jihadis. Muito se tem escrito sobre a natureza supostamente “ofensiva” e “provocatória” dos desenhos do Charlie Hebdo. “Não ridicularizem o Profeta do Islão” os seus detractores parecem afirmar, “e não sofrerão represálias”. Este é o argumento que conduziu à retirada do Ocidente do Médio Oriente e a sermos reduzidos a meros espectadores que apenas observam impotentemente enquanto toda a região implode às mãos dos criminosos. “Não interfiram no Médio Oriente e o jihadis não nos atacarão” foi a posição dita sensata enquanto o EI conquistava grande parte da Síria e do Iraque. Os acontecimentos subsequentes trataram de desmentir a sensatez desta decisão.

É verdade que Said e Chérif Kouachi se podem ter sentido ofendidos com os desenhos de Maomé publicados no Charlie Hebdo, mas não foi isso que motivou o seu ataque. A melhor indicação da real motivação que esteve por detrás daquela matança foram as suas próprias palavras: “Acabamos de vingar o Profeta Maomé”.

É a vontade de vingança que revela aquilo que os irmãos Kouachi se propunham fazer. Não era um protesto aquilo que pretendiam, nem sequer dar largas à sua raiva pelos desenhos que achavam ofensivos, mas sim impor aos caricaturistas Parisienses a punição Islâmica da blasfémia. . Encarado desta maneira é fácil perceber que se tratou de um acto que pretendia atingir uma utopia- A “idílica” sociedade Islâmica a que os Kouchis aspiravam- uma onde os blasfemos são punidos com a morte.

Os ataques de Paris revelam o impulso Islâmico de luta contra os valores normativos da sociedade Europeia. Nada que seja novo. Passou mais de uma década sobre o assassinato nas ruas de Amesterdão de Theo van Gogh por ter feito um filme onde era questionada a posição das mulheres no Islão. Em 2010 Kurt Westergaard, um caricaturista do jornal Jyllands-Posten e autor de desenhos do Profeta, escapou por pouco a uma tentativa de assassinato.

(continua)




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Um autêntico "british"

4/2/2015

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                                       UM "AUTÊNTICO BRITISH"



Num jornal diário Português que leio on-line veio hoje a noticia que o Juiz a quem foi atribuída a apreciação do recurso sobre a prisão de José Sócrates é um “autentico British”. Como calculam a coisa toca-me de perto e por instantes pensei que o Magistrado tinha no seu passado alguma ligação a estas ilhas. Nada de extraordinário, numa época onde felizmente os intercâmbios são frequentes e quer estudando quer ensinando as pessoas vão tendo cada vez mais experiências de vida noutros países da Europa.

Mas no artigo o único fundamento apresentado para a Britishness do Juiz consiste no facto de ele ser “cordial”. Ora se eu no passado encontrei razões para pensar que o referido periódico era por vezes, digamos, económico com a verdade, agora tenho de dar a mão à palmatória: Os Juízes Britânicos são realmente “cordiais”, como cordiais e sorridentes são os policias, (que andam desarmados), o pessoal que nos revista as bagagens no aeroporto, os estudantes universitários mais velhos que dão as boas vindas aos caloiros, etc, e de uma forma geral todos aqueles que numa posição de autoridade, oficial ou não, lidam com os outros.

Esta Sociedade tem por certas profissões, que são de grande importância para a vida colectiva, tais como Juízes, Professores, Militares e Médicos, elevado respeito e consideração.

Isto não quer dizer que a autoridade não seja exercida: No caso dos Tribunais a Justiça é fulminante e implacável e as penas severas para quem prevarica. Nem podia ser de outra maneira num país onde não existe nenhum documento de identificação e ninguém, salvo com poderosas razões, se atreve a duvidar da palavra de um cidadão.

Diz-se com graça que os Juízes Britânicos impõem a ordem nas suas salas de audiências com as sobrancelhas: Do alto da sua tribuna, que simboliza a supremacia da Lei, normalmente o levantar das sobrancelhas pelo Juiz faz calar os mais atrevidos. Já Ted Roosevelt dizia que quem exerce o poder deve falar suavemente tendo ao mesmo tempo um grande varapau na mão .

Outra característica interessante é a de que os inquéritos judiciais recebem oficialmente o nome do Magistrado que os preside. Aqueles a quem toca isso em sorte, o saber que o seu nome ficará ad aeternum ligado à investigação, é algo capaz de tornar o Juiz em causa, já de si idóneo, ferozmente independente e impermeável a qualquer tipo de pressão.

O Inquérito Leveson, (de Brian Leveson, de seu titulo completo Lord Justice Leveson), investigou o chamado escândalo das escutas telefónicas. Rupert Murdoch, o homem mais poderoso da Grã-Bretanha, o príncipe negro da política, aquele que sem cujo apoio nenhum candidato a Primeiro-Ministro podia realisticamente aspirar a ganhar as eleições, foi a figura central.

Dono de um império dos media teve um dos seus jornais, o News of the World, no centro do furacão e quando a investigação judicial terminou, após terem sido ouvidas centenas de vitimas, esse jornal tinha sido encerrado, vários réus cumpriam pena e o império de Murdoch tinha sido deitado por terra e o país respirou mais livremente.

Outro Inquérito, este ainda em curso, é o Inquérito Chilcot, (Rt. Hon. Sir John Chilcot), que investiga a participação do Reino Unido na invasão do Iraque e cujos resultados viram a sua divulgação publica recentemente vetada pelo actual Governo Conservador e cuja principal figura, quer queiramos quer não, e que está a ser julgada in absentia, é o antigo Primeiro-Ministro Tony Blair.




Portanto há que desejar ao Juiz do caso Sócrates, a quem não fica mal parecer British, mas que tem certamente muito mais qualidades do que a bonomia do trato, muita sorte, reconhecendo que o lugar que ocupa pode ser um dos mais solitários do Mundo.







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O Poço

1/2/2015

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                       A  GAZETA  DO  MIDDLESEX

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                                                 O POÇO

Leio incrédulo que recentemente Ricardo Salgado declarou à Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o caso BES que por mais de uma vez, por escrito e em audiências pessoais, solicitou a Cavaco o seu apoio institucional para que fosse evitado o colapso do seu Banco, o que a acontecer teria consequências dramáticas para o sector financeiro português, logo também para o seu povo.

Cavaco não nega os encontros e as missivas: Diz apenas que o que lhe é transmitido é e será sempre confidencial.

Terá falado Salgado ? Terá dito o que diz ter dito? Pois se falou foi como se o fizesse para o fundo de um poço, abissal, insondável, tenebroso. Avisou de iminentes catástrofes, de irremediaveis colapsos, de inominaveis crises , todas essas palavras que vêm do grego? Pois de volta não teve nem o mais ténue eco vindo das profundezas sombrias.

Será Cavaco afinal Hades o deus do sub-mundo, aquele que vive para sempre no seu palácio de obsidiana, sentado num trono feito de ossadas e do qual reina sobre uma população de mortos-vivos?

Ou será Hypnos outro deus do sub-mundo, irmão de Thanatos deus da morte, e que era aquele que fazia adormecer todos à sua volta num sono sem retorno e que os Romanos rebaptizaram como Somnus, o que era capaz de fazer adormecer as sentinelas, (pena de morte garantida), e os homens do leme dos navios naufragados?

Confesso que não sei. Talvez haja uma explicação e que tenha sido apenas a distancia e o meu fraco entendimento que para a minha perplexidade se conjugaram.

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