A Gazeta do Middlesex

Os conhecidos desconhecidos

27/2/2017

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                                           OS CONHECIDOS DESCONHECIDOS


                                                            (ou o problema da Irlanda)




“...Os Relatórios que concluem que alguma coisa prevista acabou por não acontecer sempre me interessaram porque provam que existe aquilo que sabemos que sabemos. Também existem os conhecidos que são desconhecidos; quando sabemos que há coisas que não sabemos. Mas também há os desconhecidos que são desconhecidos – quando não sabemos que não sabemos...”


                                                   https://youtu.be/GiPe1OiKQuk


Donald Rumsfeld – Secretário de Estado da Defesa dos Estados Unidos (Numa conferencia de Imprensa em 2002 tentando esclarecer porque razão os Estados Unidos estavam enganados sobre a existência de armas de destruição maciça no Iraque.)



Com pezinhos de lã, no meio do charivari do Brexit, vai surgindo o problema da Irlanda, ou melhor, o como resolver o problema da Irlanda, problema esse que constitui um conhecido que é desconhecido, citando as imortais palavras do Secretário Rumsfeld. Para já temos as duas Irlandas: A da Republica e a da do Norte, esta ultima fazendo parte do Reino Unido, (Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte).

Presentemente, com ambas pertencendo à UE, e depois das dificílimas negociações de paz entre Católicos e Protestantes, a região conheceu um largo período de calma e prosperidade em parte devido ao desaparecimento das fronteiras que separavam as duas Irlandas.
Mas com o Brexit tudo muda: A da Republica continua na UE, mas o Norte sai. Segundo os tratados Europeus nenhum Estado membro que tenha fronteiras com outro que não pertença à União pode permitir o livre transito de pessoas e bens nessas fronteiras. Logo seria necessário reintroduzir barreiras físicas separando a Irlanda Republicana da Unionista. Sabe-se que a medida teria custos políticos e económicos tremendos, ainda para mais se nos lembrarmos que a Irlanda do Norte, como a Escócia, votou maioritariamente no referendo por permanecer na União Europeia. Isso é o conhecido, mas o que não se sabe é até que ponto a decisão seria aceite pacificamente pela população de ambos os lados da futura fronteira. (É a parte desconhecida do conhecido).

Mas, e se por hipótese não existisse controle fronteiriço ? Na situação mais do que provável de não haver acordo de comercio entre as partes Britânica e Europeia, então teriam de ser introduzidas pautas aduaneiras. O que seria facílimo de tornear numa espécie de contrabando consentido: Os bens produzidos em Inglaterra seriam transportados para a Irlanda do Norte e daí para a Republica, e uma vez lá poderiam livremente circular para qualquer parte da UE sem pagar direitos.

No que toca ao livre transito de pessoas os problemas ainda seriam mais graves: Com severas restrições à entrada na Grã-Bretanha de imigrantes vindos da UE, quem quisesse iludir essas restrições bastar-lhe-ia apanhar um avião para Dublin e depois outro de Belfast para qualquer ponto de Inglaterra. A deportação em massa de cidadãos comunitários levantaria à Inglaterra tais problemas legais, políticos e logísticos que não se afigura uma possibilidade viável. Logo, para quê o Brexit ?

Timidamente vai-se sugerindo o que era até há pouco impensável : Se a Republica da Irlanda saísse da UE então terminavam os problemas da fronteira com o Reino Unido, (destino de 40% das suas exportações), mas abria-se um problema ainda maior para o comercio com a Europa. Mas, e se fosse a Irlanda do Norte a integrar-se na Republica ? Tornando-se ambas um só país, uma velha aspiração de 40% da população do Norte, resolviam-se todos os problemas, menos a da feroz lealdade à Coroa Britânica dos restantes 60% dos Norte Irlandeses.


A tudo isto acresce que nos últimos anos o Governo da Irlanda do Norte resultou de um acordo de partilha do poder entre o Sinn Fein republicano e o DUP, (Democratic Unionist Party), partidário da ligação à Coroa Britânica, acordo que soçobrou recentemente no meio de recriminações mútuas. Com eleições marcadas para a próxima Quinta-Feira delas não se espera uma solução de governo viável, restando recorrer à velha formula do Direct Rule que consiste na Irlanda do Norte ser governada directamente pelo governo de Londres, o que trás à memoria o terrível período violência sectária que tantas vidas custou.
Segundo as preclaras palavras do ilustre Donald Rumsfeld, o futuro que nos aguarda não passa portanto do desconhecido que é desconhecido.

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Stoke, Copeland and...

24/2/2017

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                                                   Stoke, Copeland, Brexit

                                                                   (e tudo o resto)





Ontem realizaram-se as eleições intercalares nas circunscrições de Stoke e Copeland, ambas no Norte de Inglaterra. Mas talvez valesse a pena olhar com mais detalhe sobre o que se passou, e passa, no país do Brexit.


Mas comecemos por Stoke-on-Trent, de seu nome completo, cidade que está para a Inglaterra o que a Marinha Grande está para Portugal. Afirma-se que foi aí que a Revolução Industrial deu os primeiros passos, com a cidade sempre ligada à industria da cerâmica. Terra de industria, de operariado portanto, e naturalmente um bastião do Partido Trabalhista. Mas com Thatcher, e a sua política de desindustrialização da Grã-Bretanha, foi Stoke um dos locais que mais sofreu, e a crise foi tão devastadora que ainda é visível e muito sentida pela população.
Não surpreende portanto que no referendo de Junho do ano passado o Brexit tenha tido aí uma vitória esmagadora, recolhendo cerca de 80% dos votos. Tanto bastou para que o UKIP tenha triunfalmente declarado ser Stoke a Capital Britânica do Brexit.
Acontece que Tristam Hunt, o deputado do Partido Trabalhista que representava a circunscrição , pediu recentemente a demissão para se tornar Director do Museu Victoria&Albert em Londres, o que necessariamente implicava uma eleição intercalar afim de preencher a vaga, o que teve lugar ontem.
O Ukip viu nisto uma oportunidade fantástica de infligir uma pesada derrota ao Partido Trabalhista e apresentou como candidato Paul Nuttal, o seu recém eleito líder nacional. Em principio, dada a votação conseguida no referendo pelo Brexit, a vitória de Nuttal parecia garantida, mas de repente coisas do passado desse candidato começaram a surgir nos media, desde um doutoramento que nunca existiu, ao reclamar ter perdido grandes amigos na tragédia do estádio de futebol de Hillsborough, o que se revelou ser também falso.
E de um momento para o outro a candidatura do Ukip colapsou e no ultimo instante o Labour arrancou, como aqui se diz, a vitória das mandíbulas da derrota.


Em Copeland as coisas não correram tão bem. Na realidade correram horrivelmente mal. Uma circunscrição Trabalhista desde 1935 acabou ontem nas mãos dos Conservadores, a primeira vez em 35 anos que um Partido de Governo ganha uma eleição intercalar. Então o que o post-mortem nos pode dizer ?
Em Copeland está uma grande parte da industria nuclear Britânica, incluindo Sellafield, uma das maiores instalações de reciclagem de lixo nuclear do mundo.
As opiniões de Jeremy Corbin contra o nuclear são bem conhecidas e isso foi usado até à exaustão pelos Conservadores soprando o medo que uma vitória Trabalhista poria em causa milhares de postos de trabalho. Não houve desmentido capaz de neutralizar esta campanha, nem de contrabalançar a promessa dos Tories que, em caso de vitória, construiriam mais uma central nuclear na área.
A própria eleição foi causada pela demissão do deputado Trabalhista em funções, não para ser director de um afamado museu, como em Stoke, mas para passar a trabalhar auferindo um principesco salário na industria nuclear local. Que maior recomendação poderia haver, e vinda das próprias fileiras Trabalhistas, para votar nos Conservadores ?




Como desatar o nó górdio ? Atentem no seguinte: Dois terços dos deputados Trabalhistas defenderam no referendo a permanência do Reino Unido na UE, mas dois terços das suas circunscrições votaram Brexit. Que fazer ? Seguir as suas consciências e continuar a lutar contra o Brexit, ou respeitar a vontade livremente expressa pelos seus eleitores em referendo e apoia-lo ?
Como em qualquer grande Partido, o Partido Trabalhista é uma coligação: Classes trabalhadoras, especialmente no Norte, funcionalismo publico, minorias étnicas, classe média urbana e a chamada intelectualidade. Qualquer que fosse a decisão os danos seriam imensos, pela alienação de partes importantes dessa coligação.
A escolha de Jeremy Corbyn, e de meia dúzia de seus fieis, foi votar no Parlamento com o Partido Conservador pela activação do Artº 50, e tornar assim irrevogável o Brexit. Corbyn impôs a disciplina de voto, mas mesmo assim o inevitável aconteceu: O grupo parlamentar dividiu-se e metade desafiou a autoridade do líder e votou contra. Quando Corbyn ele próprio, na sua longuíssima carreira parlamentar, votou centenas de vezes contra a direcção do Partido, ou mesmo contra o seu Governo, como é que se lhe pode reconhecer autoridade moral para punir rebeliões alheias ?



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21/2/2017

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                                                                      XI



“...da mesma maneira que a pseudo-ciencia do Darwinismo Social convenceu muitos intelectuais Americanos no séc. XIX, a pseudo-ciencia do comunismo influenciou profundamente o intelectualismo desse país entre as duas guerras mundiais. Mas, diferentemente do Darwinismo Social, o comunismo foi sempre sentido pela maioria dos cidadãos como sendo uma filosofia anti-Americana, em larga medida por o primeiro Estado ostensivamente comunista, a União Soviética, se ter tornado numa super potencia rival da América. Mas as suspeitas que recaíam sobre os progressistas sobreviveram ao próprio comunismo. Torna-se bizarro que, mesmo hoje em dia, a ideia do Comunismo com letra maiúscula – dezassete anos depois da dissolução da União Soviética, a sua pátria, e mais de meio século depois do Marxismo ter perdido a sua capacidade de proselitismo no Ocidente, ela continue a ser usada como arma contra os intelectuais liberais *.



Newt Gringrich, o arquitecto da histórica tomada de controle pelos Republicanos das duas Câmaras do Congresso, aconselhava os propagandistas republicanos a acusarem os Democratas como sendo defensores de políticas “Estalinistas”, opostas aos valores “normais” do povo Americano. Estaline tinha morrido há já décadas e a União Soviética tinha ela própria deixado de existir quando Gringrich defendeu esta forma de ataque contra os Democratas, mas a ideia volta sempre à superfície como forma de por em causa o patriotismo da esquerda Americana.


As origens dessas suspeitas sobre o patriotismo dos intelectuais vem do final da Primeira Guerra Mundial e do que ficou conhecido como sendo a Ameaça Vermelha. Uma semana depois do Armistício ter sido assinado em Novembro de 1918, o Mayor de Nova Iorque proibiu a exibição publica de bandeiras vermelhas, símbolo do governo bolchevique russo nascido há menos de um ano atrás. Nesse mesmo mês, um comício realizado no Madison Square Garden pelos Socialistas Americanos, movimento que nada tinha ver com o regime Russo, foi atacado por centenas de soldados e marinheiros recém desmobilizados que invadiram o recinto. A Caça aos Vermelhos tinha começado...”


* Donald Trump durante a campanha eleitoral referia-se ao Senador Bernie Sanders como “O comunista.” (nt).


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19/2/2017

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                                                                       X





“...A importância do Darwinismo Social na história da pseudo-ciencia, do anti-racionalismo e do anti-intelectualismo na América foi sempre subestimada devido a um certo numero de razões, a menor das quais não será certamente a de nunca ter sido, ela que era uma ideologia das classes altas, conhecida por esse nome nos Estados Unidos, mesmo no apogeu da sua popularidade. Contrariamente ao comunismo, ideologia que ficou com um um nome após a revolução bolchevique e tendo um centro geográfico em Moscovo, o Darwinismo Social era, conforme William James sugeriu, uma crença metafisica que se enfeitou com as plumas da ciência. Filosofias indefinidas que se rodeiam por uma aura cientifica amorfa adaptam-se melhor a novas realidades e a novas audiências do que  ideologias bem estruturadas.



Esquecidas nas suas formas originais, mas não desaparecidas, as piores ideias pseudo-cientificas que vêm do Séc. XIX são constantemente recicladas na América sob novos nomes. O Darwinismo Social nunca morreu: Durante a 2ª Guerra aparecia como um baluarte da teoria da eugenia*; em meados do século era parte do “objectivismo” de Ayn Rand; e, mais recentemente como fundamento para os que endeusavam a teoria do mercado, ao ser apresentada, não como uma mera corrente de opinião política, mas sim como uma súmula de factos objectivos. Todas as teorias incluídas no que genericamente se designa por Darwinismo Social podem ser encontradas naquelas linhas imortais que o herói do livro de Ayn Rand, The Fountainhead (1943), profere:
“ O único bem que os homens podem fazer a si próprios, e o que define a única possível relação correcta entre eles está nesta simples frase : ‘Não me toquem !’ (Hands off !). “ Rand era ateia, mas os Americanos foram capazes de traduzir o seu Darwinismo Social para a linguagem da fé: Segundo o que uma recente sondagem revela, a maioria dos Americanos acredita que a frase :”Deus ajuda quem se ajuda a si próprio” vem na Bíblia….”


* Para quem estiver interessado na importância que a teoria da Eugenia teve em Portugal, sobretudo na U. de Coimbra, pode ser ouvida em http://www.pulse-project.org/node/623, (Ctrl+click), uma conferencia proferida por Richard Cleminson, (U. Leeds), em Abril de 2014 na U. de Oxford (Balliol), sob o titulo “Between ‘Latin’ and Germanic Eugenics: The Portuguese Eugenics Movement”. Tendo focado a sua investigação nos anos trinta e quarenta o trabalho do Prof. Cleminson constituirá uma garantida surpresa para muitos.(nt).



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15/2/2017

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                                                                     IX





“...Quando Bush deu o seu aval ao ensino do chamado intelligent design* foi previsivelmente aclamado pela direita religiosa e criticado pelos sectores laicos e progressistas, mas ninguém chamou a atenção para o extraordinário facto de pela primeira vez um presidente Americano se colocar em directa oposição ao pensamento cientifico contemporâneo. Mesmo quando não simpatizavam com novas correntes filosóficas, históricas ou políticas, todos os presidentes anteriores, no caso da ciência, tiveram sempre o cuidado de se colocarem do lado certo e aqueles que nada entendiam desse ramo do conhecimento eram suficientemente prudentes para se manterem calados. Não se consegue imaginar Calvin Coolidge* fazendo declarações publicas sobre se era conveniente ou não contestar a teoria da relatividade de Einstein – muito embora sendo Coolidge o ocupante da Casa Branca ao tempo do julgamento de Scopes*, que se tornou num caso nacional pela publicidade e controvérsia que gerou.


Contrariamente aos anteriores movimentos anti-racionalistas dos anos vinte, o da actualidade foi politizado de cima abaixo, desde as direcções escolares das pequenas cidades do interior aos corredores do poder em Washington. Bill Moyers* que sempre esteve debaixo de fogo da direita política e religiosa devido à posição pró-ciência, pró-racionalista e anti-fundamentalista dos seus programas de televisão, descreveu o acontecido num veemente discurso sobre os cenários apocalípticos tão em voga: ” Opiniões fantasistas não se encontram hoje apenas nas franjas da sociedade. Se de lá vieram agora têm assento na Sala Oval e no Congresso. Pela primeira vez na nossa História a ideologia e a teologia têm o monopólio do poder em Washington. A teologia formula proposições cuja verdade não é possível provar; Os ideólogos impõem a sua visão do mundo muito embora ela esteja em contradição com o que é tido como sendo a realidade. Os filhos da ideologia somada à teologia não serão sempre maus, mas serão sempre cegos. E aí reside o perigo : votantes e políticos indiferentes aos factos.” Na terra do anti-racionalismo, factos são aquilo em que as pessoas decidem acreditar.


A questão é o porquê agora. Torna-se muito mais fácil entender o ressurgimento do fundamentalismo em 1920 do que compreender a politização do anti-racionalismo nos últimos vinte e cinco anos. Tanto o fundamentalismo do inicio do Séc. XX, como o anti-racionalismo do seu fim, têm as suas raízes num mais vasto receio do modernismo e no ódio ao laicismo, indo ambos para além da direita religiosa e tendo sempre sido uma componente importante do anti-intelectualismo Americano.
O fundamentalismo reaccionário dos anos vinte vinha de um profundo sentimento de nostalgia – no qual a religião tradicional é uma das componentes- por tempos de maior simplicidade. Bryan, o maior populista e fundamentalista dos seus tempos, era ele próprio um produto de uma América provinciana ainda na sua pureza e que se considerava abençoada por Deus, não necessitando de ser esclarecida por estranhos ao seu pequeno Éden.
Não se deve estranhar porque o anti-racionalismo e o fundamentalismo tivessem uma atracção tão forte para aqueles que ansiavam por tempos, que se eram menos excitantes, eram também menos estressantes, menos materialistas, menos confusos, e menos perigosos dos que se seguiram à Grande Guerra. Não será com esse paraíso perdido que sonham os que gritam contra os “especialistas”, os cientistas, as “elites” intelectuais ?


Muitos Americanos gostariam de regressar à segurança – ou à imaginada segurança – dos anos anteriores aos ataques do 9/11. Mas o anti-racionalismo surge na América décadas antes desses atentados terroristas. Será que aquilo que queriamos era ao regresso a uma era anterior à revolução digital ? Ou olhamos com nostalgia para os tempos em que as crianças eram ensinadas a refugiarem-se debaixo das carteiras no caso de um iminente ataque nuclear pela União Soviética ?
Também intrigante é o porquê nós ?

Todos os habitantes do planeta têm de enfrentar mudanças sociais, económicas e tecnológicas que desafiam os valores estabelecidos. No entanto os Estados Unidos têm demonstrado ser mais susceptíveis que outros países economicamente desenvolvidos de serem atacados por uma combinação tóxica de forças inimigas do intelecto, do saber, da razão resultantes de uma retrógrada crença nos media imbecilizantes.

O que estará na origem desta poderosa atracção por valores, não só tão opostos aos do intelecto e da ciência, como aos do Iluminismo, que com o seu racionalismo tão importante foi na fundação da nossa nação ?
A resposta a esta questão deve ser encontrada no paradoxo resultante da combinação de poderosas forças culturais e políticas ter resultado no conceito do excepcionalismo Americano, com a sua simultânea profunda reverencia pelo saber e a sua não menos profunda desconfiança por demasiado saber, contradição que persistiu e foi sofrendo mutações ao longo da história tendo, coisa que a primeira geração de Americanos nunca julgou possível, desembocado nesta era de anti-racionalismo...”


*Intelligent Design – ou “Projecto Inteligente” é uma corrente de opinião que, não contestando a evolução de vida orgânica na Terra, defende ser ela consequência de um plano de um Ser superior. Como analogia é oferecido o exemplo de um relógio: Um mecanismo demasiado complexo para ser fruto do acaso, logo teria de ser fruto da “inteligência” de um “relojoeiro”. Tal como a natureza.(nt)
*Calvin Coolidge (1872-1933) – 30º Presidente Americano (1923-1929) (nt)
*John Scopes – Professor de Ciência no Estado do Tenessee. Acusado, julgado e condenado em 1925, no que ficou conhecido pelo “julgamento do macaco”, por ter ensinado a Teoria da Evolução, o que era proibido por lei: “ É contrario à lei ensinar qualquer teoria que negue a criação Divina como ensinada na Bíblia e alegue que o homem descende de espécies inferiores de animais.” A lei só seria abolida em 1968.(nt).
*Bill Moyers (1934- ) - Jornalista, Secretário para a Imprensa do presidente Lyndon B Johnson. Ganhou inúmeros prémios pelo seu jornalismo de investigação.(nt).




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13/2/2017

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                                                    VIII



“...Na Europa os diversos currículos nacionais são aplicados integralmente nos respectivos países: Os Sicilianos podem ter diferentes valores culturais dos Piedmonteses, mas um aluno que termine o ensino secundário em qualquer parte de Itália terá aprendido os mesmos factos sobre a ciência que todos os outros. Nos Estados Unidos não é assim: A dimensão das fracturas culturais é tal, a forte presença do fundamentalismo religioso no Sul e no Midwest é tão forte, que faz com que os professores desses Estados, mesmo que reconheçam a verdade cientifica do Evolucionismo de Darwin, têm receio de a ensinar nas suas classes de Biologia. Um relatório recente da Thomas B. Fordham Foundation, uma instituição que se dedica à investigação sobre a qualidade do ensino, concluiu que em mais de um terço dos Estados Americanos aos alunos não é dado conhecimento dos mais básicos factos sobre a Evolução, nem é explicada a importância da teoria de Darwin para o pensamento cientifico moderno.

Uma vulgar estratégia aplicada nas escolas que não querem, ou não podem, desafiar o poder dos anti-evolucionistas é substituir a designação de “Teoria da Evolução” por uma muito mais suave e menos arriscada descrição de uma “mudança através dos tempos.” É comum que numa tentativa de desviar as atenções para terrenos menos controversos seja dada muito maior importância ao estudo da história da geologia do sistema solar, o que é muito menos melindroso para os fundamentalistas que o ensino das as origens da humanidade. Ron Bier, um professor de Biologia em Oberlin, Ohio, um dos Estados mais mal classificados no estudo da Fordham Foundation, explicou numa entrevista ao The New York Times qual era a sua estratégia para evitar ter problemas com pais de alunos fundamentalistas e que passava por não ensinar a teoria como um todo mas sobre ir o assunto “dizendo umas coisinhas aqui e ali, sempre que posso.”

Devemos perguntar-nos qual será o objectivo de ensinar que não seja o substituir a ignorância pelo conhecimento – um processo que geralmente envolve discutir abertamente os assuntos. Mas a passividade, e o evitar os assuntos mais espinhosos, por parte dos professores não é o pior de tudo: Muitos professores – eles próprios produto do mesmo ensino publico inadequado – não entendem a Evolução. Um estudo feito pela Universidade do Texas revelou que um em cada quatro professores de Biologia acreditava que os humanos e os dinossauros habitaram a Terra simultaneamente. Esta ignorância nada nos diz sobre a crenças religiosas dos professores mas diz-nos – e muito – sobre a deficiente educação de quem pretende ensinar. Qualquer professor que não saiba que os dinossauros se extinguiram muito antes do homo sapiens ter pisado a Terra não é qualificado para ensinar a Biologia do Séc. XIX, quanto mais a da actualidade.

Para aumentar a confusão, parece que os Americanos são tão ignorantes sobre a religião como o são sobre a ciência. A maioria dos adultos, naquela que é supostamente uma das nações mais religiosas do planeta, não sabem o nome dos quatro Evangelhos, nem são capazes de identificar o Génesis como sendo o primeiro livro da Bíblia. Como podem os cidadãos entender o que o Criacionismo significa, ou tomar decisões informadas sobre o seu ensino na sala de aula, se nem sequer são capazes de identificar qual é a sua origem ? E como poderão compreender a essência da Teoria da Evolução de Darwin, se eles próprios um dia se contaram entre os milhões de alunos em cujas classes a palavra “evolução” era tabu, e onde os professores ensinavam que os dinossauros e os humanos se passearam ao mesmo tempo pela Terra ?...”


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11/2/2017

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                                                                      VII






“...A tempestade perfeita que atinge a teoria da evolução demonstra bem o que é o anti-intelectualismo em acção, ele que tanto deve não só a um cada vez mais forte fundamentalismo religioso, mas também ao clamoroso falhanço da educação publica na América e à iliteracia cientifica da maioria dos media. Normalmente apresentada como apenas um conflito entre a fé e a ciência, a luta pela teoria da evolução é em si um micro-cosmos onde predominam abertamente as forças culturais responsáveis pela prevalência do anti-racionalismo na sociedade Americana de hoje.


A persistência do anti-evolucionismo, e o seu renascimento nos últimos vinte anos como um movimento organizado, separa os Estados Unidos de todos as outras nações desenvolvidas. Em Agosto de 2005 a Pew Foundation*, no mesmo dia em que o furacão Katrina devastava Nova Orleães, publicou um inquérito que não teve qualquer impacto na opinião publica, ocupada como estava com as consequências desse desastre natural. Mas para quem leu esse estudo de opinião ele revelava um desastre intelectual tão grave como o que se desenrolava naquela cidade. Perto de dois terços dos Americanos defendiam que, tanto o criacionismo, entendido como uma doutrina radical baseada no Génesis e apoiada pelos fundamentalistas religiosos, como a teoria da evolução, deviam ser ao mesmo tempo ensinadas nas escolas publicas. Menos de metade dos Americanos, (48%), acreditavam em qualquer forma de evolucionismo, mesmo se este resultasse de um desígnio divino, e apenas 26% aceitavam a teoria da evolução de Darwin como meio de selecção natural. Surpreendentemente 42% da população acreditava que todos os seres vivos, incluindo os humanos, já existem na presente forma desde o principio dos tempos.



Este nível de ignorância cientifica não pode ser unicamente atribuído ao fundamentalismo religioso uma vez que o numero dos Americanos que rejeitam a teoria da evolução em qualquer forma é superior em 15% aos que fazem uma leitura literal da Bíblia. Alguma outra coisa tem de ser responsável por esta situação, e essa coisa é o estado deplorável do ensino da ciência nas escolas básicas e secundárias da América.
Esse estado do ensino da ciência em todos os níveis escolares que precedem o ensino universitário pode ser inferido pelas diferentes respostas sobre a evolução que o inquérito revela : Apenas 27% dos que possuem um grau académico, (um numero espantoso em si), acreditam que todos os seres vivos sempre existiram na presente forma, contra 42% dos que frequentaram a Universidade mas sem se graduarem, e os 50% que só frequentaram o Secundário; todos pertencendo ao grupo dos que aderem ao criacionismo, ou seja , que acreditam que a vida orgânica na Terra permaneceu imutável através dos tempos.

Por outro lado, um terço dos Americanos pensa que existem desacordos entre os cientistas sobre a Teoria da Evolução, o que reforça o argumento da direita religiosa que a evolução “é apenas uma teoria” e por isso mesmo não deve ser vista como verdade cientifica...”


*Pew Foundation, (Pew Foundation on Religion and Public Life) - Organismo independente que leva a cabo estudos de opinião. (nt)




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9/2/2017

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                                                                     VI





“...O que é perturbador, aparte o facto de milhões de Americanos acreditarem que o fim do mundo está próximo, é serem os media de referencia a conferir respeitabilidade a essas bizarras fantasias. A revista Time, num artigo de fundo publicado em 2002 sobre a Bíblia e o Apocalipse, dizia em tom sombrio que “desde o 9/11 muita gente dos mais ilustrados cantos da Cristandade se perguntam o que diz a Bíblia sobre o fim do mundo, e os sacerdotes nos seus sermões vêm respondendo a essas angustias como nunca pensaram há apenas um ano atrás ser necessário.” Notavelmente ausente do artigo da Time ficou qualquer analise sobre o assunto vinda do sector secular e racional. É verdade que foram citadas opiniões vindas do lado liberal do Cristianismo afirmando que o seu Deus nunca seria tão cruel a ponto de agir de maneira a que fossem eliminados milhões de inocentes no Dia do Juízo Final, mas nunca a revista deu voz aqueles que denunciam esse cenário do fim dos tempos como sendo alucinações com raízes em puras superstições, e que vêem o perigo cívico inerente a normalização de ideias que deveriam pertencer apenas à franja mais lunática da população.
Discutindo o Armagedão , como se fosse tão real como a própria Terra, a história da Time não passou de uma tentativa em capitalizar os medos mais irracionais como meio de vender mais exemplares.
A um nível mais profundo, o artigo em causa exemplifica a convicção que tudo aquilo que seja controverso merece ser publicado desde que seja dado igual espaço a ambos os lados da opinião, mesmo quando um deles é claramente um caso clínico de irracionalidade. Se suficiente dinheiro estiver envolvido, e se um numero suficiente de pessoas estiver convencida que dois mais dois são cinco, os media com o ar mais sério deste mundo irão publicar a noticia acrescentando uma breve nota dizendo que “consultados alguns matemáticos estes reafirmam porém a sua convicção que dois mais dois são quatro.”
Com uma falsa objectividade, que dá tanta credibilidade ao que pertence ao mundo dos alienados como ao que é do mais comum bom senso, os media prejudicam largamente o campo da razão e da lógica.
Esta pseudo objectividade, particularmente no que diz respeito à religião , ignora a ignorância consentida que é característica definidora do fundamentalismo religioso. Um dos mais poderosos tabus existentes na América é o de criticar a fé religiosa de outrem- uma proibição que tem a sua explicação na confusão entre liberdade religiosa e o tornar as religiões imunes ao escrutínio que é aplicado a todas as outras instituições da sociedade.
Tanto a Constituição, como o pragmatismo que a realidade de vivermos numa sociedade plural impõe, faz com que devemos respeitar o direito dos outros em acreditarem no que quiserem – desde que as suas crenças, nas palavras de Thomas Jefferson, “nem me vão à carteira, nem me partam uma perna.”
Mas muitos Americanos confundem este sensato principio com uma tolerância ilimitada que põe ao mesmo nível factos científicos devidamente comprovados com fantasias sobrenaturais que estão para além da razão, facto que conduziu ao aumento exponencial do anti-intelectualismo e do anti-racionalismo. Milhões de Americanos são perfeitamente livres , segundo a Constituição, de acreditar que um Deus vingador um dia virá para matar todos aqueles que não o reconheçam como Messias, mas o resto do publico deveria ser capaz de exercer o seu direito ao livre pensamento denunciando essas crenças como sendo perigosas falácias que, elas sim , “roubam carteiras e partem pernas.”

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6/2/2017

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                                                                                  V


O segundo maior factor contributivo para o aumento do anti-intelectualismo nos últimos quarenta anos foi o fundamentalismo religioso. Os media modernos com o seu apelo, disfarçado ou não, à emoção e não à razão, desempenharam um papel importante na difusão de uma forma de fé adversária dos mais importantes ideais racionalistas que deram forma à civilização ocidental desde o Iluminismo. O triunfo do fundamentalismo Cristão, maioritariamente, mas não totalmente, Protestante, baseia-se na convicção que cada palavra na Bíblia é literalmente verdadeira, tendo sido revelada pelo próprio Deus. Inquéritos de opinião levados a cabo nos últimos quarenta anos demonstram consistentemente que mais de um terço dos Americanos acreditam nessa interpretação literal da Bíblia, com seis em cada dez acreditando que as terríveis profecias do Livro do Apocalipse- que envolvem o massacre de todos que não aceitem Jesus como sendo o Messias- um dia se tornarão realidade.

Começando com o radio-evangelista dos anos vinte Billy Sunday, os fundamentalistas Americanos com a sua visão a preto-e-branco de cada assunto souberam usar com eficiência todos os novos meios de comunicação. A religião liberal, com os seus tons de cinzento, determinada como estava em dar lugar ao saber secular na casa da Fé, não se prestou tão facilmente a esse papel, ficando em ainda maior desvantagem com os media visuais do que já estava na radio. Desde o vociferante Pat Robertson no 700 Club, ao filme de Mel Gibson A Paixão de Cristo, a mensagem religiosa é mais poderosa em vídeo quando não é moderada pelo pensamento secular e não faz apelo senão às emoções, não dando lugar a qualquer dúvida. Esse filme Gibson tem as sua raízes no fundamentalismo católico que foi há muito rejeitado pelo Vaticano, indo buscar ao Evangelho de Mateus a acusação de terem sido os Judeus os responsáveis pela crucificação de Jesus. A enormes audiências desse filme, imensamente popular nos Estados Unidos, vieram, não das fileiras dos católicos cuja Fé não repousa no literalismo da Bíblia, mas sim nas dos Protestantes de direita.

Mesmo quando os media não promovem uma particular versão da religião exploram a credulidade Americana no que respeita ao sobre-natural. Nestes últimos anos a televisão produziu incontáveis programas destinados ao vasto mercado daqueles que acreditam em fantasmas, anjos e demónios. Mais de metade dos Americanos crê em fantasmas, um terço na astrologia, três quartos em anjos, e quatro quintos em milagres.

O marketing na América do Apocalipse tornou-se numa grande industria que tira partido do fundamentalismo e da superstição mais paranoide. As maiores denominações religiosas há muito que não dão ênfase ao Livro do Apocalipse escrito que foi pelo menos sessenta anos após a morte do Jesus histórico, não tendo senão os mais ténues laços com os Evangelhos. Que importa o que os maiores teólogos dizem desde o SEC XIX sobre a Bíblia e sobre a relação dos seus textos com a verdade histórica, se as fantasias apocalípticas dos Americanos resistem a qualquer apelo de racionalidade ?

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A Era da...

4/2/2017

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                       A  GAZETA  DO  MIDDLESEX

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                                                                       III



“… É verdade que são poucos os que abertamente se consideram inimigos do pensamento e da cultura. O Presidente Bush, que dizia ser o ”Presidente da Educação”, conseguiu manter um ar sério ao mesmo tempo que, sem qualquer sinal de auto-crítica, declarava nunca ler jornais porque isso seria “expo-lo a opiniões.” *

No entanto existem outras maneiras de suprimir ideias que não usam nem censura nem intimidação. A mera sugestão que há algo de sinistro e anti-americano na devoção pelas ideias, razão, lógica e realidade, e pelo uso correcto da língua, é uma dessas maneiras. Pouco antes das eleições de 2004 para a Presidência, o Jornalista Ron Suskind contou uma assustadora conversa tida com um dos ajudantes de Bush em que este lhe afirmou que, para o Governo, os Jornalistas faziam parte “de uma comunidade baseada na realidade”- aqueles que “acreditam que as soluções devem resultar de uma cuidadosa analise da realidade que se pode discernir.” Mas o ajudante acrescentou: “Esse não é porém o modo como o mundo actualmente funciona. Agora somos um Império, e quando agimos criamos a nossa própria realidade. E enquanto vocês analisam essa realidade- com todo o rigor, se quiserem- nós agimos novamente criando outras realidades que poderão também estudar...Nós somos os agentes da História e vós, todos vós, a única coisa que lhes resta é estudar o que fazemos.”
Essa distinção explicita entre aqueles que são apenas capazes de estudar e aqueles que são agentes da História, não só expressa desprezo pelos intelectuais como também menoriza todos os que requerem factos, mais do que poder e emoção, que justifiquem as opções políticas tomadas...”


*No dia 22 de Setembro de 2003 a Associated Press noticiou que o Presidente Bush apenas lia os títulos dos Jornais e muito raramente o conteúdo, porque isso seria expo-lo a “opiniões não objectivas”. O pessoal da Casa Branca fazia-lhe um resumo diário “mais objectivo” das noticias.



                                                                         IV



“… Entre os factores que mais contribuíram para o anti-intelectualismo vêm os meios de comunicação. Aparentemente oferecem aos consumidores uma variedade de oferta sem precedentes – programas de televisão em centenas de canais; filmes; jogos de vídeo; musica; e a versão desses produtos na Internet, cujo acesso se pode conseguir através de inúmeros meios electrónicos, o que torna possível passar um dia inteiro sem que por um só segundo se esteja privado de entretenimento comercial. Deve ser lembrado que todo esse entretenimento é acompanhado por uma banda sonora, normalmente uma musica estridente, e por efeitos visuais que impedem a concentração. Mesmo deixando de lado a questão se será benéfico ser-se submetido a entretenimento vinte e quatro horas por dia, a liberdade de escolha mesmo com tamanha oferta é largamente ilusória, uma vez que os media são propriedade de poucas grandes corporações.

Mas a ausência de uma escolha genuína é apenas um factor menor na relação entre os mass-media e o declínio da vida intelectual na América. Não é que tenha sido a televisão, ou as suas variantes, a unica culpada desse declínio, mas não é menos verdade que trouxe a subordinação da comunicação oral e escrita às imagens, e ao fazê-lo restringiu os parametros intelectuais das audiências ocupando a totalidade do tempo, não deixando espaço para a palavra escrita...”



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