A GAZETA DO MIDDLESEX
I
“...Os Americanos são os únicos no mundo desenvolvido que encaram como “controversa” a teoria da selecção natural em vez de a aceitarem como sendo uma verdade cientifica estabelecida. O poder continuado do fundamentalismo religioso na América, (ele também único no mundo desenvolvido), é frequentemente citado como sendo a única causa do bizarro e persistente anti-evolucionismo. Mas essa explicação não esclarece porque tantos Americanos não fundamentalistas negam o consenso cientifico. A explicação real, mas mais complexa, reside não no tipo de fé religiosa da América, mas na ignorância do publico sobre a ciência em geral e sobre a Teoria da Evolução em particular. Mais de dois terços dos Americanos, segundo um estudo da National Science Foundation levado a cabo durante as duas últimas décadas, não são capazes de relacionar o ADN como sendo a chave da hereditariedade. Nove em cada dez não sabem em que consiste a radiação e o que pode causar aos seres vivos. Um em cada cinco está convencido que o Sol orbita a Terra. O que estas respostas demonstram é um colossal falhanço do sistema de ensino primário e secundário, tornando-se fácil perceber a razão porque um publico, que tem um tão fraco entendimento dos mais rudimentares factos científicos, é incapaz, ou recusa, entender a Teoria da Evolução. Não deveria ser necessário ser-se um intelectual, ou para o caso ter um curso universitário, para saber que o Sol não anda à volta da Terra e que o ADN contém os códigos que fazem com que cada um de nós seja exemplar único dentro da espécie humana. Este nível de iliteracia torna-se num terreno fértil para políticas baseadas na total ignorância...”
II
“...Um importante elemento para entender o ressurgimento do anti-intelectualismo na América reside na popular identificação do intelectualismo com progressismo o qual, segundo a crença comum, é contrario aos valores tradicionais Americanos. A totalidade do conceito cabe na designação: “As elites”. Proeminentes intelectuais de Direita, os quais constituem eles próprios uma poderosa e próspera elite, conseguiram com sucesso mascarar o seu estatuto de privilegiados, o qual se deve aplicar apenas àqueles que se situam à Esquerda. O patriarca dos neoconservadores, Irving Kristol, no seu livro Reflexões de um Neo Conservador (1983), afirma que sendo os “intelectuais” uns alienados da “American way of life”, o povo Americano não sofria ele próprio desse defeito. “É um imperativo auto-imposto aos neo conservadores o explicar ao povo Americano que ele é que está certo.” Segundo Kristol, “São os intelectuais que estão errados.” Ninguém poderia adivinhar que quem escreve isto é ele mesmo um completo intelectual Judeu nova-iorquino e que aquilo que o separa dos tontos dos outros intelectuais, tão distantes dos valores Americanos, é apenas ser adepto do Partido Republicano. Um “intelectual” na sua selectiva definição é todo aquele que está em desacordo com os neo-conservadores; A Kristol e aos seus pares não é mais possível considerarem-se a si próprios intelectuais por terem sido tão eficazes em transformar aquilo que anteriormente era um honrado título numa classificação politicamente pejorativa. A Direita foi capaz desta aldrabice por os iletrados Americanos saberem cada vez menos da História política e intelectual do seu país...”