A GAZETA DO MIDDLESEX
BINO
Num país em que para qualquer nova situação surge sempre um novo acrónimo era inevitável, imho, ( in my humble opinion, na minha humilde opinião), que a iminente mudança da posição do Partido Trabalhista em relação ao Brexit, que era até agora recusar que o Reino Unido continuasse a pertencer à União Aduaneira e ao Mercado Único após a saída da UE, para passar a ser de uma muito maior aceitação desse cenário, pelo menos no que toca à União Aduaneira, tenha feito aparecer de imediato o Bino: Brexit in name only – Brexit apenas no nome.
Jeremy Corbyn no seu discurso de hoje em Coventry anunciou formalmente ao país essa mudança, centrando a sua intervenção nos custos económicos e políticos, (no caso da Irlanda do Norte), resultantes da introdução de barreiras alfandegárias entre a Europa e a Grã-Bretanha. Não resisto em transcrever uma passagem desse discurso que dará, imnsho, ( In my not so humble opinion - na minha não muito humilde opinião), aos leitores uma ideia da gravidade do que o Governo Conservador se prepara, (ou após este discurso, se preparava), para fazer:
“Vejam o caso de tantas industrias que têm o seu processo de produção totalmente interligado com a Europa. É o caso da industria automóvel que é responsável pela criação de 169.000 postos de trabalho, dos quais 52.000 estão aqui nos West Midlands.
Não pode haver melhor exemplo do que um dos maiores símbolos dessa industria, o Mini.
Um Mini atravessa o Canal da Mancha três vezes antes de estar pronto, uma viagem de 2.000 milhas. O fabrico começa em Oxford, após o que é enviado para França para serem montados componentes essenciais. Feito isso regressa à fabrica da BMW em Hams Hall no Warwickshire onde continua o processo de fabrico. Quase pronto é novamente enviado, desta vez para a Alemanha, onde lhe é montado o motor, para regressar a Oxford, sendo então dado como pronto após os retoque finais.
E se o carro for vendido na UE, o destino da maior parte, ele terá cruzado o Canal por quatro vezes.
Com 44% das nossas exportações a terem a UE como destino, assim como 50% das nossas importações a terem essa origem, é vital que esse comercio continue a estar livre do pagamento de tarifas alfandegárias.”
A questão é saber-se se no Partido Conservador, que está em plena guerra interna entre os que defendem um Brexit radical e os que querem que a Grã-Bretanha continue fortemente ligada à UE, haverá um numero suficiente de dissidentes para, ao votarem no Parlamento com toda a oposição, derrotem Theresa May e os seus planos de Hard Brexit. Então sim, teremos um “Bino”.