A Gazeta do Middlesex

O Segundo Império

29/3/2017

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                                                              O SEGUNDO IMPÉRIO



Não houve, como se sabe, salvação à décima primeira hora e hoje, dia 29, a Primeira-Ministra deu o tiro de partida para a saída do Reino, por enquanto Unido, da UE. É o Brexit portanto, estarrecedora e terminantemente irrevogável. E nestas verdes e prazenteiras ilhas como lhes chamou William Blake, as gentes começam a agitar-se ao perceberem finalmente no que estão metidas: Começa pelos poderes que até agora estavam em Bruxelas e que regulavam desde a agricultura às pescas, à qualidade do ar que respiramos, à agua que bebemos, em centenas de milhares de páginas de documentos que minuciosamente diziam o que podíamos fazer e como. Foram um manancial inesgotável de argumentos contra a Europa para os propagandistas do Brexit: Lembro a que impunha uma potencia máxima para os aspiradores e outra, essa sim tocando no nervo mais sensível deste povo, que implicava com as chaleiras domésticas logo com essa instituição nacional tão reverenciada que é o sacrossanto cup of tea.

Mas a questão é: A quem caberão esses poderes ? A Escócia, obviamente, quere-os para si e para o seu Parlamento, mas o Galeses e os Norte-Irlandeses não abdicam também da sua devolução às respectivas Assembleias Nacionais. Theresa May, sem surpresa, diz que não a todos informando que eles ficarão firmemente na mão do Governo. Tanto bastou para que vários responsáveis Galeses e Norte-Irlandeses viessem avisar de modo sibilino a Primeira-Ministra que, a ir por aí, a impopularidade de Bruxelas se poderia facilmente transferir para Londres, transformando o Reino Unido num saco com ainda mais gatos.



Muito se tem falado ultimamente no problema da identidade nacional como fonte de populismos vários, e que teria levado a que os deploráveis, (Hillary Clinton, dixit), votassem em Trump e no Brexit. Mas, se a identidade dos Escoceses e Galeses é reafirmada com cada vez mais estridência, a dos Ingleses passa despercebida, diluída como está no vago conceito de Britishness. De repente pequenas coisas tornam-se notadas: O God Save the Queen não é o Hino Inglês, nem a Union Jack é a bandeira de Inglaterra. As outras três nações que com a Inglaterra compõem o Reino Unido têm as suas Assembleias Nacionais, (e os seus Hinos), mas o Parlamento de Westminster é o Parlamento Britânico, não é Inglês. O Império e a sua glória davam sentido à União, mas o seu desaparecimento, e a crescente autonomia das outras Nações componentes, fez com que a identidade nacional dos Ingleses entrasse em crise.



O Brexit aparece como consequência deste sentimento de orfandade, desse olhar para dentro, no desafio contido na frase: “A Europa precisa mais de nós, do que nós dela”. Para quem nasceu nos anos quarenta em Portugal, e por lá ficou até depois do 25 de Abril, este “Orgulhosamente sós” traz lembranças bem tristes. Disse Theresa May que “Ser cidadão do mundo é não ser cidadão de parte alguma”. Toda uma política e toda uma ideologia está contida nesta frase.

O “Angola é Nossa” do discurso Salazarista tem aqui o seu equivalente num discurso não menos delirante que aponta a chamada Anglo-Esfera e a criação de um Segundo Império como sendo o futuro radioso que verá renascer a poderosa Albion.
Neste esquema de coisas tem papel central a Comunidade Britânica e principalmente os chamados “Domínios Brancos”: O Canadá, a Austrália e a Nova-Zelândia, futuros parceiros nesse Segundo Império. Mas sem negar os laços afectivos e culturais que os ligam à casa mãe, a realidade é que o mundo mudou: O Canadá está na Nafta e os Estados Unidos são o seu maior parceiro. A Austrália e a Nova Zelândia olham para o Extremo Oriente e sabem que aí estão os seus parceiros e o seu futuro. É como alguém que tendo-se divorciado há já uns anos, e com a solidão a pesar, tenta reaproximar-se do seu/sua ex - apenas para descobrir que voltou a casar e que, além de ter filhos da nova união, não podia estar mais feliz da vida.



Ainda há pouco ouvi David Davis, o Ministro negociador-mor pelo Reino Unido, e que terá o Francês Michael Barnier como adversário pelo lado da União Europeia, afirmar sem se rir que se a Grã-Bretanha sair sem acordo com a UE terá à sua espera centenas de países ansiosos por estabelecer com ela laços comerciais. Irresistivelmente lembrei-me do Futre e dos voos charter cheios de Chineses que garantia virem assistir aos jogos do Sporting. Com a pequena diferença que Futre estava, ainda assim, mais perto da realidade que Davis.



Foi Theresa May, ela própria, quem primeiro começou a afirmar, em relação às negociações com a União Europeia: “É melhor não haver acordo algum do que fazer um mau acordo”. Isto porque mesmo os mais lunáticos apoiantes do Brexit já começaram a perceber que ao prometerem o impossível meteram o país num beco sem saída: Acesso ao Mercado Unico e pertencer à União Aduaneira sem aceitar a livre circulação de pessoas ? Rejeitar a responsabilidade pelo pagamento dos compromissos assumidos enquanto membro da UE ? Abandonar a jurisdição do Tribunal Europeu de Justiça e esperar um acordo de comercio livre com os outros 27 países comunitários ? Só quando o inferno gelar. É por isso que agora, e com o maior cinismo, garantem que estaremos melhor caminhando sozinhos para o Shangri-La da Organização Mundial de Comercio e das suas pautas aduaneiras. Teria piada se fossem apenas eles: Revolta saber que arrastam o país consigo e o dano que vão causar, sobretudo aos mais pobres e vulneráveis.





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Martin McGuiness

26/3/2017

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                                                                A MORTE

                                                      DE

                                          MARTIN McGUINESS





Morreu Martin McGuiness. Um terrorista, um homem com as mãos sujas de sangue, dizem. Na verdade, desde jovem que McGuiness, como católico e comandante do IRA (Irish Republican Army), esteve envolvido no terrível conflito que dilacerava a Irlanda do Norte, dividida como estava entre duas facções: Uma, formada por católicos e republicanos que lutava pela adesão do Ulster à Republica da Irlanda e outra, de protestantes leais à Coroa Britânica, que defendia a permanência no Reino Unido. Os católicos, cerca de 40% da população, tinham contra si um sistema legal que os descriminava em muitos aspectos da vida publica, o que levou à criação em 1960 de um movimento católico de defesa dos Direitos Civis, movimento imediatamente reprimido pelos Unionistas chefiados pelo Reverendo Ian Painsley, um radical de ultra-direita.

A luta que se seguiu iria durar trinta anos e causar mais de 3.500 mortos. Por cada atentado à bomba levado a cabo pelos republicanos seguia-se outro, pelo menos tão mortífero, de autoria dos Unionistas, e vice-versa. Os mortos exigiam vingança e ainda mais mortos, o sangue derramado ainda mais sangue, uma espiral de violência e ódio que parecia não ter fim. Em Londres, o Governo cometerá o pior erro possível ao enviar o exército com a missão de manter a ordem publica: Num Domingo, que ficou conhecido como o Domingo Sangrento, (como se todos os dias, incluindo Domingos, não fossem sangrentos), as tropas nas ruas perderam totalmente o controle da situação e abriram fogo sobre a multidão. O Hotel em Brighton onde Margaret Thatcher se hospedava para o Congresso do Partido Conservador é atacado à bomba pelo Ira, tendo a Primeira-Ministra escapado milagrosamente com vida.


E nesse momento, em que tudo parecia perdido, o impossível aconteceu: Um homem, um só homem, de nome Martin McGuiness, teve a visão do absurdo daquela luta fratricida e sonhou com a paz. Respeitadíssimo chefe republicano, com um passado de luta contra os Unionistas, tinha a autoridade, e talvez apenas ele a tinha, de apontar um novo caminho de negociações com inimigo que pudesse por fim à imensa tragédia que o povo Norte-Irlandês vivia à décadas. O ódio e a desconfiança mutua eram totais, as pontes de dialogo nenhumas, a tarefa que se propunha de inimagináveis dificuldades, e no entanto, laboriosamente, persistentemente, empregando na luta pela paz a mesma determinação e coragem que tinha demonstrado na guerra, lá foi indo até que em 1998, na Sexta-Feira Santa, foi finalmente assinado o acordo de paz que dura até hoje.

Foi esse homem que agora foi a enterrar: Um senhor da guerra tornado príncipe da paz. De todos os lados chegaram as homenagens. Bill Clinton veio expressamente dos Estados Unidos. E na Igreja repleta de gente para assistir à cerimónia fúnebre, com o caixão de Martin McGuiness em frente ao altar-mor coberto pela bandeira tricolor Irlandesa, entrou a líder do Partido Unionista, Arlene Foster, para prestar as suas ultimas homenagens, quando, num impulso, toda assistência de pé lhe dedicou uma estrondosa ovação.


Eu, assistindo a isto, sonhei. ( Quem não sonharia ?). Que nesta minha cidade, tão recentemente dilacerada pelo terror, se pudesse andar sem angustia, por nós, pela família, pelos amigos. Que os inocentes mortos ontem em Mossul por nós, nós os supostamente “bons da fita”, fossem os últimos. Não mais drones, misseis, bombas ditas “inteligentes”, (Oh que suprema ignomínia !), que surgisse outro “Príncipe da Paz” como Martin McGuiness que não desesperasse com a aspereza do caminho e que começasse o dialogo. Porque inevitavelmente mesmo vós, senhores da guerra, um dia irão compreender que não há outro.

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Humor Salvador

24/3/2017

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                                                  HUMOR SALVADOR




Sempre presente, mesmo nas horas mais negras. Animador e reconfortante. É o British Humour em todo o seu esplendor.



                                                 Lembramos a todos os terroristas que

                                                                 ISTO É LONDRES !

                                     e que façam-nos o que fizerem iremos beber um chá

                                       e depois regressaremos alegremente à nossa vida.

                                                                 Muito Obrigado

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Sorrow & Despair

22/3/2017

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                                    Sorrow &  Despair

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Os Restauradores

17/3/2017

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                                   OS RESTAURADORES


Depois da votação nos Comuns, com a aprovação da moção dando ao Governo plenos poderes para formalmente sair da UE sem que fossem aceites as emendas aprovadas nos Lordes nem, muito menos, terem sido consentidas conversações com o Governo de Escócia, sabia-se que as coisas iam dar nisto : Um novo referendo para a Escócia. O segundo desde 2014. Na próxima quarta-feira a sua convocação será formalmente aprovada no Parlamento Escocês. E assim, ao mesmo tempo que o Governo Britânico dava inicio ao processo da saída do Reino Unido da União Europeia, o Governo da Escócia dava os primeiros passos para a sua saída, mas de outra União, a Britânica. O argumento dos defensores do Brexit, a necessidade de respeitar a vontade popular expressa na sua vitória em Inglaterra no referendo de Junho de 2016  já não é válido para a First-Minister Nicola Sturgeon, quando lembra a retumbante vitória na Escócia dos que pretendiam permanecer na União Europeia, ao recolherem 62% dos votos. Aí essa regra não se aplica: O que dizem sobre a relação da Grã-Bretanha com a Europa é uma coisa, porque sobre a relação da mesma Grã-Bretanha, mas com a Escócia, é dito exactamente o oposto.



Theresa May hoje mesmo declarou solenemente não autorizar a realização dessa consulta popular, mas também se sabe que após o próximo dia 22, com o Parlamento de Holyrood aprovando a sua realização, não será politicamente possível ao Governo Britânico opor-se a uma medida aprovada no Parlamento Escocês.
Mrs. May apelou à unidade nacional neste momento que diz ser tão grave, em que se iniciam as negociações com Bruxelas sobre os termos da saída do Reino Unido. Mas esse apelo soa a falso quando foi ela própria a recusar-se debater os termos dessa saída, em primeiro lugar com o Governo da Escócia, negociando algo que significasse uma alteração, por pequena que fosse, da sua intransigente posição.


Mas a independência terá possibilidades de sucesso, agora que o futuro económico da Escócia parece mais frágil do que em 2014, com a queda do preço do crude extraído do Mar do Norte ? Outras incertezas pairam. Que moeda usará a Escócia independente ? Quais as relações económicas que poderá vir a ter com o que restar do Reino Unido e com a União Europeia, da qual é previsível que venha a fazer parte ?

Mas o continuar a fazer parte do Reino Unido não deixa de ter consequências políticas difíceis de aceitar para a Nação Escocesa, determinada como está em auto governar-se:
Nas eleições gerais de 2015, dos 59 lugares reservados à Escócia na Câmara dos Comuns, 56 foram ganhos pelo Partido Nacionalista Escocês. No entanto a direita acusou, e acusará, de traição qualquer aliança de Governo que se venha a formar com o apoio dos Parlamentares da Escócia, o que os torna irrelevantes no plano político. E, é bom lembrar, que a Escócia sempre foi progressista e pró-europeia, enquanto que a Inglaterra vota à direita e é euro-fóbica. Permanecer dentro do Reino Unido significará para os Escoceses virem a ser governados eternamente pelo detestado Partido Conservador, ( Um deputado eleito em 59).


Mas na economia os problemas não são menores: David Davis, o Secretário de Estado (Ministro) para o Brexit, declarou recentemente com toda a candura à Comissão Parlamentar respectiva a não existência de qualquer estudo sobre as consequências da saída da UE sem qualquer acordo com Bruxelas. Exactamente o que aconteceu com o Governo Conservador em 2016, quando não tinha a menor ideia do que fazer em caso de vitória do Brexit. Ontem no “Question Time” da BBC, o programa sobre política mais visto na Grã-Bretanha, (e onde as Judites de Portugal poderiam aprender uma ou duas coisas…), um dos membros do painel destacadissimo membro do Partido Conservador ao ser-lhe posta a questão declarou ser inútil fazer planos para o futuro sendo este, como é, notoriamente incerto, e dependendo como está da vontade dos outros 27 países Europeus !


Em 1640 os conjurados reunidos em Lisboa não olharam à questão económica: Certamente que a União Ibérica nesse aspecto fazia sentido. Nem à questão política: Nada garantia que Portugal recebesse algum apoio externo. Sabiam ao que iam : Uma guerra com Espanha, (iria durar 25 anos), que deixaria o país exangue. Uma luta para expulsar os invasores das nossas colónias que testaria até ao limite a vontade nacional. Mas, por uma misteriosa alquimia que faz com que o povo de determinado território se sinta uma nação pronta a qualquer sacrifício em prol do que sente ser a dignidade colectiva, no 1º de Dezembro passaram à acção.


A Escócia terá brevemente o seu encontro com a História, felizmente de forma pacifica. Quem melhor que os Portugueses a poderá entender ?



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A Décima Primeira Hora

12/3/2017

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                             A  DÉCIMA PRIMEIRA HORA





Amanhã, se nada de imprevisto entretanto acontecer, a Primeira-Ministra Theresa May, imperial na sua arrogância, (A Europa precisa mais de nós, do que nós da Europa…), espera ganhar após um breve “debate” a votação na Câmara dos Comuns que lhe permitirá accionar o artº 50 do Tratado de Lisboa, e assim irrevogavelmente fazer sair o Reino Unido da Comunidade Europeia e pondo fim a 44 anos de permanência. Para trás ficarão rejeitadas as emendas aprovadas na Câmara dos Lordes garantindo a salvaguarda dos direitos dos cidadãos Comunitários já residentes na Grã-Bretanha e a que , uma vez concluídas as negociações com Bruxelas, daria ao Parlamento o direito de aprovar ou não essas negociações finais, votando, não numa opção binária, mas numa que resultasse de um minucioso e real escrutínio do acordo firmado. Apesar de ter sido conhecida a posição da poderosa Comissão para os Negócios Estrangeiros do Parlamento, criticando vivamente o Governo por não ter planos para a eventualidade de não haver acordo com a UE, nada parece travar a corrida de Theresa May para o Brexit, tome ele a forma que tomar, nem mesmo com a oposição de Conservadores ilustres, incluindo o antigo Primeiro-Ministro John Major, que num discurso proferido recentemente deixou palavras e avisos que irão certamente ecoar durante muito tempo.
Disse ele:

Sobre o Referendo:

“...O referendo foi um dos votos que mais divisões criou na história Britânica. Não apenas entre as quatro nações do nosso Reino Unido, mas dentro delas próprias, dos seus partidos políticos, entre vizinhos, nas famílias, entre grupos etários e de rendimento, entre amigos. Não será fácil fazer sarar essas feridas. Mas é isso que devemos conseguir...”

Sobre a Escócia:

“...Na Escócia um Brexit abrupto encorajará a realização de um segundo referendo. Isto pode parecer actualmente improvável, mas seria imprudente ignorar o risco. Como aconteceu em Junho, (na votação para o referendo, n.t.), as emoções e o orgulho nacional podem suplantar o interesse económico. Se a Escócia se tornar independente será à custa do seu próprio prejuízo e o do Reino Unido. Isto não pode ser ignorado...”

Sobre a Irlanda do Norte:

“...O mesmo se passa com a Irlanda do Norte. Muitos anos foram precisos de penosos esforços para se chegar ao processo de paz Irlandês o qual, mesmo descontando o Brexit, será sempre frágil. As incertezas sobre as restrições fronteiriças entre o Ulster e a Republica são uma séria ameaça- para o Reino Unido e para a Irlanda, Sul e Norte. É necessário chegar a um acordo sobre isto...”

Sobre a sua posição pessoal:

“...Votei no lado que perdeu e tenho-me mantido em silencio desde Junho. Não irei neste momento afirmar que a União Europeia é perfeita. Parece claro que não é. Nem irei negar que a nossa economia tem tido um desempenho desde o referendo que é melhor do que o esperado.
Mas lembro que ainda não saímos da UE, e tenho observado com crescente preocupação que ao povo Britânico tem sido criada a ilusão de um futuro irrealista e demasiado optimista. Os obstáculos são afastados como não sendo importantes, enquanto as oportunidades futuras são inflacionadas para além do razoável...”

Sobre a atitude dos vencedores do referendo:

“...Depois da vitória os seus líderes têm mostrado falta de respeito, que chega a ser desprezo, pelos 48% que votaram pela permanência na UE...”
“...São gente de todos os extractos da sociedade que têm todo o direito às suas opiniões. Estes 48% não amam menos o seu país que aqueles que votaram pela saída. Não são menos patriotas. Mas têm uma diferente visão sobre a posição da Grã-Bretanha no mundo...”
“...Não lhes deve ser dito que uma vez que a decisão foi tomada devem permanecer calados e manterem-se na linha. Um triunfo nas eleições – mesmo num referendo – não leva a que se perca o direito a discordar – nem ao direito a manifestar essa discordância...”

Sobre os Direitos e o Parlamento:

“...A liberdade de expressão é, no nosso país, absoluta. Não é “arrogante” ou “atrevido” ou “elitista”, e muito menos fantasioso, manifestar dúvidas sobre o futuro da país depois do Brexit...”
“...O nosso Parlamento existe para escrutinar o Executivo. É a sua missão. Torna-se por isso tão deprimente ver os defensores do Brexit irem contra os seus próprios princípios. Ao vencerem o referendo estariam a reafirmar a soberania do nosso Parlamento: Mas agora falam e votam de maneira a negar a esse mesmo Parlamento qualquer papel significativo na supervisão das negociações com a Europa, e depois na aprovação do seu resultado. O nosso Parlamento não é um carimbo – e não deve ser tratado como tal...”

Nas relações com a América:

“...O tamanho e o poder da América significa que seremos na parceria com ela o lado menor: Quase sempre teremos que a seguir e muito raramente poderemos liderar. Apesar da visão romântica dos Atlanticistas, a “relação especial” não é uma união entre iguais. Gostaria que assim fosse, mas jamais assim será; A América é um gigante comparada com o Reino Unido, em poder económico e político. Pode ser triste, mas é um facto...”
“… Se discordarmos das políticas dos Estados Unidos enfraqueceremos os laços que nos unem. Mas se as apoiarmos cegamente seremos vistos como um mero eco – uma posição pouco lisonjeira para uma nação que se separou da Europa para supostamente ser independente...”

Sobre as consequências políticas do Brexit :

“...A nossa saída aumentou os problemas políticos dentro das nações da Europa. A Grã-Bretanha rejeitou o colosso da União Europeia. Isto deu forças aos movimentos anti-UE, e o nacionalismo anti-imigrante cresce na França, Alemanha, Holanda, e noutros países.
Nenhum destes movimentos tem qualquer simpatia pelo modo largamente liberal e tolerante dos Britânicos. Se a própria Grã-Bretanha, a estável, moderada e anti-revolucionária Grã-Bretanha, pode libertar-se da burocracia opressiva de Bruxelas, então qualquer país pode. É um forte argumento...”

Finalizando:

“… Dentro de dois anos o Reino Unido será a primeira nação a deixar a UE. Isto será uma ironia porque a primeira proposta para a criação de uma União Europeia partiu, não do Francês Jean Monnet, como geralmente se pensa, mas dum Inglês.
Há mais de três séculos, em 1693, que William Penn defendeu a criação de uma “Dieta ou Parlamento Europeu” como meio de por fim às infindáveis guerras no Continente.
Levou 280 anos e duas guerras mundiais para convencer os seus compatriotas Britânicos a aceitar a ideia. 43 anos depois o povo Britânico voltou atrás com a decisão. Esperemos, para o bem dos nossos filhos e netos, que estejam dentro da razão.”

Entretanto na Irlanda do Norte…

As eleições da semana passada redundaram numa pesada derrota para os Unionistas que assim, e pela primeira vez, perdem a maioria na Assembleia, e numa vitória relativa do Sinn Fein republicano. Torna-se assim mais remota a possiblidade de haver acordo de Governo entre os dois partidos e cresce a possiblidade do Ulster vir a ser governado directamente de Londres, o que não augura nada de bom para o processo de paz.
E, é claro, problema de como serão as fronteiras entre as duas Irlandas, a do Norte e a do Sul, após o Brexit continua sem solução à vista.


Entretanto na Escócia…


Com a Primeira-Ministra Theresa May a recusar-se terminantemente a negociar com Nicola Sturgeon, a First-Minister da Escócia, um estatuto especial que garantisse que os Escoceses podessem continuar dentro do Mercado Unico e da União Aduaneira, um novo referendo na Escócia é considerada agora inevitavel, mesmo para membros do Governo Conservador, com a data de Outubro de 2018 apontada como sendo a mais provavel para a sua realização.
É curioso notar que em 2014, quando ganhou o Não à independencia, (55%/45%), o Primeiro-Ministro de então, David Cameron, garantia que a Escócia independente jamais seria aceite na UE, e que para se manter na Europa ela teria de continuar dentro do Reino Unido. Agora é exactamente o contrário: Se permanecer no RU é que, com o Brexit, a Escócia ficará inexoravelmente fora da União Europeia. O mesmo Cameron proclamava em 2014 que os Nacionalistas Escoceses, com a independencia, queriam tirar à Escócia o seu maior mercado , sendo como era a Inglaterra o principal destino das suas exportações. Agora são os Ingleses a querer tirar ao Reino Unido o seu maior mercado, a UE, levando a Escócia a reboque!



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Que Inglaterra ?

7/3/2017

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                                           Inglaterra, que Inglaterra ?





Por Nick Cohen
“Inglaterra, que Inglaterra ? Inglaterra, de quem é a Inglaterra ? Há apenas um ano poderia-mos responder a todos os quem, quê, porquês, com uma serie de “nãos”: Este país não era o Uganda de Idi Amin, não contemplava a possibilidade de deportar quase três milhões de cidadãos Europeus. Seria impossível sequer encarar a possibilidade que aqueles, que sendo na generalidade boa gente, e que vive, ama, casa, cria os filhos e trabalha entre nós, temesse ser arrebanhada e levada para os portos como se fossem estrangeiros inimigos. E não apenas por existir um milhão de nossos compatriotas que vivendo na Europa poderiam ser objecto de medidas retaliatórias iguais.

Então os nossos líderes não eram completamente estúpidos, pelo menos não todos eles. O Partido Conservador, sendo o partido dos negócios, não iria excluir a Grã-Bretanha do maior mercado exportador do mundo. O Partido Trabalhista não se tornaria aliado do Governo nesse objectivo. O Partido Trabalhista, que era o partido dos trabalhadores, ou que pelo menos assim se achava, tinha obrigação de saber que seria a classe trabalhadora quem mais sofreria com a perda de emprego e a inflação galopante, inevitáveis consequências da saída do mercado único e da UE.

Estas sendo questões que se definem pela negativa não deixam porém de ser importantes. Podem não ser bombásticas, nem produzir declarações inflamadas sobre a grandeza da Pátria, mas elas sim, são produto de um sentimento patriótico que leva a proclamar que o meu país não ameaça com a deportação de milhões, nem põe em risco a subsistência dos seus cidadãos mais pobres.

O que quer que seja que este país tenha sido no passado, este já não é o nosso país. Para se poder compreender a sinistra dinâmica que leva a que os nossos mais nobres instintos e melhores interesses sejam ignorados, é preciso lidar primeiro com a questão que é proibida de se mencionar: A da estupidez das massas e o seu efeito na vida publica.

Comentadores pseudo-heroicos afirmam que desafiam os tabus. Dizem que “não estamos autorizados a falar na imigração” e depois em pouco mais falam do que nela. Dizem que é tabu falar na morte, mas depois demonstram que afinal não era bem assim quando ela se torna num assunto recorrente. Mas há um genuíno tabu que impede que se diga que as pessoas como indivíduos podem ser estúpidas, e que por vezes a sua estupidez se congrega para produzir enormes danos auto-infligidos, como resultado dessa mesma estupidez colectiva. Tentem repetir esta heresia na BBC e verão a reacção de horror que provoca.



Por todo o lado psicólogos vêm abandonando a tese da “sabedoria das multidões” pela analise dos nossos comportamentos irracionais, da nossa por vezes exagerada auto-confiança e da nossa preferência pela informação que reforce os nossos preconceitos. No entanto é necessária coragem para, na praça publica, vir dizer que o eleitorado pode fazer escolhas estúpidas, muito embora todos nós indivíduos saibamos que as fazemos continuamente. È por isso que eu devo abordar este assunto com todas as cautelas.
Não seria razoável afirmar que todos os que votaram Brexit são tontos. Mas foram tomados por tontos aqueles que acreditaram na imprensa de direita, em Boris Johnson, Nigel Farage e Michael Gove ,quando afirmaram que sair da UE iria criar mais emprego em vez de o destruir.

Ninguém dirá que todos os que votaram em Theresa May é tonta – basta olhar para o embaraço da oposição na questão. Mas se não perceberam imediatamente que o que Mrs. May queria era fazer-vos passar por isso mesmo, quando acusou os Nacionalistas Escoceses de ao pedirem a independência “Quererem tirar a Escócia do seu maior Mercado”, quando é o que ela tenciona fazer precisamente com a saída do Reino Unido da UE, então é porque o são mesmo.

Na semana passada a Câmara dos Lordes aprovou uma modesta emenda garantindo, depois de ser accionada formalmente a saída do Reino Unido da UE, a manutenção dos direitos dos cidadãos Europeus residentes. Qual será porém o problema que isto levanta ? O próprio Governo já veio dizer que não deseja deportar 3 milhões de pessoas. Isso seria garantir o colapso de largos sectores da actividade publica e privada. As consequências emocionais seriam pelo menos tão grandes como as económicas. Certamente que este Governo sabe que não há o “Nós” e o “Eles”. Os Europeus, incluindo os Europeus Britânicos, têm vindo a casar-se entre si há longo tempo. Ameaçar esses laços seria, como disse a Imprensa tablóide tão admiradora de Theresa May, “mexer com a alma das pessoas”.


O Governo diz que não tenciona deportar ninguém. Afirma que está meramente a não confirmar os direitos dos Europeus residentes enquanto não receber iguais garantias sobre os direitos dos Britânicos residentes na UE. Mas porque então proferir a ameaça se não vislumbra nenhuma circunstancia em que poderá ter de leva-la por diante ?
É um cliché afirmar que a riqueza das economias depende mais das pessoas do que de fábricas e maquinaria. È igualmente óbvio que as pessoas não ficam se  sentirem que não são bem recebidas. O SNS e o sector privado imploram ao Governo que forneça desde já as necessárias garantias porque muitos trabalhadores especializados sentindo a hostilidade já falam em abandonar o país.

Mas quando os Lordes aprovaram essa medida os políticos Conservadores reagiram acusando-os de “prestarem um mau serviço ao interesse nacional”.
Os insultos são sintomáticos de uma dinâmica de direita que está a conduzir o país por um caminho de irremediável loucura.
Inglaterra, que Inglaterra? Certamente não uma em que um patriota possa sentir orgulho...”


Artigo publicado no Jornal “The Observer” em 5 de Março de 2017



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A Era da....

3/3/2017

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                                                                     XII



“...durante a Primeira Guerra o Governo instaurou mais de dois mil processos por infracções à lei que punia “...quaisquer comentários que fossem considerados desleais ou pejorativos para a forma de Governo dos Estados Unidos.” Em 1919, usando listas compiladas por um diligente e ambicioso então jovem funcionário chamado J.Edgar Hoover, o Departamento de Justiça começou a perseguir intelectuais e activistas políticos. A 20 de Dezembro, 249 imigrantes envolvidos em várias formas de actividades políticas – a maioria residente no país há décadas e professando a ideologia marxista e não comunista, foram deportados para a União Soviética.

Entretanto nos Estados Unidos mais de seis mil comunistas e simpatizantes tinham, no final de 1920, sido presos nas suas residências e locais de trabalho. Sob as ordens do Procurador Geral A. Mitchell Palmer, no dia de Ano Novo, quando tradicionalmente os membros do Partido se reuniam nas respectivas sedes, estas foram invadidas pela Policia que efectuou prisões em massa.
Clarence Darrow, o mais famoso advogado defensor dos Direitos Civis de então, afirmou: “ Uma era de tirania, brutalidade e despotismo ameaça os alicerces sobre os quais repousa a nossa Republica .”


A cruzada contra os “vermelhos” terminou em 1924 com a adopção de uma nova lei sobre a imigração destinada a impor severas limitações à chegada de novos imigrantes oriundos da Europa do Sul e Leste. Se a agitação entre os trabalhadores e as ideologias radicais eram produto da acção de estrangeiros, então impedindo esses estrangeiros de entrar no país certamente que se poria um fim ao problema. Preconceitos étnicos e anti-bolchevismo agiram em conjunto para restringir a imigração, o que teve como consequência, subtil mas não menos importante, de fazer o anti-comunismo entrar na luta entre religião e secularização, ou seja, passar a fazer parte da cultura Americana. De um lado a fé fundamentalista e doutro o comunismo, com o seu ateísmo militante. Surge assim um crescente ressentimento contra uma minoria culta vista como não fazendo parte de povo e querendo impor as suas opiniões à maioria. Finalmente essa classe culta e minoritária é identificada como sendo inimiga da religião.
Compreende-se então o porquê de a teoria da evolução de Darwin ser vista como sendo uma questão ideológica e metafisica e não como verdade cientifica, um resultado portanto desse mesmo crescente ressentimento contra os intelectuais, os quais, pelo simples facto de terem lido mais livros do que a gente comum, julgarem saber o que é melhor para a Sociedade, mesmo quando não lhes era reconhecida qualquer espécie de autoridade nas questões políticas, sociais ou religiosas...”




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