A Gazeta do Middlesex

Lord Sugar

31/3/2018

0 Comments

 

                    A  GAZETA  DO  MIDDLESEX

Picture

                               
                                              INFAMIA

O hoje multi-milionário Lord Sugar, individuo que teve porém um berço bem modesto, tornou-se famoso por ser a figura principal do programa de televisão “The Apprentice”, o mesmo que na sua versão Americana deu notoriedade a Trump. Militante do Partido Trabalhista demitiu-se, já imensamente rico, em 2015 quando Jeremy Corbyn foi eleito líder por, segundo disse, este não ser suficientemente amigo “dos negócios”.

Desde aí não há insulto, não há calunia que não bolse sobre Jeremy. Quando se pensava que não poderia descer mais baixo eis que publicou ontem no Twitter esta foto-montagem.
Pergunta-se: Quem é o fascista aqui ?

0 Comments

Perguntas

27/3/2018

0 Comments

 

                     A  GAZETA  DO  MIDDLESEX

Picture



                                           PERGUNTAS


“Quando a Rússia invadiu a Ucrânia e ocupou a Crimeia em 2014 foi altamente criticada pelos media Americanos, assim como quando interveio na Síria no ano seguinte. Agora imaginem o que não se diria do país de Putin se, quase 17 anos depois de declarada a “Guerra Global ao Terrorismo”, as tropas Russas, as suas forças de operações especiais, a sua aviação e drones, estivessem ainda envolvidas em operações militares em pelo menos 8 países do Médio Oriente e de África: Afeganistão, Iraque, Líbia, Níger, Paquistão, Somália, Síria, Yemen e, já agora, se quiserem juntar à lista, as Filipinas.


“Imaginem as indignadas primeiras páginas e as aberturas dos telejornais que teríamos se a Rússia, década e meia depois de ter iniciado essa guerra global sem fim, continuasse com a destruição, o caos, os mortos e os refugiados que ela causava. Imaginem a enorme indignação, e como a Rússia, uma das grandes potencias mundiais, seria classificada pela comunidade internacional por estar envolvida nesse conflito sem solução. Em Washington os protestos seriam de uma violência nunca vista, a linguagem usada de uma dureza inédita, e as criticas ferozes e sem descanso...”


Tom Engelhardt - in     www.Tomdispatch.com



Tom é um Americano autor do blog Tomdispatch e Fellow do Nation Institute e Teaching Fellow na Graduate School of Journalism da University of California-S.F. (Berkeley)
Segundo Tom, o blog Tomdispatch pretende ser um antídoto eficaz para a informação veiculada pelos media de grande circulação, e por essa razão tornou-se de leitura obrigatória.


0 Comments

Cui Bono

24/3/2018

1 Comment

 

                  A  GAZETA  DO  MIDDLESEX

Picture

                              
                                          CUI BONO ?


“...identidem in causis quaerere solebat, cui bono fuisset ? ”
“ O famoso Lucius Cassius, aquele que o povo de Roma tinha na conta de ser um honesto e sábio Juiz, tinha por hábito perguntar vezes sem conta: A quem aproveita ? “



Estas palavras de Cícero chegam até nós quase dois mil anos depois de terem sido proferidas, quando este defendia o jovem Roscio Amerino que vinha acusado de assassinar o próprio pai.
Cícero começou as suas alegações finais chamando a atenção do Tribunal para a falta de provas que corroborassem a acusação, e a falta de motivo que levassem o réu a cometer o crime. Num discurso apaixonado, em que descreve uma trama de corrupção e intriga, Cícero apresenta em seguida Magnus e Capito como os únicos verdadeiros beneficiários pela morte do velho Roscius.

No final o jovem Roscio Amerino foi ilibado e saiu em liberdade. A defesa de Cícero ficou nos anais da Justiça e a sua pergunta tem hoje mesma força de então : Cui Bono ? A quem aproveita ?


A 4 de Março passado um ex-espião Russo e a filha foram vitimas de uma tentativa de assassinato na belíssima cidade de Salisbury, no Sul de Inglaterra. Podemos afirmar com toda a certeza que o crime não aproveita nem ao povo Britânico nem ao povo Russo. É também muito difícil encontrar uma narrativa credível que culpe um dos Governos pelo acontecido, sem que se saiba que proveito poderiam dele tirar.
Quem gosta de Filosofia está preparado para lidar com perguntas, talvez melhor do que com respostas. Respostas é o que os leitores não encontrarão na breve resenha dos acontecimentos que aqui se faz. Fica ao cuidado de cada um tentar encontra-las.



Em 1993, Sergei Skripal, Coronel do GRU, o serviço de informação militar da Rússia, é colocado na Embaixada de Madrid. Pouco tempo depois é contratado como espião pelo serviço secreto Britânico MI6. A troco de elevadas quantias começa a passar informação confidencial que irá comprometer a segurança de dezenas de colegas seus que operavam no Ocidente.
Regressado a Moscovo continua a sua actividade de espião até 2004, altura em que é descoberto pela contra-espionagem Russa e preso. Julgado em 2006 é condenado a uma longa pena de prisão.
Em 2010 é feita uma troca de espiões. Desta vez não no Checkpoint Charlie em Berlim, como no auge da guerra fria, mas no aeroporto de Viena. Skripal faz parte dessa troca e vem a estabelecer residência em Inglaterra.
A troca de espiões obedece a um protocolo que foi sempre respeitado por ambos os lados desde o final da II Guerra, protocolo esse que garante imunidade vitalícia aos espiões que tenham sido objecto de troca.



Skripal compra uma casa na cidade e vive abertamente sob o seu nome verdadeiro. Junta-se-lhe a Mulher, que vem a morrer de cancro em 2011. O filho vem também a falecer em 2017 de causas naturais. Estão ambos sepultados num dos cemitérios de Salisbury. Em Moscovo fica a filha, Yulia, que visita regularmente o Pai. Nada parece poder perturbar esta normalidade até ao começo deste mês.

A 3 de Março a filha chega de Moscovo para uma habitual visita.
No dia seguinte, 4 de Março, ambos usam o carro de Skripal para se dirigirem ao centro de Salisbury. Às 13.40 o BMW é deixado no parque de estacionamento do supermercado Tesco. Caminhando dirigem-se a um Pub que está curta distancia e onde tomam uma bebida. Também perto está o restaurante italiano Zizi onde chegam às 14.20. Tomado o almoço saem do Restaurante às 15.35. A pé dirigem-se a um parque distante apenas alguns minutos. Às 16.15 são encontrados inconscientes num banco desse parque. Um policia que lhes tenta acudir é contaminado pela mesma substancia tóxica e também em estado critico é levado para o hospital ao mesmo tempo que os Skripal,.
Os médicos não conseguem identificar o agente tóxico que os vitimou. Uma amostra é levada para o ultra secreto centro para a guerra química do Exercito situado em Porton Down, localidade que fica a curta distancia de Salisbury.

A 5 de Março o deplorável Boris Johnson, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha, menciona pela primeira vez a Rússia como a “possível” culpada pelo atentado.

Dois dias depois, a 7 de Março, vem a confirmação dos laboratórios de Porton Down que se trata de um “nerve agent” chamado novichok, o que em Russo quer dizer “o recém chegado”.


Até agora os mais letais agentes tóxicos conhecidos que actuam sobre o sistema nervoso central, e que podem apresentar-se sob a forma liquida, em pó ou gás, eram o Sarin, descoberto na Alemanha nos anos trinta, o VX desenvolvido nos anos cinquenta precisamente em Porton Down, e o novichok que foi sintetizado na década de setenta na antiga União Soviética. A informação disponível diz que este ultimo é cerca de seis vezes mais letal que o VX, que por sua vez será muitas vezes mais mortal que o Sarin. A mesma informação afirma que o novichok é indetectavel, e que contra ele são ineficazes os mais sofisticados meios de defesa: Nem mascaras nem fatos protectores oferecem garantias de escapar a uma morte quase instantânea a quem seja exposto à sua acção.
Temos um exemplo recente da acção destes agentes tóxicos quando Kim Jung-nam, o irmão de Kim Jung-un, o líder da Coreia do Norte, foi morto em 13 de Fevereiro de 2017 no aeroporto de Kuala Lumpur. Sabe-se que aqui foi usado o VX e que, embora a vitima tivesse consigo 12 ampolas auto-injectaveis de atropina, a morte foi demasiado rápida para que pudesse recorrer ao antídoto.




No dia 12 chegam cerca de 200 militares de um Regimento especializado em guerra química com o respectivo equipamento. O publico é aconselhado a lavar toda a roupa e aquela que normalmente seria limpa a seco deve ser encerrada em sacos de plástico bem fechados.

No mesmo dia a Primeira-Ministra discursa no Parlamento acusando a Rússia de ser “muito provavelmente” responsável pelo ataque em Salisbury. Theresa May faz em seguida um ultimato ao Governo Russo dando um prazo que terminaria às 24 horas do dia seguinte para que desse explicações cabais sobre os acontecimentos.


A 13 de Março são já 1000 os elementos do Exército e das forças de segurança em acção em Salisbury, que fica em estado sítio, com até as campas dos familiares de Skripal a serem investigadas. Ultrapassado o prazo dado à Rússia, e sem resposta satisfatória, Theresa May decreta a expulsão de 23 diplomatas russos, (que diz serem na realidade “espiões”), e o boicote pelos membros de Governo e pela Família Real ao campeonato do Mundo de futebol a realizar no próximo Verão em Moscovo. Alguma Imprensa compara May com Margaret Thatcher, escrevendo que os acontecimentos de Salisbury serão para a primeira o que a guerra das Malvinas foi para a segunda.


Entretanto as investigações prosseguem : Vem a saber-se que foram encontrados vestígios do agente tóxico no Mill Pub, o local da primeira paragem dos Skripal no centro da cidade, e que a mesa em que almoçaram no restaurante Zizi estava de tal maneira contaminada que teve de ser destruída. É portanto possível concluir que as vitimas foram atacadas antes das 13.50, hora de chegada ao Pub, e que decorreram cerca de 2h15 até ficarem inconscientes no banco do parque. Ganha peso a hipótese de o agente tóxico ter sido colocado no sistema de ar condicionado do carro e que tenha sido trazido de Moscovo pela própria filha de Skripal. Com este timeline passa a ser admitido que o agente tóxico usado teria de ser um novo tipo de novitchok até agora desconhecido e de acção lenta.
No dia 18 Vladimir Putin é reeleito Presidente da Federação Russa, resultado esperado uma vez que sondagens feitas antes destes acontecimentos lhe davam 65% de intenções de voto, tendo acabado por receber 75%.

Imediatamente, e como retaliação pela medidas tomadas pelo Governo Britânico, decreta a expulsão de 23 diplomatas, (não é feita referencia se verdadeiros, se falsos), o fim das actividades do British Council e o fecho do Consulado em S. Petersburgo.
A 19 Theresa May pede o auxilio da Nato dizendo estar o país a ser vitima de agressão externa. É porém considerado não estarem reunidas as condições previstas no Artº 5 da Aliança e o pedido não tem seguimento. Recebe no entanto o apoio de Merkel e de Macron. O policia que tinha tentado ajudar os Skripal tem alta do Hospital.

A 21, o inenarrável Boris Johnson diz num discurso que Putin é o novo Hitler, e que os acontecimentos de Salisbury são equiparáveis ao incêndio do Reichstag de 1939, que serviu de pretexto para a invasão da Polónia. Para os Russos, com os seus 25 milhões de mortos combatendo os Nazis, não pode haver insulto mais infame. Para os Britânicos é a demonstração que não há baixeza que Boris não seja capaz, e vergonha a que nos poupe.

A 23 reúnem-se os chefes de Estado e Governo em Bruxelas. São aprovadas as mais importantes medidas pedidas por May, e a passagem à fase final das negociações sobre o Brexit é aprovada. Os 27 países afirmam o seu apoio ao Reino Unido e a sua condenação da Rússia por ser, nas palavras da Primeira-Ministra, highly likely responsável pelo envenenamento dos Skripal.

Em Salisbury os investigadores voltam a pesquisar o carro das vitimas e o banco do parque onde foram encontrados inanimados vinte dias antes é cuidadosamente removido para voltar a ser inspeccionado. O publico é mais uma vez aconselhado a lavar as roupas que tenham sido usadas na altura dos acontecimentos.

Isto Não é uma Conclusão



Com o colapso da União Soviética, e com o caos que se seguiu, no Ocidente houve o temor que as armas químicas caíssem nas mãos de terroristas. Segundo vários analistas os receios eram fundados, com as instalações onde se fabricavam a serem meramente abandonadas por falta de pagamento aos funcionários. Uma das maiores dessas instalações, que era responsável pelo fabrico do novichok, estava situada em Shikhany, na Rússia Central, sendo o produto depois armazenado e testado em Nukus, no Usbequistão. Na confusão geral, e sem meios próprios, os Russos aceitaram a que fossem os Americanos a neutralizar e a descontaminar esses depósitos.

Uma história parece dar credibilidade à possibilidade de algum desse agente tóxico ter acabado em mãos erradas: Em 1995 um magnata Russo chamado Ivan Kivelidi e a sua secretária foram envenenados por um desses agentes tóxicos que tinha sido colocado no telefone do escritório. Um sócio acabou por ser admitir ter comprado essa substancia através de um intermediário, que por sua vez o teria adquirido a um funcionário de um laboratório estatal envolvido no fabrico do novichok. Esse funcionário, de nome Leonard Rink, admitiu vender essas substancias a fim de pagar dividas.
O próprio cientista que chefiou a equipa responsável pela criação do novichok, Vil Mirzayanov, desertou nos anos 90 para os Estados Unidos onde continua de boa saúde, tendo feito recentemente declarações publicas sobre o assunto. Não parece credível que não tenha partilhado com os seus anfitriões os segredos da profissão.

Em 2017 o Governo da Federação Russa declarou que o seu programa de desenvolvimento armas químicas, que estava parado desde 1992, tinha chegado ao seu termo com a destruição dos últimos stocks existentes. Apresentava um documento passado pela OPCW,(Organisation for the Prohibition of Chemical Weapons), atestando a veracidade da afirmação. Esta OPCW é uma organização internacional sediada na Haia que representa os 192 países signatários do Tratado que proibiu as armas químicas, e que compreende 98% da população do Planeta. No seu site, https://www.opcw.org, pode ser encontrada abundante informação sobre a sua actividade, incluindo o seu envolvimento desde há poucos dias na investigação sobre a origem do produto que envenenou os Skripal. Segundo a OPCW, até hoje foram destruídas 72.304 toneladas métricas de agentes químicos, representando 96% dos stocks declarados, feitas 6.785 inspecções a 3.170 instalações ligadas à produção de armas químicas, bem como a outros 3.615 locais possuindo industrias com possibilidade de estarem envolvidas nessa actividade.



Muitas têm sido as teorias vindas a publico sobre quem foi responsável pela tentativa de assassinato dos Skripal, naquilo que é, afinal, a mais importante das questões. Umas são delirantes, outras não tanto.
Uma diz terem sido os Estados Unidos os autores através de uma hiper secreta organização por estar o Mr. Skripal a coligir um dossier que provava as ligações perigosas de Trump à máfia Russa.
Outra aponta para a Ucrânia por esta estar interessada em isolar a Rússia e em destruir a reputação de Putin, ganhando assim apoios no Ocidente para combater os separatistas pró-Russos.
Prodígio de imaginação é a que aponta o dedo aos adversários do Brexit: Com a ameaça Russa a Grã-Bretanha não poderia ousar ficar isolada dos aliados europeus, que em tão boa hora lhe deram incondicional apoio. Fim do Brexit portanto.
Mas, para mim, o prémio vai para as declarações feitas em Moscovo por uma familiar dos Skripal. Segundo ela a jovem Yulia estaria noiva de um jovem oficial dos Serviços Secretos que pertenceria a uma poderosa família da nomenclatura, família essa que veria com muito maus olhos ter no seu seio a filha de um traidor. Yulia, e não o Pai, seria assim o verdadeiro alvo do atentado.


Neste ambiente de informação e contra-informação, de intoxicação colectiva, sobressaem as palavras de Jeremy Corbyn no Parlamento, e que foram recebidas com vaias pela Direita:
“ Adiantar-mos-nos às provas que ainda são procuradas pela Policia, nesta atmosfera febril que tomou conta do Parlamento, não serve nem a Justiça nem a segurança nacional”
“Nos meus longos anos de Parlamento tenho visto como, durante crises internacionais, o pensamento sensato e racional pode ser submergido pela emoção, levando a que se tomem decisões apressadas”
“Informações falsas e relatórios manipulados levaram à calamidade da invasão do Iraque:”

Portanto regressemos à pergunta inicial: Cui bono ? A quem aproveita ?

À Rússia, que tem tropas da Nato estacionadas a menos de 100 quilómetros de S. Petersburgo e cujas forças armadas são 1/10 das da Aliança e cuja economia é do tamanho da Itália ? Acho que teremos de procurar melhor.


1 Comment

Money Talks

20/3/2018

0 Comments

 

                  A  GAZETA  DO  MIDDLESEX

Picture



                                         MONEY TALKS


Há duas semanas atrás Michel Barnier, o negociador-chefe pela UE no Brexit, garantia peremptório que não seria possível passar à fase seguinte das negociações enquanto o Reino Unido não apresentasse uma solução para o problema da fronteira entre as Irlandas. Dramático, avisava : “A Grã-Bretanha tem apenas duas semanas para apresentar uma proposta exequível que evite uma fronteira física entre a Republica e o Ulster !”
Ontem mesmo ele e David Davis, que tem o mesmo papel pelo Reino Unido, anunciavam exultantes que tinham conseguido o tal acordo para prosseguir as negociações. Quanto à questão Irlandesa aos costumes disseram nada. Mas os Britânicos conseguiram uma concessão importante ao lhes ser dado um prazo até 31 de Dezembro de 2020 para “se prepararem melhor” para os efeitos do Brexit, que acontecerá, é bom lembrar, a 19 de Março de 2019. Entre as duas datas tudo ficará mais ou menos na mesma.
Há é verdade o pequeno detalhe de no Tratado de Lisboa estar estabelecido o prazo de dois anos para, uma vez evocado o famoso artigo 50 pelo Estado membro que pretende sair da União, essa saída se tornar efectiva. Como aqui os prazos não se tornaram “meramente indicativos” como na Justiça Portuguesa, ( a rebaldaria ainda não chegou a tanto…), há que emendar o Tratado o que acontecerá na próxima Sexta-Feira na reunião plenária dos Chefes de Estado e Governo da União.
Com a Frau Merkel outra vez com Governo, com o SPD  novamente a servir submisso de muleta e com Macron mandado calar, não lhe será difícil a montar o numero de circo “Angela e os seus 26 cãozinhos amestrados” que aprovará tudo o que lhe puserem à frente.
É que, já devem ter percebido, se o Brexit é mau para os negócios então é péssimo para o sector financeiro. Não serão certamente alguns detalhes a que chamam, talvez exageradamente, “Princípios Fundadores” da UE a perturbar o suave fluir do business as usual.
Money Talks. O dinheiro fala, e agora vai falar muito mais alto.

0 Comments

Revolução

11/3/2018

0 Comments

 

                     A  GAZETA  DO  MIDDLESEX

Picture


                                           REVOLUÇÃO

O post de hoje é a tradução de um artigo recentemente publicado na revista The New Statesman. Nele os autores, Brendan Simms e Daniel Schade, que são respectivamente professores de Relações Internacionais na Universidade de Cambridge e de Estudos Europeus na Universidade de Magdeburgo, fazem uma analise minuciosa das propostas do Presidente Francês para a reforma da UE. Muitos leitores julgarão utópicas as ideias de Macron. Outros serão da opinião que à distopia actual qualquer utopia é preferível, isto se queremos que a UE sobreviva, agora com o resultado das eleições Italianas a dar um tom de maior urgência ao debate . Uma longa leitura a testar a paciência da cada um, mas indispensável se se quiser ter uma ideia do que o futuro pode trazer para a Europa, logo para Portugal.
manuel.m





Por vezes é necessário que haja um Francês. Alexis de Tocqueville, o escritor e político do Séc. XIX, ainda hoje é lembrado por ter sido ele a explicar ao mundo os méritos da Democracia Americana. Em meados do Séc XX foram outros dois Franceses, o economista e diplomata Jean Monnet e o Ministro dos Negócios Estrangeiros Robert Schuman, que tiveram um papel decisivo na criação da Comunidade do Carvão e do Aço, que foi a base intelectual que evoluindo se transformou na União Europeia dos nossos dias. Agora é o Presidente da França, Emmanuel Macron, que aponta uma saída para a paralisia que afecta actualmente a UE. O que ele propõe para a Europa é tão radical que se tornou muito mais importante que outras questões, incluindo o Brexit, causando espanto por não ser motivo de divulgação e de discussão alargada no continente Europeu.


Numa série de artigos, discursos e livros que vieram a publico nos últimos 18 meses Macron denunciou de uma maneira brutal as fraquezas da União Europeia. O problema, diz ele, é o facto de os Estados Membros serem isoladamente demasiado fracos para gozarem de uma soberania efectiva nos campos de economia, da finança, do ambiente, da imigração, da política externa e defesa. E o pior é que a UE na sua forma actual é incapaz de encontrar uma solução para as suas deficiências. O Euro não tem uma base de política económica comum, o que tem como consequência uma perpétua instabilidade. Os regimes fiscais dos Estados membros não são coordenados, o que faz com que haja uma competição entre eles para baixarem cada vez mais os impostos, o que por sua vez põe em risco a viabilidade das políticas sociais.


Enquanto a UE estabelece metas ambiciosas para enfrentar o problema das alterações climáticas, os Estados membros individualmente não cumprem as promessas. A Europa não tem um comando militar unificado, o que torna quase inexistente a sua capacidade de defesa; esta é garantida pela Nato com as forças operacionais a serem disponibilizadas por além Atlântico ou além Canal da Mancha. A maior parte da União participa no acordo de Schengen tendo abolido as fronteiras terrestres, mas não possui uma força de defesa das suas fronteiras externas, nem uma política comum que regule as migrações, com os resultados previsíveis nos Balkans e no Mediterrâneo.
Os Europeus na realidade não são mais do que arrendatários dos seus próprios territórios, muito embora Macron não tenha posto até agora a questão nesses termos.



O que o Presidente Macron propõe é um retorno da “soberania” às populações dos Estados membros - querendo dizer com isso que deverá haver uma genuína participação democrática - pela criação de uma “soberania europeia” alargada. As suas sugestões concretas para uma reforma da UE passam pela estabelecimento de uma força militar de intervenção europeia, que deverá ter uma doutrina comum e um orçamento também comum; uma policia fronteiriça europeia e um organismo europeu que aplique as políticas de asilo, que deverão ser comuns, ao mesmo tempo que garanta a segurança dos fronteiras externas.
A lista não acaba aqui, mas mais importante do que as mudanças que são propostas é a apresentação das medidas concretas em como essas mudanças devem ser feitas, financiadas e legitimadas.

A escala dos problemas leva Macron a concluir que se torna imperioso que haja um Orçamento Europeu, gerido por um Ministro das Finanças Europeu, e que esse Orçamento seja rigorosamente controlado por um Parlamento também Europeu.

Dada a extensão que as propostas cobrem, e os mecanismos necessários para que sejam viáveis, a reformulação da EU levaria à criação de um Estado Europeu em tudo menos no nome, uma nova realidade que substituiria a confederação de Estados que hoje existe.


Na visão de Macron o plano para a criação de um nova Europa deverá ser posto à discussão entre os povos que estejam dispostos a participar no processo, e o resultado desse debate alargado deverá ser tido em conta na próxima eleição do Parlamento Europeu em 2019. Em ultima analise nessa visão estará presente a possibilidade de alguns dos Estados não desejarem fazer parte dessa nova Europa, e a isso não serão obrigados: Farão parte de um grupo que avançará a uma menor velocidade.

Escreve Macron no seu livro Revolução:


Confundimos soberania com nacionalismo. Digo que aqueles que verdadeiramente acreditam na soberania são os pró-Europeus: A Europa é a nossa oportunidade de recuperar a total soberania...Soberania significa uma população fazendo livremente as suas escolhas colectivas, no seu território. E ter soberania é ser capaz de agir. Dada a seriedade dos desafios que enfrentamos seria uma mera ilusão e um erro pensar que podemos agir apenas ao nível nacional. Para lidar com o influxo de imigrantes, com a ameaça do terrorismo internacional, com as mudanças climáticas, a transição digital e sobretudo com a supremacia económica dos Americanos e dos Chineses, a Europa é o nível mais apropriado para agirmos.


A concepção de soberania que transparece nestas palavras pode parecer ser complexa mas é no entanto bem clara e revolucionária; não é por acaso que o livro de Macron tem o titulo Revolução: O que pretende não é apenas fazer o somatório das soberanias dos Estados membros; ele deseja atingir um patamar superior. Nem o Presidente pretende retirar a soberania a esses Estados porque, na realidade, eles não possuem nenhuma. Os povos da Europa continental ou têm uma soberania Europeia ou não terão nenhuma.




Para se poder entender o que isto significa para a ideia de Estado-Nação é preciso perceber a distinção que o pensamento político Francês faz entre Nação e Estado. Enquanto a maioria dos Estados-Nações europeus fundam a sua raison d’être no conceito de um território e de uma ancestralidade comuns, a identidade da França é suplementada por um outro ideal, o da Republica. O mito fundador da Republica é o de ser a defensora de valores republicanos e universais, tais como os direitos humanos e de cidadania. Estes conceitos, para os Franceses, sobrepõem-se, o que pode ser observado na declaração formal com que todos os Presidentes terminam os seus discursos: “Viva a Republica e viva a França.”
Enquanto Macron pretende preservar o primeiro, o da Nação Francesa, ele sugere transferir o outro, o da Republica Francesa, com os seus ideais universais de defesa dos Direitos Humanos, para o nível Europeu. A Nação Francesa manter-se-á, como aliás todas as outras Nações, mas não será mais soberana. A Quinta Republica Francesa acabará formalmente – ela é já na prática redundante – e será substituída pela Sexta Republica, que será simultaneamente a Primeira Republica da Europa.

****

As ideias de Macron para a reforma da Europa vão buscar inspiração – directa ou indirectamente – em outras experiências bem sucedidas: Tais como a das colónias Americanas independentes que depois iriam formar os Estados Unidos, ao chegaram à conclusão que isoladamente seriam demasiado fracas para enfrentarem as futuras ameaças, o Presidente Francês acentua o facto que a verdadeira soberania dos povos Europeus apenas poderá existir se houver um único Estado de facto que seja responsável pelas políticas Europeias. No entanto, tal como a Inglaterra, a Escócia, o País de Gales e parte da Irlanda, que continuam a ser Nações dentro de uma união política alargada, o Reino Unido, Macron vê a França e as outras Nações mantendo as suas identidades distintas sob a nova “Soberania Europeia”. E o que deseja é que este objectivo não seja atingido gradual e subrepticiamente , mas sim rapidamente através de consulta e consenso. O que propõe é uma serie de alterações constitucionais que sejam referendadas de modo que a institucionalização dessa soberania Europeia possa estar aprovada em 2024, ano das eleições para o Parlamento Europeu.

São formidáveis os obstáculos a estas ideias de Macron, quer sejam domésticos, Europeus ou globais. O seu plano é um desafio fundamental ao nacionalismo Francês, seja de Direita ou de Esquerda. Até agora fora dos extremos da política a resposta não tem sido visível com excepção de algumas lutas simbólicas tais como se a bandeira da UE deve ser hasteada ou não no Parlamento ao lado da Francesa. Uma oposição mais séria é esperada quando for altura de discutir os planos económicos domésticos. Uma vez que as pessoas tomem consciência do que essas ideias realmente significam, a controvérsia será fortíssima. A Quinta Republica não irá desaparecer sem resistir à alvorada Europeia.

O plano de Macron vai também contra a realidade corrente e o estado de animo da UE e dos seus Estados Membros. Como um antigo Primeiro-Ministro da Eurozona afirmou quando perguntado sobre a visão de Macron sobre a UE “ A UE é uma confederação de Estados com tonalidades federais. A UE não é um Estado e jamais se tornará num. É uma organização baseada na Lei e num estado de espírito, onde se avança através dum processo de consultas”.

A ideia de uma Europa “a várias velocidades” causa alarme em certos países do Leste Europeu onde os valores da Democracia liberal estão ameaçados e onde será lógico assumir que sejam relegados para a faixa dos lentos na auto-estrada da integração.

O mais importante é que os planos do Presidente Francês colocam a Alemanha num dilema: Muito embora, numa primeira reacção, ela apoie o “motor” Franco-Alemão puxando pela integração Europeia, Berlim vê “mais Europa” como sendo atingida por fases e não numa só e decisiva mudança.
A Alemanha também é muito menos receptiva à ideia de desviar os países de Leste para uma linha secundária. Prefere muito mais abrandar o comboio de maneira que todos os Estados possam acompanhar a marcha, possibilitando-os de chegar ao mesmo tempo ao destino, isto se o conseguirem.
Por outro lado existe uma forte simpatia entre os Conservadores Alemães em relação aos Conservadores Polacos e Húngaros, que Macron gostaria de excluir e neutralizar.
Mas mais importante do que tudo existe uma forte resistência na opinião publica Alemã quanto a consolidar as dividas publicas da Euro zona, coisa que Macron sabe ser essencial se se quiser estabilizar de vez o Euro.


Terá o Presidente Macron capacidade de levar até ao fim os seus ambiciosas planos ? Até agora tudo sua na vida pessoal e política sugere que Macron é uma personalidade que possui dotes extraordinários e que não se deixa limitar por conveniências, sentindo-se livre para explorar caminhos desconhecidos. Nunca ele fez as coisas, pelo menos as grandes coisas, da maneira mais fácil.
Macron tem uma estratégia clara em como criar uma republica Europeia. No ano passado começou com a reforma da economia Francesa, parcialmente porque a economia necessitava mesmo de reforma, mas principalmente para impressionar os Alemães. Não o ter feito seria dar razão aos que na Alemanha dizem que não se pode confiar nos outros países para criar um orçamento e uma divida comuns na Europa. Esta é a razão pela qual no seu discurso na Sorbonne em Setembro de 2017 mostrou estar de acordo com as linhas gerais da política do então Ministro das Finanças Alemão Wolfgang Schauble e com a necessidade de defender as “regras comuns”.
Até agora Macron tem sido extraordinariamente bem sucedido, muito mais do que os seus detractores esperavam e o seus apoiantes se atreviam a imaginar. Depois da sua notável vitória eleitoral, ela própria um golpe de sorte, criou do zero um novo partido político, “La Republique em Marche”, que veio em seguida ganhar as eleições parlamentares. Deu logo inicio a uma serie de reformas no país sem que os todo poderosos sindicatos Franceses tenham bloqueado as suas iniciativas, nem que que tenha acontecido algum escândalo que envolvesse personalidades do seu movimento.

E Macron já não é uma banda-de-um-homem-só. A sua acção inspirou outros experientes políticos de diferentes alas da política Francesa a juntarem-se-lhe, tais como Bruno LeMaire, o novo Ministro da Economia, que fala fluentemente Alemão e que aparece regularmente nas televisões do outro lado do Reno. Entretanto os Negócios Estrangeiros e os Assuntos Europeus foram confiados ficaram também em mãos experientes.
Não deve ser esquecida a importância dos novos parlamentares recentemente eleitos, e que são totalmente distintos dos seus antecessores. Macron conseguiu motiva-los a fazerem política diferentemente, o que não foi difícil uma vez que são consideravelmente mais novos que a média dos seus eleitores. Entre muitos , vem à memoria o nome de Cédric Villani, o vencedor do equivalente ao Prémio Nobel para a matemática, a Medalha Fields, e que é um federalista Europeu; À frente do comité para os Assuntos Europeus está Sabine Thillaye, que durante grande parte da sua vida teve passaporte Alemão antes de adquirir a nacionalidade Francesa.
A diversidade do grupo Parlamentar tornou-o mais vulnerável a fracturas, mas o tamanho da maioria que apoia Macron fez com que esse risco se tornasse negligenciável.
No entanto os planos do Presidente Francês sofreram um considerável contratempo com o resultado das eleições Alemãs de Setembro e a perda da maioria parlamentar por Merkel. Macron tinha a esperança de começar a discutir o futuro da Europa com a Chanceler em princípios de 2018 a tempo de ser assinado um novo tratado Franco-Alemão por altura do 55º aniversário do histórico Tratado do Eliseu de 1963. As longas negociações para a formação de um novo governo Alemão inviabilizaram esses cálculos.



No entanto existem sinais que a posição Alemã vai mudando lentamente a favor de Macron. Primeiro, o resultado das eleições fragilizaram Merkel, e o impasse nas negociações para a formação do novo governo fizeram com que, pela primeira vez em mais uma década, a balança do poder pendesse para Paris.
Segundo, o acordo de coligação entre os Cristãos-Democratas de Merkel e o Partido Social-Democrata, (SPD), tem nitidamente um pendor pró Europeu,uma das principais exigências do ultimo.
Terceiro, e o mais importante, ao garantir as pastas das Finanças e dos Negócios Estrangeiros, o SPD tem um poder decisivo sobre as decisões que afectem a Europa.

De uma maneira ou de outra Macron e os pró-Europeus do SPD, derrotaram duas recentes narrativas: Que tudo está bem na UE, apesar de alguns problemas, e que não haverá nenhuma decisão para uma rápida integração política na Europa num futuro próximo.
Daqui por diante não será possível ao Chefe de Gabinete de Merkel, Peter Altmaier, repetir até à exaustão o velho mantra de Berlim:
“ A discussão se a Europa deveria ser um estado federal, confederação, ou uns Estados Unidos, é para os jornalistas e académicos, não é para a política externa Alemã.”
Existe, fora de dúvida, um novo elan, uma visão de futuro ao mesmo tempo visionária e realista que ficou demonstrada em Janeiro com a votação conjunta dos Parlamentos Alemão e Francês a favor da reforma da UE.

Na sua ultima mensagem de Ano Novo, Macron dirigiu-se directamente ao povo Europeu:

“ Este ano preciso de vós”, disse, “Para redescobrir a ambição Europeia, uma Europa mais soberana e unida que seja mais democrática e que sirva melhor o povo da Europa”.
Foi um apelo directo à opinião publica Europeia feito por cima dos Chefes de Estado dos outros Estados membros. A decisão foi correcta, mas ninguém sabe se terá sucesso.
Verifica-se, é certo, um certo revivalismo do ideal Europeu. Mas quando se discutem os detalhes, em especial a criação de um plano concertado para salvar a União, esse consenso desaparece. Antes do ultimo Natal, uma sondagem feita pela respeitada Fundação Korber revelou serem os Alemães fortemente a favor da União Europeia mas, por escassa margem, contra os planos de Macron para a salvar.
Apesar de toda a retórica o sentimento dos Europeus de partilharem um destino comum é ainda fraco. É verdade que a opinião publica pode mudar, se líderes credíveis defenderem o plano. Para que isso aconteça Macron necessitará que um movimento “Europe en Marche” se espalhe por todo o continente; um projecto para a unificação democrática da Europa.


Uma nova narrativa terá de surgir que seja credível tanto em Paris, como em Atenas ou Tallinn. Macron terá que liderar a sua nation une et indivisible para fora do seu hexágono e zona de conforto de modo a que se transforme numa Grande Nation Europeia.
Aos Franceses não se pede que sejam missionários, isso nunca resultou, mas terão que ser a força animadora da União. E para ser bem sucedido Macron vai ao mesmo tempo ter de alertar para os perigos da imobilidade e oferecer um “projecto esperança” em que os Europeus acreditem.




0 Comments

SuperNanny

6/3/2018

0 Comments

 

                       A  GAZETA  DO  MIDDLESEX

Picture


                                           SUPER NANNY

                                         (E OUTRAS INDIGNAÇÕES)

Raramente saio das fronteiras da BBC mas há um bom par de anos assisti por duas ou três vezes ao SuperNanny. A autora e protagonista, Jo Frost, aproveitou os seus trinta anos de experiência como nanny para apresentar um programa no Canal 4 que mostrava casais com graves problemas em controlar as suas crianças e onde ensinava técnicas simples para restaurar alguma normalidade no dia a dia daquelas famílias. A ideia, original a que se saiba, teve imediato sucesso e foi exibida na Grã-Bretanha durante uma década tendo sido exportada para 48 países muitos dos quais na Europa, incluindo na vizinha Espanha onde foi exibido sob o título “Supernanny, SOS-Adolescentes”. O que Jo fazia era enganadoramente simples e consistia em ensinar os pais em como ser firmes e consistentes na sua acção disciplinadora e as suas técnicas foram suficientemente inovadoras para ser objecto de estudo por psicólogos e educadores. Fox é também autora de seis livros sobre problemas comportamentais na infância, gestão comportamental e técnicas parentais.
Todos sabemos que as crianças não nascem com livro de instruções e que o mister de sermos jovens pais é cheio de incertezas e perplexidades, mas acredito que no fim a maioria de nós lá conseguiu levar a carta a Garcia sem grandes problemas.
Aos casais que vi na SuperNanny isto não se aplica porém: É difícil imaginar como adultos se podem deixar totalmente manipular e dominar pelas crianças, tornando a vida quotidiana num perfeito inferno. Muito talento teve que ter Jo Fox para guiar aquela gente até uma aceitável normalidade, poupando depressões e divórcios aos desesperados pais. E talvez aí resida a razão do sucesso do programa, ao ser simultaneamente pedagógico e profilático.


Em Portugal as coisas não se passaram porém assim: Quando uma estação televisiva resolveu apresentar uma versão lusa do SuperNanny uma onde de indignação varreu o país de Norte a Sul. Afinal os Portugueses tinham voz e, agora que estavam unidos contra algo que vinha de fora, usaram-na com estrépito. Um crime contra as crianças clamava-se; um traumatismo irreparável condenando-as a um futuro de sofrimento mental. Rapidamente choveram acusações de maus tratos que acabaram em Tribunal. A Justiça Portuguesa, habituada à velocidade de tartaruga, de repente descobriu ter pernas de lebre: Pais, a Estação da Televisão, Produtores do programa, todos sentiram a sua manápula. Um jornal dito “de referencia”, e que leio on-line, escrevia em titulo:” Às crianças não foi pedido o seu consentimento para figurar no programa”. Considerando que a mais nova tinha apenas ano e meio, isto é puro delírio colectivo. Uma psicóloga, que o mesmo Jornal diz ser uma “especialista” da Acusação, de seu nome Rute Agulhas, afirmou que alguém chamou “diabinho e pestezinha” a uma, ou a várias, das criancinhas o que constitui segundo ela insofismavelmente um crime, e dos graves. Ora a Drª Agulhas, ou é senhora de um aguçado sentido de humor, ou toma-nos por imbecis ao afirmar ser crime aquilo que, a ser verdade, poria atrás das grades metade da população Portuguesa.


Com a distancia a alma Portuguesa tornou-se insondável para mim. Recentemente, e numa curta visita a Portugal, fui convidado para a casa de amigos. Com a televisão ligada para a abertura do telejornal a primeira coisa que surgiu foi um sujeito com um ar alucinado e voz de gramofone a cuspir vitupérios. Feito o zapping constatou-se que todos os canais apresentavam a mesma noticia de abertura. Os meus anfitriões, um pouco embaraçados, explicaram-me que se tratava do Presidente de “um dos grandes” clubes de futebol. Ora eu sei que tudo é relativo. Por exemplo no Algarve, sitio onde passo férias, o Olhanense, que é o clube que a maioria dos expatriados aí residentes apoia, poderia por direito próprio ser também chamado “um dos grandes” mas, por qualquer razão desconhecida, ninguém o faz.

Mas o mais extraordinário é que para os jornalistas Portugueses naquele dia particular nada acontecia de importante em Portugal, país onde corria o leite e o mel, nem mesmo no mundo, com toda a humanidade a atingir o Nirvana. Nem guerras, nem catástrofes naturais, nem a vida dos famosos e ricos, nem as declarações dos políticos, nem mesmo Trump e Kim Jung-un destronaram o querido líder dos Sportinguistas. É, dizem, a nova normalidade do país e por isso, desta vez, ninguém se indignou.


As coisas que acabo de relatar poderiam ser encaradas com bonomia se levadas à conta de bizarrias próprias do povo Português. Qual é o povo que não tem as suas idiossincrasias ?
Mas nada me poderia preparar para o que soube por essa altura : Em apenas 10 meses, entre Janeiro e Novembro de 2017, ocorreram em Portugal 400 atropelamentos seguidos de fuga pelos condutores. Sinceramente no inicio pensei que era uma gralha das agências noticiosas. Mas depois soube que a origem era uma Nota Oficiosa dum Ministério. 400 atropelamentos em 10 meses são quarenta por mês, mais de um por dia. No meu livro não há crime mais ignóbil e cobarde do que este: Deixar uma pessoa caída, e se ainda viva certamente em grande sofrimento, e fugir.
Esperei um sobressalto cívico, um abalo telúrico à consciência colectiva, um grito de raiva ecoando por todo o país, mas nada aconteceu: A noticia foi esquecida e varrida para debaixo do tapete. Nem o próprio Presidente, a que chamam simplesmente Marcelo, tugiu ou mugiu, ele que é tão prolixo nos seus comentários. O povo Português não se quis ver ao espelho ao discutir abertamente estes crimes hediondos, talvez com medo da imagem reflectida. E com esse silencio a Honra colectiva não foi resgatada. O bom povo afinal não é tão bom assim e os seus propalados brandos costumes são tudo menos brandos.

0 Comments

Quatro Discursos

2/3/2018

0 Comments

 

                   A  GAZETA  DO  MIDDLESEX

Picture

              
                                 QUATRO DISCURSOS E UM FUNERAL

Uma Primeira-Ministra, dois ex Primeiro-Ministros e um aspirante a Primeiro-Ministro discursaram esta semana. Dois do Partido Conservador e dois do Trabalhista. Com o tempo a esgotar-se rapidamente para se conseguir um acordo com a UE sobre o Brexit, todos afivelaram o ar grave e compungido que os políticos usam naquelas que dizem ser as grandes ocasiões históricas. Comecemos pelo ultimo, Jeremy Corbyn:

A posição dos Trabalhistas tem sido pelo menos tão confusa quanto a dos Conservadores, porém por diferentes razões. Cerca de 80% dos seus Membros do Parlamento defenderam no referendo a permanecia na UE. Mas em quase igual numero das circunscrições eleitorais pelas quais foram eleitos ganhou o Brexit. Mas, se considerarmos apenas os eleitores que votam Labour, então estes defendem maioritariamente a permanência. Para os Parlamentares isto resulta num numero de equilibrismo difícil de executar. Corbyn escondeu o jogo tanto quanto pode mas na passada Segunda-feira, no seu discurso em Coventry, abriu-o, e de que maneira, ao defender que o Reino Unido devia permanecer na União Aduaneira. Explicando melhor: Não na, mas em uma União Aduaneira, (em tudo parecida com a actual, aliás), como meio de defender os postos de trabalho ao evitar a imposição de taxas no comercio com a UE. Uma verdadeira revolução, contudo.

John Major é talvez o ultimo grande senhor da política Britânica, aquele que comparte com Jeremy Corbyn a distinção de nunca terem frequentado uma Universidade, talvez por ambos não terem sentido a necessidade de martelar uma licenciatura para ter sucesso na política.
Major no seu discurso defendeu com veemência a permanência na UE e a sua visão de um Reino Unido sem fronteiras com a Europa e aberto aos ideais comuns. Mas foi mais longe ao apelar para um segundo referendo como meio de legitimar o acordo final a que se venha a chegar com a UE. Um verdadeiro anátema, que fez com que os defensores do Brexit espumassem pela boca e que lhe valeu o epíteto de “traidor” atirado por alguns dos seus companheiros de Partido.

Tony Blair quis chegar-se à frente a botar também faladura. Não é personagem que tenha grande credibilidade neste país, mas lá veio defender a UE muito na linha do que John Major tinha feito. Diferença não fez nenhuma, mas em nome do rigor aqui fica feita a referencia à sua intervenção.

Finalmente Theresa May e o seu discurso de hoje. Ela está na posição do conjuge que querendo o divorcio a qualquer preço faz um elogio apaixonado das qualidades e beleza do outro, com juras de querer continuar numa relação terna e próxima. Não faz sentido? Pois não faz, ainda por cima quando um quer ficar com a casa e o carro, mas deixar a hipoteca e o leasing para o parceiro.

O problema é May ter o seu Partido dividido em duas facções que se odeiam mutuamente, dependendo a sua sobrevivência política em ser capaz de ir atirando uns restos a uma e a outra, ao mesmo tempo que vai toureando Bruxelas, ora fazendo declarações de amor, ora proferindo ameaças, fugindo como o diabo da cruz dos problemas para os quais não tem solução, veja-se o caso da fronteira entre as duas Irlandas: Hoje a posição oficial do Governo de S.M. passou a ser nada fazer a respeito. Pela Primeira-Ministra pode ficar tudo como dantes e se a UE quiser uma fronteira física entre a Republica e o Ulster pois que a faça ela.

E o funeral ?

Pois se a posição da UE continuar a ser a que é defendida por Michel Barnier, e se a Direita radical, por causa disso, quiser impor um Hard Brexit, ela será derrotada no Parlamento com os votos de toda a oposição e da ala moderada dos Conservadores, como aconteceu recentemente. O enterro será o dos radicais da Direita Britânica e não o da Economia, do Estado Social, dos Direitos dos trabalhadores e dos imigrantes. A Brã-Bretanha continuará intimamente ligada à Europa e às suas instituições.

Mas se a UE ceder, então Michel Barnier terá andado a fazer figura de tonto, e o Brexit terá valido a pena. O enterro seria então dos tais valores Europeus e com eles desaparecerá a prazo a possibilidade de sobrevivencia da União. É a este funeral que não quero comparecer.




0 Comments

    Author

    manuel.m

    contact@manuel2.com

    Archives

    June 2018
    April 2018
    March 2018
    February 2018
    January 2018
    December 2017
    November 2017
    October 2017
    September 2017
    August 2017
    July 2017
    June 2017
    May 2017
    April 2017
    March 2017
    February 2017
    January 2017
    December 2016
    November 2016
    October 2016
    September 2016
    August 2016
    July 2016
    February 2016
    January 2016
    May 2015
    April 2015
    March 2015
    February 2015
    January 2015
    December 2014
    November 2014
    October 2014
    September 2014
    August 2014
    July 2014
    June 2014
    May 2014
    April 2014
    March 2014
    February 2014
    January 2014
    December 2013

    Click here to edit.

    Categories

    All

Proudly powered by Weebly