A Gazeta do Middlesex

Desdém

16/6/2017

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                                            DESDÉM


Se uma imagem vale mais do que mil palavras este é caso: Theresa May visitando a Grenfell Tower rodeada por policias e bombeiros e mantendo-se longe das vitimas do incêndio. É inevitável recordar George Bush Júnior quando se limitou a sobrevoar de helicóptero a cidade de Nova Orleães após esta ser sido devastada pelo furacão Katrina. Duas terríveis tragédias que tiveram de ambos responsáveis máximos dos respectivos países a mesma indiferente e fria resposta. A própria Rainha, com os seus 91 anos, acompanhada pelo Príncipe William, não hesitou e visitou o centro de recolha de auxilio para os desalojados, estando bem perto do seu povo.

Dirão que a tragédia acontecida mais do que impossível de prever era impossível de imaginar. Não é bem assim:

Em 2009, um fogo na Lakanal House, um bloco de apartamentos em Camberwell, no Sul de Londres, em tudo semelhante à Grenfell Tower causou 6 vitimas mortais, incluindo 3 crianças, e foi atribuído ao mesmo tipo de revestimento exterior que causou o rápido alastramento da chamas. Em ambos os casos os moradores estavam instruídos para se manter dentro dos respectivos apartamentos enquanto o fogo progredia rapidamente, e em ambos os casos foram registados dramáticos pedidos de socorro de pessoas encurraladas pelo incêndio. Lakanal House também tinha sofrido o mesmo tipo de renovação da Grenfell Tower, com a substituição dos painéis da fachada por outros muito mais combustíveis.

O inquérito que se seguiu durou 4 anos e só foi concluído em 2013 com a aprovação de varias recomendações urgentes entre as quais a instalação de melhores alarmes de incêndio, diferentes instruções aos moradores em como agir em caso de sinistro e aspersores de agua no tecto de cada habitação automaticamente accionados pelo calor. Nada foi feito, porque se o tivesse sido, a tragédia da passada quarta-feira não teria acontecido.

Nas alegações finais desse inquérito o marido de umas vitimas declarou: ” Quase quatro anos depois, e após um longo inquérito, ninguém, nenhuma autoridade ou organização, pediu desculpa ou se declarou culpada pelo sucedido. Tememos que não foram aprendidas as lições devidas e que uma tragédia semelhante possa no futuro voltar a acontecer.” Tristemente proféticas palavras. Mas que se não diga que o acontecido na Lakanal House foi o único aviso: Em 2014 em Melbourne, na Austrália, numa torre da habitação semelhante , uma ponta de cigarro deixada numa varanda do segundo piso provocou um incêndio que em 15 minutos se propagou ao 20º andar. Na China há relatos de acontecimentos semelhantes em várias cidades.

O mais revoltante é que os “melhoramentos” feitos em 2016 na Grenfeld Tower não o foram para beneficio da segurança e qualidade de vida dos moradores: A razão das obras, que custaram os tais 10 milhões de Libras, foram meramente estéticas. Tratou-se de tornar o edifício “mais bonito” não desfeando uma zona “nobre” em que moram muitas das maiores fortunas da cidade. E a firma privada que tem a seu cargo a gestão do património de habitação social da autarquia londrina Kensington & Chelsea quando se tratou de instalar os painéis exteriores optou pelo mais barato. Poupou assim exactamente £ 4.750 libras. A vida dos 600 desgraçados que lá viviam não merecia mais.






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20 votos

11/6/2017

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                                            20 VOTOS

Foram os suficientes para a candidata dos Trabalhistas, Emma Coad, ganhar em Kensington, no centro de Londres, anulando a vantagem de 7.000 votos obtidos pelos Conservadores nas ultimas eleições. Nunca estes tinham aí conhecido a derrota: Kensington é só a circunscrição eleitoral mais rica do Reino Unido, mas está longe de ser caso único. Na capital os Conservadores foram praticamente obliterados, e mesmo o muito famoso Boris Johnson viu a sua vantagem de 10.000 votos ser cortada pela metade.


O que explica que desta vez os Conservadores não tenham conseguido fazer funcionar o velho truque, que tão bons resultados tem dado, e que consiste em conseguirem persuadir o eleitorado que os seus interesses são iguais aos dos ricos e poderosos ? O Partido Conservador não passa de um máquina de ganhar eleições e seria errado atribuir-lhe uma ideologia definida. Partido esse que é implacável com aqueles que não se revelam capazes de conservar o poder ou, nas raras vezes em que isso aconteceu, de o reconquistar. Veja-se o que aconteceu nos anos dos Governos de Blair: William Hague, (1997/2001), foi sumariamente despedido logo que mostrou não servir, sendo sucedido por Ian Duncan Smith, (2001/2003), que conheceu igual sorte e pelos mesmos motivos. Michael Howard, (2003/2005), não foi mais feliz do que os seus antecessores e foi substituído por David Cameron que finalmente conseguiu fazer os Conservadores voltar ao poder. Penso que em Portugal, funcionando as coisas de maneira semelhante, existe pelo menos um líder político que há muito teria sido enviado para o exílio num sitio recôndito. Para os Conservadores ganhar as eleições serve unicamente para manter os privilégios de uma elite rica, e os seus eleitos não são mais do que sua ala Parlamentar cuja missão consiste em manter esses privilégios funcionando como um mecanismo, político, económico e social afinado na perfeição para preservar o status quo, podendo assim recompensar princepescamente os seus membros.



Para o que os Conservadores não estavam preparados era para alguém como Jeremy Corbyn com o seu passado de luta, tantas vezes solitária, contra politicas que iam contra o ideário do Partido Trabalhista. Durante os governos de Blair foram 428 as vezes que Corbyn votou contra o seu próprio Partido o que lhe deu um capital de independencia, integridade e recusa de compromissos dúbios que foi decisivo agora. Mas a Corbyn regressaremos em breve.


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Semper Occultus

6/6/2017

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                                                     SEMPER OCCULTUS

                                                                   &

                                                     REGNUM DEFENDE





Com três ataques terroristas em solo Britânico em três meses a opinião pública interroga-se sobre a competência dos serviços de informação para garantir a segurança do país. Sobre isso há muito mais do que aparece à superfície, ou não se tratasse de serviços secretos. Mas talvez valha a pena contar rapidamente uma ou duas coisas sobre o assunto:



SEMPER OCCULTUS

Comecemos pelo MI6, (Military Intelligence-Section 6), a agência de espionagem cuja divisa é tão apropriadamente Semper Occultus, “Sempre Secreto”, e que foi fundada em 1909 devido à crescente ameaça germânica e cuja existência só foi oficialmente reconhecida em 1994. Tal como a CIA, tinha como função recolher informação no exterior ou seja, em termos laicos, espiar os outros. Mas, tal como os primos Americanos, acabou por extravasar os objectivos iniciais e deu em promover governos umas vezes, e tentar derruba-los outras.

A invasão do Iraque é o paradigma mais recente e mais grave dessa actividade: Foi um relatório do MI6 que deu credibilidade à teoria da existência de armas de destruição maciça nas mãos de Saddam. Hoje sabe-se a verdade e que o referido relatório foi “apimentado”, um eufemismo que passou à história, para justificar a participação Britânica na invasão.
A Síria vem logo a seguir. Desta vez o objectivo era defenestrar Bashir el-Assad e o MI6 muito convenientemente fechou os olhos quando centenas de jovens Muçulmanos Britânicos se disponibilizou para ajudar na tarefa partindo para a Síria. Acabaram, como se sabe, formando a espinha dorsal do ISIS e são hoje, caso consigam regressar à Grã-Bretanha, uma mortal ameaça.
Na Líbia a história repetiu-se: Tratou-se então de remover o Coronel Gaddafi e, além de outros, um Líbio fugido às perseguições do regime e que com a família tinha recebido asilo na Grã-Bretanha foi persuadido a regressar para ajudar na luta contra o ditador. Morto este por lá ficou, tendo posteriormente aderido a uma das mais radicais facções Islâmicas surgidas devido ao vazio criado pelo colapso do governo de Gaddafi. Os seus dois filhos tornaram-se combatentes Islâmicos e um deles com apenas 16 anos recebeu treino militar na Síria. O seu nome era Salman Abedi e foi ele o bombista suicida que causou a carnificina em Manchester.

REGNUM DEFENDE

“Em Defesa do Reino” É a divisa do MI5 (Military Intelligence-Section 5), o serviço de contra-espionagem Britânico responsável pela segurança interna, missão que foi cumprindo com brilhantismo descobrindo e fazendo abortar, muitas vezes in extremis, dezenas de atentados terroristas. Mas o inimigo foi-se adaptando, cada vez mais elusivo, e ao aumento da ameaça não correspondeu um aumento de recursos. Para se ter ideia da dimensão do problema o MI5 tem uma lista de cerca de 23.000 potenciais suspeitos conhecidos como sendo “pessoas de interesse”, dos quais 3.000 estão um grau acima em periculosidade e 500 fazem parte dum grupo considerado capaz de levar a cabo actos terroristas. É verdade que várias comunidades Muçulmanas alertaram as forças de segurança sobre o radicalismo de vários intervenientes nos recentes actos terroristas, mas não existindo outros sinais de poderem vir a constituir perigo não foi possível desviar recursos de outras investigações mais prementes.

Quando a Primeira-Ministra, que presidiu a cortes selvagens nas forças policiais, (20.000 efectivos menos desde 2010), afirma que a verba destinada ao MI5 foi “protegida” não diz que ela vem do orçamento geral da Policia, ou seja que é uma fatia de um bolo cada vez menor.

Agora é uma corrida contra o tempo com a opinião publica a exigir mais dinheiro para a policia e os politicos pressurosos a prometer mundos e fundos. Mas os membros das forças de segurança não nascem própriamente nas arvores e até os tão necessários recursos produzirem efeitos vão-se viver tempos dificeis.


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O Imposto...

2/6/2017

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                             O IMPOSTO SOBRE A DEMÊNCIA


Talvez o ponto de viragem nestas eleições a favor dos Trabalhistas: Um imposto que atinge exclusivamente os idosos atingidos por demência, (da qual a Doença de Alzheimer é uma das variantes). Uma lotaria macabra para os que chegam ao fim das suas vidas: Aqueles que sofram de qualquer doença terminal verão os custos do seu tratamento suportado pelo SNS, como é justo que aconteça para quem toda a vida contribuiu com os seus descontos, mas não as vitimas de demência: Este Manifesto Eleitoral dos Conservadores introduz uma mudança que faz com que sejam as vitimas dessa doença a pagar os seus cuidados de saúde : Uma vez falecidos a sua casa terá de ser vendida e o produto da venda reverterá a favor do Estado, excepto uma quantia 100.000 libras reservada aos herdeiros. Se pensarmos que o custo médio da habitação no Reino Unido é de cerca de 400.000 Libras, (e nas grandes cidades é muitíssimo superior), compreenderemos a iniquidade da medida que atinge quem arcou com um esforço financeiro durante toda a vida adulta para pagar a habitação e no fim, apenas por sofrer de demência, é-lhe negado transmitir aos filhos o resultado do seu trabalho.

Tal foi a revolta causada pela medida que apenas quatro dias após a sua publicação Theresa May foi obrigada a uma inversão de marcha e dar o dito por não dito. Na Grã-Bretanha o Manifesto Eleitoral de cada Partido é um verdadeiro contrato com os eleitores e o que lá consta, com medidas concretas e não vagas promessas, é considerado inviolável. Todos os que estudam a história política Britânica são unânimes: Nunca tal acontecera antes. E assim, de um momento para o outro, a tal liderança “forte e segura” esfumou-se para sempre.


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