A Gazeta do Middlesex

Car Boot Sales

28/7/2014

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                           CAR BOOT SALES

Às primeiras horas de cada Domingo, faça o tempo que fizer, e no meio de medonhos rangidos, silvos e nuvens de vapor, uma gigantesca máquina desperta do seu torpor e quando o dia acabar terá transportado milhares objectos de todos os tamanhos e feitios, de John o'Groats a Land's End, de um extremo ao outro desta ilha, não havendo lugar a que não tenham chegado os seus braços tentaculares.




Essa máquina infernal dá pelo nome de “Car Boot Sales”, e é na realidade uma espécie de desporto ou cerimónia ritual em que participa uma imensa multidão e que consiste na frenética compra, venda ou troca de centenas de milhares de coisas inúteis, actividade a que os participantes se entregam com devoção e deleite , ou não tenha sido o próprio Napoleão a dizer que os Britânicos eram um povo de lojistas, vocação demonstrada em todo o seu esplendor nesta prática dominical.




A coisa consiste em meter no porta-bagagem do carro tudo aquilo que não se quer, com a intenção de vender ou trocar essas coisas por muito velhas, partidas, feias e inúteis que sejam, por outras igualmente feias, velhas e inúteis, num moto-continuum que garante a sobrevivência deste comércio, para depois rumar para um dos muitos lugares onde já terão chegado outros milhares de maníacos, todos exactamente com o mesmo propósito.




Mesmo nas zonas urbanas, em parques de estacionamento junto a estações de comboio ou Metro, onde as pessoas em dias de trabalho deixam os carros e que estão convenientemente desertos ao Domingo, se pode encontrar este fenómeno.




Mas se o leitor o quiser experimentar na sua integral pureza, então terá de se dirigir a um parque ou a um campo aberto dos que abundam mesmo não longe do centro da cidade, e com sorte nesse dia não haverá sol mas choverá a cântaros, e assim vestindo a sua capa impermeável e de botas de borracha calçadas conhecerá na sua total plenitude esta verdadeira instituição britânica.




E se, depois de umas horas neste exercício, ao chegar ao hotel enregelado, molhado, enlameado, cansado de arrastar atrás de si um saco cheio de quinquilharias, ao saborear uma merecida cup of tea se sentir invadido por um cálido sentimento de bem-aventurança, é porque então no intimo é mais British que o Príncipe Filipe e o melhor é mudar-se para cá.










Eu como calculam abstenho-me destas actividades, mas já a minha gentil outra metade é adepta fervorosa, e mal se aproxima o fim de semana ela e uma amiga, (sim, porque nestas coisas é sempre útil contar com um cúmplice), começam numa estranha actividade com a entrada e saída de caixotes cujo destino é o sótão onde decorrem secretos conciliábulos. Prudentemente há muito que lá não vou, porque há choques a que a minha idade não aconselha, e enquanto este frenesim dura tento passar despercebido até que chega o fatídico Domingo e ei-las, ainda mal amanheceu, a saírem chilreantes rumo ao seu passatempo preferido.




Eu confesso que no passado não tive em devida conta as susceptibilidades da minha encantadora outra metade em relação a este assunto e fui talvez demasiado mordaz nos meus comentários, tendo por isso sofrido duras penas de exílio interno.

Por exemplo há tempos entrou-me em casa um pequeno móvel carcomido e completamente desconjuntado, cujo destino foi ser plantado no meio do jardim e ser sujeito a severos tratamentos que pelo cheiro incluíam ácidos, decapantes, esfoliantes, etc, mas que tiveram um efeito inesperado naquilo que eventualmente ainda mantinha aquela ruína numa só peça e um belo dia, ao espreitar pela vidraça, o que vi foi o que parecia ser um pequeno monte de lenha.

Temos por vezes momentos infelizes, e foi num deles que fiz um pequeno comentário en passant sobre a pena de não termos uma lareira para aproveitar a madeira, o que teve como consequência ter passado o que me pareceu uma eternidade a comer pizzas aquecidas no micro-ondas e a andar pela casa feito uma alma penada.




Outra consequência foi que naquele fatídico lugar a relva ter ficado completamente queimada e por muito que eu tenha cavado, re-semeado, regado e adubado várias vezes, e nem sempre por esta ordem, aquela conspicua mancha manter-se como se lá tivesse estado um reactor de Chernobyl ou aterrado uma nave espacial daquelas que vêm nos filmes americanos.




Ainda não há muito tempo, noutro Domingo, estava eu sentado na minha poltrona entregue à leitura do Observer e gozando os momentos de paz que antecedem a tempestade, quando ouvi a porta da rua bater o que me fez passar instantaneamente de um estado de bonomia para um de alerta total. Bem me enterrei na poltrona, bem me escondi atrás do jornal que ainda por cima é um broadsheet, de folha grande, mas tudo foi em vão e seguiu-se mais ou menos este diálogo:




-Do you like it ?

“It” era um objecto rectangular feito numa pedra esverdeada onde vinham montadas umas espécie de colheres em metal lavrado de cor amarelo berrante, o que provavelmente já terão adivinhado, era o que se chama um porta cachimbos. Ora na família não fumamos, muito menos cachimbo, e nem desde que a memória alcança sabemos de amigos ou vizinhos que os usem e tampouco, tanto quanto me recorde, conhecemos alguém que conheça alguém que o faça. Por instantes fiquei completamente estupefacto, speechless, mas rapidamente me recompuz:

-Oh yes dear, I think is lovely !

-But do you really, but really, like it ?


Uma pausa, um longo olhar perscrutador pronto a transformar-me numa estátua de sal. Mantenho-me firme:


- But of course I do darling ! It's absolutely beautiful !


E dessa vez escapei.






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Europa

25/7/2014

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                             LIVROS  PROFÉTICOS


                               UMA PROFECÍA: EUROPA
                                   
                                             WILLIAM BLAKE-1794


«Five windows light the cavern'd Man; Thro' one he breathes the air

    «Cinco janelas dão luz ao Homem da caverna; por uma ele respira o ar;

Thro' one, hears music of the spheres; thro' one, the eternal vine

    Por uma ouve a musica das esferas (celestiais); por uma a etena videira

Flourishes, that he may receive the grapes; Thro' one can look

    Floresce, para que possa comer suas uvas; por uma pode olhar

And see small portions of the eternal world that ever groweth;

    E ver uma pequena parte do mundo eterno que não cessa de crescer;

Thro' one, himself pass out what time he pleases, but he will not;

    Por uma pode saír quanto tempo quiser, mas não o fará;

For stolen joys are sweet, & bread eaten in secret pleasant.»

    Porque doces são os prazeres roubados & bom é o pão comido secretamente.»




So sang a Fairy mocking as he sat on a streak'd Tulip,

       Assim cantou troçista um duende sentado numa tulipa listada,

Thinking none saw him. When he ceas'd I started from the trees !

      Pensando que ninguém o via. Quando terminou saltei das arvores !

And caught him in my hat as boys knock down a butterfly.

      E apanhei-o com o meu chapéu, como os rapazes caçam borboletas.

«How do you know this», said I, «small sir?» Where did you learn this?

      «Pequeno senhor», disse eu, «Como sabes isso?» Onde o aprendes-te?

Seeing himself in my possession thus he answered me :

      Vendo-se dominado por mim, foi assim que me respondeu :

«My master, I am yours. Command me, for I must obey.»

       «Meu amo, eu pertenço-vos. Ordenai que eu obedecerei.»





«Then tell me, what is the material world, and is it dead ?»

      «Então diz-me, o que é o mundo material e será que ele morreu?»

He laughing answer'd:« I will write a book on leaves of flowers,

       Rindo-se respondeu: « Escreverei um livro em pétalas de flores,

If you will feed me on love-thoughts; & and give me now and then

      Se me alimentares com palavras de amor; & se me deres de vez em quando

A cup of sparkling poetic fancies; so when I am tipsie

      Uma taça borbulhante com amorosos poemas; e quando eu ficar um pouco ébrio

I'll sing to you this soft lute; and shew you all alive

      Tocarei para ti este suave alaúde; e mostrar-te-ei tudo aquilo que vive

The world, when every particle of dust breathes forth its joy.»

      O mundo, em que  cada particula de pó emana a sua própria alegria.»




I took him home in my warm bosom; as we went along

      Levei-o para casa junto ao meu peito quente; e enquanto caminhávamos

Wild flowers I gathered; & he shew'd me each eternal flower.

       Fui colhendo flores silvestres; & ele mostrava-me cada uma das flores eternas.

He laugh'd aloud to see them whimper because they were pluck'd

         E ria-se alto ao ouvir o pequeno grito que elas davam ao serem colhidas

They hover´d round me like a cloud of incense: When I came

      E ali ficavam à minha volta como nuvens de incenso: Quando cheguei

Into my parlour and sat down,and took my pen to write,

      À minha sala e me sentei pegando na pena para escrever,

My Fairy sat upon the table, and dictated : EUROPE

       O meu duende sentou-se no tampo da mesa e ditou-me : EUROPA.




Pintor, gravador e poeta ,William Blake (1757-1827), não teve paralelo na literatura inglesa e segundo o critico William Rosseti o aparecimento do seu novo genero literário não foi previsto pelos seus antecessores e ele não pode ser incluído entre os seus contemporâneos, não tendo até hoje sido igualado por nenhum dos que lhe seguiram; ou seja Blake é único e completamente original.

Místico e profético, criou a sua própria mitologia, e na sua obra a criação da pintura precede a do texto poético, ou seja é a poesia que ilustra a imagem e não o contrário.

Para esta obra, “Uma Profecia: A Europa” Blake desenhou 18 gravuras coloridas e produzidas segundo um método próprio, e nela o Autor prevê virem a acontecer terríveis provações no Continente, ao mesmo tempo que muitos hoje admitem que ele deixou sinais claros  anunciando a união das nações europeias.

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Adeus Praia

16/7/2014

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                                            ADEUS  PRAIA




Chegou o dia do regresso a casa, naquela ilha que William Blake descreveu como sendo “ a green and pleasant land”, regresso esse  que será pausado e tranquilo, parando aqui e ali para abraçar velhos amigos e rever sitios que ficaram no coração.

Mas estes são sobretudo momentos de melancolia, dias de um longo olhar de despedida, com a interrogação sempre presente se haverá para mim outro Verão.

Foi a primeira vez que tive a companhia da Gazeta, e não foi fácil fazer com que ela fosse sobrevivendo, primeiro pelos frustrantes problemas com a net, mas sobretudo devido à lassidão que tantas vezes me assaltou ao ver de perto o desesperante abismo em que o país caiu.

Muitos jovens com quem falei ao saberem que vinha de Inglaterra me olhavam ansiosos enquanto perguntavam o que fazer para lá encontrarem trabalho, e eu sem ter nada para lhes oferecer de concreto a não ser palavras de circunstancia.

Mas como diz a canção dos Monty Python: Let's look on the bright side of life, por muito sombrio que seja o presente.

Quanto à Gazeta para ela tenho novos planos, dando lugar mais destacado à política britânica, na esperança que seja interessante e que os leitores nela reconheçam tantas infelizes parecenças com o que se passa em Portugal.

E fazer planos para o futuro é já um sinal de optimismo por muito modesto que seja o objectivo. E com este sinal termino com um até breve.

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42

12/7/2014

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       O SIGNIFICADO DA VIDA, DO UNIVERSO E DE TODAS ESSAS COISAS





Algures na nossa galáxia, num planeta próximo da estrela Betelgeuse, existia uma civilização superior cujos habitantes quiseram conhecer qual o significado da vida, do universo e de todas essas coisas. Para isso construíram um super-computador a que deram o nome de “Pensamento Profundo”, (abreviadamente PP), ao qual puseram a questão.

E o PP moeu a pergunta durante sete milhões e meio de anos até que produziu uma resposta que foi única, singela e simplesmente: 42 !

A estupefacção foi obviamente geral, e nem mesmo os maiores cérebros desse planeta foram capazes de interpretar o que significava e, perante o impasse, foi decidido construir um novo computador ainda mais poderoso do que o PP que fosse capaz de desvendar o enigma. E este, após dez milhões de anos, finalmente revelou o mistério que era afinal bem simples : Não se encontrarão respostas se não se souber como fazer as perguntas.




Nos idos dos anos setenta um escritor inglês, Douglas Adams, escreveu um livro intitulado “Guia para andar à boleia pela Galáxia”, (Hitchhiker's Guide to the Galaxy), no qual conta a história dos Vogons e das suas guerras para a conquista planetária e onde é contado o caso do 42.

O sucesso foi imediato tendo a BBC feito vários programas de rádio a que se seguiram dois filmes que conheceram um modesto êxito além da publicação do que o autor chamou uma “trilogia” de cinco livros.

Mas o resultado mais extraordinário da obra de Douglas Adams foi a procura que dura até hoje e que não conheceu fronteiras do verdadeiro significado de 42 .

Adams, dizendo-se estupefacto com o fenómeno, declarou ter sido simplesmente um numero que lhe veio à cabeça, negando que tivesse um significado especial, mas era tarde para dominar a febre que se instalou.

O comediante e actor Stephen Fry disse conhecer o segredo, que lhe tinha sido contado por John Cleese, um amigo comum de Adams, mas sob o juramento de guardar segredo.

Para dar uma ideia da situação basta clicar no Google the answer to life the universe and everything que a resposta será...42! Ora é sabido que se algo vem no Google é o mesmo que vir nas Escrituras. Os que são mais dados à matemática, encontrarão na Wikipédia uma vasta oportunidade de puxar pela cabeça clicando apenas 42.

Pelo mundo milhares de internautas dedicaram-se ao mistério, mas cada tentativa de solução ainda levantava mais questões. Por exemplo alguém descobriu que 613x913=4213 , outro que em código binário 42 é 101010, outro que a luz tem de incidir numa gota de água num ângulo de exactamente 42 graus para criar o efeito de arco-íris, e alguém também lembrou que essa mesma luz necessita de 10 segundos elevados à potencia de -42 para atravessar o diâmetro de um protão .

Mas para mim a mais fascinante descoberta é aquela que propõe a construção de um túnel vertical que cruzasse o centro da terra e que terminasse nos antípodas. Uma vez feito, e conseguida a solução para a resistência ao ar, o que implicaria criar o vácuo no seu interior, qualquer objecto largado num dos seus extremos sofreria uma aceleração até meio caminho, seguida de uma desaceleração de igual força na outra metade.

Portanto se o leitor construisse o referido túnel em Portugal e nele largasse o seu automóvel, fique sabendo que este demoraria até aparecer na Nova Zelândia exactamente 42 segundos !

Mas há muitas outras aparentes coincidências que dão muito que pensar :




- O príncipe Alberto, marido da Rainha Vitória, morreu com 42 anos e ambos tiveram 42 netos e o seu bisneto Eduardo VIII abdicou com a idade de 42 anos.

- O Titanic colidiu com o icebergue quando navegava a uma velocidade equivalente a 42 km/h.

- Elvis morreu com 42 anos.

- Theodore Roosevelt foi o mais jovem presidente dos EUA a ser eleito com 42 anos.

- O escritório do CEO da Google está situado no edifício 42 da sede da companhia em S. Francisco.

- Um Big-Mac contem 42% da quantidade diária recomendada de sal.

- o Cricket tem 42 leis. (não admira que ao fim destes anos ainda não consiga perceber o jogo !)

-o resultado da final em que a Inglaterra ganhou o Campeonato do Mundo em 1966 foi de 4-2.

- A maratona tem 42 quilómetros. (e 195 metros)

- No torneio de Wimbledon foram usadas 42.000 bolas de ténis.

- O numero atómico do molibdénio é 42 e este é também o 42º elemento mais comum no planeta.

E isto é apenas uma pequena amostra que demonstra que há realmente algo de extraordinário com o numero 42!




Mas voltando ao principio, às perguntas e respostas, e para finalizar numa nota mais terrena, eis uma história que faz parte do folclore da Academia e que é sobre uma pergunta feita a um aluno de Filosofia, ao que parece na U. de Leeds

Na folha de exame vinha simplesmente:

Será isto uma pergunta ?

Ao que o aluno respondeu:

Se isso é uma pergunta, isto é uma resposta.

Noutro caso ainda mais bizarro, a pergunta era simplesmente :

Porquê?

Resposta do aluno:

Porque.

Escusado será dizer que ambos tiveram uma excelente nota.







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 A Dream

7/7/2014

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                                    A  Dream within a Dream

                           Um sonho dentro de um sonho




Take this kiss upon the brow !                                Aceita este beijo na testa !

And, in parting from you now,                                Agora, que me despeço de ti,

Thus much let me avow -                                         Deixa que isto confesse -

You are not wrong, who deem                               Não erram os que pensam

That my days have been a dream;                        Que os meus dias foram um sonho;

Yet if hope has flown away                                      Mas se a esperança se desvaneceu

In a night, or in a day                                                 Numa noite, ou num dia,

In a vision, or in none,                                                Numa visão ou não,

Is therefore less gone ?                                             Desaparecida não ficou ?

All that we see or seem                                             Será que tudo o que vemos ou sentimos

Is but a dream within a dream ?                            Não passa de um sonho dentro de um sonho ?







I stand amid the roar                                                 Aqui estou no meio do rugido

Of a surf-tormented shore                                       Nesta costa batida pelas ondas,

And I hold within my hand                                        Segurando na mão fechada   

Grains of the golden sand                                        Uns grãos de areia dourada;

How few ! Yet how they creep                                Tão poucos ! E como se escapam

Through my fingers to the deep,                            Entre os meus dedos para as profundezas,

While I weep - while I weep !                                   Enquanto choro - enquanto choro !

0 God !  can I not grasp                                             Oh Deus ! Porque os não agarro

Them with a tighter clasp ?                                     Com o punho mais cerrado ?

O God ! can I not save                                                Oh Deus ! Porque não salvo

One from the pitiless wave ?                                   Ao menos um destas crueis ondas ?

Is all we see or seem                                                   Será que tudo o que vemos ou sentimos

But a dream within a dream ?                                 Não passa de um sonho dentro de um sonho ?




Edgar Allan Poe  (1809-1849)







                                    

                      



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Herr Passos

5/7/2014

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            Nur Wenn Alle Anderen Waren Wie Du Herr Passos !

                                     (se ao menos os outros fossem

                                           iguais a si, Senhor Passos!)







Por ser por uma boa causa e com a devida vénia, eis a tradução na integra de um artigo de autoria de Ian Traynor publicada hoje no “The Guardian” que mostra que face à Alemanha nem todos os Primeiros Ministros Europeus são “bons alunos”:













Matteo Renzi, o primeiro-ministro Italiano, lançou um feroz ataque contra o poderoso banco central alemão dizendo-lhe para não se meter onde não é chamado após o seu presidente, Jens Weidmann, ter criticado Roma por esta alegadamente pôr em perigo o fim da crise na euro zona.

Sendo a vez de Itália ocupar por seis meses a presidência rotativa da UE, Renzi, ao mesmo tempo que se comprometia levar a cabo uma reforma radical da economia em 1000 dias  após a reabertura do Parlamento, estabeleceu o que parece ser o tema central da sua presidência- o objectivo de conseguir que Berlim modere as medidas de austeridade de modo que se torne possível que Itália possa recuperar o crescimento económico.

Roma e Berlim travam uma guerra de palavras em como interpretar “flexibilidade” no contexto do pacto de estabilidade e crescimento, com os Alemães insistindo que os limites do deficit e da divida publica não podem ser facilitados e que Renzi deve cumprir a suas promessas de efectuar reformas estruturais na rígida economia italiana antes que lhe sejam permitidas algumas facilidades.

Com o ressurgimento da tensão entre o Norte e o Sul da euro zona, Jens Weidmann, o presidente do BundesBank e antigo conselheiro económico de Angela Merkel, acusou Renzi de falar nas sempre adiadas reformas económicas de Itália mas nada fazer para as implementar ao mesmo tempo que denunciava que a Itália tentava interpretar as regras, (do pacto), “demasiado generosamente”.

Outros destacados políticos Alemães acusaram Renzi de minimizar a gravidade dos níveis da divida Italiana ao mesmo tempo que tentava obter maior espaço de manobra em relação aos montantes e calendários da sua redução fixados por Bruxelas.

Renzi sublinhou que não havia qualquer conflito com Merkel ou com o seu governo, mas criticou Weidmann acusando-o de interferência política.

“O Bundesbank não tem de tomar parte no debate politico italiano”, disse Renzi. “Não admito que o Bundesbank fale sobre a política italiana. A Europa pertence aos seus cidadãos e não aos seus banqueiros, sejam estes italianos ou alemães”.

Itália tem um dos mais elevados níveis de divida publica da UE, atingindo 130% do PIB, mais do dobro dos 60% que é o máximo estipulado pelo regime da euro zona e todas as tentativas feitas por vários governos para a reduzir têm falhado.

Renzi cavalga uma onda de grande popularidade apesar de declarar pretender realizar uma reforma radical da Economia. Chegou ao poder devido a lutas políticas internas e nunca foi eleito. O seu partido de centro-esquerda conseguiu 41% da votação nas ultimas eleições europeias, o melhor resultado de qualquer partido de governo na UE e também o melhor resultado em mais de meio século para qualquer partido italiano.

Com 39 anos apenas, Renzi parece querer aproveitar a plataforma oferecida pela presidência da UE para conseguir uma mudança radical na política de austeridade imposta pela Alemanha nos últimos anos de forma que se possa criar crescimento económico e emprego.

“Se apenas falarmos de estabilidade destruiremos o nosso futuro comum”, disse. A partir de Setembro iniciaremos uma grande reforma em Itália, mudando o sistema fiscal, a Constituição, a lei eleitoral, o sistema judicial e o sector publico.

Apesar de admitir existirem varias visões sobre a política económica na Europa negou contudo que existissem grandes diferenças com Merkel.

Uma fonte do governo confirmou que Renzi ocupará a presidência da UE no meio de especulações sobre a formação de uma coligação “Clube-Med” entre a Itália, a França e a Espanha unidas contra Berlim e o seu domínio sobre as políticas económicas e fiscais na Europa.

“Estas políticas são um erro completo”, disse a mesma fonte. O problema do crescimento económico não é um problema italiano, é uma questão europeia. Estabilidade sem crescimento será o fim da Europa.”

Certamente que Merkel resistirá aos pedidos dos governos mais à esquerda de Itália e França para que no futuro sejam criadas políticas fiscais expansionistas depois de anos de cortes na despesa publica, mas não se espera que Berlim ceda nas suas exigências de reformas antes que possam ser feitas concessões.

Fontes do Governo em Roma respondem que mudanças estruturais, tais como a do mercado laboral, levarão anos a produzir resultados quando o que é necessário são as que tenham efeitos no curto prazo.

“Estamos determinados em mudar a Itália, Esse é o nosso objectivo. Se Itália mudar a Europa também poderá mudar...É esse o apelo que fazemos aos nossos cidadãos para que apoiem uma revolução radical para que Itália seja líder na Europa.”







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O Caminho

2/7/2014

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                                       THE ROAD NOT TAKEN

                                   O CAMINHO NÃO TRILHADO




                                                                                                I




               Two roads diverged in a yellow wood                 Dois caminhos divergiam num bosque dourado

               And sorry I could not travel both                           E pena tive de não poder seguir por ambos

               And be one traveller, long I stood                         Caminhando solitário, longamente ali me quedei

              And looked down one as far as I could                Olhando para um deles tão longe quanto pude

             To where it bent in the undergrowth                   Até onde desaparecia na vegetação.




                                                                                           II

            Then took the other, just as fair                               Então tomei o outro, igualmente belo

           And having perhaps the better claim                   Que possuía talvez alguma vantagem

           Because it was grassy and wanted wear             Por ter um tapete d'erva que apetecia calcar

           Though as for the passing there                             Apesar d'aqueles que neles passaram

            Had worn them really about the same                  Em ambos terem deixado marcas quase iguais




                                                                                         III




          And both that morning equally lay                         E os dois naquela manhã ali estavam

         In leaves no step had trodden black                       Cobertos de folhas ainda por pisar

         Oh! I kept the first for another day !                       Oh! Guardarei o primeiro para outro dia !

         Yet knowing how way leads on to way                  Sabendo que me levaria a outros lados

        I doupted if I should ever come back                      Duvidei que alguma vez voltasse atrás.




                                                                                       IV

           I shall be telling this with a sigh :                                Estarei dizendo isto com um suspiro :

           Somewhere ages and ages hence                             Algures há muitos e muitos anos

           Two roads diverged in a wood and I,                        Dois caminhos divergiam num bosque e eu,

           I took the less travelled by,                                            Eu escolhi o menos trilhado

          And that has made all the difference                         E isso fez toda a diferença.







                                  Robert Frost   (1874-1963)






                     









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