A Gazeta do Middlesex

A Árvore Mágica

27/7/2017

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                            A ÁRVORE MÁGICA DO DINHEIRO


Creio que não haja povo que não tenha equivalente à Portuguesíssima expressão “Árvore das Patacas” que significa dinheiro fácil, mal ganho ou de origem duvidosa. Aqui diz-se “A Árvore Mágica do Dinheiro” a qual tem sido ultimamente muito falada. Penso que valerá a pena contar uma ou duas coisas sobre o assunto:



No período eleitoral todos os Partidos concorrentes divulgam o seu Manifesto que consiste num plano para a legislatura bastante detalhado e cujas medidas são consideradas um sacrossanto contrato com o eleitorado. Não as cumprir é levar com um tsunami de indignação popular. Basta lembrar o que aconteceu com os Liberais-Democratas de Nick Clegg quando estavam coligados com os Conservadores de Cameron: No seu Manifesto constava a sagrada promessa de não aumentarem as propinas das universidades mas uma vez no governo rapidamente se esqueceram e o resultado foi terem passado de cerca de 60 deputados em 2010 para 8 em 2015 tendo Clegg passado pela humilhação de, nas recentes eleições, nem sequer ter sido eleito para o Parlamento.
Realmente aqui os eleitores têm uma memória muitíssimo longa.



Por essas razões a apresentação feita por Jeremy Corbyn do Manifesto do Partido Trabalhista para as eleições deste ano criou uma enorme expectativa e o mínimo que se pode dizer é que ela não foi gorada. Sob o título “For the many and not the few”, (Literalmente traduzido: Para os muitos e não para os poucos), o manifesto prometia a renacionalização de largos sectores da economia, desde os transportes ferroviários, águas, correios e, crucialmente, o fim das tais propinas universitárias. Como se isto não bastasse, com o anátema da Direita a pedir desde logo uma chuva de enxofre sobre a cabeça de Corbyn, os Trabalhistas atreveram-se a ir mais longe prometendo, caso ganhassem as eleições, aumentar os impostos para os mais ricos e o IRC para as grandes corporações.


É verdade que todas as medidas propostas estavam devidamente contabilizadas, com receitas adicionais a cobrir as novas despesas mas isso não evitou a que a direita em histeria declarasse que os Trabalhistas prometiam coisas como se houvesse uma árvore mágica do dinheiro !


Mas as eleições vieram e passaram e com ela desapareceu a maioria parlamentar dos Conservadores deixando a Primeira-Ministra sem saber em como manter o lugar. Mas Theresa May teve o seu momento eureka ao lembrar-se do DUP, um pequeno Partido da Irlanda do Norte cujos 10 deputados acabados de eleger se votassem, (desinteressadamente é claro !), ao lado dos Conservadores podiam restaurar a sua  chorada maioria tão tragicamente desaparecida.


Havia é certo um ou outro detalhe aborrecido a ultrapassar, começando pelo facto de o DUP ser um Partido da Direita radical com conhecidas posições homofóbicas e anti-aborto. Mais sério era o facto de o tratado de paz que pôs fim à guerra entre Republicanos e Unionistas ter como garantes e fiadores o Governo da Republica da Irlanda e o Governo Britânico e cuja absoluta imparcialidade nas relações com as partes constava expressamente do texto desse tratado. Como conciliar esse principio com um acordo parlamentar entre o DUP e os Conservadores tendo em vista viabilizar o Governo dos segundos ?
Depois, last but not the least, vinha a questão do preço a pagar ao DUP para entrar nesse casamento de conveniência. Que o noivo, o DUP, exigiria à noiva, Mrs. May, um chorudo dote adivinhava-se, mas foi com generalizado estupor que os contribuintes Britânicos souberam que teriam de esportular um bilião e meio de Libras para que os nubentes pudessem ser abençoados no altar do Parlamento de Westminster ao aprovarem ambos o programa de Governo, aprovação essa que custou a bagatela de cento e cinquenta milhões de Libras por voto.
Acresce que a Primeira-Ministra nunca disse de onde viria o dinheiro mas, a menos que o tenha encontrado entre as almofadas do sofá, a suspeita generalizada é que a fonte serão os exauridos bolsos da plebe.
Eu, quando me lembro do estado calamitoso do Ensino e da Saúde Pública devido aos inclementes cortes orçamentais, dos professores, dos enfermeiros, dos funcionários públicos na generalidade que vêm os seus salários congelados há uma década, tenho porém uma outra teoria :
É que os Conservadores, eles sim, têm em lugar secreto e remoto uma árvore mágica do dinheiro. Só pode.








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Maybot

23/7/2017

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                                             MAYBOT

Se perguntarem a um Português o significado da palavra muito provavelmente não saberá, mas se a pergunta for dirigida a um Britânico ele sem hesitar responderá que é o nome pelo qual passou a ser conhecida a Primeira-Ministra da Grã-Bretanha : May, do seu apelido, a que se juntou a ultima silaba da palavra robot.
Um ser destituído de sentimentos e emoções, frio e distante, muito pouco ou nada humano portanto.
No entanto quando a 18 de Abril passado Theresa May convocou inesperadamente eleições, contradizendo repetidas promessas suas que jamais o faria, a sua marcha parecia imparável: O Partido Trabalhista estava dilacerado por dois anos de lutas internas e Jeremy Corbyn era ridicularizado, até mesmo por muitos dos seus companheiros de Partido. As sondagens sobre a popularidade de May e de Corbyn mostravam que a Primeira-Ministra cavalgava uma onda de aprovação inédita, como inédito era o abismo da rejeição sofrido por Corbyn.

A campanha foi curta, de apenas seis semanas, e nunca na história política do Reino Unido, o principal Partido da oposição entrou na luta sem a mínima convicção na vitória, com os Conservadores a terem uma vantagem sobre os Trabalhistas que chegou a ser de 24 pontos. Mas May começou por tentar justificar a nova ida às urnas afirmando que “ Com o país unido no projecto do Brexit, era necessário unir o Parlamento e os políticos na prossecução desse objectivo”, afirmação que constituía ao mesmo tempo uma meia mentira e uma meia verdade: Mentira porque o país não podia estar mais desunido no que tocava ao “Hard Brexit” proposto, e verdade porque o real objectivo era varrer a oposição do Parlamento e a destruição final do Partido Trabalhista, passando os Conservadores de uma pequena maioria de 17 deputados para uma, que seria esmagadora, de cerca de 200.

Mas a campanha de May foi deplorável. Altiva, com os tiques autoritários que se lhe conheciam desde os tempos em que era ministra de Cameron, recusou-se terminantemente a participar nos debates televisivos, o que foi considerado uma falta de respeito pelo eleitorado. Tal era a certeza de uma vitória retumbante que no manifesto eleitoral não houve a preocupação de disfarçar ao que vinham: Cortes e mais cortes, no Ensino, na Saúde, nos apoios Sociais aos deficientes e mais pobres, culminando com o incrível “Imposto sobre a Demência”. Com os eleitores tradicionais dos Conservadores em revolta aberta, quatro dias depois de publicado o Manifesto, Theresa May teve que voltar atrás e revogar essa medida ao mesmo tempo que, numa entrevista à BBC, garantia atabalhoadamente não ter havido qualquer mudança, numa prestação publica como não há memória de tão patética que foi.

E lá se foi o slogan em que se baseava toda a campanha eleitoral dos Conservadores completamente centrada na figura da Primeira-Ministra, aquela que dizia “garantir uma liderança forte e segura” e que se descrevia a si própria como sendo “A bloody difficult woman.” (Traduzindo livremente para Português: “Uma mulher estuporadamente difícil !). Aliás, com as negociações para o Brexit a começar sem que o Governo tenha qualquer plano, ou mesmo um esboço de plano, sobre o que quer da UE, como é possível que Theresa May venha garantir a tal liderança forte e segura se não faz a mínima ideia do rumo que terá de tomar se quiser evitar que o resultado do Brexit se torne numa verdadeira calamidade nacional ?

Em contrapartida a campanha de Jeremyn Corbyn foi feita com entusiasmo e convicção criando uma onda de apoio popular que varreu o país de Norte a Sul e que foi capaz de mobilizar uma geração inteira de jovens. Os números da Comissão Eleitoral mostram que, entre o dia 18 de Abril e o dia das eleições a 8 de Junho, se inscreveram nos cadernos eleitorais 1.9 milhões de jovens com menos de 34 anos.

É verdade, como é apontado tantas vezes pelos apoiantes da Direita, que afinal de contas Jeremy Corbyn perdeu e não ganhou as eleições, (ficou a 4% de distancia), mas é bom lembrar, como alguém uma vez disse, que há derrotas que são mais gloriosas que muitas vitórias. Esta, nas condições em que se travou o combate político e por ter conseguido retirar a maioria aos Conservadores, cabe inteiramente nessa classificação.


Portanto esta é a realidade presente: Um governo que tem à frente uma Primeira-Ministra cuja autoridade desapareceu por completo e cujos Ministros conspiram abertamente uns contra os outros e com o todo importante Chanceler do Tesouro a queixar-se publicamente que tem colegas a transmitir aos media o que se passa nas reuniões no Nº 10. Um Governo que se desintegra um pouco mais todos os dias e que tem um bobo como Ministro dos Negócios Estrangeiros o qual afirmou recentemente , na questão da verba a pagar à UE pelo Reino Unido devido a compromissos assumidos, que “vão receber ao Totta !”



Como é possível chegar a este ponto ? Onde está o sentido de Estado e a sabedoria capaz de nos guiar nesta hora ? Como é possível não sentir angustia quando se pensa no futuro ?


Em 1937, muito antes portanto do eclodir da guerra, Winston Churchill teve a sabedoria de antever ao perigo que se avizinhava e de denunciar o erro da política de apaziguamento de Chamberlain em face à ameaça de Hitler. Escreveu ele:
“Parece que vamos lentamente à deriva sem nos determos, contra a nossa vontade, contra a vontade de todas as raças e de todos os povos e classes sociais, e de encontro a uma catástrofe medonha. Todos querem que paremos, mas não sabem como.”

Guardadas as devidas distancias, como pensando no Brexit não desejar que pare ?







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Noticias de Avalon

20/7/2017

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                                 NOTICIAS DE AVALON


Como se sabe o Verão é tempo de praia mas para quem é avô é de netos também. Regressados os meus em segurança a casa dos pais é com um fundo suspiro que me sento finalmente frente ao computador. (Não me interpretem mal: São adoráveis crianças que me dão uma infusão de juventude. Porque, quarenta anos depois, brincar de novo às escondidas não é outra coisa)
Desta vez resolvi escrever sobre a mítica ilha de Avalon :

A primeira referencia é feita em latim por Geoffrey of Monmouth na sua obra Historia escrita em 1136. Insula Avallonis, chamou-lhe ele, muito embora posteriormente tenha mudado o nome para Insula Pomorum, ou a Ilha das Maçãs:

“A Ilha das Maçãs, a que os homens chamam A Ilha Afortunada, ( Insula Pomorum quae Fortunata uocatur), deve o seu nome ao facto de nela todas as coisas boas nascerem espontaneamente: Os campos não necessitam de ser lavrados e nada necessita de cultivo pois a natureza tudo dá. Por sua vontade vinhedos e cearas cobrem os campos e aí as pessoas vivem por cem anos ou mais.”

Mas muitos anos antes, Santo Isidoro, (560-636 AD), que foi Bispo de Sevilha, precisamente insurgia-se contra a lenda de que teria existido um paraíso terreno:

“As Ilhas Afortunadas, (Fortunatorum insulae), são onde tudo brota em abundância e onde existem árvores preciosas que tudo produzem, (Sua enim aptae natura pretiosarum poma silvarum parturiunt). Isto leva a que pagãos, e também a poetas mundanos, acreditarem que nessas Ilhas estava o Paraíso, devido à fertilidade do seu solo.”

Por estas alturas já os leitores devem ter suspeitado onde quero chegar: Que Avalon, a terra do Rei Artur e do mago Merlin, e de tantas outras lendas, para muitos foi bem real e situava-se nestas verdejantes e agradáveis ilhas como lhes chamou William Blake. Garantir tal coisa não me atrevo, mas que o solo é de uma incrível fertilidade é bem verdade: Ande-se por onde se andar e não se vê uma pedra, uma fraga, um penhasco. Tudo suaves colinas, onde prados se alternam com pequenos bosques.

Anos antes de ter vindo viver para esta minha pátria adoptiva morei nos arredores de Lisboa e tinha algum terreno onde podia dar largas à minha veia de agricultor, eu que descendo de longa linhagem de pequenos proprietários agrícolas. À força de braço devo ter cavado aqueles canteiros centenas de vezes e após cada uma um pequeno monte de pedras era a prova do meu labor. Parecia que brotavam do centro da terra.

Aqui, pequeno ou grande, toda a gente tem um jardim e mal chegado fui logo a um garden center para comprar uma enxada, que como se sabe é um utensílio indispensável para estas coisas da agricultura. Fiquei incrédulo ! Fale-se em choques culturais ! Pois a humilde enxada é coisa desconhecida por estas bandas: O solo barrento, profundo e macio, delas não necessita. Usa-se o que em Portugal se chama uma pá de valar, uma pá de lamina direita. Crava-se na terra e com a bota carrega-se para baixo e depois torce-se. E assim, linha a linha, lá se vai sem grande esforço obtendo o mesmo resultado.


Mas se paraísos terrenos não posso garantir terem existido aqui, já um inferno político posso provar que sim, que tem lugar nesta Avalon dos nossos dias. Começando pela Primeira-Ministra, e acabando neste modestíssimo escriba, ninguém sabe ao certo o que vai acontecer. Até mesmo não haver Brexit, seja de que forma for, passou a ser uma hipótese credível e sabe-se lá se amanhã não veremos o outrora orgulhoso John Bull cabisbaixo e de chapéu na mão ir a Bruxelas pedir desculpa pelo engano e para que tudo fique como dantes.
Portanto aqui na Gazeta não se pode mais do que ir publicando apontamentos sobre o que neste Reino, outrora Unido, se vai passando confiando que quem lê, na sua infinita generosidade, não peça mais.




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