A GAZETA DO MIDDLESEX
EMMANUEL MACRON, ANTÓNIO COSTA E OUTROS
PERSONAGENS
Segundo Maquiavel um Príncipe que quisesse conservar o poder, ( sendo o tempo que o consegue deter a melhor medida do seu sucesso…), deveria tentar emular simultaneamente as qualidades do Leão e da Raposa: O Leão porque não sabe evitar as armadilhas que lhe armam; A Raposa porque não é capaz de defender-se dos lobos seus inimigos; “Por isso ele deveria ser ao mesmo tempo uma Raposa para descobrir as armadilhas, e um Leão para aterrorizar os lobos.”
Mas o conselho de Maquiavel destinava-se especialmente a um jovem Príncipe referindo-se aqui não à idade mas a ter chegado há pouco tempo ao poder faltando-lhe por isso uma estrutura sólida que lhe desse apoio e o defendesse dos ataques. Para Maquiavel esse Príncipe deveria ser à vez um temível Leão pronto a remover os seus inimigos, pela força se necessário, e uma astuta Raposa capaz de evitar as armadilhas que lhe preparassem.
Poderão os leitores pensar que tudo isto são coisas que pertencem ao passado e que já não são aplicam aos nossos dias, mas talvez mudem de opinião ao saber que a dissertação de Licenciatura de Emmanuel Macron foi precisamente sobre Maquiavel, ele que tendo sido recentemente eleito com 39 anos é, simultaneamente, jovem de idade e jovem no poder. E, de acordo com as ideias de Maquiavel, Macron descreve a sua Presidência como sendo “Jupiteriana”, referindo-se não ao planeta, mas ao deus dos Romanos, aquele que detinha o poder dos trovões e dos relâmpagos. Portanto parece claro que Macron decidiu ser Leão. Mas Macron também, e surpreendentemente para um neófito, durante a sua marcha para o Eliseu deu bastantes provas de ser também Raposa: A sua saída a tempo do PSF e a criação a partir do nada do seu movimento “En Marche!” foi ao mesmo tempo astuta e audaciosa, como astuciosa foi a decisão de apresentar-se ao eleitorado como sendo “Nem de Direita, nem de Esquerda” o que tornou a sua candidatura apelativa para quem não se reconhecesse nem em Le Pen nem em Hamon, e muito menos nos neo-liberais François Fillon e Manuel Valls.
E em Portugal como estamos ? Dos principais actores da política um , Sócrates, é inegavelmente um Leão, (ele próprio descrevia-se como sendo “um animal selvagem”…), e tendo muito pouco de Raposa nunca tendo avaliado realisticamente a armadilha que um poder Judiciário dominado por uma ideologia e com um projecto de poder próprio lhe iria montar, poder Judiciário esse acolitado pelo poder económico, que é por sua vez dono e senhor dos Media. A sua inevitável condenação vai ser o corolário desse monumental erro de apreciação que consistiu em acreditar que as regras do jogo seriam respeitadas. Fair-play é que não teve e jamais terá, e o exemplo de Dilma e de Lula e a manutenção de Temer no poder é a prova gritante em como as coisas se fazem. Portugal tem também o seu pequeno Sérgio Moro, igualmente pronto para todo o serviço.
E Passos Coelho ? Leão ou Raposa ? Sinceramente penso que nem uma coisa nem outra: Tendo engolido apressadamente, e de um só trago, o zeitgeist do neo-liberalismo, ele que nunca tinha mostrado possuir inclinação para as digestões trabalhosas sem surpresa nunca a fez devidamente, passando a seguir cegamente com uma inabalável e inquestionável fé as decisões de Maria Luís Albuquerque sobre as coisas da Economia. Representar o papel de gauleiter de Schauble ia-lhe na perfeição, e o papaguear da Vulgata económica era-lhe fácil e não lhe congestionava as meninges.
Portanto a Passos fica-lhe bem o papel de Pavão: Impante, imperial, vistoso, mas sem gravitas. Um mediocre actor de telenovela e nada mais.
E quanto a António Costa ? A resposta parece ser simples: Inquestionavelmente Raposa. Costa tem no ter conseguido o apoio do PC e do BE para o seu governo a sua magnum opus, um apoio inédito e até então considerado impossível. Deve-se dar contudo o devido o mérito aos líderes dos Partidos participantes ao reconhecerem que, naquele contexto histórico, o objectivo principal era remover a Direita do poder. Não houve felizmente a irresponsabilidade do Podemos ao negar ao PSOE um apoio que, a ter sido concedido, teria evitado que Mariano Rajoy fosse hoje Primeiro-Ministro de Espanha. E a geringonça lá tem sobrevivido a todas as tentativas para a dividir, especialmente por parte duma imprensa famélica por uma grave crise que derrube o Governo.
E António Costa tem tido sorte neste seu combate, fortuna, como lhe chamou Maquiavel, que ele considera ser um elemento essencial para o sucesso. O Brexit, bem como a eleição de Trump, contrariamente ao que se pensa foram fundamentais para Portugal ao por em causa a sobrevivência da UE e a tornar a austeridade politicamente inviável. Frau Merkel foi posta perante a escolha entre abrir uma outra crise com a Grécia e Portugal com o seu cortejo de sanções e que teria significado o fim da Europa, ou abrir os cordões à bolsa. Conhece-se a decisão, ou não fosse o pragmatismo uma virtude alemã.
Mas a fortuna é caprichosa e favorece os audazes, mas para que se possa dela tirar todo o proveito é necessário que também haja o que Maquiavel chama virtú, essa elusiva capacidade de avaliar correctamente as situações.
Agora que parece estar ao alcance do PS uma maioria parlamentar nas próximas eleições isso, a acontecer, significará que o apoio do BE e do PC se tornará dispensável e que a sua capacidade de influenciar as políticas do Governo passará a ser nula. E nessa eventualidade o PS passaria de aliado a adversário e chegaria às eleições atacado pela Esquerda e pela Direita.
Mas, e se desta vez António Costa fosse também Leão e não só Raposa, e possuindo a tal virtú que conduz à fortuna, propusesse após as autárquicas uma Aliança Progressista com o PC e o Bloco garantindo, independentemente do resultado das Legislativas, desde logo um largo apoio para o novo Governo? Napoleão, ele próprio, seguiu os conselhos de Maquiavel ao dizer : “Sou por vezes uma raposa e outras um leão. O segredo para governar está em saber quando se deve ser uma ou outro”. E se a receita serviu a Napoleão, (e a Macron…), porque não servirá a António Costa ?
Até meados de Setembro. Para os leitores da Gazeta os votos que gozem o merecido descanço !