A Gazeta do Middlesex

Leões e Raposas

19/8/2017

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                     A  GAZETA  DO  MIDDLESEX

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                              ONDE SE FALA DE MAQUIAVEL, LEÕES E RAPOSAS,
                              EMMANUEL MACRON, ANTÓNIO COSTA E OUTROS
                                                           PERSONAGENS






Segundo Maquiavel um Príncipe que quisesse conservar o poder, ( sendo o tempo que o consegue deter a melhor medida do seu sucesso…), deveria tentar emular simultaneamente as qualidades do Leão e da Raposa: O Leão porque não sabe evitar as armadilhas que lhe armam; A Raposa porque não é capaz de defender-se dos lobos seus inimigos; “Por isso ele deveria ser ao mesmo tempo uma Raposa para descobrir as armadilhas, e um Leão para aterrorizar os lobos.”

Mas o conselho de Maquiavel destinava-se especialmente a um jovem Príncipe referindo-se aqui não à idade mas a ter chegado há pouco tempo ao poder faltando-lhe por isso uma estrutura sólida que lhe desse apoio e o defendesse dos ataques. Para Maquiavel esse Príncipe deveria ser à vez um temível Leão pronto a remover os seus inimigos, pela força se necessário, e uma astuta Raposa capaz de evitar as armadilhas que lhe preparassem.
Poderão os leitores pensar que tudo isto são coisas que pertencem ao passado e que já não são aplicam aos nossos dias, mas talvez mudem de opinião ao saber que a dissertação de Licenciatura de Emmanuel Macron foi precisamente sobre Maquiavel, ele que tendo sido recentemente eleito com 39 anos é, simultaneamente, jovem de idade e jovem no poder. E, de acordo com as ideias de Maquiavel, Macron descreve a sua Presidência como sendo “Jupiteriana”, referindo-se não ao planeta, mas ao deus dos Romanos, aquele que detinha o poder dos trovões e dos relâmpagos. Portanto parece claro que Macron decidiu ser  Leão. Mas Macron também, e surpreendentemente para um neófito, durante a sua marcha para o Eliseu deu bastantes provas de ser também Raposa: A sua saída a tempo do PSF e a criação a partir do nada do seu movimento “En Marche!” foi ao mesmo tempo astuta e audaciosa, como astuciosa foi a decisão de apresentar-se ao eleitorado como sendo “Nem de Direita, nem de Esquerda” o que tornou a sua candidatura apelativa para quem não se reconhecesse nem em Le Pen nem em Hamon, e muito menos nos neo-liberais François Fillon e Manuel Valls.

E em Portugal como estamos ? Dos principais actores da política um , Sócrates, é inegavelmente um Leão, (ele próprio  descrevia-se como sendo “um animal selvagem”…), e tendo muito pouco de Raposa nunca tendo avaliado realisticamente a armadilha que um poder Judiciário dominado por uma ideologia e com um projecto de poder próprio lhe iria montar, poder Judiciário esse acolitado pelo poder económico, que é por sua vez dono e senhor dos Media. A sua inevitável condenação vai ser o corolário desse monumental erro de apreciação que consistiu em acreditar que as regras do jogo seriam respeitadas. Fair-play é que não teve e jamais terá, e o exemplo de Dilma e de Lula e a manutenção de Temer no poder é a prova gritante em como as coisas se fazem. Portugal tem também o seu pequeno Sérgio Moro, igualmente pronto para todo o serviço.

E Passos Coelho ? Leão ou Raposa ? Sinceramente penso que nem uma coisa nem outra: Tendo engolido apressadamente, e de um só trago, o zeitgeist do neo-liberalismo, ele que nunca tinha mostrado possuir inclinação para as digestões trabalhosas sem surpresa nunca a fez devidamente, passando a seguir cegamente com uma inabalável e inquestionável fé as decisões de Maria Luís Albuquerque sobre as coisas da Economia. Representar o papel de gauleiter de Schauble ia-lhe na perfeição, e o papaguear da Vulgata económica era-lhe fácil e não lhe congestionava as meninges.

Portanto a Passos fica-lhe bem o papel de Pavão: Impante, imperial, vistoso, mas sem gravitas. Um mediocre actor de telenovela e nada mais.


E quanto a António Costa ? A resposta parece ser simples: Inquestionavelmente Raposa. Costa tem no ter conseguido o apoio do PC e do BE para o seu governo a sua magnum opus, um apoio inédito e até então considerado impossível. Deve-se dar contudo o devido o mérito aos líderes dos Partidos participantes ao reconhecerem que, naquele contexto histórico, o objectivo principal era remover a Direita do poder. Não houve felizmente a irresponsabilidade do Podemos ao negar ao PSOE um apoio que, a ter sido concedido, teria evitado que Mariano Rajoy fosse hoje Primeiro-Ministro de Espanha. E a geringonça lá tem sobrevivido a todas as tentativas para a dividir, especialmente por parte duma imprensa famélica por uma grave crise que derrube o Governo.
E António Costa tem tido sorte neste seu combate, fortuna, como lhe chamou Maquiavel, que ele considera ser um elemento essencial para o sucesso. O Brexit, bem como a eleição de Trump, contrariamente ao que se pensa foram fundamentais para Portugal ao por em causa a sobrevivência da UE e a tornar a austeridade politicamente inviável. Frau Merkel foi posta perante a escolha entre abrir uma outra crise com a Grécia e Portugal com o seu cortejo de sanções e que teria significado o fim da Europa, ou abrir os cordões à bolsa. Conhece-se a decisão, ou não fosse o pragmatismo uma virtude alemã.

Mas a fortuna é caprichosa e favorece os audazes, mas para que se possa dela tirar todo o proveito é necessário que também haja o que Maquiavel chama virtú, essa elusiva capacidade de avaliar correctamente as situações.
Agora que parece estar ao alcance do PS uma maioria parlamentar nas próximas eleições isso, a acontecer, significará que o apoio do BE e do PC se tornará dispensável e que a sua capacidade de influenciar as políticas do Governo passará a ser nula. E nessa eventualidade o PS passaria de aliado a adversário e chegaria às eleições atacado pela Esquerda e pela Direita.
Mas, e se desta vez António Costa fosse também Leão e não só Raposa, e possuindo a tal virtú que conduz à fortuna, propusesse após as autárquicas uma Aliança Progressista com o PC e o Bloco garantindo, independentemente do resultado das Legislativas, desde logo um largo apoio para o novo Governo? Napoleão, ele próprio, seguiu os conselhos de Maquiavel ao dizer : “Sou por vezes uma raposa e outras um leão. O segredo para governar está em saber quando se deve ser uma ou outro”. E se a receita serviu a Napoleão, (e a Macron…), porque não servirá a António Costa ?


                                                               UMA PAUSA

Até meados de Setembro. Para os leitores da Gazeta os votos que gozem o merecido descanço !

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Verão finalmente !

13/8/2017

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                                   VERÃO  FINALMENTE !


Depois da chuva da semana passada, e das 48 horas em que não parou de cair, com a temperatura a baixar de tal maneira que obrigou a ligar o aquecimento, (uma estreia em Agosto, tanto quanto me recordo), hoje finalmente um dia de Sol a pedir passeio e a que se ponham de lado, por agora, os assuntos chatos da política.

Não muito longe fica Nuffield Place, a casa onde viveu William Morris, o criador dos automóveis Morris e dos MG's, coisas que estão certamente ainda na memória dos não muito novos. O sitio é bonito e tem uma história interessante e gostaria pois que aceitassem o convite para irmos até lá no que, creio, será um dia bem passado:

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Vindo de uma familia modesta William Morris deixou a escolar cedo: Aos 15 anos já trabalhava numa oficina de bicicletas que deixou pouco depois por ter visto recusado uma aumento do seu parco salário. Funda então a sua própria oficina e começa a produzir as suas próprias máquinas e começa uma carreira de ciclista que lhe deu vários prémios.


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Em 1903 tem sete trabalhadores e decide lançar-se na montagem e fabrico de automóveis. Compra novas instalações a que deu o nome “Morris Garage”, origem dos nossos conhecidos MG. Mas a 1ª Grande Guerra vem por um travão aos seus planos: Toda produção destina-se a fim bélicos e em 2019, quando recomeça o fabrico de automóveis, só consegue vender 400 unidades, mas seis anos depois, em 1925, esse numero atinge já as 56.000. É já um homem rico e compra a Nuffield Place no Oxfordshire, uma bela casa sem dúvida mas não, para os critérios da época, uma mansão digna do seu sucesso, e onde irá viver até ao fim da vida.



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Tendo legado em testamento a casa ao Estado ela está aberta ao público durante parte do ano e encontra-se exactamente no estado em que William Morris a deixou. Se há coisa em que os Ingleses são bons é na reconstituição até ao mínimo detalhe dos ambientes passados, como muitos Portugueses puderam constatar, por exemplo, na série Downton Abbey. Os carros parados à porta, um Morris Minor, cujo fabrico começou em 1928, e um MG bem como o seu carro pessoal, um Wolseley cuja marca comprou em 1927, são prova disso mesmo.





O interior, sem ser espartano, demonstra a relativa modéstia com que o casal Morris vivia. William ganhava à época £2.000 por dia, qualquer coisa como £100.000 hoje.




Inesperadamente algo lembra Portugal: Uma caixa de frutas cristalizadas de Elvas, uma iguaria vendida por todo o mundo e entretanto infelizmente desaparecida. Numa nota pode-se ler que serviu como caixa de costura de Lady Nuffield até à sua morte. Noutra pode-se ver, descuidadamente deixado num sofa, um exemplar de um jornal publicado no dia em que Eduardo VIII abdicou.


William Morris além de ter sido um grande industrial foi também um grande benemérito tendo doado em vida cerca de £30 milhões o equivalente a £700 milhões nos dias de hoje. Fundou o Nuffield College na  Universidade de Oxford, e a Fundação Nuffield . Quando nos anos trinta a paralisia infantil se tornou um flagelo foi nas suas fábricas que o primeiro pulmão artificial foi inventado, tendo ao longo dos anos doado 1700 aparelhos desses, e não só na Grã-Bretanha.

Foi igualmente um homem que nunca perdeu a paixão de fazer coisas com as sua próprias mãos : Sofrendo Lord Nuffield de insónias este dormia separadamente de Lady Nuffield, e ainda hoje se pode ver a pequena oficina que fez dentro de um armário do seu quarto onde se entretinha nas longas horas sem sono. O próprio quarto é bem demonstrativo da modéstia com que vivia, onde o próprio candeeiro da cabeceira foi feito pelas suas mãos. Ele, o homem mais rico da Grã-Bretanha.




E aqui acaba o nosso passeio ! Espero que tenham gostado e dado o tempo por bem empregue.




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Sun Tzu

8/8/2017

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                                      ONDE SE FALA NO ENGANO DE SUN TZU

                                    E SE ENVIA UM RECADO A ANTÓNIO COSTA





Passam hoje precisamente dois meses sobre as eleições no Reino Unido e muita gente, incluindo eu próprio, continua assombrada em como foi possível que praticamente todos nós, os que vivem a política Britânica por dentro, nos tenhamos enganado no prognóstico e que em vez de uma vitória esmagadora dos Conservadores o que aconteceu foi estes acabarem por perder a sua maioria no Parlamento. E no entanto havia razões para o mais fundo pessimismo: Em Maio, um mês antes das eleições para o Parlamento, tinham decorrido as eleições locais que resultaram numa estrondosa derrota dos Trabalhistas, a pior desde 1980, resultado que levou a BBC a projectar uma próxima vitória Conservadora por 11 pontos.

É verdade que a campanha do Labour foi brilhante e viu-se Jeremy na pele de um líder confiante capaz de inspirar multidões que alegremente o seguiram de norte a sul do país, numa onda de optimismo e esperança. É também verdade que as sondagens, que desta vez acertaram, davam conta que a vantagem dos Conservadores ia minguando à medida que o dia 8 de Junho se aproximava, e que as opiniões positivas sobre Theresa May estavam em queda vertiginosa enquanto que as sobre Corbyn atingiam valores estratosfericos.

Mas, apesar de tudo isso, havia a consciência de ser este um regime democrático amadurecido que está pouco habituado a deslocações tectónicas nos resultados eleitorais e que sabe que uma coisa são as intenções de voto vindas nas sondagens e outra, bem diferente, o modo como o eleitor realmente vota.
E depois vinha Sun Tzu, o autor do tratado “A Arte da Guerra” escrito já lá vão dois mil e quinhentos anos e que continua sendo de estudo obrigatório nas Academias Militares e não só.

Afirmou ele: “Toda a batalha é ganha ou perdida antes de ter lugar”.

Ora antes da batalha, (a campanha eleitoral), a superioridade dos Conservadores era esmagadora e a sua posição tida como inexpugnável e a resistência dos Trabalhistas julgada fraca e titubeante.
Mas, como sabem, desta vez Sun Tzu enganou-se, e em centenas de circunscrições eleitorais os Trabalhistas lutaram desesperadamente desenrolando-se pequenas batalhas das Termópilas desde o Yorkshire à costa Sul, o suficiente para negar a vitória ao adversário.


Dou comigo a pensar que a situação política em Portugal não é muito diferente apesar de inversa: Um partido, o PS, que cavalga uma onda de merecida popularidade apresentando resultados económicos que têm sido motivo de aplauso, mesmo nos areópagos de Bruxelas, e uma oposição ferida de morte e sem qualquer credibilidade. Talvez por isso seja caso para enviar um recado a António Costa, mesmo sabendo que é improvável ele conhecer a modesta Gazeta: É que, por muito que pese a Sun Tzu, não há batalhas antecipadamente ganhas, sobretudo quando tudo aponta que a futura refrega esteja a ser vista com complacência. Os eleitores são gente de humores variáveis que gostam de ser cortejados e mimados e que detestam particularmente serem tidos como antecipadamente conquistados. Ora, com adversários não possuindo quaisquer espécie de escrúpulos e com os media militantemente hostis, não será caso, estimado Primeiro-Ministro, para arregaçar as mangas ?






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A Direita mais estúpida...

5/8/2017

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                      A DIREITA MAIS ESTÚPIDA DO MUNDO ?

Depois da tragédia de Pedrogão e da palhaçada sobre o numero de vitimas, se foram 64 ou 65, com uma oportunista, que dizia vir a ser Presidente de uma futura associação de apoio às vitimas, a ter direito a ser entrevistada em prime-time onde garantiu ter ela própria visto mais de uma dezena de cadáveres não contabilizados, depois de um candidato autarca do maior partido Português da Direita ter feito comentários racistas sobre uma minoria étnica, ganhando com isso o apoio institucional do seu líder, julgava eu que se podia legitimamente pensar ser a Direita Portuguesa a mais estúpida do Mundo.

Pois bem, afinal tem concorrente ao título, e é de peso:

Há dias um Jornalista Norueguês, de seu nome Johan Slattavik, publicou na Net uma foto de um autocarro vazio acompanhada de um singelo comentário : ”Que pensam disto ?”

Tanto bastou para que milhares de aderentes ou simpatizantes do Partido de Direita radical Fedreland Viktigst, ( “A Pátria Primeiro”), visse na imagem o que lá não estava e inundasse o site com milhares mensagens de ódio contra os Muçulmanos. “Trágico!”, “Aterrador!”, “Têm de ser expulsos do país!”, “Quem sabe se não são terroristas disfarçados ! ”...

Slattavik veio explicar depois que apenas queria demonstrar a diferença entre a critica legitima à imigração e o racismo, e em como a interpretação de uma imagem inócua pode ser totalmente distorcida devido aos preconceitos racistas de quem vê.

Portanto não é possível garantir que a Direita Portuguesa seja a mais estúpida do mundo. Mas que está no pódio, lá isso está !






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De Regresso...

3/8/2017

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                              DE REGRESSO A OLD BLIGHTY*


                       A bordo do Pont Aven - Pôr do Sol no Golfo da Biscaia (1/8/17)
  
 
              
*Old Blighty - Nome afectuoso para Inglaterra

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