A GAZETA DO MIDDLESEX
A norte de Londres numa das zonas mais prestigiadas e caras está Highgate o mais antigo e famoso cemitério da Capital .
Inaugurado no inicio do Séc. XIX é constituído por duas partes separadas por uma longa estrada e há muito que foi decidido limitar a manutenção do grande espaço ao minimo possivel, tornando-o assim num verdadeiro oasis de vida natural no meio da cidade .
A metade mais interessante é sem dúvida a Ocidental, e reflecte ter sido contruída em pleno romantismo com réplicas das necrópoles da antiguidade, desde as egipcias às romanas, com as suas catacumbas, mas o abandono propositado torna a visita, que é verdadeiramente fascinante, apenas possivel em grupo e com marcação prévia.
Já a parte Oriental está diáriamente aberta ao público e não faltam visitantes, a maioria dos quais procura apenas ter uns momentos de tranquilidade, mas há quem vá em romaria ao túmulo de Karl Marx, o mais famoso inquilino do cemitério .
Talvez seja mais uma das muitas excêntricidades que abundam neste país, pois só um excêntrico quererá ir visitar aquela campa quando não se sabe o que estará mais morto, se o ocupante se a sua ideologia .
Mas se Marx está morto, Hayek e Milton Friedman estão bem vivos naqueles que continuam a defender as suas teorias afirmando que quanto menos os Governos taxarem os ricos, quanto menos defenderem os direitos dos trabalhadores, e quanto menos redistribuirem a riqueza, melhor será para todos. O resultado dessas politicas está à vista e não é possivel negar que a dinamica da acumulação de capital, que é a sua directa consequencia, leva à concentração da riqueza nas mãos dum numero cada vez mais restrito de pessoas e ao empobrecimento de todas as outras.
Não há muito tempo Joseph Stiglitz escrevia um artigo na Vanity Fair onde, glosando a famosa declaração da Constituição dos EUA , (um Governo do Povo, para o Povo e pelo Povo...) , afirmava que se tinha tornado num Governo do 1%, para o 1% e pelo 1% dos americanos, aqueles que detém a maior fatia da riqueza do país.
Hoje ler jornais é conhecer todos os dias novas práticas de fraudes , evasões fiscais, abusos de confiança e enriquecimentos ilicitos, ao mesmo tempo que se lê, por exemplo, que em 2015 mais de metade das crianças do RU terá descido abaixo do limiar da pobreza, enquanto que em 2012 os 100 mais ricos terão visto aumentar as suas fortunas em $ 241 biliões de dolares , valendo agora $1.9 triliões , ou seja o equivalente ao PIB da Grã-Bretanha. Nos EUA a riqueza dos Walton , herdeiros do Wal-Mart, é estimada em $ 70 biliões, exactamente o mesmo que possuem os 30% dos americanos de menores recursos, e a Forbes anuncia que o mexicano Carlos Slim continua a ser a pessoa mais rica do universo, com um pé de meia de $ 79 biliões, o que é certamente obsceno se considerarmos a pobreza em que vivem a maioria dos seus compatriotas.
Números são apenas isso, números, e não falam dos incontaveis dramas pessoais que a crise vai causando . De pouco vale referir a sinistra corrida entre a Espanha e a Grécia para apresentar a maior taxa de desemprego, ( que na Andaluzia é de 40%, e onde 67% dos jovens não têm trabalho), ou lembrar as dezenas de milhar de habitações que os bancos espanhois já reaveram por incumprimento.
Aliás ser jovem hoje é ser excluído de tudo aquilo que as gerações precedentes tinham como garantido : Ter trabalho , casa própria, constituir familia, tudo se tornou numa miragem e , mais trágico ainda, acabou a esperança de um dia poderem viver num mundo melhor. Em Portugal, o que Governo oferece aos jovens, numa acto de revoltante cinismo e hipocrisia, é a emigração como unica opção, isto se não se quiserem resignar a um futuro de insegurança, baixos salários, dívidas e permanente angústia, aconselhando-os a procurarem lá fora uma alternativa garantindo que precisamente alternativa é o que não há para eles em Portugal .
Portanto algures em Highgate, talvez não muito longe do túmulo de Marx, existirá uma campa rasa que passa despercebida, cavada que foi pelos Kapos da Troika, e onde jazem as esperanças das novas gerações.
PAUSA
Até breve!