A Gazeta do Middlesex

Não rejubilem...

30/11/2016

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                          A  GAZETA  DO  MIDDLESEX


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“...Homens não rejubilem com a derrota dele porque, apesar do Mundo se ter levantado e feito parar o infame, a grande cabra que o trouxe no ventre está novamente com o cio...”

                                                                                                - Bertolt Brecht


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A Sátira e o Sarcasmo

15/11/2016

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                                A SÁTIRA E O SARCASMO


A Sátira e o Sarcasmo: Duas das mais potentes armas contra a iniquidade e a injustiça. Quando a Irlanda sofria uma terrível fome que vitimava dezenas de milhar de pessoas, e perante a indiferença do Governo Inglês, foi Jonathan Swift com a sua famosa “Modesta Proposta”, uma acusação violentíssima disfarçada como sátira, que despertou as consciências e fez mudar a política de abandono em relação ao sofredor povo Irlandês.

Mais de um Século depois um conhecido académico Americano, Douglas Stewart, publicou uma carta numa prestigiada Revista que causou um profundo choque nos meios intelectuais do país. Sarcasmo foi a arma usada pelo famoso escritor de ficção cientifica Ray Bradbury, o autor de Fahrenheit 451, como resposta à ignomínia, e Stewart nunca mais recuperou o respeito dos seus pares.
Infelizmente países há onde as mais vis diatribes são publicadas e onde os seus autores não só não sofrem exautoração publica, como também quem protesta é que tem sobre si a mão pesada da Justiça. Refiro-me obviamente ao triste caso da “Peste Grisalha”. Uma página negra da Justiça Portuguesa. Mais uma.


                                                                           SÁTIRA


                                                      UMA MODESTA PROPOSTA


                                              Jonathan Swift, Irlanda, Séc. XVIII


É  causa de melancolia para quem ande nesta grande cidade, ou viaje pelo país, ver as ruas e as estradas povoadas por mendigos do sexo feminino, seguidos por três, quatro, ou seis crianças, todas vestidas com farrapos, importunando os transeuntes com os seus pedidos de uma esmola.

Penso que todos concordam que este prodigioso numero de crianças nos braços, às costas, ou caminhando nos calcanhares de suas mães é, no presente estado deplorável do Reino, um factor agravante da situação e por conseguinte aquele que encontrar uma maneira justa, barata e fácil de fazer dessas crianças membros úteis da comunidade teria direito ao estatuto de salvador da Nação.
Pela minha parte, depois de durante anos ter reflectido maduramente sobre este importante assunto, e tendo devidamente sopesado as possíveis soluções, concluí que a maneira de enfrentar o problema tem sido completamente errada.
É verdade que uma criança saída do berço pode sobreviver por mais um ano apenas com o leite materno, e por um custo de dois xelins, os quais a mãe poderia facilmente conseguir exercendo a ocupação de pedinte. Mas é exactamente depois de terem um ano de idade, em vez de se tornarem num encargo para os pais, ou para a Paróquia ou, na falta de trabalho e de vestuário para o resto de suas vidas, para todos nós, que elas podem pelo contrário contribuir para a alimentação de muitos milhares.
O numero de almas existentes na Irlanda é normalmente calculado em milhão e meio, e estimo que entre elas existam cerca de duzentos mil casais em idade de procriar; desse numero deduzo trinta mil que têm capacidade de sustentar a sua prole; muito embora aceite que, devido à presente crise, o numero possa ser menor. Mas se forem cento e setenta mil os casais procriadores, podem ser subtraídos a esse numero cinquenta mil por, ou as mulheres abortarem, ou as crianças falecerem por acidente ou doença antes de completarem um ano. Logo apenas restam cento e vinte mil filhos de pais pobres a nascerem anualmente e a questão é em como dar-lhes sustento o que, como amplamente demonstrei, é uma impossibilidade. Mesmo fazendo do roubo um modo de vida só após os seis anos de idade é que essa possibilidade pode ser considerada.
Foi-me garantido ainda por reputados comerciantes que qualquer rapaz ou rapariga, antes de cumpridos os doze anos, não têm qualquer valor no mercado.
Em face de tudo isto, com toda a modéstia, proponho a minha solução, que espero não encontre objecções:

Um Americano meu conhecido garantiu-me que uma criança de um ano, saudável e bem alimentada, é um dos piteus mais deliciosos que há, quer seja assada, cozida, guisada, ou mesmo servida em fricassé.

Logo apresento à consideração pública que dessas cento e vinte mil, vinte mil sejam reservadas para procriação, das quais cerca de um quarto serão machos, o que é o que se faz usualmente quando se trata de carneiros, gado vacuum ou porcos.
As cem mil restantes seriam vendidas a pessoas de qualidade e fortuna por todo o Reino, sendo necessário instruir as mães para lhes dar de mamar sem restrições no ultimo mês, afim de se apresentarem gordas e apetitosas e dignas das melhores mesas. Uma só criança seria suficiente para uma ceia com amigos; no caso da família cear sozinha, meia ou um quarto bastaria e se, depois de cozida for devidamente temperada com sal e pimenta, ainda estará boa para consumo ao quarto dia, especialmente no Inverno.
Calculo que este alimento seria muito procurado, logo indicado para latifundiários, os quais já tendo devorado os pais teriam naturalmente direito aos filhos.
Como já tive ocasião de demonstrar o custo de criar um filho de um pedinte ronda os dois xelins anuais, incluindo os farrapos, e acredito que nenhum Gentleman recusaria pagar dez xelins pela carcaça de uma boa e gorda criança, da qual se podem servir até quatro pratos de uma excelente e nutritiva carne; no final a mãe teria um lucro liquido de oito xelins e estaria em condições de trabalhar até produzir nova criança.
E os mais poupados ainda poderiam usar a pele da criança para o fabrico de admiráveis luvas para as Senhoras e calçado de Verão para os Gentlemen (…)


                                                                  SARCASMO


                         Douglas J Stewart, Estados Unidos da América, Séc. XX



...Existem simplesmente demasiados eleitores senis e o seu numero não para de crescer: O direito ao voto não deveria ser um privilégio concedido em perpetuidade e tornado possível desde que esteja presente um mínimo de força física.

Votar é assumir a responsabilidade de ajudar a escolher o futuro da comunidade, uma escolha com os seus riscos ou benefícios. Ora os velhos não tendo futuro estão perigosamente livres das consequências das suas escolhas políticas, logo não faz sentido permitir que votem quando estatisticamente não sobreviverão o suficiente para pagarem por essas escolhas.
Defendo portanto que se retire o direito ao voto àqueles que se reformarem, ou que atinjam a idade de setenta anos, a situação que se verificar primeiro(…)


Exmo Senhor:

Sinto-me em divida com Vexa por ter publicado o brilhante artigo de Douglas J Stewart. Retirar o voto aos idosos é uma grande ideia. Mas poderei sugerir uma melhor alternativa? Porque não construir fornos crematórios e câmaras de gás e fazer as coisas como deve ser ? Os velhos seriam trazidos de todo o país e antes de entrarem na câmaras de gás ser-lhes-iam removidos os dentes de ouro.

Creio ser o meu plano fantástico e espero que Mr. Stewart colabore comigo neste grande melhoramento da democracia Americana. Poderíamos chamar-lhe Partido Nazi, se achar que é um bom nome.
Tenho outros planos para os aleijados, os cegos e os Judeus, que estão à disposição de Mr. Stewart se assim o desejar.
Atenciosamente,
Ray Bradbury




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Esconde os defeitos...

12/11/2016

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Esconde os defeitos da tua Nacionalidade




A água adquire as qualidades e os defeitos dos canais por onde passa, as pessoas as dos países onde nascem. Alguns devem mais do que outros ao sitio onde nasceram, tendo os astros sido para eles mais propícios justamente nesse lugar. Nenhum país por mais civilizado que seja está livre de ter defeitos nacionais, os quais os países vizinhos não deixam de criticar para disso tirarem, ou vantagem, ou consolo. É um grande feito que requer grande habilidade corrigir, ou pelo menos esconder, esses tais defeitos; E quem conseguir terá grande fama entre os seus compatriotas, pois o que menos se espera é o mais valorizado. Existem também outros defeitos com origem na linhagem, no estatuto, na ocupação, ou na idade, que se reunirem numa só pessoa, e se não forem controlados, darão origem a um insuportável monstro.


Baltasar Gracián (Aragão, 1601-1658)


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Diogenes

8/11/2016

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                                                                               DIOGENES

                                                                                   
Uma assembleia representando todos os Gregos tinha-se reunido em Corinto e foi então aprovado por votação que seria montada uma expedição contra o Império Persa, tendo sido Alexandre o escolhido para a comandar.
Muitos notáveis vieram congratula-lo pela nomeação e Alexandre tinha esperado que Diogenes estivesse entre eles, uma vez que sabia que o filosofo estava na cidade. Mas Diogenes não demonstrou o mínimo interesse em Alexandre e continuou calmamente a viver no subúrbio de Craneum.
Foi então que o Príncipe decidiu ir ao seu encontro, acabando por o achar apanhando banhos de Sol.
Diogenes, ao ver Alexandre e a sua comitiva aproximar-se, mudou um pouco de posição mas continuou calmamente deitado. E o Príncipe disse-lhe então que pedisse o que quisesse, que os seus desejos seriam satisfeitos:
“Afasta-te um pouco que me tapas o Sol”, foi a resposta de Diogenes.
Diz-se que esta prova de dignidade e orgulho impressionou vivamente Alexandre e muitos da sua comitiva ouviram-no dizer: ” Na verdade se eu não fosse Alexandre, escolheria ser Diogenes.”

Plutarco - A Vida de Alexandre


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Os Inimigos do Povo

4/11/2016

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                               OS INIMIGOS  DO  POVO




Primeira página de hoje do Daily Mail



Na campanha para o Referendo os  Brexiteers clamavam pela saída da UE afim de poderem ser repatriados os poderes e  a soberania entretanto perdidos pelo sacrossanto Parlamento Britanico a favor da execranda Bruxelas.

Mas, (e isto é realmente um grande "mas"), uma vez ganho o referendo os mesmos Brexiteers opõem-se agora ferozmente a que os termos do Brexit sejam debatidos e votados pelo mesmo supostamente soberano Parlamento, (incluindo as duas Camaras, Lords e Comuns), tendo-se a Primeira-Ministra  terminantemente recusado até agora  a revelar minimamente quais os planos, (partindo do principio que existem...), do Governo de S.M. para o Brexit,  alegando que isso seria "mostrar" o "jogo".

Isto até ontem:

Dois cidadãos anónimos, um deles cabeleireiro de profissão, interpuzeram uma acção contra o Governo, exigindo que ao Parlamento fosse permitido ter voto na materia.
E, em seguimento dessa acção, três Juízes do Supremo Tribunal de Justiça deram agora a conhecer a sua decisão, que foi inteiramente favoravel aos requerentes.


Tanto bastou para que uma onda de ódio varresse a direita e a extrema direita, que temem ver afinal chumbada pelos Parlamentares a saída da UE, coisa mais do que provavel dada a maioria que os Remainers têm no Parlamento.

E este nauseabundo pasquim que é o Daily Mail, também chamado Daily Heil, devido ao apoio que nos anos trinta deu nas suas páginas a Hitler, mas que é jornal mais lido da Grã-Bretanha, saíu-se hoje com esta monstruosidade, chegando ao ponto de acusar um dos Juízes de falta de idoneadade por... ser gay !

E assim caros Portugueses aqui têm em como pode haver ainda pior do que o Correio da Manhã o qual, quando comparado com esta folha nojenta, acaba por parecer o Boletim da Paróquia.

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