A GAZETA DO MIDDLESEX
TO BREXIT OR
NOT TO BREXIT III
You can't have the cake and eat it
Não se pode querer ter o bolo e come-lo
Hoje teve lugar em Chequers a primeira reunião do Governo pós férias, naquela que é a residência de Verão dos Primeiros-Ministros, férias essas que Theresa May passou longe desta barafunda caminhando pacatamente pelas montanhas da Suíça, ( país que convenientemente não faz parte da UE).
Muito se esperava, especialmente que a Primeira-Ministra explicasse com candura o que quis dizer com a frase “Brexit means Brexit”, que deve ser certamente muito mais do que um simples sound byte.
Houve quem previsse um violento confronto entre os membros do Governo: De um lado os grandes paladinos do Brexit: Boris, David Davis, Liam Fox, etc, e do outro o resto do Gabinete que se opõe ferozmente a qualquer saída da UE, seja ela súbita, suave, ou assim-assim.
O que ambos os lados queriam sabe-se: O acesso irrestrito ao mercado europeu e sobretudo, jóia da coroa, a manutenção dos privilégios que a City hoje possui. Desde dos idos dos anos 80, quando a saudosa Mrs. Thatcher achou que a industria Britânica era coisa do passado e que se podia viver do sector financeiro, e acabou com ela para dar lugar aos amanhãs que cantam na pessoa da globalização e a desregulamentação dos sectores bancário e do trabalho, qualquer ameaça à City leva os políticos a um paroxismo de terror, tendo-se tornado ela a única fonte, a única cornucópia da abundância que se ainda se derrama sobre a cabeça dos súbditos de S.M.
Mas a partir daqui é que a porca torce o que se sabe: Os Brexiteers não admitem nada que não seja o total controle da imigração, (Let's take back control, lembram-se?), enquanto que os outros sabem de ciência certa que não haverá mercado único sem liberdade de circulação, condição que vai contra o voto do povo Britânico no referendo.
Ou seja, ambos pretendem to have the cake and eat it, terem ao mesmo tempo o bolo e come-lo, frase aqui tão popular, e que continua tão impossível de realizar como sempre foi.
Apareceram mesmo uns românticos que advogaram o renascimento da velha EFTA de boa memória, aquela a que Portugal também pertenceu com mais meia dúzia de países e que a Grã-Bretanha em tão má hora abandonou para entrar na CEE.
Outros falam seriamente em o Reino Unido passar a ser membro EEA, tipo Noruega ou Suíça mas, lá volta a porca a torcer a tal coisa, pois isso implicaria continuar a contribuir para os cofres de Bruxelas e aceitar na mesma a livre circulação, um duplo anátema para os Brexiteers.
Estas posições são ambas apoiadas por forças rivais e irreconciliáveis: Uma escorada pela vitória no referendo e não aceitando nada menos que a saída total e definitiva da UE, pagando-se o preço que for necessário, e outra que vê com alarme os custos da saída, que consideram ser uma forma estúpida de suicídio económico e que levará ao abandono para mais verdes pastagens das grandes corporações que hoje têm a sua sede em Londres.
Portanto a expectativa sobre o que iria sair da reunião de hoje era mais do que justificada e no final, com a pompa que a ocasião justificava, a Primeira-Ministra limitou-se a declarar novamente que “Brexit means Brexit”, que não haverá um segundo referendo e que, após a saída da UE que considera inevitável, a Grã-Bretanha não voltará a entrar “pela porta dos fundos”. Acabou fazendo uma vaga alusão à possibilidade de uma terceira via em relação à imigração: Nem a presente situação, nem um total fechar de portas. Uma misteriosa solução de meio-termo que ninguém imagina como será.
Estamos portanto no campo da política pura e dura onde vale o bluff e tudo o mais, sendo que esse mais é ameaça de saír da UE sem qualquer acordo. Nesse caso seriam aplicadas as pautas tarifárias da WTO, (World Trade Organization), e por coincidência, ou talvez não, várias figuras gradas do Brexit vieram agora a publico defender essa situação que, dizem, afinal é a de como inúmeros países fazem o seu comercio internacional com toda a normalidade.
Theresa May que, não esqueçamos, não foi eleita para o cargo, vai necessitar de muita perícia e sorte para navegando em aguas desconhecidas levar o barco a bom porto. Com o Partido dividido, com o Parlamento dividido, e o país igualmente dividido, para levar até ao fim uma negociação cujo desfecho vai previsivelmente desagradar a todos, vai ser necessário vencer demasiados escolhos.
Dias antes numa reunião a bordo de um porta-aviões Italiano, Merkel, Hollande e Renzi tinham avisado solenemente que a UE não era como as prateleiras de um supermercado onde a Grã-Bretanha poderia escolher o que mais lhe convinha e rejeitar o resto. Claramente: Acesso ao mercado único com livre circulação de pessoas, ou nada.
E se nos lembrarmos que Merkel e Hollande têm eleições a vencer já em 2017, não estando para ambos as coisas cor de rosa, sem mesmo darem sinais de fraqueza, e que Renzi tem um referendo já no Outono, e que em caso de derrota isso será o fim da sua carreira política, então certamente que vamos viver tempos interessantes.