A Gazeta do Middlesex

O milagre...

14/6/2018

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                            O MILAGRE DE GRENFELL TOWER

Faz hoje um ano que Grenfell Tower ardia. No meio daquele horror, com muitas dezenas de pessoas aprisionadas no interior e a serem queimadas vivas, alguém viu o impossível: Uma criança com pouco mais de um ano era atirada de uma janela do oitavo andar e era miraculosamente apanhada por alguém antes que tocasse no chão.
De repente a noticia correu célere entre os que à volta daquela visão dantesca tentavam ajudar. Os dezoito andares da torre envoltos em fumo ardiam como uma tocha. Daquele inferno caiam detritos de toda a espécie, muitos em chamas. Impossível que alguém pudesse escapar. Uma impossibilidade até aquele verdadeiro milagre acontecer: O milagre de Grenfell Tower.
As televisões acorreram pressurosas a entrevistar os que diziam ter testemunhado o impossível, talvez menos de uma dezena. Em duas horas as agências noticiosas faziam com que a noticia corresse mundo. Na manhã seguinte era a abertura dos telejornais.

E o tempo passou e as coisas ficaram assim até que há um par de meses a BBC resolveu procurar a tal criança que tinha tão extraordinariamente escapado à morte. Nos hospitais não havia registo de ter entrado. Nas listas dos moradores, fosse a dos que eram dados como desaparecidos, fosse a dos cujo paradeiro era conhecido, não constava quem correspondesse à descrição das testemunhas. Os cientistas foram chamados e foram unânimes: Um corpo com cerca de sete quilos, (o peso aproximado de uma criança daquela idade), atirado daquela altura teria alcançado ao chegar ao solo uma velocidade de mais de cem quilómetros hora e, devido à aceleração, um peso superior a cem quilos. Não existem braços humanos com força capaz de interromper tal queda.

E a BBC usando as imagens de vídeo gravadas procurou aqueles que tinham afirmado ter visto o salvamento da criança. Tornou-se rapidamente óbvio que todos diziam a verdade: Todos estavam absolutamente certos de ter visto o que diziam ter visto. Pacientemente os repórteres da BBC foram fazendo perguntas e também rapidamente se tornou claro que as testemunhas, ao de tão desesperadamente querem que pelo menos um ser humano, contra toda a probabilidade, tivesse escapado aquele inferno, desesperadamente acreditaram piamente ter testemunhado um milagre.



Quem de nós não teve um amigo, ou ente querido, doente terminal e que perante o seu fim iminente não calou a sua racionalidade e acreditou num milagre de décima-primeira hora ?

Quem no fundo não acredita que por milagre um bully, um demagogo, um mitómano, alguém completamente destituído de escrúpulos, não possa jamais voltar a ser eleito, quer seja presidente da nação mais poderosa do mundo, quer seja presidente de um clube com um passado tão distinto como o Sporting Clube de Portugal ?



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A Mentira

30/4/2018

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                                          A  MENTIRA


Tamas Dezso Ziegler é Húngaro e professor universitário. Profundo conhecedor da realidade política do seu país lança neste artigo um grito de alerta para que outras nações, outros povos, não caiam também na “mentira populista”: Oxalá seja ouvido.



“Durante a minha ultima estadia no Reino Unido encontrei-me com amigos que surpreendentemente me disseram que a campanha pró-Brexit durante o referendo tinha muitas semelhanças com as campanhas antissemiticas na Alemanha Nazi durante os anos trinta. A UE servia assim de bode-expiatório para tudo o que de mau existia no país. Este argumento causo-me uma profunda impressão.

Regressado a Budapeste apanhei um táxi no aeroporto. O carro que me transportou era topo de gama e o motorista trajava roupa cara. Mal tínhamos arrancado este começou logo por me dizer que era um acérrimo defensor da raça branca e que deveríamos preservar a pureza rácica do nosso país. Explicou-me que eram as forças externas, da China à Europa Ocidental, que nos queriam destruir misturando os Húngaros com outras raças. Para ele os “ismos”, (liberalismo, feminismo, etc.), eram forças destrutivas que vinham do Ocidente.

Este motorista, com as suas opiniões racistas, não é nada fora de vulgar. Sempre que regresso ao meu país encontro sempre outros que como ele que abertamente defendem a mesma ideologia. Mas desta vez perguntei-lhe se encontrava alguma diferença entre as suas ideias e as dos antigos fascistas, tão populares que foram na Hungria entre as duas guerras.
Pergunto-me porquê no Ensino se falha tão completamente na denuncia da ligação entre estas correntes de opinião actuais e o velho fascismo. Mesmo na Academia começou-se por suavizar os nomes que usamos: De direita ortodoxa a extrema direita, ou direita radical, até que, recentemente, se começou classificar estas posições políticas como sendo “populistas”: E esta “mentira populista”, que é resultado de uma falsa interpretação do objectivismo cientifico, espalha-se cada vez mais pela Europa.

O termo até podia ser útil pois o seu uso não implica, necessariamente, uma avaliação moral dos seus valores. Mas se se usasse o termo “demagogia de extrema direita” ou “políticas fascistas” isso seria associado a algo perigoso, extremo. Soariam as campainhas de alarme e a opinião publica seria alertada. Mas com “populismo” nada disso se passa. Historicamente o populismo definia-se como uma corrente política que tentava envolver as massas na tomada das decisões, e não afasta-las da política. Mas, se analisarmos as propostas dos mais proeminentes defensores actuais do populismo, tais como Cas Mudde (1), verificaremos o quanto artificiais e instáveis são os modelos propostos ao conterem ao mesmo tempo anti-elitismo, alto grau de emotividade, tudo misturado com nacionalismo, etnicismo e racismo, sem contudo possuírem um núcleo de valores ideológicos. O que é espantoso, por exemplo, é o facto de eminentes académicos como Jan-Werner Muller(2) referirem-se a Carl Schmitt como sendo populista. Schmitt foi um intelectual Nazi que presidiu à União dos Juristas Nacional-Socialistas, editor do jornal nazi Deutsche Juristen-Zeitung. A sua actividade cientifica, especialmente ao propor a divisão da Sociedade entre inimigos e amigos, (nós-eles), a sua posição anti-liberal, (na realidade anti-pluralista), a sua visão como deveria ser exercido o poder político, fizeram dele um profeta da ideologia Nazi, tendo sido na época considerado como o “Príncipe dos jJuristas do Terceiro Reich”. Será que agora deveremos classificá-lo também como simplesmente “populista”?



O que a Academia julga ser populismo não é mais do que simples demagogia. Quando os partidos políticos são chauvinistas, racistas, paranóicos, anti-elitistas, machistas e fazem apelo às mais básicas emoções para atacar as minorias, não podemos dizer que eles fazem parte do jogo democrático.


No meu país esse tipo de partidos políticos destruíram a democracia, criaram uma autocracia eleitoral, uma semi-ditadura, em que foram abolidos os limites no exercício do poder e impedida a realização de eleições livres. Fidesz, o partido do Governo, usa as técnicas do regime comunista para manipular a opinião pública, que este por sua vez foi buscar aos nazis. Muitos são os partidos que usam esta mascara democrática quando são, no seu âmago, profundamente anti-democráticos. Não acreditam na Democracia, nem nos valores básicos do pluralismo que são o seu sustento, nem muito menos nos Direitos Humanos. Na sua génese vamos encontrar a mesma rejeição dos valores civilizacionais do Iluminismo, rejeição essa que foi parte integrante da ideologia fascista. Vale a pena procurar ver no YouTube os antigos discursos de Mussolini e Hitler para se poder constatar em como actuais os discursos do Primeiro-Ministro Viktor Orbán são em tudo parecidos. Nigel Copsey(3), que escreveu talvez o melhor artigo sobre o assunto, disse:


“O populismo de extrema direita, (se quisermos continuar a usar o termo), ganhou sofisticação largamente devido ao trabalho dos teóricos do neo-fascismo, particularmente no que toca à adopção de um discurso etno-pluralista”


Na Alemanha, só no ano passado, a extrema-direita foi responsável por mais de 23.000 crimes, tendo sido atacados 900 centros de acolhimento para refugiados, com 1.313 casos de violência física resultando em ferimentos graves e 18 tentativas de assassinato. Os “populistas” do AfD(4) são os responsáveis pela criação do ambiente de ódio que levou a este resultado. Como Paul Krugman(5) escreveu:



“Não sabemos como iremos acabar, mas o processo de destruir a substancia da Democracia enquanto se preserva a sua forma, está em plena marcha”.




(1) – Cas Mudde – Académico Holandês, (U. Leiden-PhD Ciencia Política), é actualmente Professor na Universidade da Geórgia. Autor, entre outros livros, de Populist Radical Parties in Europe.
(2) – Jan-Werner Muller- Académico Alemão professor universitário (U. Oxford/U. Princeton)
(3) – Nigel Copsey – Professor de História Moderna, (U. Teesside), especialista no estudo do fascismo Europeu.
(4) – Paul Krugman – Americano, Prémio Nobel em Economia- (2008)
(5) – AfD – Alternative fur Deutschland - “Alternativa para a Alemanha” - Partido de extrema direita alemão.



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Onde está...

27/4/2018

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                         ONDE ESTÁ JEREMY CORBYN ?

Pois no meio da multidão, ontem no estádio do Arsenal durante o jogo com o Atlético de Madrid.

De seu título completo: Leader of her Majesty's Official Opposition, Rt Hon Jeremy Corbyn MP

Outras terras...



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Tudo tem...

22/4/2018

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                              TUDO TEM UMA EXPLICAÇÃO



Depois do ataque de 4 de Março os media estiveram cheios de previsões sombrias sobre o que o futuro reservaria a Sergei Skripal e à filha. O agente tóxico que os vitimou, o novichok, era, segundo inúmeros especialistas que quiseram compartilhar com o publico o seu altíssimo saber, de tal maneira letal que o melhor que lhes poderia acontecer seria manterem-se em estado vegetativo até ao fim dos seus dias. Mas as semanas foram passando até que, para surpresa geral, a jovem Yulia teve alta do hospital e, pelo pouco que se sabe, em breve será a vez do pai, Sergei.


Diz-se agora o agente tóxico foi besuntado na maçaneta da porta da casa de Sergei Skripal, tendo sido por essa via que pai e filha foram contaminados. Mas essa explicação levanta mais duvidas do que as que desfaz: Se os Skripal estavam de tal maneira contaminados ao ponto de terem eles próprios contaminado todos os locais por onde passaram no centro de Salisbury, então o interior da sua casa não teria escapado. Acontece que o pai tinha hamsters e um gato como animais domésticos. Os primeiros foram encontrados mortos de sede quando finalmente a policia entrou na residência, e o gato estava num estado tão deplorável que teve de ser abatido, mas nenhum deles apresentavam sinais de terem sido vitimas de novichok.


Situação portanto no mínimo embaraçosa para a narrativa oficial, quando ainda por cima os especialistas do OPCW garantiam que a substancia tóxica que analisaram, a que alegadamente vitimou os Skripal, tinha um alto grau de pureza.
Explicações precisavam-se, e foi assim que um um especialista altamente qualificado, Dan Kaszeta, com 27 anos de experiência no campo da guerra química, tendo trabalhado com o Exército Americano, com a Casa Branca e, last but not least, com os Serviços Secretos Americanos, publicou um artigo destinado a “desmistificar” falsas ideias que corriam na opinião publica. Como os leitores da Gazeta não são menos que os outros aqui se transcreve parte do referido artigo, uma “magistral lição” para a ilustração de todos:


“ Uma questão interessante foi levantada. Se os 'nerve agents'(1)- e em particular o chamado novichok - são tão mortais porque razão Sergei e Yulia Skripal não morreram imediatamente? Em vez disso acontecer, como inúmeras teorias da conspiração que correm na Net apontam, ambos, pai e filha, estão fora de perigo. Esta é uma interrogação válida que merece resposta.


“Em primeiro lugar é importante usar a terminologia correcta: 'nerve agents' são substancias químicas que interferem com o sistema nervoso ao ligarem-se a uma enzima chamada acetilcolinesterase. Segundo esta definição um numero de armas químicas e um numero de pesticidas incluem-se entre aquilo que se chama 'nerve agents'.


'Nerve agents' não são toxinas por definição técnica. As toxinas têm uma fonte animal, vegetal ou microbiana. O veneno das cobras é uma toxina. 'sarin' e o 'vx', assim como o 'novichok', ao terem origem em laboratórios, não são toxinas. O termo 'nerve gas' também não é correcto uma vez que os 'nerve agents' se apresentam em estado sólido ou liquido, quando à temperatura ambiente.
…

Os 'nerve agents' só actuam rapidamente se inalados. A contaminação na caso dos Skripal parece ter sido por via da epiderme o que retarda a sua acção. Os sintomas levam horas a progredir dos locais onde se deu a exposição até ao sistema nervoso central. Numa experiência feita no período da Guerra Fria, cabras que tinham sido tosquiadas foram expostas ao 'nerve agent' “soman” e a morte só ocorreu passadas 48 horas. Não é propriamente rápido.
Em segundo lugar, se aconteceu alguma coisa que reduziu a dose pretendida – por exemplo se a pessoa que abriu a porta usava luvas - então existe a possibilidade real da dose letal ter sido mitigada.


Depois vem o factor humano. E se um dos Skripal disse:”Mas o que é esta coisa peganhenta que tenho nas mãos? Vou lavá-las” Isto seria uma maneira de fazer imediatamente descontaminação. Água e sabão são um meio eficaz de neutralizar os 'nerve agents' como inúmeros estudos provam. Estes se forem do tipo dos organofosfatos degradam-se rapidamente na presença de água devido a um mecanismo chamado hidrólise. E se a maçaneta da porta tenha ficado molhada? Salisbury não é conhecida por ter um clima árido.
…
A conclusão é que os 'nerve agents' só matam se não existir tratamento médico e os registos mostram nesse caso que o seu nivel de mortalidade é realmente baixo. Conhecem-se inúmeros casos de pessoas que sobreviveram depois de serem expostas a doses elevadas de 'nerve agents'….”


As investigações prosseguem e Salisbury continua em pé de guerra. Há poucos dias foi noticiada a existência de locais no centro da cidade a que as autoridades chamaram “pontos quentes” que estariam ainda altamente contaminados e que continuam interditas à população. Isto apesar de terem passado oito semanas em que choveu copiosamente. Aqui a “hidrólise” não funcionou.
Os serviços de informação revelaram também que as conta bancárias de Yulia Skripal eram há cinco anos devassadas pela policia secreta Russa. Nada que o Google não faça há muito mais tempo e infelizmente não só à jovem Yulia.
Ficamos também a saber que os mesmos serviços secretos Russos treinavam também há já vários anos os seus agentes como besuntar as maçanetas das portas com novichok, noticia que me deixa agora indeciso entre se rir ou se chorar.

(1) Nerve agent- No original




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A Armadilha

12/4/2018

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                               A ARMADILHA DE TUCÍDIDES



Tucídides, General ateniense e o primeiro Historiador no sentido moderno do termo, foi o autor há cerca de 2.400 anos da “História da Guerra do Peloponeso” onde descreve os vários conflitos que opuseram Atenas a Esparta. Tucídides descreve em como a ascensão de Atenas causou alarme em Esparta, a potencia dominante da altura, fazendo com que esta se preparasse para a guerra. No final Esparta ganharia o conflito, mas a um custo tal que ficou irremediavelmente fragilizada. Trinta anos depois nem Esparta nem Atenas seriam as maiores potencias do Peloponeso.
Nisto consiste essencialmente a “Armadilha de Tucídides”. O medo causado na potencia dominante pela ascensão de uma nova potencia, medo que levará à guerra como única solução para regressar ao status quo. A História ensina que estas rivalidades acabam quase sempre mal: Nos últimos quinhentos anos por dezasseis vezes um poder emergente desafiou a potencia dominante, e em doze o resultado foi a guerra.

Infelizmente todos os sinais apontam para que a rivalidade entre China mais a Rússia, por um lado, e os Estados Unidos, por outro, estão a causar um stress estrutural tão severo no equilíbrio de forças mundial que, com grande probabilidade, as coisas vão acabar mal.
Não que não haja a consciência do perigo que se corre: Tucídides continua a ser lembrado e estudado. O Presidente do Naval War College, instituição da Marinha dos Estados Unidos que dá preparação aos oficiais superiores, o Almirante Stansfield Turner, faz com que cada aluno receba no começo do curso um exemplar da “História da Guerra do Peloponeso”, e se o faz é porque obviamente considera que a obra tem ainda, passados que são 2.500 anos, muito que ensinar. Como por exemplo: Porque descortinável razão, e a que custos, os Atenienses mandaram um exército para a Sicília, tão remota e desviada estava essa ilha do teatro das operações e dos interesses de Atenas ?

Atenas não queria a guerra com Esparta. O Kaiser não queria a guerra em 1914. Mao não queria a guerra da Coreia. Mas uma vez que as máquinas militares são postas em marcha, equívocos, erros de cálculo e animosidades mutuas podem levar a um conflito de proporções que ninguém tencionava.

E como não lembrar o que Carl von Clausewitz chamou “o nevoeiro da guerra”?“Como a gasolina está para o fósforo, acelerantes podem tornar um conflito acidental e localizado, ou uma provocação feita por terceiros, numa guerra generalizada”. Disse ainda: “ A guerra é o reino da incerteza. Três quartos dos factores em que a acção militar se baseia estão envolvidos num nevoeiro de incerteza”. Esta profunda incerteza pode facilmente levar a que quem tem o poder decisório aja agressivamente, quando os todos factos aconselhariam prudência.



Vivemos num mundo em regressão. No auge da Guerra Fria, com a União Soviética, assinavam-se tratados de limitação das armas nucleares que incluíam mecanismos de verificação mutua. Hoje, Trump anuncia um plano de desenvolvimento maciço de armas nucleares. Nos termos do ultimo tratado desse tipo, o SALT III, (que formalmente não foi ratificado, mas cujos protocolos são respeitados), aos Estados Unidos e à União Soviética era permitido terem, se a memória não me falha, exactamente 1652 ogivas nucleares activas, isto é montadas em meios capazes de atingir o inimigo. Fora os muitos milhares em “armazém”. Isto significa que nem Rússia nem Estados Unidos podem ter a certeza de aniquilar completamente o outro com um ataque de surpresa. Mas o maior paradoxo é que enquanto que nenhuma da nações pode ganhar uma guerra nuclear ambas têm de demonstrar vontade de arriscar entrar numa, pois aquela que responsavelmente declarasse jamais dar esse passo daria à outra uma inestimável vantagem, obrigada que estaria a recuar sempre em nome dos seus princípios.


Existiam até agora o que John F. Kennedy chamava as “precárias regras do status quo”, um conjunto de normas que eram tacitamente respeitadas por ambos os lados. Era sabido que a sobrevivência do planeta requeria cautelas, vias de comunicação abertas, limites, compromissos e cooperação.



Mas as regras laboriosamente postas em prática durante os cinquenta anos de guerra fria desapareceram, e hoje vivemos todos dançando à beira da sepultura. No Reino Unido a Primeira Ministra anunciou que participará num ataque à Síria sem consultar o Parlamento. O Brexit tinha como principal objectivo devolver a soberania a esse mesmo Parlamento, dizia ela. Nunca um Primeiro Ministro Britânico ousou tomar semelhante acção. Mesmo nesta “Velha Democracia” a primeira vitima é a liberdade de por em causa a versão oficial dos acontecimentos, com os media alinhados com o Governo, e a própria BBC não passando do “alegadamente” quando se refere ao ataque com armas químicas em Eastern Ghouta, “alegadamente” cometido por tropas leais a Assad. Longe vão os tempos em que assistir aos programas da BBC era “ ver pessoas com que se discorda, dizendo coisas que não gostamos”.


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Os Planos...

8/4/2018

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                                OS PLANOS DO PENTÁGONO

                         (COMO IMPEDIR O RESURGIMENTO DE UM NOVO RIVAL)


A 7 de Março de 1992 o New York Times publicou excertos dos planos de defesa do Pentágono para o quinquénio 1994-99 que lhe tinham sido fornecidos por fonte anónima. Esses planos ficaram conhecidos como a Doutrina Wolfowitz, de Paul Wolfowitz, então Sub-Secretário da Defesa. A sua publicação levantou uma enorme celeuma, considerando-se que esses planos delineavam uma estratégia imperialista onde se defendia o unilateralismo e acções militares preventivas de modo a impedir o surgimento de potenciais ameaças e a elevação de qualquer outra nação ao estatuto de grande potencia.

A controvérsia foi de tal ordem que a versão oficial dos planos, que só foi publicada em 16 de Abril de 1992, sob a supervisão do Secretário da Defesa Dick Cheney, acabou por ser largamente expurgada das suas propostas mais polémicas, que acabaram no entanto por ser incorporadas mais tarde na chamada Doutrina Bush. Dela disse o Senador Edward Kennedy: “ Ela é, ( a Doutrina Bush), um mapa para o imperialismo Americano no Séc.XXI, que nenhuma outra nação pode, ou deve, aceitar”.
Olhando para a situação vivida em 2018 não parece possível concluir que a Doutrina Wolfowitz, bem como a Doutrina Bush, não estejam hoje a ser plenamente aplicadas.

Objectivos estratégicos

1 - O estatuto de super potencia

“ O nosso primeiro objectivo é prevenir o ressurgimento de um novo rival, quer seja no território da antiga União Soviética, quer noutra localização. Este é o principio básico que rege a nossa estratégia de defesa regional e que requer da nossa parte a determinação de impedir que uma potencia hostil possa dominar uma região cujos recursos, se estiverem sob um controle consolidado, possam gerar uma potencia de ordem global.
…
“São três os aspectos adicionais para se atingir este objectivo. Primeiro, os Estados Unidos devem demonstrar suficientes capacidades de liderança para criar e manter uma nova ordem suficientemente poderosa que possa convencer os potenciais concorrentes que não devem aspirar a ter um papel mais importante, nem prosseguirem acções agressivas na defesa dos seus legítimos interesses.”

2 – A ameaça Russa

“...Temos de admitir que as forças convencionais dos Estados que faziam parte da antiga União Soviética ainda possuem globalmente a maior força militar da Euroásia; e não menosprezamos os riscos para a estabilidade da Europa de uma possível reacção nacionalista na Rússia, com tentativas de reincorporar os recém independentes Estados da Ucrânia, Bielorrússia, e provavelmente outros. Devemos ter presente que as mudanças democráticas na Rússia não são irreversíveis e que, apesar das dificuldades que esta presentemente atravessa, continua a ser maior potencia militar na Euroásia e a única que tem capacidade para destruir os Estados Unidos...”

“...no futuro imediato a principal preocupação para os EUA é a capacidade da Rússia, e de outras republicas, para levar a cabo a desmilitarização, convertendo as suas industrias militares para a produção de bens civis, procedendo também à eliminação ou, no caso da Rússia, à redução drástica do seu arsenal nuclear...”
….
“...A Nato continuará a assegurar a indispensável base para garantir uma segurança estável na Europa. È portanto fundamental preservar a Nato como o principal instrumento que garanta essa defesa e estabilidade, bem como o meio que permite aos Estados Unidos ter influencia e participação nas questões da segurança Europeia...”
….
“… ao mesmo tempo que os Estados Unidos apoiam a integração Europeia, deveremos impedir a emergência de uma força de defesa apenas Europeia, que poderia diminuir o papel da Nato ao reduzir a importância do comando unificado da Aliança no teatro de operações do Centro-Leste Europeu.”

“...A melhor maneira de trazer para o lado do Ocidente os Europeus do Centro-Leste, estabilizando as suas instituições democráticas, é fazê-los participar nas organizações políticas e económicas. Na primeira oportunidade deve-se admitir esses países na UE e expandir a Nato para Leste...”

“… Os EUA deveriam considerar dar também aos Estados do centro-leste da Europa as mesmas garantias de defesa que actualmente gozam os Estados do Golfo Pérsico...”

3 – Irão e Síria

“… no Médio Oriente o nosso objectivo global é manter-mos-nos como a potencia predominante na região e preservar o acesso ao petróleo...”

“...como ficou demonstrado continua fundamentalmente importante impedir o surgimento de uma força hegemónica, ou uma aliança de forças, que possa dominar a região. Esta questão é particularmente importante no que toca à península Arábica...”

Uma Palavra final:

Noticia-se hoje que as forças Sírias leais a Assad utilizaram mais uma vez gases contra as populações civis. Desta vez, como das outras, foram utilizados, não produtos tóxicos sofisticados, mas gases à base de cloro que tiveram a sua “estreia” há um século atrás nas trincheiras da Flandres.
Este ataque foi feito abertamente e ao alcance dos media ocidentais: As televisões passam constantemente imagens excruciantes de crianças, (sempre só crianças), a sofrer terrivelmente devido aos efeitos desses gases.
Mas os ganhos militares, a terem havido, são negligenciáveis. Travam-se os últimos combates e o fim da guerra está à vista com a vitória do Governo Sírio.
Mas os custos políticos para o regime de Assad são imensos, como imensa é a condenação da Rússia pelo apoio que lhe dá.
Cria-se assim um imperativo moral para que os Estados Unidos tomem a iniciativa de atacar as bases militares Russas na Síria o que, conseguida a diabolização da Rússia, (Salsbury incluída), foi sempre o objectivo final.
E se duvidas houvesse compare-se com as reacções pelo assassinato pelo exército Israelita de dezenas de manifestantes civis desarmados, (incluindo mulheres e crianças), na Faixa de Gaza.
Que Governos condenaram ? O Britânico não.



"A Armadilha de Tucídades" será o assunto do próximo post


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Damage Control

4/4/2018

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                                    CONTROLAR OS DANOS


Controlar os danos é a palavra de ordem do Governo Britânico depois de Gary Aitkenhead, que é chefe do centro para a investigação das armas químicas de Porton Down, nos arredores de Salisbury, ter vindo ontem a publico declarar não ser possível identificar a origem do agente tóxico que vitimou os Skripal a 4 de Março passado.

Mas o que tem sido abundantemente recordado pelos media são as declarações de Boris Johnson feitas ao canal de televisão Alemã Deutsche Welle a 20 de Março, em que afirma que lhe foi pessoalmente garantido por esse responsável máximo dos laboratórios de Porton Down que o agente tóxico era originário da Rússia. “ Eu próprio perguntei pessoalmente ao tipo 'tem a certeza?' e ele respondeu que não tinha a mínima duvida “.


http://www.dw.com/en/boris-johnson-russias-position-in-skripal-case-is-increasingly-bizarre/a-43043873


Logo é impossível não concluir que Ministro dos Negócios Estrangeiros foi no mínimo liberal no respeito pela verdade quando disse o que disse.
A linha de defesa do Governo é agora afirmar que possui “outras provas”, além da origem do novitchok ter sido a Rússia,  que dão a certeza ter sido Putin o autor do crime. Infelizmente para nós não podem ser reveladas sem comprometer a “fonte” das informações, que devem permanecer confidenciais. Acaba assim por ser uma questão de fé acreditar ou não no que diz Theresa May.

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Lord Sugar

31/3/2018

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                                              INFAMIA

O hoje multi-milionário Lord Sugar, individuo que teve porém um berço bem modesto, tornou-se famoso por ser a figura principal do programa de televisão “The Apprentice”, o mesmo que na sua versão Americana deu notoriedade a Trump. Militante do Partido Trabalhista demitiu-se, já imensamente rico, em 2015 quando Jeremy Corbyn foi eleito líder por, segundo disse, este não ser suficientemente amigo “dos negócios”.

Desde aí não há insulto, não há calunia que não bolse sobre Jeremy. Quando se pensava que não poderia descer mais baixo eis que publicou ontem no Twitter esta foto-montagem.
Pergunta-se: Quem é o fascista aqui ?

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Perguntas

27/3/2018

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                                           PERGUNTAS


“Quando a Rússia invadiu a Ucrânia e ocupou a Crimeia em 2014 foi altamente criticada pelos media Americanos, assim como quando interveio na Síria no ano seguinte. Agora imaginem o que não se diria do país de Putin se, quase 17 anos depois de declarada a “Guerra Global ao Terrorismo”, as tropas Russas, as suas forças de operações especiais, a sua aviação e drones, estivessem ainda envolvidas em operações militares em pelo menos 8 países do Médio Oriente e de África: Afeganistão, Iraque, Líbia, Níger, Paquistão, Somália, Síria, Yemen e, já agora, se quiserem juntar à lista, as Filipinas.


“Imaginem as indignadas primeiras páginas e as aberturas dos telejornais que teríamos se a Rússia, década e meia depois de ter iniciado essa guerra global sem fim, continuasse com a destruição, o caos, os mortos e os refugiados que ela causava. Imaginem a enorme indignação, e como a Rússia, uma das grandes potencias mundiais, seria classificada pela comunidade internacional por estar envolvida nesse conflito sem solução. Em Washington os protestos seriam de uma violência nunca vista, a linguagem usada de uma dureza inédita, e as criticas ferozes e sem descanso...”


Tom Engelhardt - in     www.Tomdispatch.com



Tom é um Americano autor do blog Tomdispatch e Fellow do Nation Institute e Teaching Fellow na Graduate School of Journalism da University of California-S.F. (Berkeley)
Segundo Tom, o blog Tomdispatch pretende ser um antídoto eficaz para a informação veiculada pelos media de grande circulação, e por essa razão tornou-se de leitura obrigatória.


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Cui Bono

24/3/2018

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                                          CUI BONO ?


“...identidem in causis quaerere solebat, cui bono fuisset ? ”
“ O famoso Lucius Cassius, aquele que o povo de Roma tinha na conta de ser um honesto e sábio Juiz, tinha por hábito perguntar vezes sem conta: A quem aproveita ? “



Estas palavras de Cícero chegam até nós quase dois mil anos depois de terem sido proferidas, quando este defendia o jovem Roscio Amerino que vinha acusado de assassinar o próprio pai.
Cícero começou as suas alegações finais chamando a atenção do Tribunal para a falta de provas que corroborassem a acusação, e a falta de motivo que levassem o réu a cometer o crime. Num discurso apaixonado, em que descreve uma trama de corrupção e intriga, Cícero apresenta em seguida Magnus e Capito como os únicos verdadeiros beneficiários pela morte do velho Roscius.

No final o jovem Roscio Amerino foi ilibado e saiu em liberdade. A defesa de Cícero ficou nos anais da Justiça e a sua pergunta tem hoje mesma força de então : Cui Bono ? A quem aproveita ?


A 4 de Março passado um ex-espião Russo e a filha foram vitimas de uma tentativa de assassinato na belíssima cidade de Salisbury, no Sul de Inglaterra. Podemos afirmar com toda a certeza que o crime não aproveita nem ao povo Britânico nem ao povo Russo. É também muito difícil encontrar uma narrativa credível que culpe um dos Governos pelo acontecido, sem que se saiba que proveito poderiam dele tirar.
Quem gosta de Filosofia está preparado para lidar com perguntas, talvez melhor do que com respostas. Respostas é o que os leitores não encontrarão na breve resenha dos acontecimentos que aqui se faz. Fica ao cuidado de cada um tentar encontra-las.



Em 1993, Sergei Skripal, Coronel do GRU, o serviço de informação militar da Rússia, é colocado na Embaixada de Madrid. Pouco tempo depois é contratado como espião pelo serviço secreto Britânico MI6. A troco de elevadas quantias começa a passar informação confidencial que irá comprometer a segurança de dezenas de colegas seus que operavam no Ocidente.
Regressado a Moscovo continua a sua actividade de espião até 2004, altura em que é descoberto pela contra-espionagem Russa e preso. Julgado em 2006 é condenado a uma longa pena de prisão.
Em 2010 é feita uma troca de espiões. Desta vez não no Checkpoint Charlie em Berlim, como no auge da guerra fria, mas no aeroporto de Viena. Skripal faz parte dessa troca e vem a estabelecer residência em Inglaterra.
A troca de espiões obedece a um protocolo que foi sempre respeitado por ambos os lados desde o final da II Guerra, protocolo esse que garante imunidade vitalícia aos espiões que tenham sido objecto de troca.



Skripal compra uma casa na cidade e vive abertamente sob o seu nome verdadeiro. Junta-se-lhe a Mulher, que vem a morrer de cancro em 2011. O filho vem também a falecer em 2017 de causas naturais. Estão ambos sepultados num dos cemitérios de Salisbury. Em Moscovo fica a filha, Yulia, que visita regularmente o Pai. Nada parece poder perturbar esta normalidade até ao começo deste mês.

A 3 de Março a filha chega de Moscovo para uma habitual visita.
No dia seguinte, 4 de Março, ambos usam o carro de Skripal para se dirigirem ao centro de Salisbury. Às 13.40 o BMW é deixado no parque de estacionamento do supermercado Tesco. Caminhando dirigem-se a um Pub que está curta distancia e onde tomam uma bebida. Também perto está o restaurante italiano Zizi onde chegam às 14.20. Tomado o almoço saem do Restaurante às 15.35. A pé dirigem-se a um parque distante apenas alguns minutos. Às 16.15 são encontrados inconscientes num banco desse parque. Um policia que lhes tenta acudir é contaminado pela mesma substancia tóxica e também em estado critico é levado para o hospital ao mesmo tempo que os Skripal,.
Os médicos não conseguem identificar o agente tóxico que os vitimou. Uma amostra é levada para o ultra secreto centro para a guerra química do Exercito situado em Porton Down, localidade que fica a curta distancia de Salisbury.

A 5 de Março o deplorável Boris Johnson, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Grã-Bretanha, menciona pela primeira vez a Rússia como a “possível” culpada pelo atentado.

Dois dias depois, a 7 de Março, vem a confirmação dos laboratórios de Porton Down que se trata de um “nerve agent” chamado novichok, o que em Russo quer dizer “o recém chegado”.


Até agora os mais letais agentes tóxicos conhecidos que actuam sobre o sistema nervoso central, e que podem apresentar-se sob a forma liquida, em pó ou gás, eram o Sarin, descoberto na Alemanha nos anos trinta, o VX desenvolvido nos anos cinquenta precisamente em Porton Down, e o novichok que foi sintetizado na década de setenta na antiga União Soviética. A informação disponível diz que este ultimo é cerca de seis vezes mais letal que o VX, que por sua vez será muitas vezes mais mortal que o Sarin. A mesma informação afirma que o novichok é indetectavel, e que contra ele são ineficazes os mais sofisticados meios de defesa: Nem mascaras nem fatos protectores oferecem garantias de escapar a uma morte quase instantânea a quem seja exposto à sua acção.
Temos um exemplo recente da acção destes agentes tóxicos quando Kim Jung-nam, o irmão de Kim Jung-un, o líder da Coreia do Norte, foi morto em 13 de Fevereiro de 2017 no aeroporto de Kuala Lumpur. Sabe-se que aqui foi usado o VX e que, embora a vitima tivesse consigo 12 ampolas auto-injectaveis de atropina, a morte foi demasiado rápida para que pudesse recorrer ao antídoto.




No dia 12 chegam cerca de 200 militares de um Regimento especializado em guerra química com o respectivo equipamento. O publico é aconselhado a lavar toda a roupa e aquela que normalmente seria limpa a seco deve ser encerrada em sacos de plástico bem fechados.

No mesmo dia a Primeira-Ministra discursa no Parlamento acusando a Rússia de ser “muito provavelmente” responsável pelo ataque em Salisbury. Theresa May faz em seguida um ultimato ao Governo Russo dando um prazo que terminaria às 24 horas do dia seguinte para que desse explicações cabais sobre os acontecimentos.


A 13 de Março são já 1000 os elementos do Exército e das forças de segurança em acção em Salisbury, que fica em estado sítio, com até as campas dos familiares de Skripal a serem investigadas. Ultrapassado o prazo dado à Rússia, e sem resposta satisfatória, Theresa May decreta a expulsão de 23 diplomatas russos, (que diz serem na realidade “espiões”), e o boicote pelos membros de Governo e pela Família Real ao campeonato do Mundo de futebol a realizar no próximo Verão em Moscovo. Alguma Imprensa compara May com Margaret Thatcher, escrevendo que os acontecimentos de Salisbury serão para a primeira o que a guerra das Malvinas foi para a segunda.


Entretanto as investigações prosseguem : Vem a saber-se que foram encontrados vestígios do agente tóxico no Mill Pub, o local da primeira paragem dos Skripal no centro da cidade, e que a mesa em que almoçaram no restaurante Zizi estava de tal maneira contaminada que teve de ser destruída. É portanto possível concluir que as vitimas foram atacadas antes das 13.50, hora de chegada ao Pub, e que decorreram cerca de 2h15 até ficarem inconscientes no banco do parque. Ganha peso a hipótese de o agente tóxico ter sido colocado no sistema de ar condicionado do carro e que tenha sido trazido de Moscovo pela própria filha de Skripal. Com este timeline passa a ser admitido que o agente tóxico usado teria de ser um novo tipo de novitchok até agora desconhecido e de acção lenta.
No dia 18 Vladimir Putin é reeleito Presidente da Federação Russa, resultado esperado uma vez que sondagens feitas antes destes acontecimentos lhe davam 65% de intenções de voto, tendo acabado por receber 75%.

Imediatamente, e como retaliação pela medidas tomadas pelo Governo Britânico, decreta a expulsão de 23 diplomatas, (não é feita referencia se verdadeiros, se falsos), o fim das actividades do British Council e o fecho do Consulado em S. Petersburgo.
A 19 Theresa May pede o auxilio da Nato dizendo estar o país a ser vitima de agressão externa. É porém considerado não estarem reunidas as condições previstas no Artº 5 da Aliança e o pedido não tem seguimento. Recebe no entanto o apoio de Merkel e de Macron. O policia que tinha tentado ajudar os Skripal tem alta do Hospital.

A 21, o inenarrável Boris Johnson diz num discurso que Putin é o novo Hitler, e que os acontecimentos de Salisbury são equiparáveis ao incêndio do Reichstag de 1939, que serviu de pretexto para a invasão da Polónia. Para os Russos, com os seus 25 milhões de mortos combatendo os Nazis, não pode haver insulto mais infame. Para os Britânicos é a demonstração que não há baixeza que Boris não seja capaz, e vergonha a que nos poupe.

A 23 reúnem-se os chefes de Estado e Governo em Bruxelas. São aprovadas as mais importantes medidas pedidas por May, e a passagem à fase final das negociações sobre o Brexit é aprovada. Os 27 países afirmam o seu apoio ao Reino Unido e a sua condenação da Rússia por ser, nas palavras da Primeira-Ministra, highly likely responsável pelo envenenamento dos Skripal.

Em Salisbury os investigadores voltam a pesquisar o carro das vitimas e o banco do parque onde foram encontrados inanimados vinte dias antes é cuidadosamente removido para voltar a ser inspeccionado. O publico é mais uma vez aconselhado a lavar as roupas que tenham sido usadas na altura dos acontecimentos.

Isto Não é uma Conclusão



Com o colapso da União Soviética, e com o caos que se seguiu, no Ocidente houve o temor que as armas químicas caíssem nas mãos de terroristas. Segundo vários analistas os receios eram fundados, com as instalações onde se fabricavam a serem meramente abandonadas por falta de pagamento aos funcionários. Uma das maiores dessas instalações, que era responsável pelo fabrico do novichok, estava situada em Shikhany, na Rússia Central, sendo o produto depois armazenado e testado em Nukus, no Usbequistão. Na confusão geral, e sem meios próprios, os Russos aceitaram a que fossem os Americanos a neutralizar e a descontaminar esses depósitos.

Uma história parece dar credibilidade à possibilidade de algum desse agente tóxico ter acabado em mãos erradas: Em 1995 um magnata Russo chamado Ivan Kivelidi e a sua secretária foram envenenados por um desses agentes tóxicos que tinha sido colocado no telefone do escritório. Um sócio acabou por ser admitir ter comprado essa substancia através de um intermediário, que por sua vez o teria adquirido a um funcionário de um laboratório estatal envolvido no fabrico do novichok. Esse funcionário, de nome Leonard Rink, admitiu vender essas substancias a fim de pagar dividas.
O próprio cientista que chefiou a equipa responsável pela criação do novichok, Vil Mirzayanov, desertou nos anos 90 para os Estados Unidos onde continua de boa saúde, tendo feito recentemente declarações publicas sobre o assunto. Não parece credível que não tenha partilhado com os seus anfitriões os segredos da profissão.

Em 2017 o Governo da Federação Russa declarou que o seu programa de desenvolvimento armas químicas, que estava parado desde 1992, tinha chegado ao seu termo com a destruição dos últimos stocks existentes. Apresentava um documento passado pela OPCW,(Organisation for the Prohibition of Chemical Weapons), atestando a veracidade da afirmação. Esta OPCW é uma organização internacional sediada na Haia que representa os 192 países signatários do Tratado que proibiu as armas químicas, e que compreende 98% da população do Planeta. No seu site, https://www.opcw.org, pode ser encontrada abundante informação sobre a sua actividade, incluindo o seu envolvimento desde há poucos dias na investigação sobre a origem do produto que envenenou os Skripal. Segundo a OPCW, até hoje foram destruídas 72.304 toneladas métricas de agentes químicos, representando 96% dos stocks declarados, feitas 6.785 inspecções a 3.170 instalações ligadas à produção de armas químicas, bem como a outros 3.615 locais possuindo industrias com possibilidade de estarem envolvidas nessa actividade.



Muitas têm sido as teorias vindas a publico sobre quem foi responsável pela tentativa de assassinato dos Skripal, naquilo que é, afinal, a mais importante das questões. Umas são delirantes, outras não tanto.
Uma diz terem sido os Estados Unidos os autores através de uma hiper secreta organização por estar o Mr. Skripal a coligir um dossier que provava as ligações perigosas de Trump à máfia Russa.
Outra aponta para a Ucrânia por esta estar interessada em isolar a Rússia e em destruir a reputação de Putin, ganhando assim apoios no Ocidente para combater os separatistas pró-Russos.
Prodígio de imaginação é a que aponta o dedo aos adversários do Brexit: Com a ameaça Russa a Grã-Bretanha não poderia ousar ficar isolada dos aliados europeus, que em tão boa hora lhe deram incondicional apoio. Fim do Brexit portanto.
Mas, para mim, o prémio vai para as declarações feitas em Moscovo por uma familiar dos Skripal. Segundo ela a jovem Yulia estaria noiva de um jovem oficial dos Serviços Secretos que pertenceria a uma poderosa família da nomenclatura, família essa que veria com muito maus olhos ter no seu seio a filha de um traidor. Yulia, e não o Pai, seria assim o verdadeiro alvo do atentado.


Neste ambiente de informação e contra-informação, de intoxicação colectiva, sobressaem as palavras de Jeremy Corbyn no Parlamento, e que foram recebidas com vaias pela Direita:
“ Adiantar-mos-nos às provas que ainda são procuradas pela Policia, nesta atmosfera febril que tomou conta do Parlamento, não serve nem a Justiça nem a segurança nacional”
“Nos meus longos anos de Parlamento tenho visto como, durante crises internacionais, o pensamento sensato e racional pode ser submergido pela emoção, levando a que se tomem decisões apressadas”
“Informações falsas e relatórios manipulados levaram à calamidade da invasão do Iraque:”

Portanto regressemos à pergunta inicial: Cui bono ? A quem aproveita ?

À Rússia, que tem tropas da Nato estacionadas a menos de 100 quilómetros de S. Petersburgo e cujas forças armadas são 1/10 das da Aliança e cuja economia é do tamanho da Itália ? Acho que teremos de procurar melhor.


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