Comam Lamborghinis !
Acontece que muitos trabalhadores e suas entidades patronais contribuem com montantes variáveis, dependendo de acordo mútuo, para um fundo de pensões, contribuições essas que beneficiam de estímulos fiscais importantes.
Uma vez chegada a idade da reforma o valor acumulado era usado na compra de uma anuidade cujo valor dependia obviamente do capital disponível. As regras estipulavam que apenas uma pequena parte podia ser levantada em numerário.
Agora, num passe de mágica para uns ou golpe de génio para outros, não contando com aqueles que classificam a medida de irresponsável e oportunista, os reformados podem de uma assentada levantar todo o dinheiro amealhado durante uma vida de trabalho.
Genial, dizem, como George Osborne conseguiu uma medida que injectará na economia instantaneamente uma soma astronómica, aumentando a procura interna e as receitas fiscais, e sem aumentar o deficit das contas públicas num único penny !
Oh Ignomínia! Clamaram os conservadores : Como é possível por em causa a sensatez dos nossos pensionistas, modelos de parcimónia, pilares da Sociedade ?
Mas a lebre estava lançada o que fez com que o ministro das pensões, Steve Webb, viesse publicamente declarar que não estava preocupado se alguns reformados gastassem a sua pensão na compra de um Lamborghini. Nestas coisas há sempre uma espécie de justiça divina que faz com que, de um momento para o outro, os aplausos se transformem em escárnio e não se falando noutra coisa senão nos Lamborghinis dos reformados , ao custo unitário de cerca de £ 300.000 , o inefável Boris Johnson, o desgrenhado Mayor conservador de Londres, juntou-se à festa afirmando que “ ...se os velhos tontos acabarem dentro de um Lamborghini cheio de ferrugem a comerem comida de cão, o problema é deles ! “
Marina Hyde, uma conhecida jornalista, aproveitando a famosa frase, (embora provavelmente apócrifa), de Maria Antonieta “Comam brioches !” , publicou um artigo precisamente sob o título “Let them eat Lamborghinis !”
No meio disto tudo deu pena ver o líder dos Trabalhistas Ed Miliband e o seu Chanceler-sombra Ed Balls a andarem em bicos dos pés por este terreno minado tentando desesperadamente parecerem não se opor à “liberdade” dos pensionistas para gastarem o seu dinheiro conforme entendessem, mas sem ao mesmo tempo caucionarem a medida.
Foi talvez Frances O'Grady, Secretário da Central Sindical TUC quem mais claramente definiu o que é importante : “ Os reformados o que realmente precisam é de uma pensão que ofereça garantias e pague um montante regular e seguro e não de uma que, se acaso tomarem as decisões menos correctas, os faça acabar a comer comida de cão.”