A Gazeta do Middlesex

Em Bruxelas...

22/10/2017

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                    A  GAZETA  DO  MIDDLESEX

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                         EM BRUXELAS, NA SEMANA PASSADA


com uma vénia a John Crace

Theresa May estava na sua posição habitual à volta de uma mesa em Bruxelas: Sozinha. Sentada, com os ombros descaídos, tentava capturar a atenção das quatro plantas que estavam à sua frente. Depois de vários minutos de silencio desconfortável perguntou : ”Como é que acham que as coisas correram ?”

“Podia ter sido pior”, respondeu a Planta Nº1 .“Pelo menos concordaram em iniciar conversações sobre o inicio das conversações, lá para depois do Natal.”

“Pode ser que sim,” respondeu Theresa com um ar tristonho. “Mas hoje não estamos nem por sombras perto do que eu estava esperançada que estivéssemos. Mesmo que passemos à fase seguinte, como é que iremos completar o acordo de comércio em apenas oito meses ? É que levou-nos a melhor parte de seis meses só para decidir em como dividir a conta do jantar.”
“Olha para o lado positivo,” interrompeu a planta Nº2, tentando animar a Primeira-Ministra, “Pelo menos ninguém desta vez foi abertamente desagradável contigo...”
“Eles o que têm é pena de ti,” comentou a Planta Nª3, o que não foi grande ajuda. “Eles sabem o inútil que és e o que os preocupa é que se fores despedida sejas substituída por alguém ainda pior.”
Nesta altura a Planta Nª4 deu a conversa por encerrada. O plano de fazer aumentar a confiança de Theresa tinha falhado miseravelmente. “Estás já meia-hora atrasada para a conferencia de Imprensa,” observou, “E não podes ignorar os jornalistas na esperança que eles se vão embora. Vai lá e limita-te a dizer algo curto e sem sentido e depois podes-te pirar para casa e descansar os pés durante o fim de semana.”
Pela primeira vez em alguns dias Theresa animou-se um pouco. Dizer umas frases curtas e sem sentido era tudo o que era capaz. Levantando-se da cadeira dirigiu-se para o auditório. “Obrigado plantas,” disse ao sair.”Vocês foram bestiais.”

A Primeira-Ministra subiu ao palco e começou a falar. A reunião do Conselho da UE tinha sido um grande sucesso porque não tinha sido um grande fracasso. O Reino Unido apreciava realmente tudo o que a UE tinha para oferecer. Mas não o suficiente para querer continuar como membro. Tudo estava a correr fantasticamente bem, excepto nalguns assuntos mais bicudos cuja solução dependia de aparecer alguém com uma solução construtiva.

Alguns repórteres tentavam não bocejar. Já tinham ouvido aquilo dezenas de vezes. Parecia um disco partido. Theresa apressou-se a terminar. Um acordo sobre os direitos dos cidadãos da UE residentes na Grã-Bretanha estava próximo, mas ninguém fazia a mínima ideia em como evitar uma fronteira física entre a Republica da Irlanda e a Irlanda do Norte se o Reino Unido saísse da União Aduaneira, e quanto à quantia pagar pelos compromissos assumidos… a sua voz acabou num murmúrio ininteligível . Nunca chegou a fornecer detalhes sobre algum acordo, se é que tinha havido um, sobre essa questão.
Como Theresa temia tudo o que os media estavam interessados era precisamente na questão do dinheiro. Seria que ela tinha dado em privado garantias aos outros líderes da UE em como estava preparada em pagar muito mais do que os vinte biliões que já estavam em cima da mesa ? Um ar de pânico transpareceu-lhe na cara. Claro que tinha ! Não tinham todos sido muito mais simpáticos com ela ? Mas é claro que não podia dizer isso em publico sem que os seus Ministros defensores do Hard Brexit ficassem malucos de todo.
Como sempre acontecia quando se via em apuros Theresa começou a falar numa língua muito própria:
“Fui bem clara sobre o que disse que disse,” disse ela. Iria pensar sobre a questão dos compromissos financeiros quando fosse necessário pensar sobre a questão dos compromissos financeiros.
Estando o Ministro responsável pelo Brexit admitindo a possibilidade de não haver acordo com a UE, não deveria o sector dos negócios preparar-se também para esse cenário ? Não. Ela tinha sido muito clara que o seu objectivo era conseguir um bom acordo que poderia tornar-se num não acordo. Era demasiado cedo para dizer.
Quando a Primeira-Ministra examinar parcela a parcela, como prometeu, a conta apresentada pela UE, será possível chegar então à conclusão que a quantia a pagar seja mesmo de 60 biliões de Libras ?
“Fui muito clara sobre o processo de verificar as contas parcela a parcela”, murmurou. O Inglês não é positivamente o seu forte.
Muito embora tivesse conseguido reduzir a conferencia de imprensa a uns meros 15 minutos Theresa começou a sentir que a sua apresentação começava a desconjuntar-se. Apressou-se a responder à única pergunta que não era sobre o Brexit:
O que é que pensava sobre a Catalunha ?
Imediatamente Theresa relaxou um pouco. Na realidade ela não se importava muito para que lado as coisas iam dar. Já tinha problemas que lhe chegassem.

“Sou muito clara que a posição Britânica é muito clara.” E com isto correu para a saída.

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