A Gazeta do Middlesex

Epifanias e mea-culpas

6/5/2017

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                                            EPIFANIAS  E  MEA-CULPAS



No passado dia 18 de Abril, uma terça-feira, e por volta das onze da manhã, a Primeira-Ministra saiu solene pela porta do Nº 10 de Downing Street e, dirigindo-se a um púlpito previamente colocado no local, falou ao povo participando às gentes atónitas que iria convocar eleições para o próximo dia 8 de Junho.

Quando digo que as gentes ficaram atónitas não uso uma hipérbole para classificar o sentimento geral : Mesmo na semana anterior Theresa May tinha garantido que jamais daria esse passo, uma das onze vezes em que repetiu publicamente a mesma promessa nos últimos meses: Definitivamente, irrevogavelmente, expressamente, peremptoriamente, um categórico não a eleições antecipadas. O que teria acontecido para tão dramático volte-face ?
E May explicou pacientemente, como quem fala às criancinhas, a razão da sua súbita mudança de posição. Contou ela que no Domingo dia 16, enquanto passeava nas montanhas do Norte do País de Gales, um sitio de esmagadora beleza natural, teve um súbito sobressalto espiritual e algo lhe disse para tomar essa decisão. Imaginemos a cena : A Primeira-Ministra caminhando só por entre aqueles vales profundos e montanhas majestosas, sem nada entre ela e o universo infinito, sem nada entre ela e o Criador , e de repente, zás!, como que um raio caído a seus pés fez-se-lhe luz no espírito: Habemus electiones !
Não foi Moisés que conduziu por quarenta anos através do Sinai o seu povo rumo à Terra Prometida ? Pois há coisas que estão fora do alcance do nosso entendimento, nós meros mortais que somos. Será excessivo comparar aquela terra onde corria o leite e o mel com a Grã-Bretanha após Brexit, e o malvado do faraó que escravizava o seu povo com a vil Comissão Europeia ? Responda quem souber, mas muitos nestas ilhas acreditam que isso é um facto.


Mas, na realidade, Theresa May não podia por si só convocar eleições antecipadas: Acontece que em 2011, durante o governo de coligação entre Conservadores e Liberais-Democratas e por iniciativa destes últimos, tinha sido aprovada no Parlamento uma lei conhecida como Legislatura Parlamentar a Termo Fixo que impedia que o Primeiro-Ministro pudesse dissolver a Câmara a seu bel-prazer e quando bem entendesse. Duas excepções eram porém contempladas e que permitiam antecipar o acto eleitoral: A derrota do Governo tendo apresentado uma moção de confiança, e o voto favorável a uma dissolução por, pelo menos, ⅔ dos Parlamentares.
Dada a composição actual do Parlamento eram necessários os votos dos Trabalhistas para que o anuncio de Theresa May não passasse de uma mera intenção, e afigurava-se, a todos nós militantes do Labour, que isso era uma impossibilidade total dado o estado de divisão interna vivido nestes últimos anos. Nomear 650 candidatos a Deputados, tantos quantas as circunscrições eleitorais, redigir e publicar o Manifesto Eleitoral o qual, contrariamente ao que se passa em Portugal com o Programa dos partidos, é bastante detalhado nas medidas com que se compromete tomar, planear a campanha circunscrição a circunscrição, tudo em menos de dois meses era obviamente impossível.


A expectativa era portanto que Jeremy Corbyn desse instruções aos seu grupo parlamentar para votar contra as eleições antecipadas, pondo assim fim ao projecto de Theresa May.
Razões para justificar o voto não faltavam : Afinal não afirmava a Primeira-Ministra que não autorizaria um segundo referendo na Escócia enquanto decorressem as negociações do Brexit, porque “isso seria dividir o país quando mais do que nunca era necessária unidade para que o Reino Unido obtivesse um bom acordo com Bruxelas.” ?
Afinal o que pode ser mais divisionista do que umas eleições gerais ?
Mas Corbyn, sem consultar ninguém, deu ordens ao grupo parlamentar para votar com os Conservadores para “ mostrar que o partido não tem medo das eleições”. Esta bravata irresponsável corre o risco de destruir o que resta do Labour e abrir a porta a um governo da direita com uma maioria reforçada, governo que dá mostra de tiques mais do que autoritários.
A mim, que apoiei Jeremyn Corbyn desde o primeiro minuto, resta-me o arrependimento e este mea culpa publico. Nada pior do que belos sonhos que acabam em destroços.



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