A Gazeta do Middlesex

Ethos Pathos Logos

3/1/2016

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                A  GAZETA  DO  MIDDLESEX



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                                ETHOS  PATHOS  LOGOS




                                    

Parece que as próximas eleições presidenciais em Portugal contam com um numero inusitado de candidatos o que, ao que julgo saber, impõe que se realizem cerca de quarenta (!) debates televisivos.

Para muitos isto é motivo de escândalo por menoscabar um acto tão sério como é o de eleger o Presidente da República ao dar palco a cidadãos quase anónimos e diluindo o essencial: Ajudar o eleitorado a conhecer melhor os que têm aparentemente algumas hipóteses de vitória.

Mas se uns são criticados por serem candidatos, apesar deles nada se saber, um outro é conhecidíssimo reinando por isso supremo nas sondagens, e de tal modo parece ser inevitável o seu triunfo que as eleições são tidas como um mero pro-forma. Falo naturalmente de Marcelo Rebelo de Sousa, aquele que ostenta um longo e exitoso passado de comentador televisivo, sendo de tal maneira popular que causa ressentimento nos outros por acharem que parte com uma vantagem injusta numa corrida em que se desejaria que todos fossem tratados com equanimidade.

Pode dizer-se que não haverá Português que não conheça Marcelo, mas será isso uma vantagem no momento de decidir o voto ? Conseguiu ele persuadir os eleitores ser mesmo a melhor escolha para Presidente?

Foi Aristóteles o primeiro a escrever um tratado precisamente sobre a persuasão, apontando ter ela três fases ou estágios:

À primeira chamou ethos, ou carácter. “ A persuasão é conseguida pelo carácter do orador quando fala de maneira que nos leva a pensar ser ele credível”. Ou seja, quem nos quer convencer fá-lo-á mais fácil e rapidamente se nos fizer acreditar ser uma pessoa honesta. É a questão clássica resumida na pergunta:”Compraria um carro usado a esse fulano ?”
Começam aqui os eleitores a ter muito o que avaliar: Demonstrou repetidamente Marcelo no passado ser um homem integro e de princípios, não tendo hesitado em enfrentar com clareza os interesses, quer da sua família política, quer os de pessoas das sua relações? O que é inegável é ter o candidato atravessado dias tempestuosos enquanto comentador. Lembro-me das durissimas medidas de austeridade, dos inúmeros casos de corrupção atingindo o topo do Estado, dos conflitos institucionais envolvendo Presidente, Governo e Tribunal Constitucional, das acusações gravíssimas sobre a idoneidade da Justiça. Esteve Marcelo à altura da sua responsabilidade como Professor de Direito e foi, pela firmeza do seu carácter e pela recusa de tergiversar no seu comentário aos casos mais bicudos, um verdadeiro compasso moral para quem o escutava na ânsia de encontrar um guia no negrume daqueles tempos?

Mas dar resposta a estas questões não basta: Defendeu Marcelo as suas posições com pundonor, apaixonadamente ? Viram nele os tele-espectadores uma pessoa que vivia intensamente os terríveis problemas do desemprego e da emigração dos jovens? Demonstrou Marcelo o pathos, a emoção, foi ele autentico quando comentou e disse sentir como seus tantos dramas humanos?

Resta o Logos, a Razão. Diz Aristóteles que quem queira ser bem sucedido na persuasão não pode abdicar da Razão, tendo de demonstrar que “raciocina com lógica, que entende os sentimentos humanos, que é capaz de discernir onde está o bem comum.”

Mas mais importante ainda é o facto de Logos nos incitar a fazer uma pausa e a reflectir sobre a decisão que nos espera.
Oxalá, feita essa reflexão, os Portugueses sejam felizes na sua escolha.

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Alcina Mila
5/1/2016 02:17:10 am

Como já nos habituaste este texto é excelente.

Consegues sem ofender ninguém pôr, pelos menos as cabeças mais empedernidas, a reflectir sobre este acto cívico que se avizinha.

Os debates, pelo menos os que vi, têm sido pouco interessantes, mas também por muita culpa dos jornalistas que revelam uma falta de nível impressionante.

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