A GAZETA DO MIDDLESEX
GUINÉ LISBOA
(...foi detido no Aeroporto de Lisboa quando se preparava
para abandonar o país o antigo Primeiro-Ministro
Português José Socrates, numa operação realizada com
grande discrição e que só foi conhecida horas depois ...)
Noutros tempos o preso teria sido conduzido à Rua António Maria Cardoso onde seria sujeito a longos interrogatórios, igualmente sem a presença do seu advogado. Devido ao que se passou fica hoje, como antigamente, inquinada a presunção que lhe será garantida uma boa defesa, aquela que só é possível quando a Justiça é universalmente respeitada por ser pronta, livre e isenta, garantindo ao acusado todos os seus direitos legais e de cidadania. O completo descrédito em que caiu a Justiça Portuguesa responde com clamor a esta questão.
Dizem os Jornais que a prisão preventiva de Sócrates pode ir até 2018, sem que seja lhe deduzida qualquer acusação, existindo aliás a possibilidade de esta ser prorrogada para além dessa data. Tendo sido levado para uma cadeia em Évora, irá assim o Povo Português ter de passar pela ignomínia de na planície alentejana vir existir uma espécie de prisão de Guantanamo à portuguesa?
Quem disse que os Tribunais Plenários pertenciam ao passado e que as medidas de segurança eram coisas sinistras de má memoria ?
Cui bono ? É a alocução latina que vem à memória. A quem aproveita? A quem aproveita que a prisão de Sócrates tivesse ocorrido de maneira a ter o maior impacto mediático possível obtendo os resultados políticos que se sabem? A quem aproveita que a certos media fossem fornecidas previamente informações, que estando protegidas por segredo de justiça em segredo deveriam ter continuado, e sem que isso tenha provocado no Ministério Público e no Juiz de Instrução o mínimo sobressalto?
A quem aproveita , apesar de não se vislumbrarem diferenças substantivas entre a gravidade dos crimes de que Sócrates é acusado e as dos que são imputados a outros: Salgado, Rendeiro, Oliveira e Costa, Duarte Lima e demais, que a Justiça seja com estes moralmente complacente e guarde o rigor apenas para o antigo Primeiro-Ministro?
Ler as caixas de comentários dos Jornais sobre este caso é ter uma desesperante medida de como a maioria do Povo Português pensa. Rápidamente tudo se tornou num jogo de futebol entre os que são contra e os que são a favor de Sócrates. Incapazes de reflectir sobre as coisas e de portanto formar uma opinião, a maioria atinge no futebol o nivel máximo a que intelectualmente é capaz.
Mas a outros pede-se mais, muito mais.
Ao Juíz Carlos Alexandre exige-se, por exemplo, que tenha presente que é perfeitamente possivel que alguém seja completamente culpado e que venha a ser julgado e condenado de uma forma completamente injusta.