A GAZETA DO MIDDLESEX
A principio foi só nas zonas ricas da cidade, mas pouco a pouco foram-se espalhando e hoje praticamente em tudo o que possa servir de refugio podem-se encontrar os espigões anti- sem abrigo.
Aqueles que caíram na miséria são os novos párias: Intocáveis, são agora forçados a serem também invisíveis, à medida que novas maneiras de esconder a pobreza que nos rodeia são adoptadas.
“Arquitectura defensiva” é como lhe chamam, como se um nome inócuo tornasse aceitável uma realidade horripilante. Essa “arquitectura” não é nem acidental nem irreflectida, mas sim produto de uma desumanização que foi pensada, planeada, aprovada e financiada com o propósito de excluir e agredir. Uma “higienização” do espaço público que passa uma mensagem clara: “vós, que verdadeiramente deixaram de ser membros da Sociedade, aqui não podem estar.”
Esta é o real objectivo da “arquitectura defensiva”: Fazer sentir aos nada têm, aos pobres entre os pobres, que na realidade não pertencem já ao género humano, que são inferiores, que são eles próprios responsáveis pelo abismo em que caíram e que por conseguinte podem ser enxotados como se fossem um bando de pombos.
“Só acontece aos outros” é o que querem que pensemos, mas reflectindo veremos que numa Sociedade em que se é encorajado em usar o crédito, começando pela compra de uma casa, basta uma situação de desemprego inesperada para nos tornarmos nós próprios “um deles” , tão ilusória era a segurança em que vivíamos.
É doloroso e desmoralizador ver alguém enrodilhado em mantas dormindo num portal com temperaturas negativas, alguém que foi uma dia também ele “um filho de sua Mãe.” É por isso que se querem que ignoremos esses dramas somos nós próprios os primeiros a não querer ver e que por isso esses espigões se tornaram num símbolo da nossa falta colectiva de generosidade de espírito.