A GAZETA DO MIDDLESEX
JEREMY
I
Ao meio-dia de hoje terminou a votação para eleger o líder do Partido Trabalhista: O resultado será conhecido no próximo Sábado.
É tida como certa a reeleição de Jeremyn Corbyn que a confirmar-se fará com que a vença por duas vezes num espaço de um ano.
O que nos levou até aqui é uma história que acho merece ser contada, onde a traição e a calunia mais vil ombrearam com generosidade, dedicação e esperança num futuro melhor, valores que deram origem a um movimento colectivo de inusitadas proporções:
Tudo começou com a derrota do Partido Trabalhista nas eleições do ano passado .Tínhamos então como líder Ed Miliband que com o seu irmão David tinham sido Ministros do Governo de Gordon Brown. Ed era altamente inteligente, (Oxford primeiro, um Ph.D. pela London School of Economics, a que se seguiu uma temporada em Harvard como professor de Economia), e possuía uma inatacável reputação de seriedade. Ed não tinha porém as qualidades que hoje são requeridas a um líder, nesta era de mediatização da política em que se exige aos que aspiram ao poder que sejam capazes de galvanizar audiências, mais do que possuir outros valores.
Venenosamente atacado por uma imprensa de direita, Ed ia-se saindo regularmente mal e no inicio de 2015 os sinais de alarme que soavam no Partido não podiam ser mais estridentes. Era porém tarde, dizia-se, para o substituir e como as sondagens continuavam animadoras todos fomos levados ao engano acreditando complacentes que um milagre eleitoral aconteceria. Não aconteceu. O resultado foi uma clamorosa derrota para os Trabalhistas e a primeira maioria absoluta em mais de vinte anos para os Conservadores. A Ed restava a demissão e a nós, militantes do Partido, a de elegermos um novo líder. E aqui aparece na história Jeremy Corbyn.
Até então a eleição do líder Trabalhista estava nas mãos do grupo parlamentar, (conhecido como PLP, Parliamentary Labour Party, em oposição ao CLP, Constituency Labour Party), CLP que engloba todos os militantes Trabalhistas. Mas Ed Miliband alterou as regras e o poder de eleger o líder passou largamente para o CLP. Aos Parlamentares cabia contudo fazer uma pré-selecção e ninguém podia ser candidato sem ser proposto por um minimo de 15% dos Membros do Parlamento, inclindo os MEP’s, (Membros do Parlamento Europeu), o que dava exactamente 39 proponentes necessários a cada candidato a candidato.
No dia em que encerravam as inscrições o PLP constatou que todos aqueles que iriam disputar a eleição eram da direita do Partido, a maioria Blairistas, o que não deixava de ser incómodo.
Num esforço de ultima hora para encontrar alguém da esquerda do Partido que compusesse o “ramalhete” houve quem se lembrasse do nome de Jeremy Corbyn, tido como esquerdista inofensivo e que poderia dar algum verniz a uma eleição tão mono-color.
E foi assim que Jeremy se viu catapultado para a ribalta, altura em que a nossa história verdadeiramente começa.
(continua)