A Gazeta do Middlesex

Maybot

23/7/2017

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                    A  GAZETA  DO  MIDDLESEX

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                                             MAYBOT

Se perguntarem a um Português o significado da palavra muito provavelmente não saberá, mas se a pergunta for dirigida a um Britânico ele sem hesitar responderá que é o nome pelo qual passou a ser conhecida a Primeira-Ministra da Grã-Bretanha : May, do seu apelido, a que se juntou a ultima silaba da palavra robot.
Um ser destituído de sentimentos e emoções, frio e distante, muito pouco ou nada humano portanto.
No entanto quando a 18 de Abril passado Theresa May convocou inesperadamente eleições, contradizendo repetidas promessas suas que jamais o faria, a sua marcha parecia imparável: O Partido Trabalhista estava dilacerado por dois anos de lutas internas e Jeremy Corbyn era ridicularizado, até mesmo por muitos dos seus companheiros de Partido. As sondagens sobre a popularidade de May e de Corbyn mostravam que a Primeira-Ministra cavalgava uma onda de aprovação inédita, como inédito era o abismo da rejeição sofrido por Corbyn.

A campanha foi curta, de apenas seis semanas, e nunca na história política do Reino Unido, o principal Partido da oposição entrou na luta sem a mínima convicção na vitória, com os Conservadores a terem uma vantagem sobre os Trabalhistas que chegou a ser de 24 pontos. Mas May começou por tentar justificar a nova ida às urnas afirmando que “ Com o país unido no projecto do Brexit, era necessário unir o Parlamento e os políticos na prossecução desse objectivo”, afirmação que constituía ao mesmo tempo uma meia mentira e uma meia verdade: Mentira porque o país não podia estar mais desunido no que tocava ao “Hard Brexit” proposto, e verdade porque o real objectivo era varrer a oposição do Parlamento e a destruição final do Partido Trabalhista, passando os Conservadores de uma pequena maioria de 17 deputados para uma, que seria esmagadora, de cerca de 200.

Mas a campanha de May foi deplorável. Altiva, com os tiques autoritários que se lhe conheciam desde os tempos em que era ministra de Cameron, recusou-se terminantemente a participar nos debates televisivos, o que foi considerado uma falta de respeito pelo eleitorado. Tal era a certeza de uma vitória retumbante que no manifesto eleitoral não houve a preocupação de disfarçar ao que vinham: Cortes e mais cortes, no Ensino, na Saúde, nos apoios Sociais aos deficientes e mais pobres, culminando com o incrível “Imposto sobre a Demência”. Com os eleitores tradicionais dos Conservadores em revolta aberta, quatro dias depois de publicado o Manifesto, Theresa May teve que voltar atrás e revogar essa medida ao mesmo tempo que, numa entrevista à BBC, garantia atabalhoadamente não ter havido qualquer mudança, numa prestação publica como não há memória de tão patética que foi.

E lá se foi o slogan em que se baseava toda a campanha eleitoral dos Conservadores completamente centrada na figura da Primeira-Ministra, aquela que dizia “garantir uma liderança forte e segura” e que se descrevia a si própria como sendo “A bloody difficult woman.” (Traduzindo livremente para Português: “Uma mulher estuporadamente difícil !). Aliás, com as negociações para o Brexit a começar sem que o Governo tenha qualquer plano, ou mesmo um esboço de plano, sobre o que quer da UE, como é possível que Theresa May venha garantir a tal liderança forte e segura se não faz a mínima ideia do rumo que terá de tomar se quiser evitar que o resultado do Brexit se torne numa verdadeira calamidade nacional ?

Em contrapartida a campanha de Jeremyn Corbyn foi feita com entusiasmo e convicção criando uma onda de apoio popular que varreu o país de Norte a Sul e que foi capaz de mobilizar uma geração inteira de jovens. Os números da Comissão Eleitoral mostram que, entre o dia 18 de Abril e o dia das eleições a 8 de Junho, se inscreveram nos cadernos eleitorais 1.9 milhões de jovens com menos de 34 anos.

É verdade, como é apontado tantas vezes pelos apoiantes da Direita, que afinal de contas Jeremy Corbyn perdeu e não ganhou as eleições, (ficou a 4% de distancia), mas é bom lembrar, como alguém uma vez disse, que há derrotas que são mais gloriosas que muitas vitórias. Esta, nas condições em que se travou o combate político e por ter conseguido retirar a maioria aos Conservadores, cabe inteiramente nessa classificação.


Portanto esta é a realidade presente: Um governo que tem à frente uma Primeira-Ministra cuja autoridade desapareceu por completo e cujos Ministros conspiram abertamente uns contra os outros e com o todo importante Chanceler do Tesouro a queixar-se publicamente que tem colegas a transmitir aos media o que se passa nas reuniões no Nº 10. Um Governo que se desintegra um pouco mais todos os dias e que tem um bobo como Ministro dos Negócios Estrangeiros o qual afirmou recentemente , na questão da verba a pagar à UE pelo Reino Unido devido a compromissos assumidos, que “vão receber ao Totta !”



Como é possível chegar a este ponto ? Onde está o sentido de Estado e a sabedoria capaz de nos guiar nesta hora ? Como é possível não sentir angustia quando se pensa no futuro ?


Em 1937, muito antes portanto do eclodir da guerra, Winston Churchill teve a sabedoria de antever ao perigo que se avizinhava e de denunciar o erro da política de apaziguamento de Chamberlain em face à ameaça de Hitler. Escreveu ele:
“Parece que vamos lentamente à deriva sem nos determos, contra a nossa vontade, contra a vontade de todas as raças e de todos os povos e classes sociais, e de encontro a uma catástrofe medonha. Todos querem que paremos, mas não sabem como.”

Guardadas as devidas distancias, como pensando no Brexit não desejar que pare ?







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