Imperador
Marcus Aurelius
(121 AD - 180 AD)
MEDITAÇÕES
2- Eu nada mais sou que um pouco de carne e um pouco de espírito com o poder da Razão a regular tudo isso. Não dês importância aos livros, não passam de uma distracção. Em vez disso, como se estivesses à beira da morte, despreza o teu corpo carnal : Sangue viscoso, ossos, um emaranhado de nervos, veias, artérias. Considera aquilo que o espírito é : Apenas ar, e nunca o mesmo ar, inspirado num instante para ser novamente expirado. Finalmente a Razão : Pensa desta maneira : És um homem velho, é tempo de impedires que a tua mente seja escravizada por impulsos egoístas, que lute contra o destino, contra o presente e que tema o futuro.
3- Tudo depende dos desígnios da Divina Providencia; mesmo os caprichos da sorte têm o seu lugar no grandioso esquema da Natureza. A Divina Providencia é a fonte de tudo o que flui, tudo está ligado num intrincado tapete do qual fazes parte, pois és parte do Universo.
E tudo aquilo que é necessário para o bem do todo, o que esse todo faz para seu próprio bem, é igualmente benéfico para todas as suas partes. E o que mantém a integridade desse todo é a mudança – das coisas e elementos que o compõem, sejam eles básicos ou grandes formações. E esta verdade deve ser suficiente para ti; Encara-a como um axioma.Portanto cessa esse teu desejo pelos livros para que não morras amargurado mas para que o faças na verdade e na alegria, grato aos deuses do fundo do teu coração.
4- Pensa nos muitos anos em que foste adiando decisões, tolhido pela indecisão; e como os deuses te concederam sucessivamente períodos de graça que não aproveitaste. É tempo de entenderes a natureza do Universo a que pertences e a do Poder absoluto de que és filho; e perceberes que o teu tempo tem nele gravado um limite. Usa-o portanto para te tornares mais esclarecido; ou ele passará e jamais estará de novo ao teu alcance.
5- Quer vivas três mil anos, ou mesmo trinta mil, lembra-te que a única vida que podes perder é aquela que estás a viver no presente instante; e que além disso nunca poderás perder outra senão esta. Isto significa que a vida mais longa e a mais curta valem o mesmo. O minuto que passa é igual para todos, e a sua perda é limitada a esse momento pois ninguém pode ser privado do que já passou ou do que ainda não aconteceu. Não pode ser-nos tirado o que nunca foi nosso.
São duas as coisas que não deves esquecer :
A primeira é que desde o principio dos tempos os ciclos da criação repetem-se imutávelmente, e portanto não haverá diferença ver o mesmo espectáculo durante cem ou duzentos anos, ou para sempre.
A segunda é que para aqueles que irão morrer não interessa que tenham tido uma vida longa ou curta pois a sua perda será igual porque só o presente é que é realmente nosso e não se pode tirar a um homem o que ele nunca possuiu.