O Animal Politico
Uma Anatomia

Paxman, ou Paxo como é popularmente conhecido, faz parte dum grupo de jornalistas tão peculiar a estas ilhas, os quais levam muito a sério o papel que a si próprios atribuíram de serem os defensores da decência na vida pública.
Possuindo todos um faro infalivel, não há esqueleto que não farejem por muito bem trancado que esteja o armário. E quando isso acontece atacam como uma alcateia de lobos e não há afinidades ideológicas ou partidárias que os travem, e os prevaricadores acabam sempre por ser sugeitos à execração pública. Paxo tem mesmo a honra de ter dado origem a uma nova palavra do vocabulário, pois diz-se que alguém foi paxoed quando foi públicamente exposto no pelourinho como autor de alguma quebra de ética.
Para a tarefa Paxman está particularmente bem equipado senhor como é de uma personalidade, por assim dizer, robusta, o que o levou a aguentar até agora incólume 25 anos ininterruptos como apresentador do programa da BBC NewsNight, onde são entrevistados politicos de todas as cores e feitios. Uma dessas entrevistas é aliás ainda hoje recordada com deleite pelos adversários politicos da vitima : Tratava-se de Michael Howard, Barão de Lympne e conselheiro da Raínha, ao tempo também líder do partido conservador e que teve a insensatez de tentar responder com evasivas a uma pergunta, o que fez com que Paxo a repetisse doze vezes seguidas. Não é por acaso que ele tem a alcunha de Rottweiler.
Outro insensato foi nada mais nada menos que o Primeiro-Ministro David Cameron que anunciou impante o programa para este ano das comemorações do centenário do inicio da 1ª Guerra Mundial, (ao custo da bagatela de 54 milhões de libras), o que fez Paxman saltar a terreiro afirmando que só um completo idiota poderia ter a ideia de festejar o inicio de uma guerra onde morreram 750.000 soldados britânicos e onde outros tantos foram feridos e estropiados, o que causou um autentico ataque de nervos aos conservadores sobretudo porque, no intimo pelo menos, é dificil não concordar com ele.
Mas algo de bom resultaria desse longo convivio de Paxman com a classe politica, naquela que foi certamente muitas vezes uma relação penosa e sofrida, mas que resultou em conhecimentos para poder dissecar o animal politico com um afiado bisturi, usado aliás com aguçada perspicácia pelo Autor.
Pode alegar-se que teve a observação cientifica dos animais da espécie facilitada pelo seu diminuto habitat, que se restringe às camaras do parlamento, aquele pequeno rectangulo à sombra do Big-Ben, onde tudo se passa, palco onde se representa drama e comédia e às vezes farsa também, e onde é levado à cena natural e principalmente Shakespeare . A peça “The Comedy of Errors” é ali muito popular e tem também grande sucesso a “Much Ado About Nothing”. No tempo da Mrs. Thatcher havia um público que pedia regularmente a representação da “The Taming of the Shrew”, mas já a “Julius Ceasar” raramente vai à cena porque causa perturbação na audiencia, sobretudo pela frase que Shakespeare pôs na boca de Marco António, na segunda cena do terceiro acto : Amigos ! Romanos ! O mal que um homem tenha feito sobrevive à sua morte mas o bem, esse é enterrado com os seus ossos !. Há coisas que é melhor não lembrar.
Longe de Westminster, e dos seus holofotes, para os actores não há vida, apenas o imenso vazio do esquecimento, não admirando portanto que quem lá esteja não queira saír, e que sejam muitos os que querem pertencer ao grupo dos 650 felizardos com assento na Camara dos Comuns, cada um representando cerca de 68.000 eleitores o que faria que em Portugal, e mantendo-se a mesma porporção, o colégio eleitoral contasse com perto de 17 milhões de cidadãos.
Mas a questão principal é tentar perceber qual a razão porque a carreira politica é tão ambicionada num país onde quando ela acaba, e acaba sempre fatalmente mal, não há para os derrotados senão amargura e esquecimento. Mas fica para a próxima porque muito há para contar.