A Gazeta do Middlesex

O Cisne Negro

4/1/2018

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                                         O CISNE NEGRO

Foi Nassim Taleb quem, no seu livro com o mesmo título, chamou a atenção para os acontecimentos que apesar de serem considerados previamente altamente improváveis acabaram por se dar, e que possuem três principais características:

A sua imprevisibilidade; o impacto maciço causado pela sua ocorrência; e após esta, a tentativa de construir uma explicação que demonstre que afinal não eram assim tão imprevisíveis.
Trump na Presidência, a vitória do Brexit no referendo, a convocação de eleições antecipadas no Reino Unido por Theresa May, na certeza que se traduziriam por uma vitória esmagadora, quando afinal resultaram na perda da maioria Parlamentar e… a eleição de Mário Centeno para a Presidência do Eurogrupo, todos foram Cisnes Negros.

Mas não foi Nassim Taleb o inventor do termo. Ele tem dois mil anos e foi Juvenal, o poeta de Roma, o primeiro a falar na metáfora: “Rara avis in terris nigroque simillima cygno”, ( Um pássaro tão raro nestas paragens que é como se fosse um Cisne Negro).

O termo era na Inglaterra do Séc. XVI popular e sinónimo do impossível, ou pelo menos do inexistente, até que em 1697 o explorador Flamengo Willem de Valamingh foi o primeiro europeu a observar um cisne negro no ocidente da Austrália. A partir daí o termo sofreu uma inevitável metamorfose e passou a designar a ideia de algo, que perecendo impossível, se vem afinal a provar ser realizável ou existente.
A importância da metáfora do Cisne Negro reside em chamar a atenção para a fragilidade dos sistemas de pensamento. Quaisquer conclusões podem revelar-se falsas, uma vez que algum dos seus postulados se prove ser errado.

Escreveu Nassim Taleb:

“Aquilo a que chamamos um Cisne Negro é um acontecimento que possui os seguintes três atributos.”
“Em primeiro lugar é ser um outlier, porque está para além das expectativas realizáveis uma vez que nada no passado apontava convincentemente para a sua possibilidade.”
“A sua ocorrência causa um impacto extremo.”
“Apesar da sua natureza de outlier, a natureza humana faz com que se fabriquem explicações depois do facto acontecer, tornando-o expectável e previsível.”
“Resumindo: Raridade; extremo impacto; e previsibilidade não prospectiva, mas sim retrospectiva.”
Mas Taleb escreveu também:

“Não dou particular importância ao habitual. Se quisermos ter uma ideia do temperamento, da ética e valores de alguma pessoa teremos de a observar quando é testada sob circunstancias severas, e não na tranquilidade do seu dia a dia. Será que podemos avaliar o perigo de um criminoso se o virmos apenas sob o prisma da sua vida diária ? Na realidade o normal é na maior parte dos casos irrelevante. Quase tudo que tem consequências fortes, seja na política, seja na vida social, são acontecimentos raros e extremos.”


Mas voltando à eleição de Mário Centeno ela foi, por direito próprio, um verdadeiro Cisne Negro: Um Ministro das Finanças de um país falido e displicente nos gastos, uma cigarra do Sul aos olhos das formigas do Norte, ter sido eleito primus inter pares no areópago que tem poder de decisão sobre os dinheiros de 500 milhões de cidadãos não é coisa pouca, então se a medirmos pelo impacto extremo que causou na política doméstica, com Marcelo tomado pelo despeito e de cabeça perdida afirmando que Centeno não deveria esquecer que se chegou à Presidência do Eurogrupo foi por ser Ministro das Finanças primeiro, uma lapalissada que vinda de quem vem só se explica por ter o Presidente ter sofrido um lapsus mentis.

Dizem porém os mais cínicos que a verdadeira razão pela qual Marcelo produz estes truísmos reside no facto de sentir que, com a eleição de Centeno, a missão à qual se dedicou com tamanha e minuciosa devoção durante tantos anos, a de ser a figura messiânica que fará renascer o califado da direita que governará Portugal, se tornou mais difícil. Se for assim tem desculpa: Está-lhe nos genes.


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