A Gazeta do Middlesex

Os Inimigos do Povo

2/4/2014

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                                      Os Inimigos do Povo




Thomas Stockman era médico municipal e delegado de saúde numa pequena cidade da Noruega da qual o seu irmão era presidente da Câmara. Este tinha concebido um projecto grandioso que passaria pelo aproveitamento da fonte termal da localidade, construindo uma luxuoso edifício de banhos capaz de atrair turistas e tirar a cidade do seu isolamento e atraso ancestral.

Mas Stockman descobre que a agua das termas está contaminada:

“ A fonte está envenenada e em vez de melhorarmos os doentes que nos procuram fazemos com que adoeçam gravemente ! Não podemos continuar com esta mentira que causa tanto sofrimento e dor !”

O médico esperava ser visto senão como um herói, mas pelo menos como alguém que procurava dignificar a vida pública, um defensor da decência e do bem comum.

Mas o irmão presidente da Câmara descobre que encontrar uma nova captação seria extremamente caro e por isso declara não estar de acordo com as conclusões do relatório do irmão médico, e que portanto para ele a qualidade da água das Termas é perfeitamente aceitável. Na Postura Municipal que faz publicar afirma que o problema levantado em tão funesta altura “Não é apenas de natureza cientifica e tem implicações económicas e técnicas que devem ser levadas em consideração“.

O jornal local, a administração da empresa dos banhos e os homens de negócios unem-se contra o médico que acusam de ignorância, insensatez e de propositadamente tentar prejudicar a economia da cidade propalando noticias infundadas e falsas.

Este , seguro da sua razão, reafirma a bondade dos factos que apresentou e recusa retratar-se. É então declarado inimigo público, vê-se ameaçado, a sua casa apedrejada e não lhe restando alternativa deixa a cidade e emigra.







Este pequeno resumo da peça de Henrik Ibsen “O Inimigo do Povo” lembra irresistivelmente o que se passou em Portugal com a publicação por umas dezenas de personalidades de um Manifesto defendendo a renegociação da Divida Pública.

A reacção do regime foi de rancor tratando de vilipendiar os autores que foram chamados de “essa gente” pelo Primeiro-Ministro e os seus próceres não fizeram menos do que os acusar de serem traidores à Pátria.

Cavaco, essa lamentável personagem, demitiu sumariamente dois dos seus “conselheiros” que ousaram ter opinião própria, revelando o facto extraordinário de nos dias de hoje em Portugal para se ser conselheiro presidencial é condição necessária ter a mesma opinião que o aconselhado.

Finalmente o Grémio dos patrões não reagiu com menos furor contra dois dos seus membros que também eram signatários do referido manifesto os quais, além de serem genericamente acusados do mesmo crime de traição à Pátria, levaram com o labéu provavelmente para os patrões muito mais grave de serem também traidores à classe.




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Alcina Maria
3/4/2014 06:03:15 pm

Pois é. Assim vai este país à beira mar plantado.

O Governo que devia acolher com entusiasmo, propostas vindas de gente decente, interessada em dar contributo, tem esta atitude estúpida.
Nem sequer percebe que é negar a democracia.



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