A Gazeta do Middlesex

Os Restauradores

17/3/2017

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                     A  GAZETA  DO  MIDDLESEX

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                                   OS RESTAURADORES


Depois da votação nos Comuns, com a aprovação da moção dando ao Governo plenos poderes para formalmente sair da UE sem que fossem aceites as emendas aprovadas nos Lordes nem, muito menos, terem sido consentidas conversações com o Governo de Escócia, sabia-se que as coisas iam dar nisto : Um novo referendo para a Escócia. O segundo desde 2014. Na próxima quarta-feira a sua convocação será formalmente aprovada no Parlamento Escocês. E assim, ao mesmo tempo que o Governo Britânico dava inicio ao processo da saída do Reino Unido da União Europeia, o Governo da Escócia dava os primeiros passos para a sua saída, mas de outra União, a Britânica. O argumento dos defensores do Brexit, a necessidade de respeitar a vontade popular expressa na sua vitória em Inglaterra no referendo de Junho de 2016  já não é válido para a First-Minister Nicola Sturgeon, quando lembra a retumbante vitória na Escócia dos que pretendiam permanecer na União Europeia, ao recolherem 62% dos votos. Aí essa regra não se aplica: O que dizem sobre a relação da Grã-Bretanha com a Europa é uma coisa, porque sobre a relação da mesma Grã-Bretanha, mas com a Escócia, é dito exactamente o oposto.



Theresa May hoje mesmo declarou solenemente não autorizar a realização dessa consulta popular, mas também se sabe que após o próximo dia 22, com o Parlamento de Holyrood aprovando a sua realização, não será politicamente possível ao Governo Britânico opor-se a uma medida aprovada no Parlamento Escocês.
Mrs. May apelou à unidade nacional neste momento que diz ser tão grave, em que se iniciam as negociações com Bruxelas sobre os termos da saída do Reino Unido. Mas esse apelo soa a falso quando foi ela própria a recusar-se debater os termos dessa saída, em primeiro lugar com o Governo da Escócia, negociando algo que significasse uma alteração, por pequena que fosse, da sua intransigente posição.


Mas a independência terá possibilidades de sucesso, agora que o futuro económico da Escócia parece mais frágil do que em 2014, com a queda do preço do crude extraído do Mar do Norte ? Outras incertezas pairam. Que moeda usará a Escócia independente ? Quais as relações económicas que poderá vir a ter com o que restar do Reino Unido e com a União Europeia, da qual é previsível que venha a fazer parte ?

Mas o continuar a fazer parte do Reino Unido não deixa de ter consequências políticas difíceis de aceitar para a Nação Escocesa, determinada como está em auto governar-se:
Nas eleições gerais de 2015, dos 59 lugares reservados à Escócia na Câmara dos Comuns, 56 foram ganhos pelo Partido Nacionalista Escocês. No entanto a direita acusou, e acusará, de traição qualquer aliança de Governo que se venha a formar com o apoio dos Parlamentares da Escócia, o que os torna irrelevantes no plano político. E, é bom lembrar, que a Escócia sempre foi progressista e pró-europeia, enquanto que a Inglaterra vota à direita e é euro-fóbica. Permanecer dentro do Reino Unido significará para os Escoceses virem a ser governados eternamente pelo detestado Partido Conservador, ( Um deputado eleito em 59).


Mas na economia os problemas não são menores: David Davis, o Secretário de Estado (Ministro) para o Brexit, declarou recentemente com toda a candura à Comissão Parlamentar respectiva a não existência de qualquer estudo sobre as consequências da saída da UE sem qualquer acordo com Bruxelas. Exactamente o que aconteceu com o Governo Conservador em 2016, quando não tinha a menor ideia do que fazer em caso de vitória do Brexit. Ontem no “Question Time” da BBC, o programa sobre política mais visto na Grã-Bretanha, (e onde as Judites de Portugal poderiam aprender uma ou duas coisas…), um dos membros do painel destacadissimo membro do Partido Conservador ao ser-lhe posta a questão declarou ser inútil fazer planos para o futuro sendo este, como é, notoriamente incerto, e dependendo como está da vontade dos outros 27 países Europeus !


Em 1640 os conjurados reunidos em Lisboa não olharam à questão económica: Certamente que a União Ibérica nesse aspecto fazia sentido. Nem à questão política: Nada garantia que Portugal recebesse algum apoio externo. Sabiam ao que iam : Uma guerra com Espanha, (iria durar 25 anos), que deixaria o país exangue. Uma luta para expulsar os invasores das nossas colónias que testaria até ao limite a vontade nacional. Mas, por uma misteriosa alquimia que faz com que o povo de determinado território se sinta uma nação pronta a qualquer sacrifício em prol do que sente ser a dignidade colectiva, no 1º de Dezembro passaram à acção.


A Escócia terá brevemente o seu encontro com a História, felizmente de forma pacifica. Quem melhor que os Portugueses a poderá entender ?



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