A Gazeta do Middlesex

Pirro

13/9/2014

1 Comment

 
Picture

                                                  PIRRO




Relembrando...


Quando o Partido Trabalhista após um longo interregno regressou ao poder em 1997, tratou imediatamente de satisfazer uma antiga aspiração dos Escoceses e uma das suas principais promessas eleitorais: A devolução à Escócia de poderes que lhe permitissem ter o seu próprio Parlamento o que não sucedia desde 1707, ou seja há exactamente 290 anos, data em que foi foi criado o Reino Unido e em que foi dissolvido aquele que até então existia

Pelo chamado Acto Parlamentar de Devolução foi outorgada a legislação necessária para proceder à eleição desse Parlamento, delimitando os respectivos poderes submetidos que ficavam à soberania do Parlamento de Westminster. Dos resultados dependeria a sua composição e consequentemente a nomeação de um Governo próprio para a Nação Escocesa.

O panorama político da Escócia era, (e continua a ser), bastante diferente do resto do país:

Em nenhum outro lugar do Reino Unido tiveram as medidas tomadas pelos sucessivos governos de Margaret Thatcher efeitos tão nefastos e dramáticos para a população mais humilde como na Escócia, o que levou a que o Partido Conservador seja desde essa altura profundamente execrado. Basta dizer que a Escócia elege cerca de 60 deputados para a Câmara dos Comuns mas nenhum deles é Conservador, sendo que 40 pertencem ao Partido Trabalhista, o que dá a este uma clara posição de domínio.

Mas tão forte era essa posição que resultou em complacência e imobilismo, não tendo o Partido Trabalhista detectado a crescente aspiração da população por uma maior autonomia, o que resultou num crescimento lento mas seguro do Partido Nacional Escocês, (SNP), que viria a ser o que elegeu o maior numero de deputados na eleição de 2007 sem contudo atingir a maioria absoluta, objectivo que viria a conseguir em 2011. Desde essa altura que Alex Salmond, certamente o mais brilhante e astuto político da actualidade, é First-Minister da Escócia , (em oposição ao titulo de Prime-Minister, reservado ao Chefe do Governo Britânico).



Mais recentemente....


Salmond, pouco tempo depois de tomar posse em 2011, iniciou conversações com David Cameron exigindo a realização de um referendo sobre a independência da Escócia a realizar a 24 de Junho de 2014. Essa data era tudo menos inocente, pois nesse dia teriam passado 700 anos da batalha de Bannockburn travada em 1314, e onde o Rei da Escócia Robert the Bruce derrotou as tropas Inglesas do Rei Eduardo II.

Cameron, que achou a ideia do referendo bizarra e destinada a não ter consequências práticas, recusou-se porém a aceitar essa data e depois de muita discussão ficou finalmente assente que a consulta popular teria lugar a 18 de Setembro de 2014, na próxima semana portanto.


Não e não....


A questão seguinte foi determinar quais as perguntas que seriam feitas ao eleitorado, propondo Alex Salmond que estas seriam três :


                                            Sim à Independência
                                            Não à Independência
                                            Sim à Devolução Máxima

Essa figura Devolução Máxima, DevoMax como ficou conhecida, seria a transferência de mais poderes do Parlamento Britânico para o Parlamento Escocês, um meio termo portanto entre o status quo e a independência total.
Mas Cameron, confortado com as sondagens que davam uma vitória esmagadora ao Não, recusou terminantemente a inclusão dessa terceira pergunta.
Seria portanto tudo ou nada : Sim ou não à Independência.


6 de Setembro...


Durante todo o mês de Agosto a vantagem do Não manteve-se nuns confortaveis 20%, o que levou Cameron a comentar publicamente que o referendo na Escócia era “um não-evento”, opinião que teve eco em Ed Miliband ao dizer que o o referendo “não merecia ser discutido”.

Ambos, como hoje se sabe, estavam na ignorancia absoluta sobre o iminente tsunami que se iria abater sobre as respectivas cabeças a 6 de Setembro:

Data inesquecível essa em que foi conhecida a primeira sondagem dando a vitória ao Sim, o que provocou um pânico indescritível no establishment politico britânico, com as figuras mais gradas do Governo e da Oposição parecendo galinhas sem cabeça correndo em círculos.

Surgiram as ideias mais estapafúrdias tais como hastear nos edifícios públicos ingleses a bandeira da Escócia, o que rapidamente se tornou numa tragicomédia com a cena do içar da Cruz de S. André no telhado de Downing Sreet, imagens caricatas que deram volta ao mundo.

Mas o que se seguiu foi assaz pior com o Primeiro-Ministro, Vice Primeiro-Ministro e líder da Oposição que como três estarolas se meteram num comboio em direcção à Escócia sem planos nem objectivo descernivel.

David Cameron, que ficou prudentemente longe das ruas, teve então o topete de anunciar que se os Escoceses recusassem a independência ser-lhes-ia concedida a Devolução Máxima, a tal que se tivesse sido aceite por ele em primeiro lugar teria evitado toda esta medonha trapalhada.

Ed Miliband, o Líder Trabalhista, num patetismo difícil de igualar, não cogitou um segundo sequer se deveria ser visto na companhia do Primeiro e Vice Primeiro Ministro contra quem irá disputar eleições dentro de meses e de cuja impopularidade depende a sua cada vez mais improvável vitória eleitoral.

Mas o zénite da loucura foi atingido quando o antigo Primeiro-Ministro Gordon Brown, o ultimo Trabalhista a ocupar o lugar, o derrotado por David Cameron em 2010 e sob cuja batuta se deu o crash da Economia, o culpado das maiores malfeitorias, foi nomeado como  defensor-mor do Não e  salvador oficial do Reino Unido. Imaginem que em Portugal, e em idêntica dramática situação, fossem buscar José Sócrates como solução de ultimo recurso. E pensando melhor...


Armagedão...


Todos os dias surgem novas ameaças se ganhar o Sim à independência, numa campanha de brutal intimidação.

Não consigo nem de longe enumerar todas, que vão desde  não poderem usar a Libra Esterlina, à saída dos Bancos da Escócia, ao não pagamento das pensões, à subida incontrolável dos empréstimos das casas, ao aumento do desemprego, é um nunca mais acabar.

As ultimas, que me recorde, são de cadeias de supermercados anunciando o aumento em flecha do custo da alimentação e, imagine-se, até vem o Comité Olímpico Britânico dizer que a Escócia não poderia participar nas Olimpíadas, e a maior cadeia de lojas de bricolage, a B&Q, avisando que os clientes terão de pagar muito mais pelas latas de tinta, pinceis, porcas e parafusos se houver independência.
Com tudo isto só me espanta é como a votação pelo Sim se mantém superior aos 45%.


Pirro...


De Pirro será a vitória do Não na próxima quinta-feira, a vitória do medo e não a da esperança. A estupidez cósmica dos políticos que temos terá feito perder para sempre the hearts and minds da maioria do Povo Escocês, e é com profunda tristeza que o digo. Eles, os políticos, julgam que após o dia 18 tudo será esquecido e que voltará a normalidade do business as usual. Não voltará. A sementeira que fizeram de rancor e ressentimento na Escócia disso se encarregará, e o dia 19 será o primeiro da nova campanha pela independência .

Para o Partido Trabalhista então o desastre será total: Sem os membros do Parlamento eleitos pela Escócia jamais este Partido poderá sonhar em governar e os eleitores não esquecerão tão cedo que Ed Miliband lá foi na companhia do detestado David Cameron. É o que dá ter-se um líder pateticamente inepto. Nisto pelo menos os Portugueses não estão sós.

PS:
Hoje Sábado, a Skynews acaba de anunciar a última sondagem que dá 49%-51%, uma escassa vantagem para o não portanto.

The plot thickens....




1 Comment
Alcina Mila
14/9/2014 04:27:07 am

Vamos então aguardar...

Entretanto, obrigado pelo elucidativo artigo.

Estas questôes para mim são muito difíceis. Não sei o suficiente para ter uma opinião a favor ou contra. Todas as achegas são sempre muito bem-vindas.

Reply



Leave a Reply.

    Author

    manuel.m

    contact@manuel2.com

    Archives

    June 2018
    April 2018
    March 2018
    February 2018
    January 2018
    December 2017
    November 2017
    October 2017
    September 2017
    August 2017
    July 2017
    June 2017
    May 2017
    April 2017
    March 2017
    February 2017
    January 2017
    December 2016
    November 2016
    October 2016
    September 2016
    August 2016
    July 2016
    February 2016
    January 2016
    May 2015
    April 2015
    March 2015
    February 2015
    January 2015
    December 2014
    November 2014
    October 2014
    September 2014
    August 2014
    July 2014
    June 2014
    May 2014
    April 2014
    March 2014
    February 2014
    January 2014
    December 2013

    Click here to edit.

    Categories

    All

Proudly powered by Weebly