A GAZETA DO MIDDLESEX
ONDE SE FALA NO ENGANO DE SUN TZU
E SE ENVIA UM RECADO A ANTÓNIO COSTA
Passam hoje precisamente dois meses sobre as eleições no Reino Unido e muita gente, incluindo eu próprio, continua assombrada em como foi possível que praticamente todos nós, os que vivem a política Britânica por dentro, nos tenhamos enganado no prognóstico e que em vez de uma vitória esmagadora dos Conservadores o que aconteceu foi estes acabarem por perder a sua maioria no Parlamento. E no entanto havia razões para o mais fundo pessimismo: Em Maio, um mês antes das eleições para o Parlamento, tinham decorrido as eleições locais que resultaram numa estrondosa derrota dos Trabalhistas, a pior desde 1980, resultado que levou a BBC a projectar uma próxima vitória Conservadora por 11 pontos.
É verdade que a campanha do Labour foi brilhante e viu-se Jeremy na pele de um líder confiante capaz de inspirar multidões que alegremente o seguiram de norte a sul do país, numa onda de optimismo e esperança. É também verdade que as sondagens, que desta vez acertaram, davam conta que a vantagem dos Conservadores ia minguando à medida que o dia 8 de Junho se aproximava, e que as opiniões positivas sobre Theresa May estavam em queda vertiginosa enquanto que as sobre Corbyn atingiam valores estratosfericos.
Mas, apesar de tudo isso, havia a consciência de ser este um regime democrático amadurecido que está pouco habituado a deslocações tectónicas nos resultados eleitorais e que sabe que uma coisa são as intenções de voto vindas nas sondagens e outra, bem diferente, o modo como o eleitor realmente vota.
E depois vinha Sun Tzu, o autor do tratado “A Arte da Guerra” escrito já lá vão dois mil e quinhentos anos e que continua sendo de estudo obrigatório nas Academias Militares e não só.
Afirmou ele: “Toda a batalha é ganha ou perdida antes de ter lugar”.
Ora antes da batalha, (a campanha eleitoral), a superioridade dos Conservadores era esmagadora e a sua posição tida como inexpugnável e a resistência dos Trabalhistas julgada fraca e titubeante.
Mas, como sabem, desta vez Sun Tzu enganou-se, e em centenas de circunscrições eleitorais os Trabalhistas lutaram desesperadamente desenrolando-se pequenas batalhas das Termópilas desde o Yorkshire à costa Sul, o suficiente para negar a vitória ao adversário.
Dou comigo a pensar que a situação política em Portugal não é muito diferente apesar de inversa: Um partido, o PS, que cavalga uma onda de merecida popularidade apresentando resultados económicos que têm sido motivo de aplauso, mesmo nos areópagos de Bruxelas, e uma oposição ferida de morte e sem qualquer credibilidade. Talvez por isso seja caso para enviar um recado a António Costa, mesmo sabendo que é improvável ele conhecer a modesta Gazeta: É que, por muito que pese a Sun Tzu, não há batalhas antecipadamente ganhas, sobretudo quando tudo aponta que a futura refrega esteja a ser vista com complacência. Os eleitores são gente de humores variáveis que gostam de ser cortejados e mimados e que detestam particularmente serem tidos como antecipadamente conquistados. Ora, com adversários não possuindo quaisquer espécie de escrúpulos e com os media militantemente hostis, não será caso, estimado Primeiro-Ministro, para arregaçar as mangas ?