A GAZETA DO MIDDLESEX
UMA OBRA DE PURO GÉNIO
Atente o leitor naquela que se publica acima: Mostra o cenário que se depara a qualquer passageiro acabado de chegar e onde se pode ver o que parece ser um mero parque de estacionamento.
Nessa foto o que encontra de original ? Umas estruturas ondulantes. Para que servem? Aqui, estimado leitor, começa a ser levantada a ponta do véu que uma vez removido fará com que experimente uma inesquecível epifania. É que elas não servem absolutamente para nada e nisso reside o toque de génio do Autor. Pudessem elas dar alguma sombra que protegesse do inclemente Sol algarvio e não estaríamos a contemplar uma jóia artística. Ou, se pudessem abrigar da chuva ou do vento mesmo que pouco, e a sua finalidade seria vulgar, mundana, pedestre. Mas não: O autor teve a sublime inspiração de recusar terminantemente que elas fossem úteis fosse para o que fosse, a não ser para elevar-nos espiritualmente.
Por momentos imagine-se no local contemplando em compungido recolhimento tão extraordinária visão: Acabará por perceber que essas estruturas sugerem troços ou secções de carris de uma gigantesca montanha russa, com as suas subidas e descidas. E nesse instante, como que se um raio que lhe tivesse caído aos pés, terá entendido que aquela divina alegoria replica o voo dos aviões e que lembra que a vida é uma constante partida e chegada. Extraordinário!
Os arruamentos com as suas voltas e voltinhas parecem o labirinto de Dedalo e é um trabalho de Hércules encontrar a saída ? Pois foi pensado que assim fosse.
A lição que nos é dada pelo Artista pode ser subtil, mas só não a vê quem não quer:
As obras parecem eternas ? Pois não é a própria vida uma obra sempre inacabada ?
Os passageiros levam uma molha sempre que chove? Mas não está a vida sujeita a infortúnios que devemos encarar com resignação ?
É um desafio não nos perdermos e conseguirmos encontrar a saída ? Mas haverá
algo mais parecido com a vida do que a luta constante para encontrar o caminho certo ?
Portanto caro leitor aceite o conselho: Na próxima vez que for ao Algarve vá até ao Aeroporto e aprecie uma obra de puro génio que só acontece quando, em tratando-se de Arte, não se olha a despesas.