OS VERANEANTES
Por extraordinário acaso do destino David Cameron, o colega britânico de S. Exa. , também está a banhos em Portugal e tal como ele faz orelhas moucas aos apelos para regressar à sua capital.
Em Londres ficou Philip Hammond, o seu recém empossado Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, (cada um usa o Costa que tem), e foi ele que anunciou urbi et orbi que o Reino Unido iria enviar para o Iraque caças Tornado com o fim de participarem no auxilio humanitário às populações deslocadas devido à ofensiva dos militantes islâmicos. Não é precisa muita imaginação para se perceber qual é a “humanidade” das missões ao alcance desses aviões o que, esquisitices da política local, levou a que fosse pedida ao Primeiro-Ministro a convocação urgente do Parlamento para discutir o que pode ser um envolvimento do Reino Unido num conflito armado. Mas David Cameron, estando em Cascais ao que se julga, e provavelmente amolecido pela amenidade do clima, simpatia das populações e delicias da cozinha local, não fez até agora prova de vida.
É preciso acrescentar que Nick Clegg, o Vice Primeiro-Ministro, está em Espanha e entre tapas e tintos de verano está tão incontactável como o chefe do governo, e Theresa May, a Home Secretary, equivalente a Ministro do Interior, está nos Alpes provavelmente num pico inacessível e portanto também fora de alcance.
Este avestruzismo que atacou os políticos de ambos os países não é propriamente difícil de entender:
Exactamente há um ano David Cameron convocou o Parlamento tentando obter autorização para intervir militarmente na Síria, ajudando os insurgentes islâmicos que combatiam o regime de Bashar el-Assad. A votação que se seguiu traduziu-se numa humilhante derrota para o Primeiro-Ministro, com muitos dos deputados do seu próprio partido votando contra a proposta.
Agora o que estaria em causa era, nem mais nem menos, a autorização para atacar os amigos de há apenas um ano atrás e hoje declarados inimigos , o que evidentemente poria a questão se Cameron estava enganado e portanto demonstrou então ser insensato, ou se estava afinal certo e é desta vez que está errado.
Por outro lado Obama não consta que esteja a veranear mas certamente gostaria, pois a situação que enfrenta não é menos difícil:
Acontece que o Presidente americano demitiu sumariamente o Primeiro-Ministro iraquiano Nouri al- Maliki, supostamente chefe de governo de um país soberano, justificada como sendo uma medida indispensável para preservar a unidade nacional do Iraque. Ora perante o avanço imparável dos militantes do ISIS, Obama decidiu fornecer armas aos curdos, etnia que luta pela independência do Curdistão iraquiano , o que faz com que Obama esteja simultaneamente a favor e contra a unidade do Iraque.
E tudo isto acontece na supostamente “silly season” , restando esperar pelos próximos capítulos.